Parte 122...ElenaEu hesitei por um segundo. A decisão de deixar Vlad não tinha sido fácil, e mesmo agora, com a liberdade finalmente em minhas mãos, eu ainda me sentia dividida.— Sim, eu acho que sim - soltei o ar devagar, olhando para um casal na calçada, de mãos dadas — Se eu ficar, ele vai me dominar e eu nunca vou ter a chance de ver outras coisas. Vou ter deixado uma prisão para entrar em outra.— Mas... Se ele se declarou pra você, não acha que pode dar uma chance a ele? O acordo já não está mais na mesa, vocês agora ficam juntos porque querem e não por um acerto.— Ainda assim... Ele é muito esperto, é manipulador - balancei a cabeça — Ele sabe que se ficar me dominando assim, eu sempre vou tentar fugir dele... E nem preciso ter os conselhos de Marta ou de qualquer pessoa.— E você acha que pode se afastar e viver sem ele? Eu sei que ele errou e foi estúpido com você no começo... E também quis se aproveitar de você de outras formas - agitou a mão — Mas se ele mesmo te deu li
Parte 123...Cinco dias depois....ElenaEu nem dormi. Tanto por minha ansiedade, quanto porque Vlad ficou em cima de mim o tempo todo. Literalmente.Nunca vi um fogo como esse. Ele parecia que estava explodindo de energia. Mas eu sei que isso é porque eu vou embora. Ele me deu um cansaço nessa cama. Inventou formas diferentes de fazer amor, não só no quarto do prazer, como ele se refere, mas em outros pontos da cobertura também. Ainda bem que eu usei o anticoncepcional, porque depois de tanto sexo, seria um milagre que eu não saísse dessa cobertura com pelo menos um par de gêmeos na barriga.Vlad parecia estar insaciável. Não sei se isso foi intencional, para querer me provar algo, ou se ele realmente está se sentindo triste com minha partida.Me viro para ele, deitado de lado, o lençol enroscado entre suas pernas. Observo melhor seu corpo agora. Suas costas largas, com uma tatuagem grande na coluna e algumas cicatrizes em volta.Suspirei e apoiei a cabeça de lado na mão, olhando se
Parte 124...ElenaArrumei minha mala com mais calma do que imaginei que teria. Cada peça de roupa dobrada com cuidado, cada objeto guardado, como se estivesse me despedindo de mais do que apenas um apartamento. A cobertura de Vlad era como uma jaula dourada, e, embora eu tenha me sentido protegida por ele em alguns momentos, agora estava claro que precisava de distância. tudo o que estou levando comigo eu consegui por causa dele, mas isso teve um preço. Por isso não me sinto desconfortável em deixar a cobertura levando comigo algumas coisas. De certa forma, isso é quase um pagamento por tudo o que passei ficando aqui.A noite anterior foi uma confusão de emoções. Conversamos um pouco e fizemos muito sexo... E agora uma despedida silenciosa. Sabia que Vlad não lutaria para me manter aqui. Ele era assim: controlado, ainda que uma parte dele estivesse triste. Dá pra sentir por seu modo de agir e falar. Pelo menos eu consigo entender um pouco dele.Quando terminei de arrumar minhas coi
Parte 125...Elena— Dimitri vai cuidar de você até o aeroporto. E já avisei Anton e Vicky. - Vlad continuou, voltando ao seu tom prático. — Vicky também está muito envolvida com Anton e parece que ele quer virar o guarda - costas pessoal dela - deu uma risadinha — Quem diria!A menção de Vicky me deixou um vazio maior. Sempre estivemos juntas em tudo, e agora, pela primeira vez, estávamos indo em direções diferentes. Era estranho, mas eu sabia que estava tudo certo. Nossa amizade sobreviveria a isso. Sempre sobreviveu.— Obrigada, Vlad! - disse, mais como um encerramento momentâneo do que qualquer outra coisa. — Por tudo.Ele me olhou por um longo momento, como se estivesse memorizando meu rosto pela última vez. E então, com um aceno breve e um olhar final, ele se virou e sumiu em algum canto da cobertura.O barulho da porta se fechando atrás dele ecoou na minha mente, e eu soube que era o fim. Ele não ia ser um emocionado, que me pediria para ficar. Não depois de outras tantas veze
Parte 126...Algum tempo mais tarde...ElenaO ano no Canadá me mudou de maneiras que eu não esperava. Quando saí de Chicago, estava perdida, sufocada pelas circunstâncias e pelo caos que era minha vida com Vlad. A distância me fez enxergar tudo com mais clareza e me deu a coragem que antes me faltava para olhar para dentro e reconhecer o que realmente importava. Mas, acima de tudo, a distância me deu algo ainda mais valioso: a habilidade de fazer escolhas conscientes e de estabelecer limites.O Canadá foi meu refúgio, mas também meu laboratório emocional. Eu estava sozinha, sem a constante presença de Vlad, ou de Vicky, e isso me forçou a confrontar minhas inseguranças. No começo, os dias eram longos, e as noites, solitárias. Eu me pegava andando pelas ruas de Vancouver com uma sensação constante de vazio, como se tivesse deixado uma parte de mim em Chicago. Passei muito tempo sentada em um banco à beira-mar, com o vento frio cortando minha pele, tentando processar tudo o que ha
Parte 127...ElenaQuando Vlad recebesse meu e-mail, eu não sabia o que esperar. Depois de tanto tempo, tantas palavras não ditas, e uma distância que nos separava mais do que apenas quilômetros, sua resposta poderia vir de várias formas. Eu não o conhecia o suficiente para saber que poderia ter mudado de ideia ou não, mas mesmo com toda a sua intensidade, ele tentaria ser direto. Vlad sempre foi uma pessoa complicada. E eu não estaca realmente ligada nele para captar suas mudanças. Mas isso foi antes.Então, quando a resposta finalmente chegou, meu coração disparou ao ver seu nome na caixa de entrada. Abri o e-mail devagar, como se o tempo estivesse em câmera lenta, e comecei a ler.Assunto: Eu estive esperando por issoElena,Ler suas palavras me trouxe um alívio que eu não esperava. Todo esse tempo, tudo o que eu queria era entender como você estava, o que estava sentindo. Eu tentei te dar espaço, porque sabia que você precisava disso. Mas isso não quer dizer que tenha sido fácil
Parte 128...Elena— Você voltou... - Vlad quebrou o silêncio, a voz baixa e rouca, cheia de uma emoção contida que ele parecia lutar para controlar.— É... Eu voltei - respondi, tentando soar firme, mas a suavidade em meu tom traiu o que eu realmente sentia.Olhamos um para o outro por mais um momento, como se estivéssemos medindo o quanto cada um de nós havia mudado. Ele estava mais magro, os traços do rosto mais marcados, mas seus olhos, aqueles olhos que sempre pareciam ver através de mim, estavam mais suaves, quase... Saudosos. Mas havia algo de diferente neles, algo mais contido, como se ele estivesse esperando por mim, sem querer pressionar.Ele deu um passo à frente, hesitante, como se estivesse com medo de fazer algo errado. Suas mãos tocaram de leve meus braços, e foi como se uma corrente elétrica passasse entre nós dois.O toque dele, apesar de familiar, parecia novo. Mais delicado. E, por um momento, tudo o que eu queria era me jogar em seus braços, mas me segurei.— Voc
Parte 1...Elena A noite em Chicago estava fria e úmida, e eu sentia o vento gelado cortar minha pele enquanto segurava os pequenos buquês de flores. O cheiro de fumaça e poluição parecia grudar na minha garganta, e o barulho constante da cidade me deixava com dor de cabeça. As luzes da boate piscavam em vermelho e azul, refletindo no asfalto molhado, mas para mim, tudo era apenas uma mancha de cores sem vida. Eu não ligo mais para isso.Eu estava ao lado de Vicky, minha melhor amiga, a única família que me restava desde que saímos do orfanato. Ela puxou o casaco fino mais apertado em volta de si, seus olhos verdes brilhando com uma mistura de frustração e cansaço.— Eu odeio isso - ela murmurou, a voz baixa, mas cheia de raiva contida. — Vendendo flores para caras bêbados que mal olham para a gente. Isso não é vida, Elena.Eu suspirei, olhando para os buquês em minhas mãos. As flores estavam levemente amassadas, mas ainda tinham um pouco de cor, uma lembrança frágil do que restav