Parte 10...ElenaElenaAcho que não morri. Ainda não.O mundo ao meu redor era um borrão nebuloso de dor e confusão. Cada respiração era uma luta, meus pulmões queimavam como se ainda estivessem envoltos na fumaça espessa que havia engolido o armazém. A dor nos meus músculos, nas costelas, em cada articulação do meu corpo, era tão intensa que parecia que até mesmo o mais leve movimento iria me despedaçar. Tudo estava turvo, fragmentado, como se a realidade fosse um sonho ruim do qual eu não conseguia acordar.Tentei abrir os olhos, mas a luz, mesmo que fraca, me fazia recuar, fechando-os rapidamente. Meu corpo inteiro tremia com uma mistura de medo, exaustão e me sinto quente, acho que uma febre que se alastrava por mim como um fogo lento e implacável. A sensação de estar flutuando entre a consciência e a inconsciência me deixava à beira da náusea. Não conseguia discernir o que era real ou fruto da minha imaginação desesperada.— Vicky…O nome escapou de meus lábios rachados como
Parte 11...ElenaEu acordei em um estado de torpor, o meu corpo me esmagando sob um peso desconhecido. A dor que irradiava dos meus músculos parecia uma agulha quente em cada movimento. A fumaça ainda estava em meus pulmões, misturando-se com a sensação de fraqueza que se instalara em mim. A respiração era um esforço doloroso e a garganta, seca como um deserto, gritava por alívio. Eu precisava muito de água.Ao abrir os olhos, vi o teto baixo e o ambiente ao meu redor. Era um quarto pequeno, mal iluminado, com paredes de um tom cinza sujo. Eu estava deitada em uma cama de aparência gasta, coberta por um lençol que parecia ter visto dias melhores, mas depois entendi que a culpa era minha do pano estar sujo.A dor no corpo, o peso da exaustão, e o desespero de não saber onde estava me envolviam como um manto opressor. — Água... - passei a língua nos lábios e os senti rachados — Eu quero água...A sede intensa me consumia. Eu me sentei lentamente, cada movimento causando uma dor lanc
Parte 12...ElenaElenaEu estava imunda, fedendo a fumaça e suor, com o corpo coberto de arranhões e machucados que latejavam a cada movimento. A sede ainda queimava na minha garganta, mas o medo a abafava. Não fazia ideia de onde estava ou quem era aquele homem que me observava com olhos impassíveis, de pé, segurando uma maleta preta.— É essa a criatura? - mexeu nos óculos — Ela tem que sentar, pelo menos - ele entrou e fechou a porta — Pode sair e esperar lá fora. Eu vou ver o que posso fazer - ele ordenou com um sotaque pesado, sem qualquer gentileza na voz.— Sente-se logo, garota - o que me vigiava ordenou, me puxando sem o menor jeito e eu gemi de dor — O doutor vai cuidar de você. Não cause problema, ouviu?Suas mãos ásperas me levantaram, e eu mal conseguia me manter em pé. Minha cabeça girava, o mundo ao meu redor parecia desfocado e distorcido. — O que... O que você vai fazer comigo? - minha voz saiu rouca, mal reconhecível. Ele não respondeu. Em vez disso, apenas se ap
Parte 13...ElenaMas por dentro, eu estava em pânico. Minha mente voltava ao incêndio, aos gritos e aos rostos desconhecidos que se transformaram em borrões de violência e caos.— Fique parada - o médico ordenou enquanto começava a limpar a ferida na minha cabeça. O toque do algodão embebido em antisséptico ardia como fogo, mas eu me forcei a não me mover, a não gritar.— Eu não... Eu não sei onde estou - confessei, sentindo as lágrimas brotarem nos meus olhos, mas sem força para contê-las.O médico parou por um momento, suas mãos pausando. — Está segura agora - ele disse, sem olhar para mim, enquanto continuava o trabalho. Não era o tipo de resposta que me confortava, mas parecia o máximo de empatia que ele estava disposto a oferecer.— Segura? - eu ri, mas o som saiu mais como um soluço — Eu... Fui sequestrada... Minha amiga... Não sei onde ela está. Como posso estar segura?Ele não respondeu. Continuou o procedimento, colocando pontos na minha testa com uma precisão que só um pr
Parte 14...VladEu saí com Charles para falar sobre o estado da garota. Não que eu me importe realmente, mas já que a retirei daquela situação de merda, quero saber o que pode ter acontecido para que estivesse ali.A turma que invadiu o lugar não estava para brincadeira e os homens da Mano Nera não iam se arriscar a salvá-la. Tanto que a deixaram presa ainda com a merda toda da troca de tiros.Preciso tirar umas dúvidas e se ela não puder ao menos falar direito e ficar de pé, não vai me adiantar de nada.Depois posso me livrar dela em algum lugar de Las Vegas e voltar para Chicago tão logo eu consiga pegar mais informações com meus informantes aqui.— A garota soltou algo?— Não, nada. Na verdade ela está é bem confusa... Além de fedida demais - ele deu uma risadinha — Deixe que tome um banho e depois descanse um pouco. Não creio que vá ter condição de enfrentar um interrogatório agora.Eu suspirei com uma leve irritação. Não sou conhecido por ser uma pessoa paciente.— Ok... Vou ver
Parte 15...ElenaRealmente, eu estava cheirando mal e nem eu mesma estava suportando, mas ele tinha que fazer essa cara de nojo?E que ideia estúpida foi essa, de que eu sou uma puta?Nada contra as putas. Aliás, elas são mulheres que deveriam receber mais consideração e respeito do que muitas que estão dentro de casa, se fazendo de boas esposas e filhas perfeitas.Mas, infelizmente a hipocrisia da sociedade é absurda. Aprendi algumas coisas sobre isso, depois que saímos do orfanato. É de revirar o estômago, como as pessoas são falsas e usam uma máscara de pessoas boas para esconder sua sujeira pessoal e seus atos imundos. Depois querem julgar os outros.— Responda a minha pergunta! - ele elevou o tom de voz. Não me sinto segura. Não sei onde estou e nem que é esse homem. Porque motivo ele me tirou daquele lugar feio, pegando fogo? Será que ele não é um deles?— Eu não tenho que responder nada!Senti uma onda de medo e raiva, misturados com a dor física e o cansaço emocional. Não pu
Parte 16...ElenaEu estava ouvindo o que ele me dizia, eu só não conseguia reagir da forma certa. Meus pulmões pareciam ter se fechado, me negando o ar que eu tanto precisava.Minha visão foi ficando embaçada. As poucas cores do quarto começaram a formar um borrão indistinto.O medo de perder Vicky me bateu forte e me deixou assustada. Ela não era só uma amiga. Era a minha única e melhor amiga. Nós passamos por muitas coisas juntas desde cedo.Esse medo me deu uma travada no pensamento, eu fiquei sem reação. Porra, eu estava em Las Vegas e nem mesmo sabia disso. Que diabos eles tinham feito comigo?— Respire... - ele repetiu, e de alguma forma, dessa vez o comando conseguiu atravessar a neblina do meu pânico.Com um esforço enorme, eu forcei uma inspiração. O ar entrou, rasgando meus pulmões como uma lâmina, mas entrou. Depois outra, e mais uma, cada uma um pouco menos dolorosa, um pouco menos sufocante. Lentamente, muito lentamente, o pânico começou a diminuir, as paredes ao meu re
Parte 17...VladEu tinha acabado de dispensar dois dos soldados de campo para irem atrás de mais pistas sobre o motivo do grupo dos Petrov terem sido atacados daquela forma.Também mandei que procurassem saber mais sobre a garota e se havia mais alguém com ela. Estou bem curioso sobre isso. Ouvi os passos pesados e me virei guardando o celular no bolso. Meu homem a trazia pelo braço, apertando de uma forma que parecia que ia arrancar o braço da garota.— Aqui está ela, chefe! - ele a empurrou em minha direção — Agora pelo menos já não está fedendo - deu um risinho.— Pode sair - fiz um gesto com a cabeça — Venha! - a chamei com os dedos para se aproximar. Ela mantinha os olhos baixo.Agora estava limpa. Olhei melhor os detalhes de seu rosto. O cabelo castanho molhado e escorrido caía emoldurando seu rosto. Percebi que tinha o rosto delicado e o corte em cima da sobrancelha quebrava a feição fina, suave de sua pele, que tinha marcas vermelhas onde ela foi machucada. Inclusive por mim