O homem que sempre a tratou como uma filha querida, a quem Isabela chamava de “pai”, sequer lançou um segundo olhar em sua direção.Com um gesto impaciente, como quem afasta um inseto incômodo, ele ordenou que as duas fossem tiradas dali imediatamente.Na saída, Isabela ainda se recusava a aceitar. Ela se agarrou ao batente da porta com todas as forças, gritando em desespero:— Você não pode fazer isso comigo, Eduardo! Não pode! Eu estou grávida, o filho é seu! Você tem que assumir a responsabilidade!Suas palavras soavam como delírios de uma mulher à beira da loucura.— Eduardo? Ao ouvir o nome, Pedro se virou para encará-lo.Eduardo sentiu um nojo tão profundo que parecia tomar conta de todo o seu ser. Tentou rir, mas a expressão travada em seu rosto não permitiu. Ele se perguntou, incrédulo, como um dia pôde gostar de uma mulher tão repulsiva.— Pedro. — Eduardo caminhou até ele e olhou para aquele senhor, cujo cabelo já estava quase todo branco. — Eu nunca toquei nela. Juro. Nunca
Nosso casamento aconteceu na primavera do segundo ano.Como prometido quando éramos jovens, Lina foi a única madrinha que eu quis ao meu lado.Eu não avisei ninguém de Bela Vista, nem família, nem amigos. Contudo, de algum jeito, a notícia se espalhou.No grande dia, tanto meu pai quanto Eduardo apareceram sem nenhum aviso.Gael veio até mim, buscando minha opinião. Enquanto a maquiadora me preparava, levantei os olhos e vi minha imagem refletida no espelho, ao lado do meu futuro marido.O visual da noiva exigia algo mais marcante, então, ao olhar para o espelho, percebi o quanto estava diferente do meu dia a dia.Era como uma flor que Gael plantou especialmente para mim no nosso quarto de casamento. Uma begônia tímida, que começava a desabrochar, mas já exalava sua beleza.Gael, com seu terno preto, estava ainda mais irresistível.Nos olhamos por um instante e, naquele olhar, compartilhamos um sorriso silencioso.— Eu não quero vê-los. Gael não hesitou e, com um gesto tranquilo, diss
O casamento daquele dia foi simplesmente deslumbrante, mas havia algo de surpreendente na sua doçura, algo inesperado que tomava conta de tudo.Eduardo e Pedro não conseguiram sequer pôr os pés na cerimônia, mas, de forma curiosa, nenhum dos dois fez questão de sair.No entanto, Pedro não resistiu até o final.De repente, teve um infarto e foi levado de ambulância para o hospital. Sobreviveu, mas ficou em coma.Apesar disso, Eduardo permaneceu ali até o último momento da festa, como se estivesse preso àquele instante.O mais estranho foi que Lina nunca bloqueou Pedro nas redes sociais.Por isso, ele pôde acompanhar quase toda a cerimônia através do feed de Lina.Eduardo, por sua vez, já sabia desde antes do casamento que o noivo de Mariana era Gael.Ele era um amigo de faculdade dela, extremamente talentoso, e Mariana sempre falava muito bem dele.Na época, ainda estavam naquela fase de flerte, e Eduardo não conseguia esconder o ciúme toda vez que o nome de Gael surgia.Por isso, com o
— Eu já tomei minha decisão, Gael.De frente ao espelho, encarei meu reflexo. Uma figura pálida e cansada, que parecia finalmente pronta para mudar de rumo. Me surpreendi ao perceber que tomar uma grande decisão não era tão difícil quanto eu temia.— Mariana, você aceitaria se casar comigo?A pergunta de Gael veio com uma firmeza inesperada, mas a emoção em sua voz era inconfundível. Meu peito se apertou e por um instante senti um nó na garganta. Antes que qualquer lágrima pudesse escapar, deixei minha resposta sair em um sussurro:— Sim, eu aceito.— Você não faz ideia de quanto tempo esperei por esse momento desde a época da faculdade, Mariana. — Exclamou Gael, contente.Aquele sorriso discreto que eu não via há tempos surgiu em meus lábios. Era como se algo em mim estivesse despertando novamente.— Me dê só duas semanas, Gael. Preciso resolver algumas pendências aqui antes de partir.— Eu espero por você, Mariana. Sempre.Assim que desliguei o telefone, a porta do meu quarto foi ab
Meu pai parecia estar genuinamente satisfeito com a minha atitude madura.Renata, por sua vez, não conseguia esconder o sorriso de satisfação.Quando eles finalmente saíram, Isabela ficou.— Mariana, posso te ajudar a arrumar suas coisas? — Ela disse, com uma doçura forçada, mas seus olhos brilharam de um modo que não conseguia disfarçar.— Eu não esperava que papai fosse aceitar a troca dos nossos quartos. Você está brava comigo, né? — Ela continuou, com um tom quase desafiador. — Eu tirei o Edu de você, e agora estou ocupando o seu quarto de infância.Preferi não responder. Apenas me virei e comecei a pegar minha mala.Porém, de repente, um gemido dramático ecoou pelo quarto.— Ai! — Isabela caiu no chão, esbarrando com o braço na quina da mesa. O hematoma apareceu quase que imediatamente. — Mariana...— O que você fez, Mariana?A voz de Eduardo ressoou pela porta aberta.Sem que eu percebesse, ele havia subido as escadas e estava parado ali. Seus olhos escureceram ao ver Isabela caí
De repente, Isabela começou a chorar.— Edu, não briga com a Mariana por minha causa. — Ela falava baixinho, com um tom de quem estava completamente ferida. — Eu estou bem, Mariana tem razão em estar chateada comigo.Eduardo me olhou, mas sua expressão se endureceu completamente.— Você está com ciúme de eu gostar da Isabela. Ciúme de eu tratar bem ela. Inveja de todo mundo gostar dela. Você já não é mais a mesma de antes, Mariana. Agora, você está completamente distorcida, não é?Após essas palavras, ele pegou Isabela nos braços e se virou, indo embora.Fiquei ali, assistindo à silhueta deles se afastando, e de repente percebi que, sem perceber, minhas lágrimas haviam secado.Até que isso não era tão ruim.Eu já tinha chorado demais por causa do Eduardo nesses últimos dias. Talvez, agora, eu realmente nunca mais fosse me deixar machucar por ele ou derramar outra lágrima.À noite, o grupo de amigos começou a ficar agitado no WhatsApp.Eduardo havia mandado uma mensagem: [De repente, es
Eu tinha acabado de sair do grupo quando o telefone começou a tocar. O nome de Eduardo virou na tela.— Mariana, venha aqui agora.— E onde seria isso?— No nosso lugar de sempre, você sabe.— E por que eu iria?— Para pedir desculpas à Isabela.— Desculpas? Por qual motivo?— Você saiu do grupo de repente. Já parou para pensar no que as pessoas vão falar dela por causa disso? — Repreendeu Eduardo, seu tom carregado de uma autoridade que parecia inquestionável. — Eu não vou permitir que ninguém fale mal da Isabela. Ela não fez nada de errado. Foi uma escolha minha, e ela merece respeito. Não é justo que a julguem por sua atitude impulsiva.Pensei que já estivesse imune às palavras dele, que nada mais pudesse me atingir. Mas não. Senti meu peito se apertar de tanta raiva.Agarrei o telefone com força, as mãos tremendo de indignação. Quando finalmente consegui responder, minha voz saiu trêmula, embargada pela emoção:— Eduardo, você não pode me tratar desse jeito. Com que direito você me
Isabela se mudou para o meu quarto.Eu, por outro lado, não fui para o dela.Acabei escolhendo um quarto de hóspedes qualquer para ficar.As roupas de cama que os empregados prepararam estavam úmidas e frias, mas isso pouco me importava.Me deitei com a roupa que vestia e fechei os olhos.Era só questão de aguentar mais alguns dias. Depois disso, tudo estaria finalmente acabado.No dia seguinte, logo pela manhã, desci as escadas e me deparei com uma cena que me deixou sem chão.No salão lateral, o altar com a foto e as oferendas da mamãe estava completamente destruído.A foto dela, jogada ao chão, tinha o vidro do porta-retratos quebrado e marcas de pegadas sujas sobre a imagem.A expressão sorridente que ela tinha na foto agora parecia cheia de dor e desespero.As oferendas estavam espalhadas pelo chão, e o cachorro de Isabela mastigava os restos como se fossem brinquedos.E Isabela? Ela estava ao lado, batendo palmas e rindo, como se aquilo fosse uma brincadeira.Senti meu sangue sub