A última imagem que Eduardo tinha de Mariana era aquele olhar que ela lhe lançou antes de partir.Era um olhar vazio, sem ondas, sem emoções.Como se ele fosse apenas mais um estranho. Um figurante irrelevante na história da vida dela.De repente, Eduardo se levantou de supetão. Estava prestes a sair quando a porta se abriu e Isabela entrou.— Edu...A voz dela era suave, e aquele jeito frágil, quase tímido, estava mais uma vez estampado em seu rosto.Os olhos grandes, sempre brilhantes, pareciam estar à beira das lágrimas, como se ela tivesse acabado de ser injustiçada.— Você de novo bebeu demais. Amanhã vai reclamar que está com dor de cabeça, né? — Disse Isabela, com uma voz cheia de preocupação. Com delicadeza, ela segurou o braço dele.Eduardo abriu a boca para falar, mas no mesmo instante sentiu aquele perfume familiar.Ele ficou imóvel, as palavras que estavam prestes a sair morreram antes de alcançar seus lábios. A mão que ia empurrar Isabela parou no ar.— Que cheiro bom é es
— Eu sou mesmo alérgica a pêssego! Meu pai sabe disso. Foi ele quem descobriu que a Mariana mandou a empregada passar suco de pêssego na minha cama... — Explicou Isabela, enquanto chorava com a mão no rosto, cheia de indignação.— Chega de mentiras! — Eduardo deu um passo à frente, agarrando a gola da blusa de Isabela com força.Ele era muito alto, e naquele momento praticamente levantou Isabela do chão.— Edu... Solta! Eu não consigo respirar!Ela se debatia, mas Eduardo apenas a encarava de cima, os olhos fixos nela, enquanto seu rosto, tão bonito, ia se contorcendo de raiva.— Isabela, você esqueceu que está usando o perfume preferido da Mariana? Aquele que eu comprei pra ela tantas vezes? Só que, com o tempo, eu mesmo acabei esquecendo...Eduardo soltou uma risada amarga, cheia de autoironia. Ele havia esquecido tantas coisas.Esqueceu o quanto Mariana tinha sido devotada a ele durante todos aqueles anos.Esqueceu o quanto ela o amou profundamente, com cada gesto e cada palavra.Es
A confusão causada por Eduardo acabou incomodando tanto os vizinhos que eles chamaram a administração do prédio.Foi só então que ele descobriu que Mariana já havia se mudado há algum tempo. Além disso, ela havia deixado o imóvel sob responsabilidade da administração para ser vendido.Para onde ela foi? Ainda estava em Bela Vista? Um dia voltaria? Quando?Eduardo não tinha nenhuma resposta.Na sua mente, só havia um pensamento que o aterrorizava, algo que crescia dentro dele como uma fera à espreita, pronta para devorá-lo.Ele havia perdido Mariana. E talvez, dessa vez, ele a tivesse perdido para sempre.As mentiras e armadilhas de Isabela e Renata contra Mariana, uma por uma, vieram à tona.Até mesmo os empregados da família Moura, que sempre ficaram em silêncio, resolveram falar. Um por um, defenderam Mariana, expondo toda a injustiça que ela havia sofrido.No dia em que Isabela e Renata foram expulsas da mansão da família Moura, foi um verdadeiro espetáculo.As duas saíram humilhada
O homem que sempre a tratou como uma filha querida, a quem Isabela chamava de “pai”, sequer lançou um segundo olhar em sua direção.Com um gesto impaciente, como quem afasta um inseto incômodo, ele ordenou que as duas fossem tiradas dali imediatamente.Na saída, Isabela ainda se recusava a aceitar. Ela se agarrou ao batente da porta com todas as forças, gritando em desespero:— Você não pode fazer isso comigo, Eduardo! Não pode! Eu estou grávida, o filho é seu! Você tem que assumir a responsabilidade!Suas palavras soavam como delírios de uma mulher à beira da loucura.— Eduardo? Ao ouvir o nome, Pedro se virou para encará-lo.Eduardo sentiu um nojo tão profundo que parecia tomar conta de todo o seu ser. Tentou rir, mas a expressão travada em seu rosto não permitiu. Ele se perguntou, incrédulo, como um dia pôde gostar de uma mulher tão repulsiva.— Pedro. — Eduardo caminhou até ele e olhou para aquele senhor, cujo cabelo já estava quase todo branco. — Eu nunca toquei nela. Juro. Nunca
Nosso casamento aconteceu na primavera do segundo ano.Como prometido quando éramos jovens, Lina foi a única madrinha que eu quis ao meu lado.Eu não avisei ninguém de Bela Vista, nem família, nem amigos. Contudo, de algum jeito, a notícia se espalhou.No grande dia, tanto meu pai quanto Eduardo apareceram sem nenhum aviso.Gael veio até mim, buscando minha opinião. Enquanto a maquiadora me preparava, levantei os olhos e vi minha imagem refletida no espelho, ao lado do meu futuro marido.O visual da noiva exigia algo mais marcante, então, ao olhar para o espelho, percebi o quanto estava diferente do meu dia a dia.Era como uma flor que Gael plantou especialmente para mim no nosso quarto de casamento. Uma begônia tímida, que começava a desabrochar, mas já exalava sua beleza.Gael, com seu terno preto, estava ainda mais irresistível.Nos olhamos por um instante e, naquele olhar, compartilhamos um sorriso silencioso.— Eu não quero vê-los. Gael não hesitou e, com um gesto tranquilo, diss
O casamento daquele dia foi simplesmente deslumbrante, mas havia algo de surpreendente na sua doçura, algo inesperado que tomava conta de tudo.Eduardo e Pedro não conseguiram sequer pôr os pés na cerimônia, mas, de forma curiosa, nenhum dos dois fez questão de sair.No entanto, Pedro não resistiu até o final.De repente, teve um infarto e foi levado de ambulância para o hospital. Sobreviveu, mas ficou em coma.Apesar disso, Eduardo permaneceu ali até o último momento da festa, como se estivesse preso àquele instante.O mais estranho foi que Lina nunca bloqueou Pedro nas redes sociais.Por isso, ele pôde acompanhar quase toda a cerimônia através do feed de Lina.Eduardo, por sua vez, já sabia desde antes do casamento que o noivo de Mariana era Gael.Ele era um amigo de faculdade dela, extremamente talentoso, e Mariana sempre falava muito bem dele.Na época, ainda estavam naquela fase de flerte, e Eduardo não conseguia esconder o ciúme toda vez que o nome de Gael surgia.Por isso, com o
— Eu já tomei minha decisão, Gael.De frente ao espelho, encarei meu reflexo. Uma figura pálida e cansada, que parecia finalmente pronta para mudar de rumo. Me surpreendi ao perceber que tomar uma grande decisão não era tão difícil quanto eu temia.— Mariana, você aceitaria se casar comigo?A pergunta de Gael veio com uma firmeza inesperada, mas a emoção em sua voz era inconfundível. Meu peito se apertou e por um instante senti um nó na garganta. Antes que qualquer lágrima pudesse escapar, deixei minha resposta sair em um sussurro:— Sim, eu aceito.— Você não faz ideia de quanto tempo esperei por esse momento desde a época da faculdade, Mariana. — Exclamou Gael, contente.Aquele sorriso discreto que eu não via há tempos surgiu em meus lábios. Era como se algo em mim estivesse despertando novamente.— Me dê só duas semanas, Gael. Preciso resolver algumas pendências aqui antes de partir.— Eu espero por você, Mariana. Sempre.Assim que desliguei o telefone, a porta do meu quarto foi ab
Meu pai parecia estar genuinamente satisfeito com a minha atitude madura.Renata, por sua vez, não conseguia esconder o sorriso de satisfação.Quando eles finalmente saíram, Isabela ficou.— Mariana, posso te ajudar a arrumar suas coisas? — Ela disse, com uma doçura forçada, mas seus olhos brilharam de um modo que não conseguia disfarçar.— Eu não esperava que papai fosse aceitar a troca dos nossos quartos. Você está brava comigo, né? — Ela continuou, com um tom quase desafiador. — Eu tirei o Edu de você, e agora estou ocupando o seu quarto de infância.Preferi não responder. Apenas me virei e comecei a pegar minha mala.Porém, de repente, um gemido dramático ecoou pelo quarto.— Ai! — Isabela caiu no chão, esbarrando com o braço na quina da mesa. O hematoma apareceu quase que imediatamente. — Mariana...— O que você fez, Mariana?A voz de Eduardo ressoou pela porta aberta.Sem que eu percebesse, ele havia subido as escadas e estava parado ali. Seus olhos escureceram ao ver Isabela caí