Fernando não conseguiu pregar o olho durante a madrugada, a revolta lhe invadia ao se recordar das marcas no corpo de Elisa. Altas horas, ele ergueu-se da cama, seu corpo estava encharcado pelo suor. Já em pé, chutou qualquer coisa que estivesse à sua frente num sentimento de impotência, mas sabia que ao se encontrar com Manuel não teria controle algum, partiria a cara dele para lhe ensinar a nunca mais erguer a mão para uma dama. Várias vezes seguidas, precisou sair do quarto numa angústia devastadora. Desejava falar com Elisa, entretanto, não podia invadir seus aposentos, ainda mais pela madrugada. Chegou a pensar que, se encontrasse Manuel no leito de Elisa, seria capaz de cometer um crime. Por isso, aquela foi a pior noite que ele viveu em toda sua vida.Quando os primeiros raios de sol finalmente surgiram, timidamente entre as nuvens, Fernando se ergueu da cama, ordenou a um servo que lhe preparasse um banho. Seu estado estava deplorável, o rosto marcado pela exaustão de uma noit
Fernando cavalgou na mesma intensidade com que seu coração batia até a estação de trem. Aquela era uma cavalgada de cerca de uma hora se feita de forma lenta, mas ele fez em trinta e cinco minutos, de forma rápida. Sabia que Elisa certamente havia ido devagar, e que optaria pelo trem, já que a viagem até Vargem a cavalo seria um dia inteiro e ela não suportaria. O transporte ferroviário na cidade ainda era algo novo, então certamente ela acreditou também ser uma opção de fuga.No caminho, Fernando avistou dois homens viajando sobre seus supostos animais na contramão. Analisou detalhadamente e reconheceu o puro sangue de crina escura característico dos animais de sua fazenda. Apesar de a dupla se tratar de um homem adulto de meia idade e um rapaz ainda jovem, Fernando não pôde deixar de pensar que tivessem feito algum mal a Elisa e furtado o animal. Tomado por uma grande coragem, ele parou o seu cavalo bem à frente da dupla, impedindo a passagem e os deixando um tanto assustados.— Ond
⚜️Chegaram à fazenda de Santana na tarde daquele dia. Os servos que Fernando contratou para trabalharem na casa principal eram pessoas simples e de confiança, o próprio padre os havia indicado. Por isso, não se importou que vissem Elisa ali, e juntos. Adelaide, a governanta, se apressou em recebê-los, não esperava que o patrão viesse tão rápido. Elisa não a conhecia, afinal, a mulher viera de outro país, falava apenas o necessário em outra língua.Fernando ordenou que lhes preparassem um banho e algo para se alimentarem. A viagem havia sido exaustiva, e Elisa estava em uma espécie de choque ao entrar na casa. Era estranho pisar ali, onde nasceu e cresceu, nem sequer parecia sua casa, por um instante se sentiu como uma intrusa. Fernando já havia começado a reforma, a sala estava um pouco maior, o piso parcialmente trocado. Mas ela se sentiu feliz em saber que ele era quem cuidava de tudo.— Seu quarto ainda está como antes — Fernando explicou.Mas Elisa estava em transe e carregada
Após o momento intenso de amor que viveram, Elisa e Fernando dormiram de exaustão. Quando Elisa despertou, sentiu beijos delicados em seu rosto, se moveu preguiçosamente na cama e gemeu baixinho de satisfação quando percebeu que tudo tinha sido real.— Meu amor, você precisa se alimentar. Aquela voz rouca, capaz de deixá-la zonza, soou em seus ouvidos.Elisa sentou-se na cama devagar, cobrindo o corpo com o lençol, então viu a bandeja com uma espécie de sopa e alguns pães repousados em cima da cama. O cheiro estava maravilhoso. Então, percebeu que realmente estava faminta. Fernando vestia apenas uma camisa de linho e calça casual, ainda assim lindo. A forma como a olhava lhe deixava mais envolvida, um olhar tênue cheio de carinho. Devagar, se aproximou e tocou seus lábios em um beijo leve e delicado. Elisa recebeu e saboreou cada segundo daquele toque. Não pôde deixar de pensar sobre o que seria dali em diante e de como fariam as coisas. Mas Fernando agia naturalmente e estava pleno,
Antônia Valença.Estavam indo ao boticário na cidade. Antônia havia dito que desejava encomendar alguns cremes que Elisié lhe dissera, mas na verdade, iria mesmo enviar um cartão postal para Fernando. Tinha levado Joana para que ela distraísse a senhora Mazé, que só reclamava do calor insuportável dentro da carruagem enquanto se abanava com seu leque.As coisas em casa não andavam nada bem, desde o sumiço de Elisa e Fernando, sua mãe e Manuel pareciam mais mal humorados do que nunca. Antônia tinha inventado uma suposta prima que Elisa tinha lhe dito ter em Campo Grande, aquilo só fez atrasar a busca e Manuel ficou furioso quando seus capangas retornaram descobrindo que a tal prima não existia.Ainda estavam nos arredores da fazenda dentro da carruagem quando Antônia olhou pela janela e viu algo que lhe chamou atenção. Entre os pastos verdejantes, havia uma pessoa debaixo de uma árvore e ao seu lado um cachorro sentado rigidamente como se o protegesse, uma espécie de vira-lata com past
Após cerca de uma hora, Antônia foi levada ao quartinho por um servo. Sentia pavor daquele lugar. Se recordou de todas as vezes em que a pobre de sua irmã esteve presa ali, e Fernando também. O lugar era naturalmente escuro, estreito e úmido. Havia apenas uma pequena lamparina que iluminava o ambiente. As paredes de pedra estavam descascadas e cheias de teias de aranhas, causando arrepios em sua pele. Ela se jogou no colchão de palhas, receosa de que tivesse algum tipo de inseto, como ratos, escorpiões ou até mesmo aranhas. Estava angustiada, pois Manuel certamente iria atrás de Elisa e Fernando, de alguma forma se sentia culpada.De repente, uma voz masculina agitou seus pensamentos.— A senhorita está aqui por minha causa?— perguntou um tanto aflito.Ela se levantou, forçou a grade e abriu a cela com facilidade, pois estava muito velha e não prendia mais, foi ao encontro daquela voz, se lembrou de que Joaquim também estava ali. O encontrou sentado com a mão ali naquele mesmo lugar q
O retorno foi doloroso para ambos, tanto Fernando quanto Elisa sabiam que estar de volta a Serrana significava ficar bem longe um do outro. Enquanto não resolvessem a situação civil de Elisa, não poderiam correr o risco de serem vistos como amantes, pois além de ser um escândalo e manchar o nome de Elisa, poderia pôr fim a todas as chances de anular o casamento. Os dois sabiam muito bem o que precisavam fazer, só não sabiam se conseguiriam fazer, que é se manterem distantes.A viagem tinha sido exaustiva, chegaram quase na hora do jantar. Elisa sentiu os braços e os lábios de Fernando pela última vez, ainda dentro da carruagem de aluguel. Entre suspiros e lágrimas, não conseguiram dizer nenhuma palavra ou promessa.Assim que adentraram a casa, os servos mais pareciam ter visto um fantasma. Até mesmo a senhora Francesca, que parecia estar sempre no controle, ficou pálida como um papel, e seus olhos fixaram-se nas mãos de Fernando depositadas gentilmente na cintura de Elisa, que rapida
Elisa acompanhou os servos que levaram seu irmão ao quarto em que seria acomodado. À porta, antes de deixá-lo, ainda o abraçou com todo seu carinho. Parecia um sonho tê-lo de volta depois de tanto tempo.— Ainda não acredito que é real ter você aqui, Joaquim — falou, suspirando em seus braços.— É real sim, Elisa. E prometo que não a deixarei mais. Estou aqui para cuidar de você.Ela suspirou fundo, contendo uma lágrima de emoção.O lacaio surgiu à porta e comunicou que o banho de Joaquim estava preparado. Elisa o soltou e viu seu irmão entrar, até que ficou só no corredor. De repente, Elisa viu Antônia surgir, ela estava completamente aflita, sua pele clara, mais pálida do que nunca. A jovem, ao ver Elisa, se lançou sobre seus braços.— Elisa, como é bom vê-la! Céus, Manuel e Fernando estão discutindo, eles podem se matar!Antônia estava muito angustiada, e Elisa também ficou, temeu pela vida de Fernando, ele estava com muita raiva acumulada de seu irmão e não sabia do que seria cap