A semana passou rápido. Poucos dias depois, todos foram surpreendidos com a chegada dos convites do casamento entre Fernando Valença e Valentina Antunes. A cidade estava em euforia, todos falavam acerca deste evento. Manuel colocou fogo no que estava à sua mão e assistiu ao envelope de papel caro escrito com letras douradas bordadas se tornar em cinzas. Irritado, Manuel jogou a pilha de papéis que tinha em sua mesa no chão. Elisa respirou fundo, contendo a lágrima, enquanto analisava o convite sozinha em seu quarto. Havia liberado Fernando a ir até o fim com o casamento, mas o amava e aquilo doía. Saber que o homem a quem pertencia seu coração se casaria com outra e bem à sua frente. Felizmente para Antônia, Manuel mal parou em casa naqueles dias, assim ela recebia as visitas constantes de Elisa e Joana, já que era a senhora Mazé quem estava o tempo todo fazendo sua guarda. Naquela manhã, Elisa lhe entregou uma carta enviada por Joaquim que a deixou com o coração aquecido. — Ah, El
Chegaram à casa dos Antunes e, assim que Manuel desapareceu de seu campo de visão, Elisa decidiu acabar com sua angústia e ir até o quarto de Valentina. Não suportava mais aquela dúvida, afinal, na casa todos pareciam esperar pela noiva de forma natural.Quando chegou no corredor principal, Elisa notou um movimento estranho, as servas pareciam tensas, uma delas até chorava. Ao vê-la, se recomporam e ficou nítido que estavam tentando esconder algo. Então, Elisa soube que Valentina havia cumprido com sua palavra.- A senhorita Valentina não está, não é mesmo? - Elisa falou, se dirigindo às servas que caíram em desespero.- Ah, senhora Valença, não sabemos o que fazer. Isto será um escândalo. O senhor Antunes vai ficar louco!Então, Elisa abriu a porta e viu que tudo estava intocável, o vestido de noiva sob a cama e todos os outros adereços nupciais. Provavelmente, Valentina teria ido pela madrugada, como dissera. Uma mistura de ansiedade e alívio por Fernando não se casar lhe invadiu. N
Após sair do quarto de Valentina e ser consolado com algumas palavras pela dama de companhia da jovem. Fernando se deparou com Elisa no corredor. Ficaram de frente um para o outro, se entregando carregados de palavras que desejavam dizer, mas não podiam. A beleza dela o deixara mais uma vez sem fôlego, desejava, mais do que tudo, que pudessem ter uma chance juntos. Como era possível duas pessoas se amarem tanto e ser-lhes negada a felicidade? Aquilo chegava a queimar seu peito.— Senhor, Fernando... — ela falou quase sem voz.Era nítido que se controlava, afinal, algum convidado poderia vê-los ali naquele corredor a sós. Mas Elisa precisou apertar os lábios para conter o desejo de se lançar sobre ele. Agora que sabia sobre sua fidelidade, ficava ainda mais difícil controlar o que sentia.Então, foram interrompidos por gritos estéricos vindo do final do corredor. Era o quarto em que Fernando estava hospedado. Uma das servas gritava em pânico por um pedido de socorro. Elisa encarou F
- Eu vi alguém ali na entrada da porta! - Alberto argumentou, apavorado.Edna saiu rapidamente e foi conferir, não havia ninguém.Ela retornou e Manuel estava revirando as gavetas do escritório.- Não há ninguém.Manuel continuava a procurar por algo.Alberto indagou:- Preciso ir embora, vou providenciar minha viagem à Europa ainda hoje, não quero que nada faça ligação entre mim e o que houve hoje.Então, Manuel encontrou o que procurava.- Eu sabia que Daniel a guardava em algum lugar - falou, apreciando uma arma de fogo em suas mãos. - Manuel, o que você pretende? - Edna perguntou, aflita.- Ainda hoje eu acabo com aquele maldito - ele falou, ainda admirando a arma em suas mãos de forma lunática.Edna levou as mãos à boca. Percebia que seu filho estava fora do juízo. Manuel guardou a arma na cintura e saiu da sala, passando por sua mãe, lhe ignorando.Manuel saiu do escritório batendo a porta, estava cego pela raiva que sentia. Para ele, Fernando era o único responsável por toda
Naquela mesma tarde, de repente, a luz do dia se foi à medida que uma tempestade se aproximava. Ventos fortes arrastavam a decoração de flores delicadas preparada no jardim para o cumprimento dos noivos. Os forros de cetim se erguiam, derrubando os talheres de prata. Com a chegada da polícia, Fernando foi socorrido e levado para um dos quartos, não o que fora dele durante sua estadia como hóspede, pois ali, o corpo de Daniel era coberto por lençóis por seus empregados enquanto a polícia analisava tudo que tinha acontecido. Antonia conseguiu que um servo a levasse atrás do médico. Rodrigo Maia era um dos convidados que já tinha ido embora. A caminho da cidade, foi interceptado pelos servos dos Antunes e Antônia com a notícia da grande tragédia. Conhecia bem os Valenças, ele próprio cuidou de Jorge Valença quando caiu de seu cavalo num acidente. O senhor Menezes estava logo à frente em sua carruagem com sua família, e viu quando Antônia abordou o médico em desespero, saltando da carru
O assunto principal de toda a cidade era a tragédia que assolou os Valença e os Antunes. Logo, o boato de que Manuel havia se matado por causa de Daniel estava na boca de todos. Felizmente, Elisa era vista como uma vítima naquilo tudo, recebia o consolo e conforto de todos. Manuel não teve um sepultamento digno dos Valênças, afinal tinha sido o causador de toda desgraça.Edna não se recuperou, a perda do filho a fez perder o juízo por completo. Não se arrumava mais, não saía de seu quarto, parecia ter voltado a ser uma criança, usava uma boneca de Joana nos braços o tempo todo, lhe chamando pelo nome do filho. O doutor Rodrigo e o senhor Menezes estavam ali na fazenda dos Valença para avaliar Fernando. Uma semana se passou após o acontecido e o ferimento da bala cicatrizava bem, ele fazia repouso absoluto como foi recomendado. - Muito bem, senhor Valença. Pode-se dizer que o senhor nasceu novamente - o médico falou.Fernando estava sentado com o abdômen enfaixado. Ainda sentia dores
POR VOLTA DE 1810...— Preciso... falar com... minha filha... — lamentou João Alvares Carvalho com bastante dificuldade. O homem estava num estágio avançado de uma doença desconhecida e misteriosa.— Sua filha não pode se aproximar, ninguém de sua família, senhor João, pode ser muito perigoso — afirmou o doutor, pela quarta ou quinta vez naquele dia, desde que João insistira em falar com a filha. Ele parecia pressentir que estava morrendo, pois a aflição do homem tão fraco e esquelético sobre a cama era intensa.A filha, que aguardava ao lado de fora nos braços de sua mãe, estava muito angustiada. Elisa temia que aqueles fossem os últimos minutos de vida de seu pai e desejava ansiosamente estar ao seu lado.O vento balançava as frestas das janelas, anunciando uma forte tempestade. Era uma noite assustadora, e toda a angústia presenciada naquela casa anunciava que o pior estava por vir.Após momentos terríveis de espera, Elisa e a mãe ouviram gritos vindo de dentro do quarto. A dor que
Dias se passaram após a morte do pai de Elisa e lá estava ela novamente usando seu vestido preto, sobre mais lágrimas e angústia. Sua mãe não havia suportado a dor da perda de João e supostamente do filho Joaquim. Teresa esteve mal nos dias que se seguiram, a mulher não saía mais da cama e recusava se alimentar, ficando fraca, e tanta tristeza a sufocou, a ponto de seu coração não aguentar. Sofrendo com sua perda, Elisa terminava de se despedir dos conhecidos que haviam estado no funeral. A maioria se tratava apenas de curiosos, ela sabia que todos faziam conversas sobre o quanto desamparada estava, afinal se tratava apenas de uma jovem de vinte anos, solteira e sem família. Muitos estavam certos de que ela cairia na vida fácil, já que rondava outro boato de que o grande fazendeiro João Álvares havia deixado apenas dívidas, e esta parte Elisa sabia muito bem que não eram apenas mexericos. Ela e sua mãe ficaram assustadas com a quantidade de promissórias que haviam encontrado no escri