Ao chegar em seu quarto, Elisa se lançou em sua cama e fez a única coisa que soube fazer desde que sua vida se transformou naquele inferno: ela chorou.
Sentia tanta raiva daquela família e principalmente de Fernando, ele havia sido um insensível. Quando viu o quanto as meninas demonstraram afeto por ele e seu cuidado por elas, Elisa havia chegado a acreditar que ele fosse diferente dos demais membros da parte frígida da família, porém demonstrou se tratar de um dos personagens principais, se não o pior deles. Então sentiu o seu peito ser esmagado por uma forte emoção de amargura, chorou por mais um tempo, e quando acreditava que não poderia ficar pior, ouviu a porta ser aberta com violência e sentiu todo o seu corpo estremecer com a presença de Manuel parado bem à porta, decidido a sabe-se lá o quê. Num impulso, ela sentou-se na cama e arrastou-se para trás rapidamente como um animal acuado enquanto enxugava suas lágrimas ainda com as mangas do vestido. Seu coração batia mais rápido do que nunca, fazendo sua respiração se agitar. — Você ainda está vestida — Manuel falou com sua expressão rude, o que só a deixou mais assustada. — Não - es-tou bem... — ela gaguejou. Ele, no entanto, se aproximou como se suas palavras não tivessem importância alguma. Elisa o assistiu retirar a sua parte de cima das roupas, a cada peça retirada sentia tanto medo como se estivesse prestes a ser esfaqueada. Sentiu também um frio percorrer toda a extensão do seu corpo e desejou, mais do que tudo, que alguém a salvasse daquele pesadelo. Nunca tinha visto um homem sem roupas, mesmo que apenas com o peito exposto, Manuel não era de aparência desagradável, tinha a pele clara, mais clara que Fernando, na verdade, eles não se pareciam em nada. Seu marido era a cópia fiel da mãe, olhos escuros e cabelos médios negros levemente encaracolados, e tinha um corpo atlético. Ela pôde ver alguns pêlos por toda extensão, porém sua beleza não a atraía, ao contrário, a forma como ele agia lhe causava medo, ele não demonstrava nenhum tipo de sentimento e era sempre frio, arrogante e autoritário. Manuel a puxou com brutalidade, encaixando-a por debaixo de seu corpo, ignorando o quanto ela tremia. Elisa se viu paralisada. — Se você resistir será mais difícil. Vamos ter que fazer isso de qualquer jeito. Por algum motivo estranho, ele não tentou beijá-la, felizmente, e ela agradeceu mentalmente, mas Elisa sempre imaginou que casais se beijassem neste momento. Na verdade, havia imaginado muitas coisas que certamente jamais viveria, talvez devesse parar de ler tantos livros de romance. Desejava gritar, mas não adiantaria, afinal ele era seu marido e tinha total direito sobre seu corpo. Lhe restaria apenas ficar quieta para que tudo acabasse logo. Quando Manuel retirou o vestido, rasgando-o com facilidade e retirou o espartilho na mesma intensidade, era como se ele também desejasse acabar logo com aquilo. Ela sentiu seu rosto queimar de vergonha por ficar tão exposta, apesar de que a roupa de baixo lhe cobria até os joelhos. Então, ele levou a mão até a abertura de suas pernas e, quando a tocou por cima do tecido, ela ouviu esbravejar algo que acreditava ser nada apropriado para uma dama ouvir. — … maldição! — depois, disse, se levantando rápido. Ele se afastou da cama, procurando por algo desesperado, como se suas mãos estivessem sujas, mas não estavam. Então, com seu corpo livre, ela conseguiu raciocinar. Elisa havia se esquecido de que estava próximo ao período de suas regras, então viu uma mancha de sangue entre as pernas sobre o calção. Já Manuel não disfarçava seu asco, para Elisa, felizmente estaria livre, pelo menos daquela vez. Depois de muito procurar por um lavabo, Manuel o encontrou em cima de um móvel. Ela assistiu encher a pequena bacia com a água do jarro e lavar as mãos que nem estavam sujas freneticamente enquanto continuava xingando. Elisa se vestiu rapidamente como pôde, para tampar seu corpo exposto com o que restara do vestido, ainda trêmula e nervosa. Quando terminou de se lavar, Manuel passou por ela em direção à porta. Parou com a mão na maçaneta e se virou para Elisa. — Espero que seja sensata e não permita que saibam que nosso casamento não foi consumado. Ainda nervosa, ela balançou a cabeça, concordando. Mas ele ainda ficou parado na porta, Elisa desejava ansiosamente que seu então, marido, desaparecesse dali. — Preciso que use do seu... — ele não conseguiu continuar, pois parecia sentir nojo em falar sobre aquilo. Tudo ainda era muito constrangedor para Elisa, ela se sentiu humilhada com toda a situação, e um nó se formou em sua garganta. Ele continuou: — … ao amanhecer, suje sua roupa de cama com… sangue. Sentindo as lágrimas queimarem seu rosto, ela fitou o chão por um longo tempo. Acreditava que Manuel estivesse enlouquecido de vez, lhe pedindo aquilo. Ele, no entanto, notou a ingenuidade de sua parte e, antes de sair, pigarreou e esclareceu: — Quando um casal consuma o casamento, é normal a mulher ter sangramento. Por isso, é melhor para nós dois que os servos vejam a roupa de cama suja, para terem motivos de fofoca amanhã. — Ele recompôs a voz e falou em tom de ameaça:— Ou você faz o que estou te ordenando, ou teremos que consumar de verdade. Somente tal possibilidade a deixava apavorada, então Elisa sabia muito bem o que deveria fazer e faria, talvez assim a poupasse por um tempo. — Prometo que farei. — Ótimo, boa garota — falou antes de sair. Quando a porta se fechou, mais lágrimas desceram, e ela sentiu tanto nojo de si mesma por ter sido tocada por aquele ogro que arrancou o vestido e terminou de rasgá-lo em muitas partes. Ainda abraçou seu próprio corpo enquanto gemia angustiada. Depois se levantou e conferiu se ainda restava água no lavabo, ela pegou a jarra e molhou um pedaço de pano esfregando em seu corpo como se fosse o suficiente para limpá-la dele.Assim que amanheceu, Elisa olhou em direção à janela, observando os raios de sol por sobre as cortinas. Havia dormido mal, na verdade fazia tempos que não dormia bem. Sua noite era agitada com pesadelos, sonhava com Jaoquim sendo atingido em combate, acordava assustada e angustiada. O pobre do seu irmão talvez nem soubesse da morte dos pais e nem que ela havia sido submetida a este casamento. Também sentia tanta falta dos pais, não tinha vivido o luto da forma apropriada. Se levantou, pediu à serva que lhe preparasse um banho. Antes que entrassem com os baldes de água quente, precisava fazer o que Manuel havia lhe pedido, era sua única garantia de que ele a deixaria em paz por um tempo.Logo no desjejum, soube que o clima naquela casa andava de mal a pior. Manuel tinha olheiras, como se também não dormisse a noite toda, foi difícil encará-lo depois do que havia acontecido na noite anterior. Elisa sentia medo daquele homem, o que era terrível, pois precisaria se acostumar a viver ao
O resto da manhã passou rápido. Elisa tinha pegado um livro na biblioteca, estava bastante envolvida em sua leitura sentada na sala. Antônia surgiu e foi logo perguntando:— Senhora Elisa, lê romance?Ela se sentou ao seu lado.— Me chame apenas de Elisa. E sim, gosto.Elisa analisou o título do livro em suas mãos.Antônia concordou com um sorriso e continuou aos suspiros:— São lindas as histórias de amor dos livros.Elisa sentiu tanta vontade de dizer à menina que na vida real era bem diferente, porém se calou.— Sim, são.— Elisa, será que algum dia vou encontrar um grande amor?Ela engasgou com a pergunta, então pode ter certeza de que a jovem se vestia como uma criança, porém já havia se tornado uma moça.Elisa fechou o livro e o colocou em seu colo delicadamente, se virando para Antônia. Percebeu que a menina estava vermelha com a pergunta que tinha lhe feito.— Antônia, quantos anos você tem?A jovem achou estranho aquela pergunta, porém respondeu com naturalidade:— Vou comp
Quando chegaram do passeio, a senhora Mazé levou as meninas para o banho. Ela parecia desejar se afastar urgentemente de Elisa e Fernando. Para Elisa, era impossível não ficar temerosa de que rumores surgissem, mas sabia o quanto a serva era discreta e sentia que se tratava de uma pessoa de confiança.O silêncio se instaurou entre os dois quando estavam a sós. Elisa achou melhor se retirar para não ter que tocar no assunto do passeio e de como ficou à vontade nos braços dele.Elisa chegou em seu quarto sentindo suas pernas ainda bambas. Fernando a deixava confusa, num momento insinuava que era uma interesseira e oportunista, entretanto, agora lhe tratava de forma doce e gentil.Logo tomou seu banho e descansou um pouco. Ao acordar, se sentiu um tanto entediada, além do mais, sua mente vagava o tempo todo em um Valença, porém se tratava do Valença errado. Sabia que era incorreto nutrir qualquer que fosse sentimento por Fernando. Mas tudo isso que sentia estava fora do seu controle, mas
De tudo que passava em sua mente, Elisa estava apavorada com a possibilidade de reencontrar Fernando. Felizmente, não se viram durante o jantar, os servos disseram que ele estava indisposto e por isso não esteve presente. Ela sabia que encontrar com ele não seria algo fácil, pois seu corpo ainda queimava com a lembrança do beijo que haviam trocado. Além do mais, ter seu atual marido e a megera da mãe dele à mesa não facilitava em nada as coisas.Elisa sentiu falta das meninas, elas também não estavam presentes. Quando perguntou por elas, Edna mudou de assunto imediatamente. Elisa tentou insistir, mas foi bruscamente reprimida por Manuel, que deixava claro que era o assunto de sua mãe e que não deveria insistir. Porém, não pôde deixar de notar o semblante triste em Mazé, que acompanhava o jantar em pé junto aos outros criados. Sentiu um nó na garganta, por algum motivo sabia que algo estava errado.Elisa se alimentou muito mal naquela noite, talvez devido à sua ansiedade com tantas coi
Dormir era algo impossível desde o momento em que os olhos de Fernando viram Elisa pela primeira vez. E ele nunca havia sentido nada parecido por mulher alguma. Elisa era uma mistura angelical e sedutora ao mesmo tempo, possuía um longo cabelo castanho cheio de cachos que se destacavam em sua pele rosada e olhos cor de mel. Sua boca era bem desenhada, lábios grossos e macios, e agora ele sabia o quanto deliciosos eram, pois os havia experimentado. Fernando sabia que era muito errado o que tinha feito, e quase a beijou novamente no quarto de suas irmãs. Ele se sentia um mau-caráter por isso, além do mais, aquela era a esposa de seu irmão. Se ela ao menos não tivesse se entregado a Manuel, talvez houvesse uma chance de anular o casamento, assim Fernando não se sentiria tão condenado ao inferno. Porém, restava apenas um desejo desenfreado que sentia por sua cunhada, e precisava se manter longe dela o máximo que conseguisse, ou não saberia se controlar.Naquela manhã, Fernando deu ordens
Antônia ficou eufórica quando recebeu a notícia de que iria à cidade com Elisa. Ambas estavam animadas, pois quem as acompanharia seria a senhora Mazé.Naquele dia, Fernando organizou suas coisas e, após a discussão com Manuel e Edna, partiu para a cidade com dois propósitos antes de ir para Vargem. Precisava procurar um amigo que lhe devia um favor, o major Gregório Sonata. Queria saber quais eram as chances de encontrar o irmão de Elisa, e sabia que Gregório seria útil. Também se encontraria com o senhor Menezes, seu advogado. Ele estava empenhado em busca de respostas, e Fernando precisava urgentemente de um argumento legal para tentar parar Manuel e Edna, aqueles dois à frente dos negócios da família eram capazes de levá-los à falência em pouco tempo. Seu meio-irmão não entendia nada de administração, e sua querida mãe era descontrolada nos gastos.A visita ao Major lhe rendeu alguma notícia, ele havia lhe dito sobre um grupo de soldados que tinha sido enviado à trincheira de Sant
Logo, Antônia e Elisa chegaram à fazenda. Assim que adentraram a casa grande, se depararam com a imagem de Edna com sua postura imponente. Ela estava incomodada com algo, e ao ver Antônia, parecia mais ter visto o diabo. Ficou completamente surpresa com a aparência da filha, e logo a dureza de sua expressão se tornou ainda mais visível que antes. Ela não gostou nenhum pouco da transformação da jovem. Antônia se encolheu, visivelmente temerosa diante da reação da mãe.— Mas que absurdo é esse, o que fizeram com minha filha? — Sua voz saiu em um tom de raiva e indignação.Antônia engoliu seco e abaixou o rosto.Ela estava vestida de um belo vestido de mangas compridas e rendas delicadas, em tom verde que combinava muito bem com seus olhos. Seus cabelos não tinham mais aquelas fitas horrorosas e sim um belo penteado que Elisié, a filha de Monique, havia feito na amiga, animada com a transformação.Edna se aproximou e tocou a filha com descaso, como se ela não estivesse bela de verdade.
🚨ALERTA DE GATILHO🚨(Este capítulo contém uma cena de violência doméstica e tentativa de abuso sexual).....⚜️Elisa foi se deitar cedo, estava exausta, havia passado a tarde com Joana e Antônia, já que Edna e Manuel tinham saído.No jantar, Manuel não esteve presente, Edna parecia preocupada com algo, ela já tinha se retirado da mesa rapidamente e mal tocou na comida. Elisa aproveitou e se retirou mais cedo também. Já estava vestida com suas roupas de dormir e lia um livro tranquilamente quando Elisa se assustou ao ver sua porta sendo aberta. Ela saltou da cama e sentiu cada parte do seu corpo estremecer com a presença de Manuel. Suas roupas estavam desalinhadas e ele parecia muito bêbado.Ele se aproximou sem encará-la enquanto retirava seu casaco.Elisa se sentiu como uma presa próxima de seu predador.— Retire... suas roupas, temos um... assunto pendente. — falou de forma automática, como se tivesse ensaiado aquela fala. Pelo tom usado e as palavras entrecortadas, Elisa t