06

Ao chegar em seu quarto, Elisa se lançou em sua cama e fez a única coisa que soube fazer desde que sua vida se transformou naquele inferno: ela chorou.

Sentia tanta raiva daquela família e principalmente de Fernando, ele havia sido um insensível. Quando viu o quanto as meninas demonstraram afeto por ele e seu  cuidado por elas, Elisa havia chegado a acreditar que ele fosse diferente dos demais membros da parte frígida da família, porém demonstrou se tratar de um dos personagens principais, se não o pior deles. Então sentiu o seu peito ser esmagado por uma forte emoção de amargura,  chorou por mais um tempo, e quando acreditava que não poderia ficar pior, ouviu a porta ser aberta com violência e sentiu todo o seu corpo estremecer com a presença de Manuel parado bem à porta, decidido a sabe-se lá o quê.

Num impulso, ela sentou-se na cama e arrastou-se para trás rapidamente como um animal acuado enquanto enxugava suas lágrimas ainda com as mangas do vestido. Seu coração batia mais rápido do que nunca, fazendo sua respiração se agitar.

— Você ainda está vestida — Manuel falou com sua expressão rude, o que só a deixou mais assustada.

— Não - es-tou bem... — ela gaguejou.

Ele, no entanto, se aproximou como se suas palavras não tivessem importância alguma. 

Elisa o assistiu retirar a sua parte de cima das roupas, a cada peça retirada sentia tanto medo como se estivesse prestes a ser esfaqueada. Sentiu também um frio percorrer toda a extensão do seu corpo e desejou, mais do que tudo, que alguém a salvasse daquele pesadelo. Nunca tinha visto um homem sem roupas, mesmo que apenas com o peito exposto, Manuel não era de aparência desagradável, tinha a pele clara, mais clara que Fernando, na verdade, eles não se pareciam em nada. Seu marido era a cópia fiel da mãe, olhos escuros e cabelos médios negros levemente encaracolados, e tinha um corpo atlético. Ela pôde ver alguns pêlos por  toda extensão, porém sua beleza não a atraía, ao contrário, a forma como ele agia lhe causava medo, ele não demonstrava nenhum tipo de sentimento e era sempre frio, arrogante e autoritário.

Manuel a puxou com brutalidade,  encaixando-a por debaixo de seu corpo, ignorando o quanto ela tremia. Elisa se viu paralisada.

— Se você resistir será mais difícil. Vamos ter que fazer isso de qualquer jeito.

Por algum motivo estranho, ele não tentou beijá-la, felizmente, e ela agradeceu mentalmente, mas Elisa sempre imaginou que casais se beijassem neste momento. Na verdade, havia imaginado muitas coisas que certamente jamais viveria, talvez devesse parar de ler tantos livros de romance. Desejava gritar, mas não adiantaria, afinal ele era seu marido e tinha total direito sobre seu corpo. Lhe restaria apenas ficar quieta para que tudo acabasse logo. 

Quando Manuel retirou o vestido, rasgando-o com facilidade e retirou o espartilho na mesma intensidade, era como se ele também desejasse acabar logo com aquilo. Ela sentiu seu rosto queimar de vergonha por ficar tão exposta, apesar de que a roupa de baixo lhe cobria até os joelhos. Então, ele levou a mão até a abertura de suas pernas e, quando a tocou por cima do tecido, ela ouviu esbravejar algo que acreditava ser nada apropriado para uma dama ouvir. 

— … maldição! — depois, disse, se levantando rápido.

Ele se afastou da cama, procurando por algo desesperado, como se suas mãos estivessem sujas, mas não estavam.

Então, com seu corpo livre, ela conseguiu raciocinar. Elisa havia se esquecido de que estava próximo ao período de suas regras, então viu uma mancha de sangue entre as pernas sobre o calção. Já Manuel não disfarçava seu asco, para Elisa, felizmente estaria livre, pelo menos daquela vez.

Depois de muito procurar por um lavabo, Manuel o encontrou em cima de um móvel. Ela  assistiu encher a pequena bacia com a água do jarro e lavar as mãos que nem estavam sujas freneticamente enquanto continuava xingando.

Elisa se vestiu rapidamente como pôde, para tampar seu corpo exposto com o que restara do vestido, ainda trêmula e nervosa.

Quando terminou de se lavar, Manuel passou por ela em direção à porta. Parou com a mão na maçaneta e se virou para Elisa.

— Espero que seja sensata e não permita que saibam que nosso casamento não foi consumado.

Ainda nervosa, ela balançou a cabeça, concordando. Mas ele ainda ficou parado na porta, Elisa desejava ansiosamente que seu então, marido, desaparecesse dali.

— Preciso que use do seu... — ele não conseguiu continuar, pois parecia sentir nojo em falar sobre aquilo. 

Tudo ainda era muito constrangedor para Elisa, ela se sentiu humilhada com toda a situação, e um nó se formou em sua garganta.

Ele continuou:

— … ao amanhecer, suje sua roupa de cama com… sangue.

Sentindo as lágrimas queimarem seu rosto, ela fitou o chão por um longo tempo. Acreditava que Manuel estivesse enlouquecido de vez, lhe pedindo aquilo. Ele, no entanto, notou a ingenuidade de sua parte e, antes de sair, pigarreou e esclareceu:

— Quando um casal consuma o casamento, é normal a mulher ter sangramento. Por isso, é melhor para nós dois que os servos vejam a roupa de cama suja, para terem motivos de fofoca amanhã. — Ele recompôs a voz e falou em tom de ameaça:— Ou você faz o que estou te ordenando, ou teremos que consumar de verdade.

Somente tal possibilidade a deixava apavorada, então Elisa sabia muito bem o que deveria fazer e faria, talvez assim a poupasse por um tempo.

— Prometo que farei.

— Ótimo, boa garota — falou antes de sair.

Quando a porta se fechou, mais lágrimas desceram, e ela sentiu tanto nojo de si mesma por ter sido tocada por aquele ogro que arrancou o vestido e terminou de rasgá-lo em muitas partes. Ainda abraçou seu próprio corpo enquanto gemia angustiada. Depois se levantou e conferiu se ainda restava água no lavabo, ela pegou a jarra e molhou um pedaço de pano esfregando em seu corpo como se fosse o suficiente para limpá-la dele.

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