Logo, Antônia e Elisa chegaram à fazenda. Assim que adentraram a casa grande, se depararam com a imagem de Edna com sua postura imponente. Ela estava incomodada com algo, e ao ver Antônia, parecia mais ter visto o diabo. Ficou completamente surpresa com a aparência da filha, e logo a dureza de sua expressão se tornou ainda mais visível que antes. Ela não gostou nenhum pouco da transformação da jovem. Antônia se encolheu, visivelmente temerosa diante da reação da mãe.— Mas que absurdo é esse, o que fizeram com minha filha? — Sua voz saiu em um tom de raiva e indignação.Antônia engoliu seco e abaixou o rosto.Ela estava vestida de um belo vestido de mangas compridas e rendas delicadas, em tom verde que combinava muito bem com seus olhos. Seus cabelos não tinham mais aquelas fitas horrorosas e sim um belo penteado que Elisié, a filha de Monique, havia feito na amiga, animada com a transformação.Edna se aproximou e tocou a filha com descaso, como se ela não estivesse bela de verdade.
🚨ALERTA DE GATILHO🚨(Este capítulo contém uma cena de violência doméstica e tentativa de abuso sexual).....⚜️Elisa foi se deitar cedo, estava exausta, havia passado a tarde com Joana e Antônia, já que Edna e Manuel tinham saído.No jantar, Manuel não esteve presente, Edna parecia preocupada com algo, ela já tinha se retirado da mesa rapidamente e mal tocou na comida. Elisa aproveitou e se retirou mais cedo também. Já estava vestida com suas roupas de dormir e lia um livro tranquilamente quando Elisa se assustou ao ver sua porta sendo aberta. Ela saltou da cama e sentiu cada parte do seu corpo estremecer com a presença de Manuel. Suas roupas estavam desalinhadas e ele parecia muito bêbado.Ele se aproximou sem encará-la enquanto retirava seu casaco.Elisa se sentiu como uma presa próxima de seu predador.— Retire... suas roupas, temos um... assunto pendente. — falou de forma automática, como se tivesse ensaiado aquela fala. Pelo tom usado e as palavras entrecortadas, Elisa t
POR VOLTA DE 1810...— Preciso... falar com... minha filha... — lamentou João Alvares Carvalho com bastante dificuldade. O homem estava num estágio avançado de uma doença desconhecida e misteriosa.— Sua filha não pode se aproximar, ninguém de sua família, senhor João, pode ser muito perigoso — afirmou o doutor, pela quarta ou quinta vez naquele dia, desde que João insistira em falar com a filha. Ele parecia pressentir que estava morrendo, pois a aflição do homem tão fraco e esquelético sobre a cama era intensa.A filha, que aguardava ao lado de fora nos braços de sua mãe, estava muito angustiada. Elisa temia que aqueles fossem os últimos minutos de vida de seu pai e desejava ansiosamente estar ao seu lado.O vento balançava as frestas das janelas, anunciando uma forte tempestade. Era uma noite assustadora, e toda a angústia presenciada naquela casa anunciava que o pior estava por vir.Após momentos terríveis de espera, Elisa e a mãe ouviram gritos vindo de dentro do quarto. A dor que
Dias se passaram após a morte do pai de Elisa e lá estava ela novamente usando seu vestido preto, sobre mais lágrimas e angústia. Sua mãe não havia suportado a dor da perda de João e supostamente do filho Joaquim. Teresa esteve mal nos dias que se seguiram, a mulher não saía mais da cama e recusava se alimentar, ficando fraca, e tanta tristeza a sufocou, a ponto de seu coração não aguentar. Sofrendo com sua perda, Elisa terminava de se despedir dos conhecidos que haviam estado no funeral. A maioria se tratava apenas de curiosos, ela sabia que todos faziam conversas sobre o quanto desamparada estava, afinal se tratava apenas de uma jovem de vinte anos, solteira e sem família. Muitos estavam certos de que ela cairia na vida fácil, já que rondava outro boato de que o grande fazendeiro João Álvares havia deixado apenas dívidas, e esta parte Elisa sabia muito bem que não eram apenas mexericos. Ela e sua mãe ficaram assustadas com a quantidade de promissórias que haviam encontrado no escri
O escrivão confirmou a autenticidade do documento, aquilo deixou Elisa devastada. Sentia-se sentenciada por algum crime não cometido. Apenas pôde ir até sua casa e buscar um vestido que não fosse de luto. O casamento aconteceria ali naquele mesmo dia. Era isso ou ir presa pelas altas dívidas acumuladas por seu pai, e a família Valença não estava de brincadeira quando prometeu fazê-lo se não aceitasse.Como qualquer jovem da sua idade, Elisa sonhava em ter um casamento incrível, com doces caseiros servidos e feitos em sua casa, escolhidos com muito carinho por ela e sua mãe. Um vestido bordado com pedras e rendas escolhidas a dedo, flores colhidas nos seus próprios jardins. Mas seu sonho havia se tornado um grande pesadelo, e subir ao altar com um desconhecido, tendo apenas a mãe dele como testemunha, foi tudo o que lhe restou. Então se casou, uniu-se em matrimônio a um completo estranho. Elisa desejava desesperadamente que tudo isso se tratasse de um pesadelo.A viagem até a cidade de
Após o banho relaxante, Elisa descansou por algumas horas. Poucas, pois apesar da exaustão, seus pensamentos vagavam em um certo homem de olhos claros e cabelos negros. Ela não entendia o motivo pelo qual o tal Fernando lhe invadia a mente, a deixando tão agitada. Talvez fosse por sua beleza, isso era inegável, ele tinha os olhos mais verdes que já tinha visto em toda sua vida, eram como dois lagos em meio a uma vegetação, e se destacava em seu rosto, não tinha como esquecer.Ela despertou depois de ouvir um som vindo do corredor, abriu os olhos devagar e rapidamente se atentou à porta do quarto. Pode ver sombras por debaixo da fresta. Sentiu por um instante um medo lhe percorrer, sentou-se na cama rapidamente e conferiu se estava bem vestida, imaginou se fosse Manuel, pensou em tantas possibilidades, e a principal era de que ele desejasse consumar o casamento. Seu corpo estremeceu de medo, e fez todas as orações possíveis que conhecia para que não fosse ele. Então, ouviu o som novame
O jantar acontecia em completo silêncio, havia ao redor da mesa apenas Manuel, Edna e as meninas, que pareciam ter ensaiado cada gesto sobre a mesa, como se errar fosse algo inaceitável. Joana ainda se esforçava para não olhar Elisa de canto e sorrir, até isso parecia não ser permitido. Entre o tilintar dos talheres, de repente uma agitação se iniciou com a chegada de alguém, e não era qualquer pessoa, se tratava dele, se lembrou de que as meninas disseram que se chamava Fernando. Elisa não pode conter os movimentos involuntários de suas pernas, felizmente estavam debaixo da mesa sobre as várias camadas de tecido.A expressão de Manuel ficou extremamente dura com a chegada do irmão, e as meninas não conseguiram conter a alegria, sendo reprimidas imediatamente.- Joana e Antônia, se comportem ou vão terminar a refeição no quarto! - Edna as recriminou quando Joana se moveu na direção de Fernando. - Deixe as meninas, elas só estavam com saudades, Edna! - Fernando esbravejou, forçando u
Ao chegar em seu quarto, Elisa se lançou em sua cama e fez a única coisa que soube fazer desde que sua vida se transformou naquele inferno: ela chorou.Sentia tanta raiva daquela família e principalmente de Fernando, ele havia sido um insensível. Quando viu o quanto as meninas demonstraram afeto por ele e seu cuidado por elas, Elisa havia chegado a acreditar que ele fosse diferente dos demais membros da parte frígida da família, porém demonstrou se tratar de um dos personagens principais, se não o pior deles. Então sentiu o seu peito ser esmagado por uma forte emoção de amargura, chorou por mais um tempo, e quando acreditava que não poderia ficar pior, ouviu a porta ser aberta com violência e sentiu todo o seu corpo estremecer com a presença de Manuel parado bem à porta, decidido a sabe-se lá o quê.Num impulso, ela sentou-se na cama e arrastou-se para trás rapidamente como um animal acuado enquanto enxugava suas lágrimas ainda com as mangas do vestido. Seu coração batia mais rápido