os acontecimentos do dia. Meu pai na garagem fazendo sabe-se lá o que, e minha mãe na cozinha como sempre reclamando da bagunça.
Eu tinha uma familia bem comum e divertida e ninguém pode deixar de dizer o quanto eles se amam. Tanto tempo juntos e mesmo assim, ainda da para ver em seus olhos que são loucos um pelo outro. Será que algum dia eu terei algo assim? Um amor para uma vida inteira?
– Filha, você precisa se alimentar melhor. Sei que está com o tempo corrido é seu último ano na faculdade, mas sem saúde, não irá a lugar algum. Ela me lança seus olhos verdes lindos preocupados sobre mim e me olha dos pės á cabeça. – Que roupa e essa? pronto! agora vamos falar de moda. Penso.
– mãe to atrasada, lembra? Vou pra faculdade e não um desfile de moda. Beijo. Tchau!
Passo a mão na maça e saio correndo antes que ela comece seu discurso sobre como me visto e como devo me vestir
- Rafaella, precisamos conversar !
- Tchau, mãe! mais tarde o.k.?!
E lanço um beijo no ar e saio pelo portão
Olho de relance para o vidro do carro
estacionado e vejo meu reflexo. Realmente minha mãe tem razão. Não estou nada sexy, nesta calça e camiseta. Pareço mais um moleque. Só faltou o bone! E pensando nisso atravesso a rua em direção ao ponto de onibus. – cheguei bem na hora - Dou sinal. Entro e penso que dei sorte o ônibus não estava cheio, tinha lugar para sentar no fundo. Vou até o fundão e me sento entre um senhor que está dormindo, ou , finge que está e um rapaz com um fone do tamanho de uma laranja nos ouvidos. – Que exagero! Mas tudo bem, melhor isso do que aqueles com o som alto. Sentei. Pego meu fone de ouvido, que por sinal é bem discreto, conecto no meu Iphone. Digito a senha de bloqueio, vou para minhas músicas e... pronto! Começa a tocar uma de minhas favoritas. "One love - Boby Marley "adoro reggae! Começar o dia assim, significa que será promissor! Abro um sorriso ao pensar nisso.
Bom, agora vamos tentar melhorar este visual. Abro minha bolsa e pego a necessaire. Tiro um lápis de olho, gloss e rimel. Não vou ficar com a cara da Gisele Bündchen, mas serve para dar uma disfarçada nas olheiras. Olho meu reflexo no pequeno espelho de mão e começo a árdua tarefa de dar um jeito na minha cara.
- Cristo! exclamo em voz alta, após o motorista passar por um buraco e quase enfio o lápis no olho. Merda! não enfiei o lápis no olho, mas borrei tudo. Droga, là vou eu começar tudo de novo. Pego rapidamente um pedaço de lencinho de papel e tento tirar o risco que fiz. Pronto. Agora, só mais um pouquinho e voilá! terminada a obra-prima! E olhando pela janela, também cheguei na estação de metrô. Hora de desembarcar.
Olho para o celular e vejo que são 06:45hs. Hora de correr. Metrô já está lotado, vamos ter que dar um jeito para pegar o primeiro que passar, se não, perco a primeira aula e de jeito algum posso perder esta aula. Minha vida depende disso. Perder aula do Sr. Borgoni, significa que estarei encrencada nas provas finais, e longe de mim passar por isso. – Vamos lá, Rafinha. Você consegue! grito isso em minha mente como um mantra
O metrô vem vindo. Me preparo mentalmente para ser ágil e sem piedade. As pessoas á minha frente que me perdoe, mas perder aula do sr. Borgoni, nem pensar. Fico mais perto da senhora a minha frente e rezo para ela não dar chilique. A porta abre. Forço a entrada assim como os demais. -Graças a Deus! - Consegui! Não estou em uma situação confortável, mas estou dentro e indo em direção a faculdade
Saio da estação Olho no celular mais uma vez e checo as horas, 06:55hs. Tenho 05 min. Começa a corrida pela calçada até o prédio do meu campus. Finalmente. Chamo o elevador e fico de um pê ao outro, estou aflita para o elevador chegar logo. Aperto mais uma vez a droga do botão Como se isso fosse fazer alguma diferença. Olho ao redor e vejo que tem outros alunos também esperando para subir.
– Anda! falo baixo. E mais uma vez aperto o botão. Chegou! A porta se abre e todos entram com pressa e cada um apertando o botão de seu andar. Estou indo para o andar dos veteranos em Direito, Administração e Psicologia
A porta se abre no meu andar e saio correndo para a minha sala. Graças a Deus cheguei a tempo. Entro na sala, comprimento o pessoal e me sento. O Sr. Borgoni PHD em direitos humanos entra logo atrás de mim e começa seu monólogo. Sim, porque ninguém ousa interrompe-lo. Discussões sobre a aula, somente apos seu tema do dia encerrado. Droga, temos dobradinha dele hoje. – Penso ao ver o cronograma de aulas. Olho para o lado e vejo os olhares compenetrados dos meus amigos. Abro meu fichário e começo a escrever tópicos sobre os assuntos que estão sendo falados pelo professor. Sua voz é alta e forte, pelo menos nos mantém preso em seu raciocínio, não da sono. Começo a prestar atenção na matéria.
- Senhorita Rafaella! Senhorita Rafaella! levo um susto. Olho para os lados e vejo rostos me encarando.
Droga! Merda! eu dormi na aula do sr. Borgoni! Que vexame!-Senhorita Rafaella, seria muito estranho de minha parte, pedir para que permaneça conosco durante a aula? ou estou sendo tedioso demais?– Claro que não Dr. Desculpe a minha falta de educação. Por favor, continue com a aula que estarei totalmente presente. – Falando isso, desejei que a terra me engolisse. Droga! como eu pude cochilar na aula dele? Bem feito para mim. Se eu ouvisse mais a minha consciência, certamente teria dormindo mais cedo e não passaria por este vexame na frente de todo mundo e principalmente com o Sr. Borgoni.– Agora, que a senhorita Rafaella se juntou anos. Continuemos.Olhei ao redor e vi as caras debochadas dos meus amigos. Isso ia ser a conversa da turma até a formatura. Pensando nisso, abaixei a cabeça em desgosto. Eu queria morrer.A aula continuou sem mais novidades. Sinal para o intervalo. Todos dispensados e se dirigindo par
Tento voltar á realidade e ainda a tempo de ouvir o final da história da Claudinha que assim como eu, também está longe em seus pensamentos e nem se deu conta de que eu apenas a observava e não a ouvia.– Então, foi aí que eu decidi gravar esta música! Pra ficar registrado um momento atípico e incrível em Paris. Finalizou dizendo. Ela nem se deu conta de que não registrei uma única palavra do que ela disse. Tão apaixonada, incapaz de perceber certas coisas á sua volta. Mas algo em mim deve ter chamado a atenção dela assim que me olhou, porque em seguida ela fez aquela cara de preocupação que conheço a séculos.– Você está bem? O que há com você Rafa? Parece que viu um fantasma! Aconteceu alguma coisa? Eu te conto a coisa mais linda e romântica que já vivi e você fica ai com essa cara!De repente ela para e parece que lhe surge algo em mente e dispara - Não me diga que aquele calhorda do Tiago aprontou de novo?- dizendo isso, ela sai do modo romântico e entra
- Mas temos aula ainda! Lembrei. Não podemos sair assim, é nosso último ano lembra?- Ah! quem se importa, Rafa?! Acabamos de voltar de férias. Muitos da turma nem voltaram ainda! E depois podemos pegar a matéria com os nossos amigos. Vamos, venha! Vamos ter um dia só das meninas!falando isso, me arrastou da mesa e saímos correndo como duas colegiais.Fomos direto para o estacionamento pegar o carro. Um Corsa preto novinho, comprou com a herança que herdou dos pais. Foi uma tremenda conquista. Seus pais e parte da sua família moravam no Maranhão. Ela e sua irmã mais velha, vieram para São Paulo procurando aventuras e oportunidade de uma vida melhor. Comeu o pão que o diabo amassou, mas conseguiu. Hoje, ela tem casa, carro e um bom emprego. Tudo bem que o carro, foi só por causa da herança, seus pais morreram há mais de dois anos e só agora a partilha finalmente foi feita. Eu não sei bem os detalhes, mas parece que os pais dela tinham muitas terras por lá, não eram
- Eu achei que ele iria me pedir em casamento nesta viajem.Então era isso! - Pensei. Balancei a cabeça em positivo, para que ela continuasse falando.–Tanto antes como durante a viajem, tudo indicava que sim. Suas atitudes, os planos que fizemos antes de ir para Paris e quando estávamos em Paris, parecíamos recém-casados! Nossos passeios extremamente românticos, tudo parecia propício para que ele fizesse o pedido e juro que achei que ele faria a qualquer momento. Mas não fez!Vi tanta decepção em seus olhos, que meu coração se apertou.–Será que eu não sou boa o bastante para ele? O que mais ele quer de mim?Começou a chorar. Sua decepção era evidente quanto suas expectativas com o desenrolar deste namoro. Ela sonha com casamento, filhos e família e talvez ele não compartilhe deste sonho. Carlos é um rapaz de vida noturna, de família rica. Talvez não esteja pronto ainda para compromissos mais sérios. Durante todo este tempo que eles estão j
- Há que horas é a entrevista? Claudinha pergunta olhando o relógio.- Ainda dá tempo. Será 15hs. Mas, não vai dar tempo de ir em casa e voltar. Terei que ir daqui mesmo.Claudinha me olha de cima a baixo, parecendo minha mãe.- Você vai vestindo isso? Em uma entrevista de estágio em uma das mais renomadas empresas de advocacia? Vem cá? Tem certeza que quer mesmo este estágio?É claro que eu queria. Meu pai vem trabalhando nisso há meses. Seu sonho era me ver trabalhando na A&C Advogados. Assim como um dia ele também foi um estagiário até a sociedade. E pra ser sincera, não é bem um estágio. Está mais para uma colocação de emprego, assim que me formar, fazer parte do corpo de advogados da A&C Advogados.- O que quer que eu faça? Chame a fada madrinha? Digo irritada com meu esquecimento. Meu pai iria me matar se soubesse disso.- Não precisa morder! Eu posso te ajudar. Moro aqui perto esqueceu? Podemos passar no meu
pai esta feliz com isso, mas pelo menos está muito melhor de saúde. O elevador para e a moça chic sai. Dou uma espiada no andar e vejo que há várias salas, todas cheias de gente, todos de terno e gravata. Será que aqui é o centro nervoso? Parecia ser. Estive neste prédio com meu pai há muito tempo atrás, eu era uma criança ainda, por volta dos 9 ou 10 anos. Não me lembro mais das coisas por aqui e certamente, tudo deve ter mudado muito. Sigo meu caminho ainda no elevador até o 21º andar, Já que não há mais andares acima, pelo menos não há mais botões. Penso em como será a entrevista. Quem será que irá me entrevistar? Algum amigo do meu pai? Alguém do RH certamente. Seja como for, não dá mais para correr. A porta do elevador se abre e dou de cara com uma enorme porta dupla de madeira, mogno acho. Passo a mão pelo cabelo, ajeito a saia e me preparo para entrar. Coloco a mão no puxador magnífico em latão e empurro. Vamos Rafa! Você consegue!
Chego exatamente na hora do jantar. Estou exausta. Graças a Deus é sexta feira! Deixo o carro na garagem. Vejo pela janela da sala que ainda não estão jantando. Estão me esperando certamente. Saio rapidamente e fecho o portão da garagem. Decido ir por dentro, assim saio direto na cozinha e subo para meu quarto. Dará tempo de me lavar e deixar as coisas. É aniversário da minha mãe, não quero que veja antes do tempo o que comprei. Ouço batidas na porta do quarto e o abrir da porta. Quem será?- Estou no banheiro! - Grito, esperando que-digam algo. Como não ouço nada, termino de lavar as mãos e saio. Dou de cara com o Tiago deitado na minha cama olhando para cima. Parecia cansado e estranho. Na verdade, tudo entre nós era estranho. Estranho por tempo demais. Encostei no batente da porta e fiquei olhando ele ali deitado, brincando com minha almofada de corações que ele mesmo me deu a sei lá quantos séculos atrás. Dificilmente me dava presentes. Ele não era
lá em baixo, não demora. E saiu.Voltei para o banheiro e respirei fundo. Que diabos foi isso? Estou com a sensação de que um trator passou por mim sem deixar rastros. Estou sem entender nada. Não posso negar que foi incrível! Há muito tempo não me sentia assim. O que será que deu nele? Seja o que for, espero que continue assim. Me olho no espelho, dou um jeito na maquiagem, ajeito o cabelo e me preparo para descer. Desço as escadas e ouço vozes conhecidas. Claudinha, com certeza! Sua risada é inconfundível e Carlos, claro! Minha mãe, óbvio. Papai, meu irmão Wesley e a esposa. Desço reconhecendo as vozes entrando na sala de jantar.Todos já estão em seus lugares. Menos um. Tiago. Estava com um copo de cerveja na mão e falando com papai. Porque será que ele não se sentou. Não vai ficar? Por algum motivo isso me