- Eu achei que ele iria me pedir em casamento nesta viajem.
Então era isso! - Pensei. Balancei a cabeça em positivo, para que ela continuasse falando.
–Tanto antes como durante a viajem, tudo indicava que sim. Suas atitudes, os planos que fizemos antes de ir para Paris e quando estávamos em Paris, parecíamos recém-casados! Nossos passeios extremamente românticos, tudo parecia propício para que ele fizesse o pedido e juro que achei que ele faria a qualquer momento. Mas não fez!
Vi tanta decepção em seus olhos, que meu coração se apertou.
–Será que eu não sou boa o bastante para ele? O que mais ele quer de mim?
Começou a chorar. Sua decepção era evidente quanto suas expectativas com o desenrolar deste namoro. Ela sonha com casamento, filhos e família e talvez ele não compartilhe deste sonho. Carlos é um rapaz de vida noturna, de família rica. Talvez não esteja pronto ainda para compromissos mais sérios. Durante todo este tempo que eles estão juntos, não vi demonstração da parte dele de algo mais sério. Claudinha é sonhadora e criou muita esperança e depositou suas fichas nele. Tenho medo que tenha apostado em um asarão. Esperei que se acalmasse e parasse de chorar. Afinal, estava um dia tão lindo e ela havia me trazido ali para melhorar o meu dia e acabou fazendo com que o seu dia ficasse nublado. Pensei calmamente nas palavras que diria para não confundi-la ainda mais e que pelo menos, tivesse algo em que pensar. Eu não podia iludi-la ainda mais, eu precisava apenas dar um outro foco da situação para que ela tivesse dois pesos e duas medidas.
- Clau, você sabe que odeio te ver assim, certo? E que eu jamais mentiria para você, ou, falaria qualquer coisa que pudesse te iludir. Sabe muito bem que sempre falo o que penso e que doa a quem doer, não deixo de dizer a verdade. Sendo assim, com você não será diferente. Você é minha melhor amiga, minha irmã de coração e que não vou deixar de dizer o que acho que você deva saber, certo? O Carlos é um bom rapaz. Ninguém pode negar isso. Por mais que ele leve uma vida noturna bem agitada, desde que te conheceu não há um só lugar que ele tenha ido que você não esteja junto. Você começou a faculdade por vontade própria, disse que precisava estar á altura dele. O que eu acho uma idiotice pensar assim, você tem que se colocar em primeiro lugar e o curso de Direito não foi só por causa dele, mas sua também, para seu futuro. Durante algum tempo eu achei que o namoro de vocês não ia muito longe, mas ele te fazia bem. Você mudou de menininha para mulher. Cresceu em todos os sentidos da palavra. E eu creio, que se ele ainda não a pediu em casamento, não é porque não a ame, ou, que você não seja boa para ele. Creio que seja porque ainda não estão prontos. Ele não está pronto. Você também não esta! Casamento é coisa séria, Clau! Você sabe disso tanto quanto eu! É tudo muito lindo o que vocês estão vivendo agora, mas você sabe que o casamento é muito mais que isso. São as coisas do dia a dia, as dificuldades perdas e ganhos e não uma linda história de amor com céu lindo todas as manhãs e verão todos os dias, com direito a pôr do sol. Você acha que esta pronta para viver uma vida de realidade ao lado dele? E que ele também está para viver ao seu?
Dizendo isso, coloquei a mão em seu ombro forçando-a a olhar para mim.
- Clau!
Continuei, agora olhando no fundo dos olhos dela.
- Se você se sente preparada para isto, então minha amiga, siga em frente. Sei a mulher forte que é e que nada te impede de ter o que quer. Converse com ele. Tire todas estas dúvidas que estão pairando na sua cabeça e seja qual for o resultado, conte comigo sempre! Sou sua amiga, lembra?
Vi um sorriso brotar no rosto dela e um balançar de cabeça em sinal de positivo.
- Agora em homenagem á nossa amizade! Vamos comer um belo e delicioso cachorro quente de barraquinha, assim como tem que ser!
Nos abraçamos e saímos correndo em direção á praça em busca de uma barraquinha de cachorro quente. Afinal, estávamos ali para ter um dia de meninas no parque.
Terminando de devorar o segundo cachorro quente com tudo em cima, iniciamos uma caminhada para qualquer lugar no parque. Falávamos um pouco de tudo. Sobre as coisas lá em casa, da minha viajem para o litoral com o Thiago, da expectativa pela formatura, fofocamos dos nossos amigos, de repente a Claudinha pergunta sobre meu estágio.
- caramba Claudinha! Que horas são?
Tento pegar o meu celular do bolso lembrando que hoje é o dia da minha entrevista na empresa de advocacia do meu pai. Quando olho no celular, são quase duas da tarde.
- O que houve Rafa? A entrevista é hoje? Porque você não me disse?
- Clau... SE eu tivesse lembrado eu teria dito, não acha? Só agora que você mencionou o estágio que eu lembrei. Droga!
- Há que horas é a entrevista? Claudinha pergunta olhando o relógio.- Ainda dá tempo. Será 15hs. Mas, não vai dar tempo de ir em casa e voltar. Terei que ir daqui mesmo.Claudinha me olha de cima a baixo, parecendo minha mãe.- Você vai vestindo isso? Em uma entrevista de estágio em uma das mais renomadas empresas de advocacia? Vem cá? Tem certeza que quer mesmo este estágio?É claro que eu queria. Meu pai vem trabalhando nisso há meses. Seu sonho era me ver trabalhando na A&C Advogados. Assim como um dia ele também foi um estagiário até a sociedade. E pra ser sincera, não é bem um estágio. Está mais para uma colocação de emprego, assim que me formar, fazer parte do corpo de advogados da A&C Advogados.- O que quer que eu faça? Chame a fada madrinha? Digo irritada com meu esquecimento. Meu pai iria me matar se soubesse disso.- Não precisa morder! Eu posso te ajudar. Moro aqui perto esqueceu? Podemos passar no meu
pai esta feliz com isso, mas pelo menos está muito melhor de saúde. O elevador para e a moça chic sai. Dou uma espiada no andar e vejo que há várias salas, todas cheias de gente, todos de terno e gravata. Será que aqui é o centro nervoso? Parecia ser. Estive neste prédio com meu pai há muito tempo atrás, eu era uma criança ainda, por volta dos 9 ou 10 anos. Não me lembro mais das coisas por aqui e certamente, tudo deve ter mudado muito. Sigo meu caminho ainda no elevador até o 21º andar, Já que não há mais andares acima, pelo menos não há mais botões. Penso em como será a entrevista. Quem será que irá me entrevistar? Algum amigo do meu pai? Alguém do RH certamente. Seja como for, não dá mais para correr. A porta do elevador se abre e dou de cara com uma enorme porta dupla de madeira, mogno acho. Passo a mão pelo cabelo, ajeito a saia e me preparo para entrar. Coloco a mão no puxador magnífico em latão e empurro. Vamos Rafa! Você consegue!
Chego exatamente na hora do jantar. Estou exausta. Graças a Deus é sexta feira! Deixo o carro na garagem. Vejo pela janela da sala que ainda não estão jantando. Estão me esperando certamente. Saio rapidamente e fecho o portão da garagem. Decido ir por dentro, assim saio direto na cozinha e subo para meu quarto. Dará tempo de me lavar e deixar as coisas. É aniversário da minha mãe, não quero que veja antes do tempo o que comprei. Ouço batidas na porta do quarto e o abrir da porta. Quem será?- Estou no banheiro! - Grito, esperando que-digam algo. Como não ouço nada, termino de lavar as mãos e saio. Dou de cara com o Tiago deitado na minha cama olhando para cima. Parecia cansado e estranho. Na verdade, tudo entre nós era estranho. Estranho por tempo demais. Encostei no batente da porta e fiquei olhando ele ali deitado, brincando com minha almofada de corações que ele mesmo me deu a sei lá quantos séculos atrás. Dificilmente me dava presentes. Ele não era
lá em baixo, não demora. E saiu.Voltei para o banheiro e respirei fundo. Que diabos foi isso? Estou com a sensação de que um trator passou por mim sem deixar rastros. Estou sem entender nada. Não posso negar que foi incrível! Há muito tempo não me sentia assim. O que será que deu nele? Seja o que for, espero que continue assim. Me olho no espelho, dou um jeito na maquiagem, ajeito o cabelo e me preparo para descer. Desço as escadas e ouço vozes conhecidas. Claudinha, com certeza! Sua risada é inconfundível e Carlos, claro! Minha mãe, óbvio. Papai, meu irmão Wesley e a esposa. Desço reconhecendo as vozes entrando na sala de jantar.Todos já estão em seus lugares. Menos um. Tiago. Estava com um copo de cerveja na mão e falando com papai. Porque será que ele não se sentou. Não vai ficar? Por algum motivo isso me
Fiquei embasbacada e achei que estava tendo uma visão. O que os pais do Tiago estavam fazendo ali? Eles moram em Campinas! Não sabia que os tinham convidado. Nossos pais são amigos há anos e depois que se mudaram raramente se viam. Talvez, eles já estivessem na cidade em visita ao Tiago ,ou, a negócios e resolveram vir. Estranho, porque será que o Tiago não me disse que seus pais estavam em São Paulo? Olhei para o Tiago com olhar interrogativo, mas como fez nas últimas horas, me ignorou.Os três se dirigiram até onde estavam meus pais, para se cumprimentarem e ouvi o pedido de desculpas pelo atraso.- O trânsito para cá estava horrível! -disse sr. Nicolau ao meu pai.- Havia um acidente na saída da rodovia e tudo ficou parado.Ao ouvir isso, conclui que eles não estavam na cidade, ou seja, eles vieram de Campinas direto para cá. Fico intrigada com isto. Bom, finalmente resolveram nos visitar! Pensei. Há tempos não se viam e porque não em um momento como
Sinto novamente todos os olhos sobre mim. Olho ao redor e vejo os rostos que me contestavam esperando uma resposta. Meu pai e minha mãe abraçados e extremamente emocionados, olho para os pais do Tiago que também estão assistindo a tudo com grande emoção. O restante dos convidados com sorriso no rosto aguardando minha resposta. Certamente estão sem a menor idéia da confusão metal que estou neste momento. Olho para minha amiga e irmã Claudinha. Percebo seu olhar aflito e com certeza sabe exatamente o que estou sentindo. Ela me olha e faz um sinal de positivo com a cabeça. O que será que ela está tentando me dizer? Pensei. Ela quer que eu diga sim, que me case, ou, esta tentando me dizer para que eu faça a coisa certa? E qual seria a coisa certa...Não sei quanto tempo se passou até que eu saísse do transe. Milhões de coisas se passaram pela minha cabeça. Mas a decisão foi tomada e as consequências virão assim como tudo em nossa vida. A vida é tomada de decisões, seja ela b
Os convidados começaram a ir embora. Intimamente dava graças a Deus por esta noite ter terminado. Não tenho a menor ideia de como ainda estou resistindo a tudo. Estampei um sorriso no rosto e segui em frente durante a festa inteira. Acho que meu rosto atrofiou de tanto que eu forcei o sorriso. Eu queria morrer! Nada daquilo fazia o menor sentido. Eu não quero e nunca quis me casar, não assim sem saber o que realmente sinto em relação a nós. Eu já estava tão acostumada a estarmos juntos que não fazia diferença se eu o amava como homem ou como um amigo. Eu nem sei se há diferença de sentimentos entre nós nesse sentido. Estávamos juntos desde sempre e pronto! Nunca havia parado para pensar em casamento, talvez porque, não houvesse sentimento forte o suficiente para isso. O que eu faço agora?Minha cabeça estava estourando, preciso descansar e dormir anos a fio até que eu consiga me recuperar disto. E como se o Tiago tivesse lido meus pensamentos.– Querida! Ele me cha
Eu estava a poucos instantes de entrar na passarela montada até o altar, minhas mãos estavam geladas, minhas pernas trêmulas. Sim, eu estava muito nervosa, mas, louca para que tudo aquilo acabasse logo.Os primeiros acordes começaram a tocar. O cerimonialista faz sinal para que eu aguarde o momento certo. Respiro fundo e fecho os olhos por alguns instantes, tentando me manter o mais calma possível e concentrada. - Vamos lá Raphaella! Você consegue! Disse a mim mesma. Agora faltava pouco. Só precisava me concentrar em fazer a coisa certa e tudo acabaria bem.O cerimonialista olha para mim e faz sinal para que eu comece a caminhar até o altar. Dar os primeiros passos foram os mais difíceis de minha vida e a coisa mais difícil de fazer até aqui. Minha vontade era de dar meia volta e sair correndo. Concentre-se Raphaella! Você consegue! Mais uma vez repeti meu mantra. Com passos meio insertos segui pela passarela feita de pétalas de rosas brancas. Em certa altura