Chego exatamente na hora do jantar. Estou exausta. Graças a Deus é sexta feira! Deixo o carro na garagem. Vejo pela janela da sala que ainda não estão jantando. Estão me esperando certamente. Saio rapidamente e fecho o portão da garagem. Decido ir por dentro, assim saio direto na cozinha e subo para meu quarto. Dará tempo de me lavar e deixar as coisas. É aniversário da minha mãe, não quero que veja antes do tempo o que comprei. Ouço batidas na porta do quarto e o abrir da porta. Quem será?
- Estou no banheiro! - Grito, esperando que-digam algo. Como não ouço nada, termino de lavar as mãos e saio. Dou de cara com o Tiago deitado na minha cama olhando para cima. Parecia cansado e estranho. Na verdade, tudo entre nós era estranho. Estranho por tempo demais. Encostei no batente da porta e fiquei olhando ele ali deitado, brincando com minha almofada de corações que ele mesmo me deu a sei lá quantos séculos atrás. Dificilmente me dava presentes. Ele não era desse tipo. Romantismo não era com ele. Eu nunca liguei, pois também não sou chegada a este tipo de coisa. Sou prática. Ele parecia absorto em pensamentos o que me deixou intrigada, afinal, não me lembro de tê-lo convidado para o aniversário da minha mãe. O que será que ele estava fazendo aqui?
- Oi! Tudo bem com você?
Seja lá o que ele estava fazendo ali era bom saber logo, antes que alguém venha me buscar, para começar o jantar de aniversário da minha mãe. Ele sentou na cama, me olhou dos pés á cabeça. Vi algo passar em seu olhar, mas não sei direito o que vi. Desejo? Raiva? O que estava acontecendo? Ele não era disso. Sempre ia direto ao assunto. Ficar nesse silêncio não era do seu costume. Muito menos me olhar daquele jeito.
- Tiago, você bebeu? Eu queria saber o que estava acontecendo e queria saber já!
- Porque você está no meu quarto e me olhando desse jeito?
Ele continuou olhando para mim sem dizer uma palavra. Sem mexer um músculo. De repente, passou a língua pelos lábios, ajeitou o cabelo num gesto meio nervoso como ele sempre fazia e voltou a me encarar. Só que desta vez seu olhar era fácil de decifrar. Estavam tristes. Sem dizer nada esperei ele falar.
- Rafa, há quanto tempo estamos juntos? Disse com a voz baixa quase inaudível.
- Droga! - Pensei. Hoje não! Ele podia ter escolhido qualquer outro dia do planeta para me questionar isso. Mas hoje! Justo no aniversário da minha mãe, com a casa cheia de gente!
- Tiago! Hoje não é um bom momento para discutirmos isso. A casa está cheia, estão me esperando para iniciar o jantar. Acho que podemos falar disso uma outra hora, o.k.?
Tentei controlar a situação trazendo-o para a realidade. Ele parecia estar bêbado, não muito, mas não estava em seu estado normal.
- Tiago, você bebeu? perguntei novamente.
Ele se remexeu na cama e balançou a cabeça em sinal de positivo. Voltou a olhar para mim agora com olhar de impaciência.
- Bebi sim Rafa. Disse.
- Mas só um pouco antes de subir para cá. Tomei um copo de Whisky com seu irmão. Satisfeita?! Parecia irritado.
Sinceramente eu não sabia o que fazer, ele nunca havia agido assim. Estou perdida! Não conheço este Tiago que está na minha frente. Não sei lidar com ele. Baixei a cabeça, olhei para as mãos me sentindo muito confusa. Quando olho de volta, ele está parado na minha frente. Encarando-me. Tentando descobrir meus pensamentos. Olho para ele e me perco no azul de seus olhos. Tão intensos, lindos! Como da primeira vez que o vi. Foram seus olhos que me atraíram. Mas depois com o tempo, parece que tudo esfriou e algumas coisas aconteceram entre nós e tudo mudou. Eramos apenas mais um casal de namorados que se acomodaram um com o outro. Mas hoje, parece que voltamos a ser como antes, há muito tempo eu não o sentia tão vibrante, tão másculo. Diferente. Como se algo tivesse tomado posse dele e o transformado em outra pessoa. Ele se abaixou mais e veio em direção aos meus lábios. Começou a me beijar de forma gentil, como um carinho e de repente, colocou a mão em minha cintura e me aproximou mais de seu corpo e aprofundou mais seu beijo. Fiquei atordoada. O que era isso? Quem é esse homem? Sem perceber vi que também estava correspondendo ao beijo na mesma intensidade. Eu o desejei ali mesmo na minha cama. Dane-se o jantar. Eu queria aquele homem na minha cama agora! Não sei quanto tempo se passou durante o beijo. Quando ele parou de me beijar, sem me soltar, foi um instante apenas para recobrar o fôlego e voltou a me beijar. Tinha tanta intensidade em seu beijo. Tanto desejo. Desejo que senti crescer em meu quadril. Seu sexo estava ali, denunciando o quanto me queria. Me apertei ainda mais ao seu corpo também querendo a finalização daquele beijo em um sexo gostoso. De repente ele me soltou. Segurou em meus braços ofegante. Olhando para mim com tanta intensidade que seus olhos brilhavam. O desejo estava evidente por todo o seu corpo. Eu não conseguia soltá-lo. Eu queria mais... Queria mais daquele homem que entrou no meu quarto e me fez sentir arrepios que já estavam esquecidos. Estávamos ofegantes. Sem saber o que dizer, passei a mão pelo meu cabelo, alisei a minha blusa e tentei recobrar os sentidos.
- Rafa! Desce! Estamos com fome! Era meu pai nos chamando para o jantar.
- Já estou indo! Gritei.
- Temos que descer! Minha voz parecia mais um sussurro. Ele sem dizer uma única palavra, balançou a cabeça em sinal de positivo, me deu um beijo rápido nos lábios. Olhou-me novamente nos olhos com um pedido mudo de desculpas.
lá em baixo, não demora. E saiu.Voltei para o banheiro e respirei fundo. Que diabos foi isso? Estou com a sensação de que um trator passou por mim sem deixar rastros. Estou sem entender nada. Não posso negar que foi incrível! Há muito tempo não me sentia assim. O que será que deu nele? Seja o que for, espero que continue assim. Me olho no espelho, dou um jeito na maquiagem, ajeito o cabelo e me preparo para descer. Desço as escadas e ouço vozes conhecidas. Claudinha, com certeza! Sua risada é inconfundível e Carlos, claro! Minha mãe, óbvio. Papai, meu irmão Wesley e a esposa. Desço reconhecendo as vozes entrando na sala de jantar.Todos já estão em seus lugares. Menos um. Tiago. Estava com um copo de cerveja na mão e falando com papai. Porque será que ele não se sentou. Não vai ficar? Por algum motivo isso me
Fiquei embasbacada e achei que estava tendo uma visão. O que os pais do Tiago estavam fazendo ali? Eles moram em Campinas! Não sabia que os tinham convidado. Nossos pais são amigos há anos e depois que se mudaram raramente se viam. Talvez, eles já estivessem na cidade em visita ao Tiago ,ou, a negócios e resolveram vir. Estranho, porque será que o Tiago não me disse que seus pais estavam em São Paulo? Olhei para o Tiago com olhar interrogativo, mas como fez nas últimas horas, me ignorou.Os três se dirigiram até onde estavam meus pais, para se cumprimentarem e ouvi o pedido de desculpas pelo atraso.- O trânsito para cá estava horrível! -disse sr. Nicolau ao meu pai.- Havia um acidente na saída da rodovia e tudo ficou parado.Ao ouvir isso, conclui que eles não estavam na cidade, ou seja, eles vieram de Campinas direto para cá. Fico intrigada com isto. Bom, finalmente resolveram nos visitar! Pensei. Há tempos não se viam e porque não em um momento como
Sinto novamente todos os olhos sobre mim. Olho ao redor e vejo os rostos que me contestavam esperando uma resposta. Meu pai e minha mãe abraçados e extremamente emocionados, olho para os pais do Tiago que também estão assistindo a tudo com grande emoção. O restante dos convidados com sorriso no rosto aguardando minha resposta. Certamente estão sem a menor idéia da confusão metal que estou neste momento. Olho para minha amiga e irmã Claudinha. Percebo seu olhar aflito e com certeza sabe exatamente o que estou sentindo. Ela me olha e faz um sinal de positivo com a cabeça. O que será que ela está tentando me dizer? Pensei. Ela quer que eu diga sim, que me case, ou, esta tentando me dizer para que eu faça a coisa certa? E qual seria a coisa certa...Não sei quanto tempo se passou até que eu saísse do transe. Milhões de coisas se passaram pela minha cabeça. Mas a decisão foi tomada e as consequências virão assim como tudo em nossa vida. A vida é tomada de decisões, seja ela b
Os convidados começaram a ir embora. Intimamente dava graças a Deus por esta noite ter terminado. Não tenho a menor ideia de como ainda estou resistindo a tudo. Estampei um sorriso no rosto e segui em frente durante a festa inteira. Acho que meu rosto atrofiou de tanto que eu forcei o sorriso. Eu queria morrer! Nada daquilo fazia o menor sentido. Eu não quero e nunca quis me casar, não assim sem saber o que realmente sinto em relação a nós. Eu já estava tão acostumada a estarmos juntos que não fazia diferença se eu o amava como homem ou como um amigo. Eu nem sei se há diferença de sentimentos entre nós nesse sentido. Estávamos juntos desde sempre e pronto! Nunca havia parado para pensar em casamento, talvez porque, não houvesse sentimento forte o suficiente para isso. O que eu faço agora?Minha cabeça estava estourando, preciso descansar e dormir anos a fio até que eu consiga me recuperar disto. E como se o Tiago tivesse lido meus pensamentos.– Querida! Ele me cha
Eu estava a poucos instantes de entrar na passarela montada até o altar, minhas mãos estavam geladas, minhas pernas trêmulas. Sim, eu estava muito nervosa, mas, louca para que tudo aquilo acabasse logo.Os primeiros acordes começaram a tocar. O cerimonialista faz sinal para que eu aguarde o momento certo. Respiro fundo e fecho os olhos por alguns instantes, tentando me manter o mais calma possível e concentrada. - Vamos lá Raphaella! Você consegue! Disse a mim mesma. Agora faltava pouco. Só precisava me concentrar em fazer a coisa certa e tudo acabaria bem.O cerimonialista olha para mim e faz sinal para que eu comece a caminhar até o altar. Dar os primeiros passos foram os mais difíceis de minha vida e a coisa mais difícil de fazer até aqui. Minha vontade era de dar meia volta e sair correndo. Concentre-se Raphaella! Você consegue! Mais uma vez repeti meu mantra. Com passos meio insertos segui pela passarela feita de pétalas de rosas brancas. Em certa altura
o apartamento, eu achei que ao sair dali você viria correndo para que parássemos com tudo, que tínhamos ido longe demais! E você não veio.- Pai, porque só agora está me contando isso? - começo a chorar.- Porque só agora, depois de tudo ter sido consumado, o sr. vem me dizer estas coisas? Se o sr. viu toda a minha dor, minha tristeza, por que não falou comigo? Porque não me impediu de cometer este erro!?- Agora já não estava mais chorando, eu estava possessa de raiva e ódio.- O sr. disse que me observou esse tempo todo e mesmo assim, me deixou continuar! Que droga de amor é esse! Gritei.Eu queria gritar! Eu queria matar alguém naquele exato momento! Eu queria sangue! A raiva e o ódio me consumia de tal maneira que eu não estava enxergando mais nada. Eu queria gritar, eu queria bater, correr dali e ir o mais longe possível.- Filha, acalme-se! As pessoas estão começando a olhar para cá! Se não quer um escândalo e acabar com tudo ago
As manhãs primaveris em Paris são de perder o fôlego. Decidi tomar o café da manhã na sacada do hotel, que dava vista para Champs Elysées. Nossa estadia em Paris estava magnífica. Tudo aqui é lindo, festivo e muito romântico. Adorei passar os dias conhecendo os pontos turísticos e históricos. Tudo aqui cheira a história! As pedras das ruas, as calçadas, a arquitetura, tudo contam uma história. Muita cultura e beleza. As pessoas aqui parecem que estão sempre indo á uma festa, seus semblantes são leves, não parecem viver de mau humor e correndo sem tempo para nada, diferente das grandes cidades. Paris é mesmo uma festa!Fico contemplando a linda vista e pensando como seria se a Claudinha estivesse aqui. Certamente o quarto estaria cheio de sacolas de roupas de grife e estaríamos dormindo sem hora para acordar, porque, certamente teríamos ficado em alguma balada até altas horas, ou, teríamos ido dormir com algum parisiense gostosão. E Pensando nisso, não posso negar q
Qual o propósito?O garoto chega até nós e segura no braço da senhora, que o olha e parece reconhecê-lo, mas não tira suas mãos das minhas.- Vovó, a senhora não pode sair assim. Ficamos todos preocupados. Está todo mundo procurando a senhora!O rapaz parecia bastante aflito. Tiago tenta acalmá-lo e conta o que aconteceu. Ela olha novamente para mim e diz mais alguma coisa que consigo entender “ange” anjo. A senhorinha era muito doce me chamando de anjo. Sorri para ela e beijei sua mão que ainda repousava na minha.- Vovó, precisamos ir. A senhora já incomodou bastante o casal. E o rapazinho a pegou pelo braço com toda delicadeza de um neto amoroso.Ela repete para ele o que me disse.- Tudo bem vovó, ela é uma moça muito bonita sim, mas não é um anjo. Não um anjo de verdade. Vem precisamos ir.E o rapaz se vira para nós e se desculpa mais uma vez. A senhora se volta mais uma vez e me olha. E fala em bom português–“E