lá em baixo, não demora. E saiu.
Voltei para o banheiro e respirei fundo. Que diabos foi isso? Estou com a sensação de que um trator passou por mim sem deixar rastros. Estou sem entender nada. Não posso negar que foi incrível! Há muito tempo não me sentia assim. O que será que deu nele? Seja o que for, espero que continue assim. Me olho no espelho, dou um jeito na maquiagem, ajeito o cabelo e me preparo para descer. Desço as escadas e ouço vozes conhecidas. Claudinha, com certeza! Sua risada é inconfundível e Carlos, claro! Minha mãe, óbvio. Papai, meu irmão Wesley e a esposa. Desço reconhecendo as vozes entrando na sala de jantar.
Todos já estão em seus lugares. Menos um. Tiago. Estava com um copo de cerveja na mão e falando com papai. Porque será que ele não se sentou. Não vai ficar? Por algum motivo isso me incomodou. Tudo bem que eu não falei do jantar, mas ele já é de casa. Não precisa de cerimônia. Senti-me mal com isso. Passei pelas pessoas na sala, cumprimentei a todos e fui para o meu lugar na mesa. Olhei para o Tiago, mas ele sempre dava um jeito de não olhar para mim. Continuou conversando com meu pai e meu irmão que estavam sentados um ao lado do outro ignorando a minha presença. Isso me chateou. Quanta mudança de clima. Vai entender os homens!
Minha mãe entrou trazendo o jantar. Todos festejaram a chegada da comida. Olho para o Tiago tento fazer sinal para que se sente ao meu lado, mas ele me ignora. Quando Olhou finalmente para mim, com o mesmo olhar estranho de minutos atrás. Tomou um gole de sua cerveja. Colocou a mão no bolso e voltou a falar com o papai. Só que desta vez, parecia estar se despedindo. Não! ele não ia fazer isso! Ele não ia nos fazer esta desfeita! Olho para ele fuzilando-o, mas ele me ignora mais uma vez. Ele não podia fazer isso comigo depois do que aconteceu no meu quarto.
Ele se vira e vem em minha direção. Me pergunto porque ele está agindo assim?
Ele me pede para levantar, abraça a minha cintura e me beija no rosto. Não faz menção em me soltar. O que está havendo? Estou confusa. Nunca me senti tão confusa em toda a minha vida ao lado de um homem. Principalmente do homem que conheço há anos! Olho para ele ainda confusa, ele olha para mim com a mesma intensidade de antes e sorri. Passa o rosto levemente em meu pescoço e respira fundo.
- Delícia! Diz baixinho em meu ouvido.
Santo Deus! O que há com este homem hoje? Alguém me ajuda?
Olho para a Claudinha do outro lado da sala, que também está olhando para mim com ar divertido e sorri. Dou um sorriso de volta e vejo que de nada adianta pedir ajuda. Parece que só eu estou vendo coisas.
Ele puxa a cadeira para que eu me sente novamente. Ele se senta ao meu lado. Todos se sentam. O jantar dá inicio. Olho de soslaio para Tiago, que parecia tranquilo servindo-se. Seria ridículo ele ir embora. O que eu diria para todos? Que eu esqueci de convidá-lo? De repente me deu um estalo. Então era isso! Ele estava me punindo porque não o convidei. Só podia ser! Mas não achei que seria necessário um convite formal, uma vez que ele vive aqui em casa. Assim que o jantar terminar e todos começarem a dispersar vou tirar isso á limpo. Ele não perde por esperar. Eu também sei jogar esse jogo!
O jantar transcorreu sem incidentes. Todo mundo feliz, comemorando mais um ano de vida da mamãe. Estamos todos sentados ainda á mesa de jantar, aguardando o bolo. Claro! Aniversario sem bolo não é aniversário. Em instantes Neusa, segunda esposa do meu irmão, entra com o bolo nas mãos e com a vela acesa, cantando parabéns junto com meus dois sobrinhos, Ricardo e Rafael. Filhos do primeiro casamento. Todos embalam a cantar ficando em pé para saudar a aniversariante. O bolo é colocado á frente da mamãe e ela apaga a velinha. Todos aplaudem, assoviam, gritam seu nome em uma grande bagunça.
Todos se sentam novamente para comer o bolo, que parece uma delícia. Papai se levanta e vai até a cozinha dizendo que trará mais champagne. Neusa, faz a gentileza de cortar e distribuir o bolo para todos. Como eu imaginava, o bolo está divino. Trufado de chocolate. Meu preferido. Papai volta da cozinha trazendo mais champagne. Tiago se levanta e vai até meu pai e o ajuda com as garrafas. Olho para Neusa e peço a ela mais um pedaço de bolo. Dou uma espiada ao redor e vejo que todo mundo parece ter gostado do bolo assim como eu, muitos estão repetindo o prato e com cara de felizes. Também, quem ficaria triste tendo em mãos uma delícia dessas!
Um barulho de talher batendo em um copo me chama a atenção. Meu pai querendo que todos se silencie e preste a atenção nele. Aquilo me soou estranho, nunca tinha visto meu pai fazer discurso antes, principalmente em festas. Fiquei intrigada. Talvez seja champagne demais! - Pensei. Bom, vamos ver no que isso vai dar. Já que todos estavam ali em comemoração e felizes, porque não um discurso de um pai apaixonado por sua esposa.
Assim que todos silenciaram, uma sensação de êxtase e expectativa pairou pelo ar. Todos com ar animado e esperando que meu pai iniciasse seu discurso.
- Família e amigos. - Começou.
- Nada mais me deixa feliz, do que ver todos aqui em comemoração de uma data muito especial. Esta mulher que hoje completa mais um ano de vida ao meu lado, precisa saber que eu sou o homem, pai, amigo e companheiro mais feliz deste mundo! Antonella, você me deu os anos mais felizes de toda a minha vida! Que esta data se multiplique por anos a fio e que você esteja sempre ao meu lado, cuidando, zelando pela minha vida e dos nossos filhos. Que Deus a abençoe sempre!
Ao terminar de dizer estas palavras que tocou nosso coração e que nos emocionou, gritos, aplausos e assovios seguiram em uníssono após o discurso. Meu pai começa a fazer gestos com as mãos para que parem e esperem, pois tinha algo mais a dizer.
- E é em meio a tanta emoção! Continuou.
– Que quero comunicar-lhes um fato maravilhoso, que surpreendeu a mim e á minha adorada esposa!
Todos se entreolharam excitados com a novidade que estava para ser revelada.
- Este fato, só nos honra ainda mais como pais. Expressa e resulta em todos os nossos esforços de sempre ter dado o melhor de nós.
Fez uma pausa magistral para causar um certo suspense. Neste momento, até eu me peguei prendendo o ar, imaginando qual a surpresa que papai teria para nos contar e se seria realmente tão importante assim para causar tanto mistério. A sala de jantar ficou em silêncio, ninguém se mexia e acho que nem piscavam.
A campainha toca. Todos se sobressaltam levando um susto. Começo a me movimentar para me dirigir á porta de entrada, quando vejo que Tiago já estava a caminho. Estranhei tal atitude mas como ele já é de casa, não vi problema algum uma vez que ele estava mais próximo. Todos estavam ainda com suas taças em punho aguardando a finalização do discurso e esperando que o convidado surpresa entrasse. Eu não imaginava quem pudesse ser, uma vez que todos os amigos mais chegados e familiares estavam ali. Talvez não fosse ninguém em especial. Ouço vozes de mulher e de um homem conversando com o Tiago. Quem será? - Penso. Os recém chegados ainda não ficaram visíveis para nós que estavamos na sala de jantar. Ouço passos em nossa direção.
Primeiro entra Tiago com um sorriso largo no rosto e acompanhado de um homem vestindo um terno bem cortado. Já estava na casa dos cinquenta assim como meu pai, suas têmporas estão ficando grisalhas e tem o mesmo sorriso do Tiago. Logo atrás deste senhor simpático, esta uma senhora um pouco mais jovem, beleza clássica. Pele clara e olhos azuis da cor do mar. Tão intensos e fatais que poderiam dizer muito mais do que palavras. Estava com um leve sorriso no rosto, que combinou com sua aparência e imponência de mulher decidida e com ciência de sua beleza. Estava com um ar um pouco mais frio do que o senhor simpático á sua frente que lhe pega o braço assim que entram na sala. Todos se viram e olham para os recém-chegados.
Fiquei embasbacada e achei que estava tendo uma visão. O que os pais do Tiago estavam fazendo ali? Eles moram em Campinas! Não sabia que os tinham convidado. Nossos pais são amigos há anos e depois que se mudaram raramente se viam. Talvez, eles já estivessem na cidade em visita ao Tiago ,ou, a negócios e resolveram vir. Estranho, porque será que o Tiago não me disse que seus pais estavam em São Paulo? Olhei para o Tiago com olhar interrogativo, mas como fez nas últimas horas, me ignorou.Os três se dirigiram até onde estavam meus pais, para se cumprimentarem e ouvi o pedido de desculpas pelo atraso.- O trânsito para cá estava horrível! -disse sr. Nicolau ao meu pai.- Havia um acidente na saída da rodovia e tudo ficou parado.Ao ouvir isso, conclui que eles não estavam na cidade, ou seja, eles vieram de Campinas direto para cá. Fico intrigada com isto. Bom, finalmente resolveram nos visitar! Pensei. Há tempos não se viam e porque não em um momento como
Sinto novamente todos os olhos sobre mim. Olho ao redor e vejo os rostos que me contestavam esperando uma resposta. Meu pai e minha mãe abraçados e extremamente emocionados, olho para os pais do Tiago que também estão assistindo a tudo com grande emoção. O restante dos convidados com sorriso no rosto aguardando minha resposta. Certamente estão sem a menor idéia da confusão metal que estou neste momento. Olho para minha amiga e irmã Claudinha. Percebo seu olhar aflito e com certeza sabe exatamente o que estou sentindo. Ela me olha e faz um sinal de positivo com a cabeça. O que será que ela está tentando me dizer? Pensei. Ela quer que eu diga sim, que me case, ou, esta tentando me dizer para que eu faça a coisa certa? E qual seria a coisa certa...Não sei quanto tempo se passou até que eu saísse do transe. Milhões de coisas se passaram pela minha cabeça. Mas a decisão foi tomada e as consequências virão assim como tudo em nossa vida. A vida é tomada de decisões, seja ela b
Os convidados começaram a ir embora. Intimamente dava graças a Deus por esta noite ter terminado. Não tenho a menor ideia de como ainda estou resistindo a tudo. Estampei um sorriso no rosto e segui em frente durante a festa inteira. Acho que meu rosto atrofiou de tanto que eu forcei o sorriso. Eu queria morrer! Nada daquilo fazia o menor sentido. Eu não quero e nunca quis me casar, não assim sem saber o que realmente sinto em relação a nós. Eu já estava tão acostumada a estarmos juntos que não fazia diferença se eu o amava como homem ou como um amigo. Eu nem sei se há diferença de sentimentos entre nós nesse sentido. Estávamos juntos desde sempre e pronto! Nunca havia parado para pensar em casamento, talvez porque, não houvesse sentimento forte o suficiente para isso. O que eu faço agora?Minha cabeça estava estourando, preciso descansar e dormir anos a fio até que eu consiga me recuperar disto. E como se o Tiago tivesse lido meus pensamentos.– Querida! Ele me cha
Eu estava a poucos instantes de entrar na passarela montada até o altar, minhas mãos estavam geladas, minhas pernas trêmulas. Sim, eu estava muito nervosa, mas, louca para que tudo aquilo acabasse logo.Os primeiros acordes começaram a tocar. O cerimonialista faz sinal para que eu aguarde o momento certo. Respiro fundo e fecho os olhos por alguns instantes, tentando me manter o mais calma possível e concentrada. - Vamos lá Raphaella! Você consegue! Disse a mim mesma. Agora faltava pouco. Só precisava me concentrar em fazer a coisa certa e tudo acabaria bem.O cerimonialista olha para mim e faz sinal para que eu comece a caminhar até o altar. Dar os primeiros passos foram os mais difíceis de minha vida e a coisa mais difícil de fazer até aqui. Minha vontade era de dar meia volta e sair correndo. Concentre-se Raphaella! Você consegue! Mais uma vez repeti meu mantra. Com passos meio insertos segui pela passarela feita de pétalas de rosas brancas. Em certa altura
o apartamento, eu achei que ao sair dali você viria correndo para que parássemos com tudo, que tínhamos ido longe demais! E você não veio.- Pai, porque só agora está me contando isso? - começo a chorar.- Porque só agora, depois de tudo ter sido consumado, o sr. vem me dizer estas coisas? Se o sr. viu toda a minha dor, minha tristeza, por que não falou comigo? Porque não me impediu de cometer este erro!?- Agora já não estava mais chorando, eu estava possessa de raiva e ódio.- O sr. disse que me observou esse tempo todo e mesmo assim, me deixou continuar! Que droga de amor é esse! Gritei.Eu queria gritar! Eu queria matar alguém naquele exato momento! Eu queria sangue! A raiva e o ódio me consumia de tal maneira que eu não estava enxergando mais nada. Eu queria gritar, eu queria bater, correr dali e ir o mais longe possível.- Filha, acalme-se! As pessoas estão começando a olhar para cá! Se não quer um escândalo e acabar com tudo ago
As manhãs primaveris em Paris são de perder o fôlego. Decidi tomar o café da manhã na sacada do hotel, que dava vista para Champs Elysées. Nossa estadia em Paris estava magnífica. Tudo aqui é lindo, festivo e muito romântico. Adorei passar os dias conhecendo os pontos turísticos e históricos. Tudo aqui cheira a história! As pedras das ruas, as calçadas, a arquitetura, tudo contam uma história. Muita cultura e beleza. As pessoas aqui parecem que estão sempre indo á uma festa, seus semblantes são leves, não parecem viver de mau humor e correndo sem tempo para nada, diferente das grandes cidades. Paris é mesmo uma festa!Fico contemplando a linda vista e pensando como seria se a Claudinha estivesse aqui. Certamente o quarto estaria cheio de sacolas de roupas de grife e estaríamos dormindo sem hora para acordar, porque, certamente teríamos ficado em alguma balada até altas horas, ou, teríamos ido dormir com algum parisiense gostosão. E Pensando nisso, não posso negar q
Qual o propósito?O garoto chega até nós e segura no braço da senhora, que o olha e parece reconhecê-lo, mas não tira suas mãos das minhas.- Vovó, a senhora não pode sair assim. Ficamos todos preocupados. Está todo mundo procurando a senhora!O rapaz parecia bastante aflito. Tiago tenta acalmá-lo e conta o que aconteceu. Ela olha novamente para mim e diz mais alguma coisa que consigo entender “ange” anjo. A senhorinha era muito doce me chamando de anjo. Sorri para ela e beijei sua mão que ainda repousava na minha.- Vovó, precisamos ir. A senhora já incomodou bastante o casal. E o rapazinho a pegou pelo braço com toda delicadeza de um neto amoroso.Ela repete para ele o que me disse.- Tudo bem vovó, ela é uma moça muito bonita sim, mas não é um anjo. Não um anjo de verdade. Vem precisamos ir.E o rapaz se vira para nós e se desculpa mais uma vez. A senhora se volta mais uma vez e me olha. E fala em bom português–“E
Sentada na primeira classe do Air France Brasil, coloco os fones de ouvido para relaxar enquanto estamos há milhas de pés a caminho de casa. Ao meu lado, vejo meu marido bebendo um whisky e se distraindo com a revista Times. Fecho os olhos e repasso todos os acontecimentos vividos nestes vinte dias. Todos os nossos passeios, as paisagens e os lugares históricos. Tudo foi maravilhoso, creio que aprendi a ver as coisas de uma forma mais positiva. Não foi tão ruim quanto eu imaginava que seria. Em minha cabeça, tudo seria uma catástrofe. Imaginei esta viajem um passaporte para nosso divórcio. E felizmente ou não, foi bem positivo. O que me fez lembrar as palavras daquela senhorinha na ponte dos casais. Por mais que eu tentasse me dizer que tudo não passava de um devaneio daquela senhora devido aos anos vividos, alguma coisa me incomodava, mas não sei dizer o que é. Era óbvio que nada fazia sentido naquilo, mas algo me dizia lá no fundo que talvez na mais remota possibilidade ela