O casamento

Eu estava a poucos instantes de entrar na passarela montada até o altar, minhas mãos estavam geladas, minhas pernas trêmulas. Sim, eu estava muito nervosa, mas, louca para que tudo aquilo acabasse logo.

Os primeiros acordes começaram a tocar. O cerimonialista faz sinal para que eu aguarde o momento certo. Respiro fundo e fecho os olhos por alguns instantes, tentando me manter o mais calma possível e concentrada. - Vamos lá Raphaella! Você consegue! Disse a mim mesma. Agora faltava pouco. Só precisava me concentrar em fazer a coisa certa e tudo acabaria bem. 

O cerimonialista olha para mim e faz sinal para que eu comece a caminhar até o altar. Dar os primeiros passos foram os mais difíceis de minha vida e a coisa mais difícil de fazer até aqui. Minha vontade era de dar meia volta e sair correndo. Concentre-se Raphaella! Você consegue! Mais uma vez repeti meu mantra. Com passos meio insertos segui pela passarela feita de pétalas  de rosas brancas. Em certa altura, meu pai me encontra e me leva até o altar como ensaiado. Até ali, tudo estava bem.

Chegamos. Meu pai beija minha testa e me entrega ao Tiago que estava á minha espera no altar montado no jardim de seus pais. Olho para ele e vejo que também está nervoso. Começo a me dar conta que hoje é a primeira vez que o vejo desde sua despedida de solteiro, há dois dias. Eu vim para a casa dos pais dele desde o início da semana, por decisão dele, achou que assim ficaria mais fácil para terminarmos de organizar o restante dos preparativos. Eu aceitei a ideia, afinal, seria bom para ficar um pouco longe da agitação da cidade e tentar relaxar um pouco. Carmélia sua mãe, não me deixaria fazer nada mesmo.

Olhei para ele novamente e vi que ele estava mais relaxado depois que o padre começou a falar. Será que ele achava que eu não apareceria?! Bom, se pensou, não estava muito errado. Seu olhar estava atento ao que o padre estava falando, parecia que estava apreciando tudo aquilo. Sim, ele estava feliz. Ele sente meu olhar, me olha e sorri. Seus olhos azuis parecem o céu de tão intensos e profundos. Este homem me ama.

Meu Deus! Ajude-me a amá-lo e ser uma boa esposa para ele. Por mais que eu não mereça sua benção meu Deus, faça isso pelas pessoas que amo. Pensando nisso, olho para frente e encaro o padre novamente que vai desenrolando seu discurso de casamento e suas obrigações sacramentista. 

– Pode beijar a noiva!  Diz o padre. 

Finalmente acabou. Achei que aquela ladainha não terminaria nunca! Meus pés estão me matando, quero apenas sentar e tirar estes sapatos. Louboutin! Presente de casamento da Claudinha, claro! Sem contar que o vestido também foi escolhido por ela. Era lindo! Quando se tratava de roupa e de grife, a Claudinha não decepcionava nunca. Eu não a tinha visto mais feliz do que o dia que a chamei para a escolha do vestido. Parecia uma criança no parque rodeada de tanto brinquedo, sem saber por onde começar. Claro que ela me fez experimentar uma dúzia antes de escolher um. A escolha foi acertada, eu também tinha adorado o vestido. O caimento era perfeito, branco em seda pura. Um vestido bem romântico, sem volume. Apenas um vestido que moldava o meu corpo como uma segunda pele, um decote em “V” profundo, mangas compridas e uma calda de dois metros. O que dava alma ao vestido era o decote profundo nas costas que ia até o inicio dos quadris, abaixo descia uma calda ampla toda bordada em fios de prata . Ficou maravilhoso. Nós duas saímos satisfeitíssimas da loja com a decisão tomada. Ela ficou linda em um vestido longo, salmão queimado de um ombro só em seda de crepe. E agora estávamos ali, nos momentos finais da cerimonia do meu casamento e tudo o que eu desejava, era  tirar tudo isso e correr para algum lugar onde eu pudesse respirar aliviada.

A festa transcorreu lindamente. Todos se divertindo. Os arranjos e a banda estavam impecáveis. Tudo estava muito bonito. Seria o casamento de conto de fadas se não fosse pela noiva, ou seja, eu, que não estava com ânimo e nem preparada para viver este conto. Vejo meu pai vindo em minha direção. Está muito elegante em seu fraque, mesmo ele dizendo que estava parecendo um pinguim.  Definitivamente ele estava sensacional. 

- Será que a minha menina me concede uma dança?   Corro colocar os sapatos novamente, que estavam em baixo da mesa e me dirijo ao centro da pista com meu pai. Começamos a dançar e meu pai me lança a pergunta de um milhão de dólares.

- Você está feliz, Rafaella?

Levo um suto e erro o passo. Ele para de dançar e me olha nos olhos e seu olhar é profundo que alcança a minha alma. Eu desvio o olhar e retomo o ritmo da dança, para que ele me acompanhe. Voltamos a dançar ainda em silencio. Não sabia o que responder. Claro que a minha primeira reação foi dizer que sim, mas eu já estava cansada de mentir e de fingir á aquela altura. Seu olhar leu os meus pensamentos e ele foi mais enfático.

- Eu sabia! murmurou.

- Eu vigiei você a festa inteira e você está ligada no piloto automático filha. Pelo amor de Deus, porque você não parou isso!

- Pai, eu não sei do que está falando. É claro que estou feliz, é meu casamento!  Tentei convencê-lo. Sem perceber, meu pai foi me levando para fora da pista e paramos ao lado da piscina onde quase não havia mais ninguém.

- Filha! Olhe-me nos olhos, pelo menos hoje por favor! Eu tenho observado você o tempo todo e fiquei me perguntando até onde você iria com tudo isso?! Pelo amor de Deus, minha filha! Porque você deixou que tudo isso seguisse dessa forma? Porque não acabou com tudo isso o quanto antes?

Eu não estava acreditando em meus ouvidos. Meu pai, o responsável maior pelo motivo de eu viver este inferno, me pergunta porque estou me casando a esta altura dos acontecimentos? Eu só posso estar louca.

- Pai, por favor. Preste atenção no que está me dizendo! Eu me casei! Realizei o seu sonho e o da mamãe! Todos estão felizes, consegue ver isso? Olhe ao redor, esta festa os convidados, nossa família. Todos estão felizes!

Não sabia se estava dizendo isso a ele ou para mim mesmo.

- Sim, eu consigo ver a felicidade em todos aqui. Inclusive em seu marido! Mas não vejo em você! O que foi que aconteceu com você Rafaella? Eu achei que este casamento terminaria no portão de nossa casa, no dia do aniversário de sua mãe. A filha que eu tenho e conheço não iria se subjulgar daquela maneira. Achei que assim que a festa terminasse, vocês conversariam e resolvessem as coisas. Mas não. Você deixou as coisas seguirem seu curso. Você acha que eu não notei a sua reação a cada preparativo?  Que você estava mais longe disto tudo o quanto podia estar!

- Pai! Por favor! Minha voz era só um sussurro. Voz embargada.

Tentei dizer alguma coisa. Mas eu não sabia o que dizer. Ele tinha razão.

Eu estava tentando organizar os meus pensamentos. Estava em choque. Ouvir aquilo tudo vindo do meu pai a pessoa por quem eu me sacrifiquei até aqui para não magoar e agora simplesmente  me diz que eu deveria ter seguido meus instintos e ter feito o que eu realmente deveria. Será que ele entende que eu não queria magoá-los, que para mim  ter dito sim naquele dia, foi porque eu não queria decepcioná-los? Deus! eu não acredito que tudo foi em vão! Eu não sabia mais o que pensar. Meu corpo tremia.

- Rafaela, filha! Eu te amo demais. Eu e sua mãe queremos que você seja feliz! E faríamos qualquer coisa para vê-la feliz e realizada. Mas, não a qualquer preço! Confesso que depois que as coisas começaram a desenrolar com os preparativos e tudo o mais eu achei que você estava realmente querendo tudo isso. Ele gesticula com as mão mostrando a festa.

-  Mas, depois fui vendo as suas reações, sua tristeza. Você começou a ficar apática. Achei que entraria em crise e adoecesse. Esperei que você viesse nos procurar e pedir ajuda para  acabar com tudo isso. Mas você não veio! O dia que eu os levei para conhecer

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo