O início
Este livro é baseado em fatos reais que foram transformados em ficção
PARA MEUS FILHOS E MINHA MÃE, COM AMOR, CARINHO E GRATIDÃO.
"O amor não vê com os olhos, vê com a mente; por isso é alado, é cego e tão potente."
(Willian Shakespeare)
O SONHO
Sarah! gritou meu nome mais uma vez . Sim Agora sei de onde vem e a quem pertence esta voz. Eu a reconheceria em milhões de anos a distância. Parei em meio a um rodopio que quase me fez cair na fogueira, mas não me importava viveria mil vidas por ele.
-Nicolai! gritei seu nome - Nicolai estou aqui! corri ao seu encontro.
Cada vez mais ficava dificil distingui-lo no meio da multidão. A cada tentativa de chegar em seus braços, ele se tornava mais e mais distante. Por que as pessoas não me deixavam passar? Nicolai! por favor, me ajude! estou aqui. Por favor, me deixem passar! Nicolai! espere!
Acordo sem folego e assustada. Estou suando. Olho para o despertador, são 05.30hs. Droga! estou atrasada. Salto da cama num pulo e corro para o banheiro. Merda! Que sonho foi esse?! Tomar banho, escovar os dentes e me trocar. Vamos Rafaela, concentre-se. Foi só mais um sonho. Me olho no espelho e vejo os resquícios da noite passada. Eu sabia que não deveria ter ido aquela festa. Lembro-me das palhaçadas dos meus amigos na confraternização da volta ás aulas. Segundo semestre, puxa, chegamos na reta final. Ultimo ano - penso. Foi tudo muito divertido. Bebidas, muita bebida! Cigarros e derivados. Pegação, muita pegação! Mas, não de minha parte , Já tenho um namorado para pensar e me ocupar. Provas finais, estágio, emprego. Estes eram os objetivos. Foco, força e fė. Vamos Rafaella, acorde ou vai perder o onibus.
Saio correndo do banheiro, pego meu jeans gasto, dou uma olhada nele para ver se ainda da para usar. Caço uma meia na gaveta, calcinha e sutien. Quase lá, só falta uma camiseta e pronto! Olho no relógio, são 06:00hs. Merda! tenho que ir para o ponto agora, em 5 minutos, o onibus passa e ai sim eu to ferrada!
Desço as escadas em direção á porta, passo pela sala de estar e vejo de relance minha mãe na cozinha pelo balcão estilo americano.
– Você está atrasada! diz minha mãe. – Chegou tarde ontem. Depois não diga que está com a cara horrível. Não dorme direito!
Esta é a minha supermegaprotetora mãe.
A amo incondicionalmente! Dona Antonella, filha de pais italianos. Ah! como eu adoraria ser como ela. Cabelos louros e lindos olhos verdes. Não fol å toa que meu pai se apaixonou perdidamente. E certamente, também não foi só pelos seus dotes fisicos. Minha mãe é alguém incomum. Não é como as outras mães. Ela está sempre á frente do seu tempo, seus pensamentos e forma de ver e agir com as situações, seja ela qual for, era surpreendente. Ela sempre tem algo bom a dizer. Não é á toa que meus amigos a adoram. Vivem aqui e vivem bajulando ela. Se pudessem, a adotariam!
– Vai sair sem comer de novo? continuou dizendo. – Menina daqui a pouco vai dar para contar suas costelas sem precisar tirar a camiseta!
Vixi! Que é isso Nelinha! vou levar uma maça para comer no caminho, assim você fica feliz?
Dou um olhar zombeteiro para ela e vejo sua cara furiosa! Mas por pouco tempo e caímos na rizada. Minha mãe era uma delícia. Nada a deixava zangada, triste ou horrorizada. Tudo estava bem do jeito que tinha que ser. Mas como toda italiana, tinha o sangue quente. Era fácil identificar quando estava brava. Seu rosto ficava vermelho e falava alto e gesticulava muito. Pobre papai. Normalmente era com ele que as coisas engrossavam. Ambos eram aposentados, isso significa que ficavam juntos o dia inteiro. Então, dá para imaginar
os acontecimentos do dia. Meu pai na garagem fazendo sabe-se lá o que, e minha mãe na cozinha como sempre reclamando da bagunça.Eu tinha uma familia bem comum e divertida e ninguém pode deixar de dizer o quanto eles se amam. Tanto tempo juntos e mesmo assim, ainda da para ver em seus olhos que são loucos um pelo outro. Será que algum dia eu terei algo assim? Um amor para uma vida inteira?– Filha, você precisa se alimentar melhor. Sei que está com o tempo corrido é seu último ano na faculdade, mas sem saúde, não irá a lugar algum. Ela me lança seus olhos verdes lindos preocupados sobre mim e me olha dos pės á cabeça. – Que roupa e essa? pronto! agora vamos falar de moda. Penso.– mãe to atrasada, lembra? Vou pra faculdade e não um desfile de moda. Beijo. Tchau!Passo a mão na maça
Droga! Merda! eu dormi na aula do sr. Borgoni! Que vexame!-Senhorita Rafaella, seria muito estranho de minha parte, pedir para que permaneça conosco durante a aula? ou estou sendo tedioso demais?– Claro que não Dr. Desculpe a minha falta de educação. Por favor, continue com a aula que estarei totalmente presente. – Falando isso, desejei que a terra me engolisse. Droga! como eu pude cochilar na aula dele? Bem feito para mim. Se eu ouvisse mais a minha consciência, certamente teria dormindo mais cedo e não passaria por este vexame na frente de todo mundo e principalmente com o Sr. Borgoni.– Agora, que a senhorita Rafaella se juntou anos. Continuemos.Olhei ao redor e vi as caras debochadas dos meus amigos. Isso ia ser a conversa da turma até a formatura. Pensando nisso, abaixei a cabeça em desgosto. Eu queria morrer.A aula continuou sem mais novidades. Sinal para o intervalo. Todos dispensados e se dirigindo par
Tento voltar á realidade e ainda a tempo de ouvir o final da história da Claudinha que assim como eu, também está longe em seus pensamentos e nem se deu conta de que eu apenas a observava e não a ouvia.– Então, foi aí que eu decidi gravar esta música! Pra ficar registrado um momento atípico e incrível em Paris. Finalizou dizendo. Ela nem se deu conta de que não registrei uma única palavra do que ela disse. Tão apaixonada, incapaz de perceber certas coisas á sua volta. Mas algo em mim deve ter chamado a atenção dela assim que me olhou, porque em seguida ela fez aquela cara de preocupação que conheço a séculos.– Você está bem? O que há com você Rafa? Parece que viu um fantasma! Aconteceu alguma coisa? Eu te conto a coisa mais linda e romântica que já vivi e você fica ai com essa cara!De repente ela para e parece que lhe surge algo em mente e dispara - Não me diga que aquele calhorda do Tiago aprontou de novo?- dizendo isso, ela sai do modo romântico e entra
- Mas temos aula ainda! Lembrei. Não podemos sair assim, é nosso último ano lembra?- Ah! quem se importa, Rafa?! Acabamos de voltar de férias. Muitos da turma nem voltaram ainda! E depois podemos pegar a matéria com os nossos amigos. Vamos, venha! Vamos ter um dia só das meninas!falando isso, me arrastou da mesa e saímos correndo como duas colegiais.Fomos direto para o estacionamento pegar o carro. Um Corsa preto novinho, comprou com a herança que herdou dos pais. Foi uma tremenda conquista. Seus pais e parte da sua família moravam no Maranhão. Ela e sua irmã mais velha, vieram para São Paulo procurando aventuras e oportunidade de uma vida melhor. Comeu o pão que o diabo amassou, mas conseguiu. Hoje, ela tem casa, carro e um bom emprego. Tudo bem que o carro, foi só por causa da herança, seus pais morreram há mais de dois anos e só agora a partilha finalmente foi feita. Eu não sei bem os detalhes, mas parece que os pais dela tinham muitas terras por lá, não eram
- Eu achei que ele iria me pedir em casamento nesta viajem.Então era isso! - Pensei. Balancei a cabeça em positivo, para que ela continuasse falando.–Tanto antes como durante a viajem, tudo indicava que sim. Suas atitudes, os planos que fizemos antes de ir para Paris e quando estávamos em Paris, parecíamos recém-casados! Nossos passeios extremamente românticos, tudo parecia propício para que ele fizesse o pedido e juro que achei que ele faria a qualquer momento. Mas não fez!Vi tanta decepção em seus olhos, que meu coração se apertou.–Será que eu não sou boa o bastante para ele? O que mais ele quer de mim?Começou a chorar. Sua decepção era evidente quanto suas expectativas com o desenrolar deste namoro. Ela sonha com casamento, filhos e família e talvez ele não compartilhe deste sonho. Carlos é um rapaz de vida noturna, de família rica. Talvez não esteja pronto ainda para compromissos mais sérios. Durante todo este tempo que eles estão j
- Há que horas é a entrevista? Claudinha pergunta olhando o relógio.- Ainda dá tempo. Será 15hs. Mas, não vai dar tempo de ir em casa e voltar. Terei que ir daqui mesmo.Claudinha me olha de cima a baixo, parecendo minha mãe.- Você vai vestindo isso? Em uma entrevista de estágio em uma das mais renomadas empresas de advocacia? Vem cá? Tem certeza que quer mesmo este estágio?É claro que eu queria. Meu pai vem trabalhando nisso há meses. Seu sonho era me ver trabalhando na A&C Advogados. Assim como um dia ele também foi um estagiário até a sociedade. E pra ser sincera, não é bem um estágio. Está mais para uma colocação de emprego, assim que me formar, fazer parte do corpo de advogados da A&C Advogados.- O que quer que eu faça? Chame a fada madrinha? Digo irritada com meu esquecimento. Meu pai iria me matar se soubesse disso.- Não precisa morder! Eu posso te ajudar. Moro aqui perto esqueceu? Podemos passar no meu
pai esta feliz com isso, mas pelo menos está muito melhor de saúde. O elevador para e a moça chic sai. Dou uma espiada no andar e vejo que há várias salas, todas cheias de gente, todos de terno e gravata. Será que aqui é o centro nervoso? Parecia ser. Estive neste prédio com meu pai há muito tempo atrás, eu era uma criança ainda, por volta dos 9 ou 10 anos. Não me lembro mais das coisas por aqui e certamente, tudo deve ter mudado muito. Sigo meu caminho ainda no elevador até o 21º andar, Já que não há mais andares acima, pelo menos não há mais botões. Penso em como será a entrevista. Quem será que irá me entrevistar? Algum amigo do meu pai? Alguém do RH certamente. Seja como for, não dá mais para correr. A porta do elevador se abre e dou de cara com uma enorme porta dupla de madeira, mogno acho. Passo a mão pelo cabelo, ajeito a saia e me preparo para entrar. Coloco a mão no puxador magnífico em latão e empurro. Vamos Rafa! Você consegue!
Chego exatamente na hora do jantar. Estou exausta. Graças a Deus é sexta feira! Deixo o carro na garagem. Vejo pela janela da sala que ainda não estão jantando. Estão me esperando certamente. Saio rapidamente e fecho o portão da garagem. Decido ir por dentro, assim saio direto na cozinha e subo para meu quarto. Dará tempo de me lavar e deixar as coisas. É aniversário da minha mãe, não quero que veja antes do tempo o que comprei. Ouço batidas na porta do quarto e o abrir da porta. Quem será?- Estou no banheiro! - Grito, esperando que-digam algo. Como não ouço nada, termino de lavar as mãos e saio. Dou de cara com o Tiago deitado na minha cama olhando para cima. Parecia cansado e estranho. Na verdade, tudo entre nós era estranho. Estranho por tempo demais. Encostei no batente da porta e fiquei olhando ele ali deitado, brincando com minha almofada de corações que ele mesmo me deu a sei lá quantos séculos atrás. Dificilmente me dava presentes. Ele não era