Renato caminhou desesperado por toda a decoração de seu casamento, tudo parecia com ela, as rosas eram vermelhas contornando todo o tapete da mesma cor, os detalhes também eram todos nessa cor encarnada. Tudo tinha sido escolhido por ela, ele sempre tinha lhe feito todas as vontades, todos os caprichos, e olha no que havia dado? Ela nem sequer o respeitou, o atraiçoou duas vezes, uma por ter estado com outro homem, outra por esse homem ser seu irmão e maior inimigo, era triste para ele dizer aquilo, seu próprio irmão como pior inimigo, mas ele tampouco escolheu aquilo como destino, jamais provocou a ira de seu irmão, pelo contrário, sempre foi a vítima passiva da história, porque nem conseguia reagir a tanto ódio sem sentido.
Foi até a garagem aberta e lá estava ela, que abriu a porta da limusine, pegou-a pelos braços de forma rude e tirou-a de lá, encaminhando-a pela parte traseira da casa para chamar menos atenção, de lá foram para uma das salas, essa era a de cinema. Ele a observou com toda a tristeza que carregava em seu interior, ela estava linda, com um vestido estilo "sereia", sem alças, contornava todas as suas curvas, na cabeça uma tiara sobre o cabelo preso em um coque, nos lábios batom vermelho, bem a cara dela. Mas aquilo era só embrulho e conteúdo vazio, não iria mais se enganar com aquela mulher.
— O que está havendo, Renato? Você não é assim, está descontrolado — Susana estava em pânico, aquele ditado de que, "quem não deve não teme", não se encaixava de nem uma forma com ela naquele momento.
— Eu não sou assim? E você, Susana, quem é? Você realmente conseguiu me enganar, parabéns, mas eu já sei de tudo, tire essa sua pose de vítima — disse, enquanto ela colocava a mão sobre a boca soluçando.
— O q-que você descobriu, Renato? Eu po-posso explicar. Por favor, tenha calma — suplicou, balbuciando.
— Você é tão ridícula, nem consegue disfarçar seu pânico, nem para negar, vamos, me dê luta, finja como você tem feito por quase dois anos em que esteve comigo, vai negar agora, vadia traiçoeira?
— Do que você está falando, Renato? — ela fingiu-se de desentendida, pois poderia não ser aquilo. E acabaria por assumir e sabia que o perderia para sempre.
Foi então que ele atirou as fotos em cima dela, que se abaixou para juntá-las. Vendo-as, não conseguiu mais fingir, caiu no choro verdadeiramente sentido.
— Ah, meu Deus, Renato, se eu pudesse voltar no tempo... Mas não posso, só posso te dizer que foi apenas essa vez, eu juro —Renato riu com amargura, mas ela continuou. — Não é como você pensa, não me aproximei do seu irmão com intenção de traí-lo, ele tem me tentado todo o tempo em que estamos juntos.
— Brilhante, ele tem te assediado desde que começamos e você nunca me contou nada, e mais, agora tenta se fazer de vítima: "Oh, ele me seduziu, eu sou uma maldita vítima" — a imitou de maneira sarcástica. — Por acaso eu não era suficiente pra você? Jamais nenhuma mulher se queixou. Um homem só não te satisfaz? Tem que ser dois? Ou você tinha um fetiche de ter os dois irmãos? Droga, eu te dei o mundo e é desse jeito que você me paga? — Susana se aproximou com as mãos e Renato retrocedeu.
— Renato você entendeu tudo errado, não foi luxúria, bem, não só isso, e sim, você não merecia, eu tenho vivido um inferno depois daquela noite, a culpa nunca abandonava meus pensamentos, eu até me afastei mais de você por isso, lembra? Você sempre me perguntava o que estava havendo comigo, por eu estar tão distante...
— Claro, começou a me rejeitar, gostou mais do pau do meu irmão, foi? É daquelas que se contenta com pouco, eu sempre fui maior.
— Renato, eu já conhecia seu irmão antes de você, há 10 anos precisamente, eu me apaixonei por ele, eu era apenas uma menina de 17 anos, acreditei em tudo que ele me disse e bem... Depois ele me humilhou de uma forma horrível e se foi, voltei a vê-lo quando fomos aquela festa de aniversário da sua prima.
— Isso tudo é tão sórdido, você teria uma chance comigo se tivesse dito desde o início que tinha tido algo com ele, eu ficaria fodido, eu sei, mas passaria por cima do meu orgulho, porque afinal com o passado ninguém pode, mas preferiu brincar comigo, não é? Fazer um retrospecto. Ridícula! Quando você me conheceu, sabia que eu era irmão dele, é claro, quem não sabe nesse país?! Então você não conseguiu se dar bem com um irmão e tentou com o outro mais ingênuo.
— Sim, eu sabia, mas não me aproximei de você por isso, eu juro, aquilo para mim já estava superado, eu gostei de você, fiquei encantada, e logo depois me apaixonei, não te disse porque fiquei com medo de te perder, você diz que se eu tivesse dito no princípio, você entenderia, mas não, você se afastaria, no princípio você ainda não me amava, o orgulho venceria. Eu te amo, Renato, e depois daquele erro, então não tenho sequer uma dúvida disso. Eu me arrependo tanto, eu...
— Não! — Renato a interrompeu. — Acabou, Susana, você nem sabe o que é amar, quem ama não trai e engana como você fez comigo, eu jamais seria capaz de aceitar conviver com alguém que me traiu. Perdão? Isso só quem pode dar é Deus, mas digo, se eu te aceitasse de volta depois disso, sua vida ao meu lado seria um inferno, a minha também seria. Adeus, Susana. — Dizendo isso saiu de sua mansão, destroçado, já sem gravata, colete e terno, apenas com a calça social de cor cinza e camisa branca com os botões de cima abertos, deixando uma mulher de joelhos aos prantos. Repetindo sem parar:
— Eu te amo, eu te amo, nunca duvide disso, foi um erro, meu amor, que irei pagar com minha felicidade. Por favor...
Saiu de casa, deixando para trás a mentira, o engano, um falso amor. Seu irmão nem estava na casa, nem havia sido convidado e possivelmente estaria em alguma viagem, porque a vida dele era festa, se estivesse, ele iria desfigurá-lo, tamanha era sua dor e raiva.
Eles não valiam a pena, tentou mentalizar isso, iria sair, não sabia ao certo para onde, só queria desaparecer daquele cenário de terror, e evitar um esperado: "Eu te avisei" de sua família, estava passando pelo hall de entrada quando Carla sua mãe se aproximou.
— Renato, o que está acontecendo? Não vai mais haver casamento?
— Não, não vai, para sua felicidade e dessa família toda, vocês estavam cobertos de razão, ela é mesmo uma vulgar que não me merece — disse colocando a palavra família quase como um palavrão. Sua mãe sorriu, uma reação esperada dela, estava contente, afinal, não teria que suportar aquela "zinha" em sua casa, nem estava preocupada com a dor que seu filho estava sentindo naquele momento, sendo assim, Renato deu as costas para sair quando ela o chamou outra vez.
— Para onde você vai assim? Não vai sair dirigindo o carro nesse estado, vai?
Renato não pôde deixar de gargalhar, sua querida mãezinha depois de 28 anos resolveu se preocupar com ele.
— Me poupe do seu show de boa mãe tardio, o que eu faço ou não da minha vida, é problema meu!
A mãe estranhou sua reação explosiva, ele não era assim, geralmente aguentava tudo calado sem dar importância ao que acontecia ao redor, sempre foi calado, ela sabia que nunca tinha sido uma boa mãe e até confessava que sempre gostou mais do jeito extrovertido de seu primeiro filho, mas, no fundo, sentia e, apesar de fútil e muito desligada de assuntos que a deixavam com rugas, aquele era seu filho e o mais parecido com ela, apenas na aparência, claro, os outros eram morenos como o pai. Ela sentiu um leve aperto no peito, coisa que nunca havia sentido por seu filho, juntamente com uma vontade enorme de abraçá-lo e dizer que estava ali, mas sabia que era tarde demais, já havia perdido o amor de seu filho para sempre.
E, assim, ele foi embora sem rumo, pegou um de seus carros, um Porsche 918 Spyder na cor cinza, não gostava de andar com motorista, mas os seguranças nunca dispensava, e hoje os havia dispensado, saiu sem avisar ninguém, invadido por sua dor e revolta, por que a vida tinha que ser tão injusta? Ele tentava ao máximo ser justo com os outros e não se sentia retribuído de nenhuma forma, havia dado tudo de si para aquela mulher, e ela pagava assim? E sua família? Nossa, ele trabalhava duro naquela empresa, enquanto eles ficavam de papos para o ar pegando sol, ele deu seu melhor para reerguê-la e conseguiu, eles nunca tiveram uma palavra de apoio e agradecimento, seu pai nunca engoliu o orgulho e veio lhe dar um tapinha nas costas e dizer que ele tinha feito bem a empresa. Ainda não se conformava que seu filho preferido tinha sido um incompetente, e teve que recorrer ao desprezado. O filho que ele sempre disse ser igual a ele, o desapontou, bem feito para ele.
Ia conduzindo seu carro e pensando em tudo aquilo, ao som de Pink Floyd - Wish You Were Here, quando um carro deu um leve toque na traseira do seu, ele notou que o carro queria pará-lo, no segundo toque, ele diminuiu a velocidade, droga, se não parasse, provavelmente acabaria morto, despistando, havia muito trânsito para ele acelerar, então acabou parando num acostamento. Assim que saiu do carro, dois homens encapuzados saíram do SUV preto, os dois apontando uma arma para ele, foi então que um deles se aproximou e bateu com a arma em sua mandíbula fazendo-o apagar.
Renato despertou, pensava ter tido apenas um pesadelo, daqueles bem ruins, se seu rosto não estivesse tão dolorido, ao ponto de ele mal conseguir abrir a boca. Deus, isso é real.Estava num lugar úmido e sombrio, deitado no chão sobre alguma coisa dura, que devia ser de palha, tentou mover-se, mas não conseguia, nos tornozelos havia cordas, bem como nos pulsos, que se encontravam presos em suas costas.— Que porra é essa? — tentou falar, mas além da dor na mandíbula, sua garganta estava seca. Aquilo não podia estar acontecendo, podia? E ele que havia pensado ser a pessoa mais infeliz do mundo, naquele exato momento lhe vei
— Se você encostar um dedo em mim, seu filho da puta, pode se considerar um homem morto.— Ah, é? E é você que me diz isso ou pretende chamar o irmãozinho pra te defender? — Mauro disse com ar de deboche.— Com você me entendo sozinha, fique longe de mim.— Quanto mais difícil pra mim, melhor é.— Acorde desse sonho, eu pra você não sou difícil, sou impossível.
Iago bebericava seu uísque, estava afogando suas mágoas sozinho na mesa de um bar, pensando no quanto a vida podia ser injusta, se sentindo culpado pelo sumiço de seu amigo, porque se ele não tivesse levado aquelas malditas fotos, naquele momento seu amigo não estaria desaparecido, sabia Deus onde, ferido ou morto, ele nem ao menos conseguia imaginar essa hipótese sem sentir uma dor dilacerante no peito. Seu amigo estava vivo, ele sentia isso.Várias mulheres passavam por ele, acenando, mandando beijinhos, algumas até se aproximavam, era natural, já que possuía uma beleza exótica, moreno de olhos verdes, grande e musculoso, mas com o humor em que ele se encontrava, estava espantando todas.Até que ele avistou uma morena que acabava de chegar, estava conversando num grupo de amigo
Rafaela acordou ao amanhecer, como a família fazia todos os dias naquela casa, com os galos cantando, o aroma delicioso de café, tudo tão característico, como amava o seu lar.Levantou, foi tomar um banho, vestiu um vestido de algodão com estampa floral que marcava a cintura e caía solto, colocou um shortinho também de algodão por baixo, porque iria andar de bicicleta e queria estar a vontade.Foi para a cozinha, sua mãe já estava lá, tinha um incrível cheiro de bolo de milho e pão caseiro, então ela deu um beijo na bochecha de sua mãe e um bom dia, sentou à mesa da cozinha, se serviu de café, bolo e um pedaço de pão de batata doce. Seu pai e seu irmão também sentaram, depois de dar beijos nela e desejar um bom dia. Rafaela pedalava o mais depressa possível para chegar logo à sua fazenda, chamar o seu irmão e entrarem o quanto antes na Picape para buscar Renato.Que belo nome, que belos olhos cor de âmbar — pensou, mas logo recobrou a consciência, isso não era hora para estar pensando no quanto o homem era lindo e nem que ele tinha dito que ela era seu anjo, Deus, se seu irmão ouvisse isso riria do rapaz e diria que ela estava mais para pequeno demônio. Riu ao imaginar a cena.Precisava ajudá-lo, ela ficou com um aperto no peito tamanha era a vulnerabilidade que encontrou naqueles lindos olhos, também viu uma carência ali, só queria ficar ali com ele lhe abraçando, dizendo que tudo ficaria bem.Renato resolveu então Capítulo 7
— Posso saber que porra é essa? Onde ele está?— Senhor, ele escapou. Dedin e Lacraia apareceram cada um com um punhal cravado no peito. Não sei que merda foi essa, já que eles estavam armados, o cara com certeza teve ajuda pra escapar, estava amarrado e muito ferido.— Bando de incompetentes, é o que vocês são. Onde vocês estavam quando isso tudo aconteceu?— Estava na nossa hora de descanso, chefe, e eles nos substituíram.— Não tentem me fazer de otário. Eles me ligaram quando chegaram aqui; dizendo que o preso tinha fugido e o posto estava vazio. — Os homens perderam a cor.
—Vou sair do quarto pra você se vestir, tem cinco minutos, vou trazer sua comida.— Sim senhora! — ambos riram.Rafaela saiu e voltou com uma bandeja, Renato já estava vestido com a roupa de seu irmão, uma calça de pijama azul escura e uma camiseta branca, e diga-se de passagem, lhe ficava muito bem, mas afinal, o que não ficaria bem naquele homem? Sem dúvida, ele não precisava de nada, sem roupa era a coisa mais fabulosa que Rafaela tinha visto na vida.— O senhor deveria estar deitado, vejo que é teimoso.—Tenha calma, senhorita, acabei de me vestir, você me deu cinco minutos, quase que não consegui esse feito.
Chegando à fazenda Almeida, Rafaela foi recebida pelo dono, seu padrinho Silvano, ele tinha um sorriso de triunfo sempre que olhava para ela, às poucas vezes em que viu aquele homem nunca o conseguiu entender.— Rafaela, filha — cumprimentou.—A bênção padrinho, como vai o senhor?—Deus te abençoe minha filha, estou bem, agora melhor. Que bom que veio. Você está tão linda — o homem falou orgulhoso.—Claro que eu viria, esse é meu trabalho, vocação, e sabe que eu lhe devo muito. — Ele sorriu com tristeza.—Não, você não me deve nada