Capítulo 3

Renato despertou, pensava ter tido apenas um pesadelo, daqueles bem ruins, se seu rosto não estivesse tão dolorido, ao ponto de ele mal conseguir abrir a boca.

Deus, isso é real.

Estava num lugar úmido e sombrio, deitado no chão sobre alguma coisa dura, que devia ser de palha, tentou mover-se, mas não conseguia, nos tornozelos havia cordas, bem como nos pulsos, que se encontravam presos em suas costas.

— Que porra é essa? — tentou falar, mas além da dor na mandíbula, sua garganta estava seca. Aquilo não podia estar acontecendo, podia? E ele que havia pensado ser a pessoa mais infeliz do mundo, naquele exato momento lhe veio à cabeça um ditado que odiava:

«Nada é tão ruim que não possa ficar pior.»

Nunca pensou que poderia citar algo assim. Foi sequestrado, como pôde ser tão burro de sair sem seus seguranças? E agora?

Eles vão me matar, meu Deus.

 E se me torturarem?

Tudo de mais pavoroso passava pela cabeça dele naquele momento, mas teria que manter a calma, um ataque de pânico era o que estava tentando evitar.

Transpirava muito, sentia tremores de frio, até que pediu a Deus para cair no sono...

***

Iago ainda não tinha ido embora da mansão Sampaio, desde que o amigo saiu, ele tinha ficado muito preocupado, então permaneceu ali tentando ligar para seu celular, e o loiro não atendia. Pediu para que seus seguranças fossem atrás do patrão, vasculhar, sabia que era improvável encontrá-lo, mas tampouco poderia ficar de mãos atadas sem fazer nada, aquele era um irmão para ele.

Todos estavam reunidos na sala da mansão, incrível, mas pareciam estar preocupados com Renato. Sara, a irmã mais nova, morena de olhos claros acinzentados, estava séria, coisa que nela era algo raríssimo, a vida para ela, era só curtição. A mãe estava com o olhar soturno. Afinal, aquela mulher tinha sentimentos? O pai, impassível, como sempre, mas Iago começava a desconfiar que fosse apenas uma máscara de defesa ou sabia-se lá o quê.

Passaram-se horas sem notícias de Renato, já era meia noite quando receberam uma ligação avisando que o carro tinha sido encontrado no acostamento de uma estrada, vazio, lá não estava o proprietário, nem faziam ideia do paradeiro dele. Todos ficaram consternados, afinal, o que havia acontecido com Renato? Onde estava?

— Só pode ter sido um sequestro, gente, como foi comunicado, o carro não estava danificado, por tanto, não foi um acidente, ele saiu sem os seguranças — a irmã disse.

— Se for realmente isso, eles irão se comunicar para pedir resgate — concluiu o pai

— Oh, meu pai, e agora? Eu, no fundo, sabia que algo de mau poderia acontecer, por que o deixei ir? — a mãe lamentou.

— Talvez porque você sabia que não teria poder para evitar? — disse o moreno de forma áspera deixando a mãe de Renato sem graça.

Iago sempre esteve presente na vida e nos problemas de Renato, por isso não era novidade para ele que o amigo sempre se sentiu sozinho, desprotegido e excluído, até que um dia desistiu de sua família e tornou-se um jovem solitário e independente. Fazia de tudo para contrariar seus pais, já que passou a infância toda tentando agradá-los e eles só enxergavam seu irmão.

Na época da faculdade trabalhou com Iago numa boate como Barman, seus pais quase surtaram, seu irmão jamais trabalharia com algo assim, esnobe como era. Até seu curso foi motivo de discórdia entre pai e filho, o pai queria que Renato cursasse engenharia, uma tradição de família, é claro, seu filho querido o fez, ninguém sabia como tamanho incompetente pôde passar.

Iago se recordava muito bem de Renato dizer que seu irmão o obrigava com ameaças a fazer seus trabalhos de casa na época da escola, senão inventava uma de suas mirabolantes histórias, fazendo seu irmão ficar de castigo. Muitas vezes Iago percebeu que Renato se sentia mais feliz e a vontade na sua humilde casa do que na dele com a própria família, havia muita mágoa ali, e com toda razão, o amigo passou a infância toda dizendo que um dia se vingaria, hoje adulto, entendia que a melhor forma de vingança era o desprezo. Vingar-se era dar importância demais a quem não merecia.

***

Renato acordou ouvindo um barulho, já era de dia e conseguia ver melhor onde estava: uma espécie de cabana, um quarto pequeno com paredes de madeira velha e palha cheia de lôdo, não havia móvel algum. Se concentrou para tentar ouvir a conversa dos bandidos, eles provavelmente estavam do lado de fora, já que Renato não imaginava que houvesse outro cômodo ali. Um estava dizendo ao outro que não havia necessidade de alimentá-lo já que ele estava marcado para morrer.

O coração de Renato palpitava incessantemente, como se tivesse dois, que suportar o peso o estava sufocando.

Eles não me sequestraram para obter resgate, talvez tenha sido encomendado, ou eles pretendem ter o resgate e mesmo assim acabar comigo?

Tentava entender aquele filme de terror, no qual estava, quando um dos homens entrou, ainda usando o capuz no rosto.

— Quem são vocês? O que querem de mim?

O homem se aproximou dele e sem dizer uma palavra começou a lhe dar golpes, socos na face, pontapés no abdômen. Depois se foi da mesma maneira silenciosa que entrou.

E, assim seguiu por mais dois dias, Renato sendo torturado e sem uma resposta qualquer, ainda não tinha sido alimentado, havia apenas água no quarto, numa bacia na qual ele arrastava-se de forma humilhante e exaustiva para conseguir beber como um animal.

Naquele momento de dor e degradação, morrer seria apenas o alívio para o que estava em sua alma, a dor dela era sempre mais terrivelmente torturante do que a dor física. Tratado de forma desumana, nem um animal merecia ser tratado daquela forma, ele só pensava e pensava se existiria algo por que lutar e nada vinha à cabeça para fazê-lo se agarrar a vida, não havia nada ali que valesse realmente a pena passar por tudo aquilo e depois sobreviver. Estava se deixando morrer...

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