Jade mantinha o sorriso nos lábios, tentando esconder o turbilhão de pensamentos que a assolava. Viktor a observava com aquela expressão predatória, os olhos fixos nela, mas com algo mais… uma tensão que ele não tentava esconder. Ela podia sentir, em cada fibra de seu ser, o peso da descoberta da noite anterior. A carta que ela havia encontrado queimava no bolso de sua calça, e com ela, as dúvidas se multiplicavam. “Que bom saber que sua manhã foi agradável”, disse Viktor, sua voz baixa e controlada, mas com algo que Jade não conseguiu identificar completamente. Ele fechou a porta atrás de si com um cuidado quase excessivo, e o som do trinco se assemelhou ao estalo de uma armadilha. Ele se aproximou, a postura relaxada, mas seus olhos eram os de um caçador em espera. “Você parece… diferente.” Jade inclinou levemente a cabeça, os olhos observando-o com a mesma intensidade. “De maneira boa ou ruim?” “Intrigante”, respondeu Viktor, dando um passo à frente, quase como se a estudasse em
A revelação que Viktor fizera a devastou de uma maneira que Jade não conseguia compreender totalmente. Helena, uma vampira... Ela piscou, tentando encaixar essa nova peça no quebra-cabeça que se tornava cada vez mais confuso. A revelação não fazia sentido. Helena, sempre tão tranquila, tão humana em sua aparência e maneiras, agora era vista sob uma luz completamente diferente. Jade sentiu um frio percorrer sua espinha enquanto revivia mentalmente cada interação que tivera com Helena. Aqueles olhos que brilhavam sob a luz fraca da lua, a postura impecável, quase etérea, e a aura de mistério que sempre a envolvera — tudo isso agora fazia sentido. Mas, ao mesmo tempo, nada fazia.O silêncio que se seguiu ao confronto parecia eterno. Jade estava paralisada, tentando processar tudo o que Viktor havia dito, mas as palavras dele reverberavam em sua mente como um eco distante. Ela não sabia o que pensar, nem por onde começar. O quarto onde estavam parecia sufocante, as paredes se fechando ao
Viktor entrou no quarto de Jade sem cerimônias, como de costume. Ela estava sentada na cama, folheando um livro que nem sabia do que se tratava. Desde que se tornara vampira, sua concentração estava completamente comprometida. Mas, ao ver Viktor ali, parou o que fazia e ergueu o olhar."Arrume suas coisas. Viajamos ao amanhecer."Ela piscou, confusa. "O quê? Pra onde?""Vamos para uma cidade do interior. Precisamos de aliados, e conheço alguém que pode nos ajudar." Viktor se apoiou no batente da porta, cruzando os braços. "E você vem junto."O tom dele não deixava espaço para discussão, mas Jade não pretendia reclamar. Era sua chance de sair daquela mansão sufocante. Desde que se tornara vampira, seu mundo se resumia àqueles muros. Não era como se estivesse presa, mas sentia como se estivesse."Ótimo! Já estava na hora." Ela sorriu, fechando o livro e se levantando. "Mas por que agora? O que mudou?"O rosto de Viktor ficou mais sério. "Alfie encontrou rastros de alguém rondando a mans
O cheiro de ferro e suor impregnava o ar abafado. O frio do chão de pedra contrastava com o calor pegajoso do sangue que escorria lentamente da testa de Jade, deslizando por sua pele pálida. Os pulsos estavam amarrados com cordas ásperas que cravavam na carne, provocando uma dor surda e constante. Uma venda negra cobria seus olhos, mergulhando-a em uma escuridão opressora. Tudo o que restava era o som. Passos ecoando, o tilintar de lâminas afiadas e sorrisos abafados pelo rancor.O coração dela batia com uma fúria descompassada, lutando para manter alguma sanidade. O gosto metálico na boca lembrava que já havia gritado demais. O silêncio, agora, era sua única arma."Que fofa, ela ainda acha que vai conseguir escapar", disse uma voz feminina, cortando o ar como uma lâmina. Doce como veneno, carregada de escárnio.A venda foi arrancada de seu rosto com um puxão brusco. A luz crua da tocha atingiu seus olhos sensíveis, forçando Jade a piscar até a visão se ajustar. Quando finalmente enxe
O tecido de veludo sob seu corpo parecia apertá-la, como se o próprio caixão estivesse tentando mantê-la presa. Ela piscou algumas vezes, sentindo uma estranha ardência nos olhos. O azul vívido que costumava refletir sua alma agora se dissolvia em um negro profundo, tão escuro quanto o vazio que sentia por dentro.O ar parecia mais denso, e cada respiração era pesada, misturada com o gosto metálico do sangue seco em seus lábios. Sua mente tropeçava entre flashes desconexos: o som de gritos dilacerantes, o riso cruel de Helena ecoando em seus ouvidos, o olhar de terror de Julie momentos antes de sua luz ser apagada.Julie.O nome pulsava em sua mente como uma ferida aberta. O rosto inocente da irmãzinha era o fio que puxava cada lembrança, cada fragmento da dor que havia experimentado. Lágrimas quentes ameaçaram escorrer, mas Jade as conteve com a mesma fúria que agora alimentava seu coração.Com um impulso determinado, ela levantou do caixão, que cedeu com um rangido macabro. O ambien
O silêncio da casa parecia gritar para Jade. Cada passo seu ecoava nas paredes imponentes, envoltas por um luxo que nunca lhe pareceu tão sufocante. O chão de mármore frio sob seus pés descalços não era nada comparado ao vazio que crescia dentro dela — um vazio faminto, insaciável. Era como se sua própria existência estivesse fora de sintonia com o mundo ao seu redor, como se ela fosse uma sombra, flutuando sem propósito. A angústia apertava seu peito com cada respiração, tornando o ar denso e pesado.Após a discussão com Viktor, Jade vagou pela mansão sem um rumo definido, sentindo-se uma estranha em uma vida que deveria ser sua. As paredes altas e as portas pesadas escondiam segredos que ela sabia que precisava desvendar. Estava perdida em pensamentos quando um homem alto e de postura rígida surgiu no corredor. Vestia um uniforme impecável, o olhar neutro, mas havia algo nele que fez o estômago de Jade revirar — um reconhecimento súbito, uma memória esquecida que se escondeu nas som
A água morna escorria pelo corpo de Jade, criando pequenos rios que deslizavam por sua pele pálida e fria. O calor parecia a única coisa capaz de fazer seu corpo lembrar que ainda existia, que ainda estava viva… ou algo próximo disso. Ela apoiou as mãos nas paredes de mármore do luxuoso banheiro, sentindo o contraste entre o frio da pedra e o calor da água. Seus pensamentos giravam em círculos, confusos e pesados, enquanto tentava processar tudo o que havia acabado de descobrir.Ela era um monstro agora.O reflexo dos olhos negros e profundos ainda estava gravado em sua mente, assim como a marca de mordida em seu ombro e as presas afiadas que mal conseguia acreditar serem suas. Viktor sabia disso o tempo todo. Sabia o que ela havia se tornado e nunca teve a decência de contar. Não. Ele a tratou como um fardo, um peso insignificante, escondendo verdades que pertenciam a ela.O sangue dela fervia mais do que a água quente ao redor.Jade desligou o chuveiro bruscamente, a água gotejando
A mente de Jade estava uma tempestade. A cada respiração, sua fome aumentava, mas não de comida comum. Algo dentro dela clamava por algo diferente, algo sombrio. Sentia a necessidade de saciar uma sede que não compreendia, como se estivesse sendo puxada para um abismo sem fim. A comida não a satisfazia, nem mesmo a água. Nada parecia preencher o vazio crescente dentro de si.Ela estava sentada à mesa do escritório de Viktor, seus pensamentos ainda em frangalhos. O cheiro amadeirado do lugar misturava-se com o aroma de Viktor, inebriante e provocante, e isso a fazia sentir uma atração que ela não entendia completamente. Cada pequeno gesto dele parecia fazer o mundo ao redor dela desaparecer, e ela odiava isso. A última coisa que queria era se sentir vulnerável diante dele, mas ali estava, sua mente cada vez mais confusa e seu corpo tremendo.Viktor estava em pé, do outro lado da mesa, observando-a em silêncio. Seus olhos profundos e penetrantes não a deixavam em paz. Ele estava tranqui