Capitulo 06: Fome

A mente de Jade era um redemoinho caótico. O peso da revelação ainda reverberava em seu peito, mas o que mais a consumia era a sede. Não uma sede comum, que poderia ser saciada com água. Era algo primordial, selvagem, que queimava em suas veias e apertava seu estômago vazio com garras invisíveis. O ar parecia denso, como se cada partícula fosse insuficiente para mantê-la estável.

Ela tentava ignorar o desconforto, mas o cheiro que pairava no ar era uma armadilha cruel. O aroma amadeirado do escritório de Viktor se misturava ao perfume dele — um cheiro inebriante, quente, com notas de especiarias e algo mais… ferroso e doce. O sangue dele. Era como se cada batida do coração de Viktor ressoasse dentro dela, chamando-a, despertando um instinto que ela não conseguia controlar.

Viktor estava em pé, encostado casualmente na lateral da mesa, observando-a com seus olhos sombrios e enigmáticos. Não havia um traço de surpresa em sua expressão, apenas uma calma inquietante. Talvez ele soubesse o que viria a seguir. Talvez estivesse esperando por isso.

Jade tentou se concentrar, mas seus pensamentos estavam turvos, sufocados pelo desejo que crescia em uma espiral insana. Suas mãos tremiam levemente quando ela se levantou, cambaleando com o peso da sede insuportável.

Foi então que Viktor deu um passo à frente, a sombra de um sorriso tocando seus lábios. Sem dizer uma palavra, ele levou as mãos aos botões da camisa preta de tecido fino. Com movimentos lentos e deliberados, começou a desabotoá-los, um por um, revelando a pele pálida e impecável do peito. Cada botão que caía parecia um estalo alto na mente de Jade, que observava hipnotizada, sem conseguir desviar o olhar.

Quando ele terminou, abriu levemente a camisa, expondo o pescoço e a clavícula. O brilho suave da luz da lareira destacava o contorno elegante da jugular de Viktor, pulsando de forma sutil. Ele ergueu o queixo, inclinando o pescoço, oferecendo-se de forma descarada, quase provocativa. Seus olhos, agora escuros e dilatados, encontraram os de Jade com uma intensidade que fez o ar entre eles crepitar.

"Venha." ele sussurrou, a voz baixa e rouca, carregada de uma sensualidade crua. "Será mais difícil se você se recusar."

O corpo dela respondeu antes da mente processar. Um passo vacilante, depois outro. O som do sangue dele parecia um tambor chamando-a, uma melodia hipnótica que a puxava. O cheiro, o calor, a promessa de alívio para aquela sede insana… tudo a empurrava para ele.

Mas, quando estava a poucos centímetros de distância, Jade parou. Seu coração — ou o que restava dele — pulsava com força, não pela sede, mas pela confusão. Ela queria. Deus, como queria. Não apenas o sangue. O homem. A presença. O toque. Era uma atração que ia além da sede física, algo mais profundo e perigoso.

Ela fechou os olhos com força, tentando afastar aquele desejo sufocante. "Não..." sussurrou, com a voz trêmula.

Deu um passo para trás, o coração batendo freneticamente em um ritmo desordenado. A necessidade gritava dentro dela, mas a vontade de não ceder àquilo — de não se perder nele — era ainda maior.

Virando-se apressadamente, Jade saiu do escritório, o som dos próprios passos ecoando no corredor silencioso. Ela se apoiou na parede fria, ofegante, tentando controlar o desespero que queimava em seu peito. Mas não adiantava. O cheiro dele ainda estava em sua mente, o calor de sua presença grudado em sua pele.

"Jade." a voz dele chamou, baixa, mas penetrante, ecoando em seus ouvidos.

Ela não respondeu. Em vez disso, correu para seu quarto, o som dos batimentos de Viktor ainda pulsando em sua mente como um eco distante. Trancou a porta atrás de si com mãos trêmulas, deslizando até o chão.

A sede era insuportável. Uma dor latejante em sua garganta, um vazio que se espalhava por cada célula de seu corpo. Lágrimas quentes escorriam por seu rosto sem que ela percebesse, misturadas ao suor frio da exaustão. Ela se encolheu, abraçando os joelhos, tremendo de forma incontrolável. O choro não era apenas de dor física, mas de frustração. Raiva por estar assim. Por ter perdido o controle.

Rastejando até a cama, Jade se deitou, deixando que as lágrimas a tomassem. Eventualmente, a exaustão venceu. Jade adormeceu em um sono inquieto, os traços ainda marcados pelas lágrimas secas.

Horas depois, Viktor estava do outro lado da porta. Ele bateu, chamando por ela suavemente, mas o silêncio respondeu. Preocupado, pegou uma chave reserva e entrou.

O quarto estava mergulhado em penumbra. O ar carregado com o perfume sutil de Jade — um contraste doce e suave com o caos que ela havia deixado para trás. Ela estava deitada na cama, encolhida, o rosto manchado pelas lágrimas secas. O roupão que vestia escorregava de um dos ombros, revelando parte da pele delicada. O cabelo estava bagunçado, mechas grudadas na testa úmida.

Viktor se aproximou em silêncio, o olhar suavizando ao vê-la naquele estado vulnerável. Sentou-se na beira da cama, observando-a por um momento. Então, com um cuidado quase reverente, ajeitou o roupão dela, cobrindo-a melhor. Seus dedos deslizaram pelos fios desalinhados do cabelo dela, arrumando-os com delicadeza. O toque era leve, quase uma carícia. Ele traçou uma linha suave desde a têmpora até o queixo, como se quisesse memorizar cada detalhe do rosto adormecido dela.

Seus olhos se fixaram na marca em seu ombro, uma cicatriz sutil que parecia chamá-lo. Viktor passou o polegar sobre ela, um gesto quase inconsciente. Depois, sua mão deslizou pela clavícula exposta, descendo lentamente até o pescoço, sentindo o calor sutil da pele de Jade.

Ele se inclinou, a respiração quente roçando levemente o rosto dela. Suas testas se encostaram, um gesto íntimo, carregado de emoções que ele nunca admitiria em voz alta. O desejo de beijá-la era esmagador, mas ele se conteve, fechando os olhos por um breve momento.

Com um suspiro silencioso, afastou-se. Arrumou o roupão dela mais uma vez, cobrindo-a até o pescoço, como se isso pudesse protegê-la do mundo — ou dele mesmo. Levantou-se, lançando um último olhar para o rosto sereno de Jade antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si com um pesar silencioso.

E, pela primeira vez em muito tempo, Viktor sentiu um vazio que nem o sangue poderia preencher.

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