A mente de Jade era um redemoinho caótico. O peso da revelação ainda reverberava em seu peito, mas o que mais a consumia era a sede. Não uma sede comum, que poderia ser saciada com água. Era algo primordial, selvagem, que queimava em suas veias e apertava seu estômago vazio com garras invisíveis. O ar parecia denso, como se cada partícula fosse insuficiente para mantê-la estável.
Ela tentava ignorar o desconforto, mas o cheiro que pairava no ar era uma armadilha cruel. O aroma amadeirado do escritório de Viktor se misturava ao perfume dele — um cheiro inebriante, quente, com notas de especiarias e algo mais… ferroso e doce. O sangue dele. Era como se cada batida do coração de Viktor ressoasse dentro dela, chamando-a, despertando um instinto que ela não conseguia controlar. Viktor estava em pé, encostado casualmente na lateral da mesa, observando-a com seus olhos sombrios e enigmáticos. Não havia um traço de surpresa em sua expressão, apenas uma calma inquietante. Talvez ele soubesse o que viria a seguir. Talvez estivesse esperando por isso. Jade tentou se concentrar, mas seus pensamentos estavam turvos, sufocados pelo desejo que crescia em uma espiral insana. Suas mãos tremiam levemente quando ela se levantou, cambaleando com o peso da sede insuportável. Foi então que Viktor deu um passo à frente, a sombra de um sorriso tocando seus lábios. Sem dizer uma palavra, ele levou as mãos aos botões da camisa preta de tecido fino. Com movimentos lentos e deliberados, começou a desabotoá-los, um por um, revelando a pele pálida e impecável do peito. Cada botão que caía parecia um estalo alto na mente de Jade, que observava hipnotizada, sem conseguir desviar o olhar. Quando ele terminou, abriu levemente a camisa, expondo o pescoço e a clavícula. O brilho suave da luz da lareira destacava o contorno elegante da jugular de Viktor, pulsando de forma sutil. Ele ergueu o queixo, inclinando o pescoço, oferecendo-se de forma descarada, quase provocativa. Seus olhos, agora escuros e dilatados, encontraram os de Jade com uma intensidade que fez o ar entre eles crepitar. "Venha." ele sussurrou, a voz baixa e rouca, carregada de uma sensualidade crua. "Será mais difícil se você se recusar." O corpo dela respondeu antes da mente processar. Um passo vacilante, depois outro. O som do sangue dele parecia um tambor chamando-a, uma melodia hipnótica que a puxava. O cheiro, o calor, a promessa de alívio para aquela sede insana… tudo a empurrava para ele. Mas, quando estava a poucos centímetros de distância, Jade parou. Seu coração — ou o que restava dele — pulsava com força, não pela sede, mas pela confusão. Ela queria. Deus, como queria. Não apenas o sangue. O homem. A presença. O toque. Era uma atração que ia além da sede física, algo mais profundo e perigoso. Ela fechou os olhos com força, tentando afastar aquele desejo sufocante. "Não..." sussurrou, com a voz trêmula. Deu um passo para trás, o coração batendo freneticamente em um ritmo desordenado. A necessidade gritava dentro dela, mas a vontade de não ceder àquilo — de não se perder nele — era ainda maior. Virando-se apressadamente, Jade saiu do escritório, o som dos próprios passos ecoando no corredor silencioso. Ela se apoiou na parede fria, ofegante, tentando controlar o desespero que queimava em seu peito. Mas não adiantava. O cheiro dele ainda estava em sua mente, o calor de sua presença grudado em sua pele. "Jade." a voz dele chamou, baixa, mas penetrante, ecoando em seus ouvidos. Ela não respondeu. Em vez disso, correu para seu quarto, o som dos batimentos de Viktor ainda pulsando em sua mente como um eco distante. Trancou a porta atrás de si com mãos trêmulas, deslizando até o chão. A sede era insuportável. Uma dor latejante em sua garganta, um vazio que se espalhava por cada célula de seu corpo. Lágrimas quentes escorriam por seu rosto sem que ela percebesse, misturadas ao suor frio da exaustão. Ela se encolheu, abraçando os joelhos, tremendo de forma incontrolável. O choro não era apenas de dor física, mas de frustração. Raiva por estar assim. Por ter perdido o controle. Rastejando até a cama, Jade se deitou, deixando que as lágrimas a tomassem. Eventualmente, a exaustão venceu. Jade adormeceu em um sono inquieto, os traços ainda marcados pelas lágrimas secas. Horas depois, Viktor estava do outro lado da porta. Ele bateu, chamando por ela suavemente, mas o silêncio respondeu. Preocupado, pegou uma chave reserva e entrou. O quarto estava mergulhado em penumbra. O ar carregado com o perfume sutil de Jade — um contraste doce e suave com o caos que ela havia deixado para trás. Ela estava deitada na cama, encolhida, o rosto manchado pelas lágrimas secas. O roupão que vestia escorregava de um dos ombros, revelando parte da pele delicada. O cabelo estava bagunçado, mechas grudadas na testa úmida. Viktor se aproximou em silêncio, o olhar suavizando ao vê-la naquele estado vulnerável. Sentou-se na beira da cama, observando-a por um momento. Então, com um cuidado quase reverente, ajeitou o roupão dela, cobrindo-a melhor. Seus dedos deslizaram pelos fios desalinhados do cabelo dela, arrumando-os com delicadeza. O toque era leve, quase uma carícia. Ele traçou uma linha suave desde a têmpora até o queixo, como se quisesse memorizar cada detalhe do rosto adormecido dela. Seus olhos se fixaram na marca em seu ombro, uma cicatriz sutil que parecia chamá-lo. Viktor passou o polegar sobre ela, um gesto quase inconsciente. Depois, sua mão deslizou pela clavícula exposta, descendo lentamente até o pescoço, sentindo o calor sutil da pele de Jade. Ele se inclinou, a respiração quente roçando levemente o rosto dela. Suas testas se encostaram, um gesto íntimo, carregado de emoções que ele nunca admitiria em voz alta. O desejo de beijá-la era esmagador, mas ele se conteve, fechando os olhos por um breve momento. Com um suspiro silencioso, afastou-se. Arrumou o roupão dela mais uma vez, cobrindo-a até o pescoço, como se isso pudesse protegê-la do mundo — ou dele mesmo. Levantou-se, lançando um último olhar para o rosto sereno de Jade antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si com um pesar silencioso. E, pela primeira vez em muito tempo, Viktor sentiu um vazio que nem o sangue poderia preencher.O mundo parecia em silêncio absoluto quando Jade abriu os olhos. A sede ainda queimava em sua garganta, mas estava estranhamente controlada, como se sua mente tivesse encontrado um frágil equilíbrio entre o desespero e o autocontrole. O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, as cortinas pesadas bloqueando a maior parte da luz do lado de fora. O ar carregava um leve perfume amadeirado que ela já reconhecia: Viktor.Antes que pudesse se levantar, ouviu passos do lado de fora da porta, leves, mas inconfundíveis. Seu coração — sim, ainda pulsante — deu um salto confuso. Ela sabia quem era antes mesmo da batida suave ecoar na madeira."Entra", murmurou, sua voz rouca pelo cansaço e pela sede.A porta se abriu sem resistência, e Viktor entrou. Seus olhos cinzentos analisaram cada detalhe dela com uma intensidade que a fez se encolher ligeiramente, não por medo, mas por algo que não sabia nomear. Um pensamento fugaz passou por sua mente: ela tinha certeza de que havia trancado a por
O silêncio reinava na mansão, quebrado apenas pelos passos suaves de Viktor enquanto ele carregava Jade nos braços. Seus dedos estavam firmes, mas não a machucavam, e seu olhar era indecifrável. Jade, ainda abalada, se deixou levar sem resistência. Seu corpo parecia mais leve do que nunca, mas a sede em sua garganta continuava a arder, mesmo que menos intensa do que antes.A sensação era estranha. Sua mente estava lúcida, mas seu corpo reagia como se tivesse sido moldado para algo completamente novo. Cada som parecia mais nítido, cada textura mais intensa. Ela podia ouvir o leve farfalhar das folhas do lado de fora, o tique-taque do relógio na parede e até mesmo a respiração controlada de Viktor. Tudo parecia mais próximo, mais vívido.Quando Viktor a colocou delicadamente sobre o sofá espaçoso da sala, Jade afundou no tecido macio, sentindo o contraste entre o conforto do momento e a turbulência que carregava dentro de si. Seu olhar vagou pelo ambiente, como se precisasse confirmar q
Viktor riu baixo, um som rouco, carregado de algo indecifrável, enquanto seus dedos longos deslizavam suavemente pela mão de Jade, que ainda repousava ao redor de seu corpo. Seus olhos estreitaram levemente antes que ele a soltasse com um gesto quase preguiçoso, como se não quisesse afastá-la, mas também não pudesse mantê-la ali.Então, ele se virou para encará-la de frente, seu sorriso singelo tentando mascarar qualquer resquício de peso na conversa."Você se preocupa demais."Jade observou o rosto dele com atenção, notando os detalhes que normalmente ignoraria. O brilho sutil nos olhos âmbar, a forma como seu maxilar se contraía levemente quando ele tentava esconder algo. Ele era um homem que carregava segredos, disso ela já sabia. Mas havia algo mais profundo ali, algo que ele não queria que ninguém enxergasse.Ela fingiu não perceber sua tentativa de disfarçar. Permitiu que ele a guiasse de volta ao sofá, onde se sentou ao lado dele, o calor de seus corpos quase se tocando.Por um
Os dias se arrastaram desde que Jade encontrou aquela maldita carta vermelha. A raiva queimava em seu peito como brasas incandescentes, sufocando qualquer tentativa de raciocínio lógico. Ela sabia que Viktor não tinha culpa por amar outra pessoa, sabia que não deveria se importar. Mas o nó na garganta não desaparecia, e cada batida de seu coração ecoava a humilhação de descobrir que, por todo esse tempo, ela fora apenas uma peça descartável em um jogo que não entendia completamente.Por isso, se trancou no quarto.Ignorou cada batida na porta, cada tentativa de Viktor de se aproximar. Ele insistiu nos primeiros dias, chamando-a com uma paciência quase exasperante. Mas, eventualmente, o silêncio se instalou entre eles como um abismo intransponível. Quando ele parou de chamá-la, Jade percebeu que sua ausência deixava um vazio que não deveria existir.A única voz que permitiu cruzar aquela barreira foi a de Alfie, o servo de Viktor que lhe salvou do lago congelante.Ele vinha todas as no
Jade acordou com uma sensação que não experimentava há tempos. Seu corpo estava leve, sem o peso constante da exaustão que costumava acompanhá-la desde sua transformação. Cada músculo parecia revigorado, cada célula pulsava com uma vitalidade que a surpreendia. Ela abriu os olhos devagar, piscando diante da claridade suave que atravessava a fresta da cortina pesada. O teto de madeira esculpida acima de si parecia mais nítido, mais detalhado, como se sua percepção tivesse sido aguçada durante o sono.Movida por um ímpeto desconhecido, Jade sentou-se na cama. Nenhum vestígio de cansaço, nenhuma dor. O corpo, antes rígido e tenso, reagia agora com uma elasticidade quase desconhecida. Ela passou as mãos pelos próprios braços, sentindo a pele fria, mas estranhamente saudável. Uma onda de bem-estar percorreu sua espinha.Levantando-se, caminhou descalça pelo chão de madeira polida até as cortinas. O toque do tecido aveludado era quase reconfortante sob os dedos. Segurou as extremidades e, c
Jade mantinha o sorriso nos lábios, tentando esconder o turbilhão de pensamentos que a assolava. Viktor a observava com aquela expressão predatória, os olhos fixos nela, mas com algo mais… uma tensão que ele não tentava esconder. Ela podia sentir, em cada fibra de seu ser, o peso da descoberta da noite anterior. A carta que ela havia encontrado queimava no bolso de sua calça, e com ela, as dúvidas se multiplicavam. “Que bom saber que sua manhã foi agradável”, disse Viktor, sua voz baixa e controlada, mas com algo que Jade não conseguiu identificar completamente. Ele fechou a porta atrás de si com um cuidado quase excessivo, e o som do trinco se assemelhou ao estalo de uma armadilha. Ele se aproximou, a postura relaxada, mas seus olhos eram os de um caçador em espera. “Você parece… diferente.” Jade inclinou levemente a cabeça, os olhos observando-o com a mesma intensidade. “De maneira boa ou ruim?” “Intrigante”, respondeu Viktor, dando um passo à frente, quase como se a estudasse em
A revelação que Viktor fizera a devastou de uma maneira que Jade não conseguia compreender totalmente. Helena, uma vampira... Ela piscou, tentando encaixar essa nova peça no quebra-cabeça que se tornava cada vez mais confuso. A revelação não fazia sentido. Helena, sempre tão tranquila, tão humana em sua aparência e maneiras, agora era vista sob uma luz completamente diferente. Jade sentiu um frio percorrer sua espinha enquanto revivia mentalmente cada interação que tivera com Helena. Aqueles olhos que brilhavam sob a luz fraca da lua, a postura impecável, quase etérea, e a aura de mistério que sempre a envolvera — tudo isso agora fazia sentido. Mas, ao mesmo tempo, nada fazia.O silêncio que se seguiu ao confronto parecia eterno. Jade estava paralisada, tentando processar tudo o que Viktor havia dito, mas as palavras dele reverberavam em sua mente como um eco distante. Ela não sabia o que pensar, nem por onde começar. O quarto onde estavam parecia sufocante, as paredes se fechando ao
Viktor entrou no quarto de Jade sem cerimônias, como de costume. Ela estava sentada na cama, folheando um livro que nem sabia do que se tratava. Desde que se tornara vampira, sua concentração estava completamente comprometida. Mas, ao ver Viktor ali, parou o que fazia e ergueu o olhar."Arrume suas coisas. Viajamos ao amanhecer."Ela piscou, confusa. "O quê? Pra onde?""Vamos para uma cidade do interior. Precisamos de aliados, e conheço alguém que pode nos ajudar." Viktor se apoiou no batente da porta, cruzando os braços. "E você vem junto."O tom dele não deixava espaço para discussão, mas Jade não pretendia reclamar. Era sua chance de sair daquela mansão sufocante. Desde que se tornara vampira, seu mundo se resumia àqueles muros. Não era como se estivesse presa, mas sentia como se estivesse."Ótimo! Já estava na hora." Ela sorriu, fechando o livro e se levantando. "Mas por que agora? O que mudou?"O rosto de Viktor ficou mais sério. "Alfie encontrou rastros de alguém rondando a mans