A mente de Jade estava uma tempestade. A cada respiração, sua fome aumentava, mas não de comida comum. Algo dentro dela clamava por algo diferente, algo sombrio. Sentia a necessidade de saciar uma sede que não compreendia, como se estivesse sendo puxada para um abismo sem fim. A comida não a satisfazia, nem mesmo a água. Nada parecia preencher o vazio crescente dentro de si.
Ela estava sentada à mesa do escritório de Viktor, seus pensamentos ainda em frangalhos. O cheiro amadeirado do lugar misturava-se com o aroma de Viktor, inebriante e provocante, e isso a fazia sentir uma atração que ela não entendia completamente. Cada pequeno gesto dele parecia fazer o mundo ao redor dela desaparecer, e ela odiava isso. A última coisa que queria era se sentir vulnerável diante dele, mas ali estava, sua mente cada vez mais confusa e seu corpo tremendo. Viktor estava em pé, do outro lado da mesa, observando-a em silêncio. Seus olhos profundos e penetrantes não a deixavam em paz. Ele estava tranquilo, impassível, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo com ela, como se tudo fosse um jogo que ele controlava. Mas, por mais que tentasse se manter impassível, Jade podia sentir a tensão que emanava dele. Algo estava prestes a acontecer, ela podia sentir. "Você está em silêncio demais", disse Viktor, a voz grave cortando o silêncio. "Está se sentindo melhor agora?" Jade o olhou, sentindo a frustração crescer dentro de si. "Você ainda não me explicou nada", ela respondeu, suas palavras saindo mais ríspidas do que pretendia. "O que aconteceu comigo? O que você fez comigo?" Viktor apenas a observava, sem expressão. Ele sabia o que ela estava sentindo, sabia de tudo, mas ainda assim se mantinha em silêncio. A expressão dele não revelava nada, mas dentro dele, o turbilhão estava prestes a explodir. Ele estava aguardando o momento certo para finalmente revelar a verdade, mas ele também sabia que não podia dar todas as respostas de uma vez. "Eu não fiz nada com você", respondeu Viktor finalmente, sua voz suave, mas cheia de uma intensidade silenciosa. "Eu apenas... fiz o que era necessário para mantê-la viva." Jade franziu a testa, a raiva começando a tomar conta dela mais uma vez. "Viva? Isso que você chama de viva?" Ela se levantou da cadeira, seus olhos ardendo de frustração. "Eu não sou mais humana, Viktor. Eu sou... isso." Ela apontou para si mesma, tentando dar sentido ao caos em seu interior. Viktor permaneceu em silêncio por um momento, observando-a com um olhar distante. Ele sabia que ela estava tentando entender tudo, que ela estava desesperada por respostas, mas ele não podia dar tudo a ela ainda. Não da maneira que ela queria. "Você é mais do que isso", ele disse finalmente, sua voz profunda e cheia de uma melancolia que Jade não conseguia decifrar. "Muito mais." Jade deu um passo em direção a ele, seu corpo vibrando com uma raiva e uma necessidade de entender o que estava acontecendo. "Não me venha com enigmas, Viktor. Eu já sei. Eu sei o que você me transformou. Um monstro. Um... vampiro." Ela deu a palavra com desprezo, sentindo seu sangue ferver com a revelação. "Eu sou um monstro sanguessuga, e você tem culpa disso!" Viktor não se moveu. Apenas a observava, com um olhar fixo e difícil de interpretar. Ele não estava surpreso com a sua acusação. Ele sabia que ela iria descobrir, mais cedo ou mais tarde. E quando ela o fez, ele também sabia que não seria fácil lidar com isso. "Você está apenas começando a entender, Jade", ele disse com uma calma inquietante. "Mas ainda está longe de compreender a totalidade do que você é agora." Ela o encarou, confusa. O que ele queria dizer com aquilo? O que ele queria esconder? A sede dentro dela, o desejo incontrolável de sangue, parecia estar se intensificando a cada palavra que ele dizia. Mas algo mais também estava crescendo. Algo que ela não conseguia entender. Uma atração visceral por Viktor. Como se algo dentro dela a atraísse para ele, a conectasse a ele de uma forma que não fazia sentido. Ele se levantou lentamente da cadeira, sem quebrar o contato visual. "Você ainda não está pronta para saber tudo, Jade. Mas... talvez um dia, você entenda." Ele deu um passo em direção a ela, e ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A presença dele era opressiva, como uma tempestade prestes a estourar. "Entender o quê?" Ela perguntou, sua voz mais baixa agora, tomada por um sentimento de incerteza. "O que você está tentando esconder?" Viktor parou diante dela, muito mais próximo do que ela gostaria. A respiração dele estava pesada, e o cheiro amadeirado que ele carregava parecia intoxicante. Era como se ele estivesse criando um mundo ao redor dela, um mundo onde só existiam os dois, onde tudo o que ela queria era estar mais perto dele, e ao mesmo tempo, tudo o que ela queria era se afastar dele. "Você não sabe ainda, Jade", ele disse em um sussurro, a voz grave e cheia de uma profundidade que ela não conseguia decifrar. "Mas você vai entender. Quando você descobrir o que somos, tudo mudará. E você verá a razão pela qual fomos feitos um para o outro." "Feitos um para o outro?" Jade repetiu, seus olhos se estreitando. "O que você quer dizer com isso?" Viktor sorriu de forma enigmática, seu sorriso não chegando aos olhos. Ele se afastou lentamente, indo até a janela e olhando para o mundo lá fora. "A nossa linhagem é única, Jade", ele disse, sua voz tranquila, mas cheia de algo que ela não conseguia identificar. "E você... você é a chave para o que está por vir." Jade o observou com intensidade. "A chave para o quê?" Viktor virou-se de volta para ela, seus olhos penetrantes. "A chave para uma linhagem que foi praticamente destruída. A chave para os Vampiros do Sangue Eterno." Aquelas palavras caíram como uma bomba, reverberando nas profundezas de Jade. Vampiros do Sangue Eterno. A linhagem rara, a linhagem de poder. Ela nunca tinha ouvido falar disso antes, mas agora, com cada palavra que Viktor dizia, ela sentia a verdade emergindo das sombras. Algo dentro dela a reconhecia como parte disso, mas o quê? O que Viktor queria dizer com isso? E o que isso significava para ela? "Vampiros do Sangue Eterno", ela murmurou para si mesma, tentando absorver o peso daquelas palavras. Viktor se aproximou dela novamente, e desta vez, Jade não deu um passo para trás. Eles estavam em um jogo perigoso, e ela sabia disso. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela a mantinha ali, querendo saber mais. Queria entender o que estava acontecendo, queria entender Viktor e a conexão que estava crescendo entre os dois. "Sim", Viktor respondeu, sua voz agora sombria, cheia de algo que Jade não conseguiu identificar. "E você e eu somos os últimos. Os únicos." Jade sentiu seu coração disparar, uma sensação de vertigem tomando conta de seu corpo. Ela estava imersa em um mundo que ela mal entendia, e Viktor era a chave para tudo. Mas as perguntas não paravam de surgir. "Por que você não me disse antes?" Ela questionou, sua voz quase um sussurro. "Por que me manter no escuro?" Viktor deu um sorriso amargo. "Porque, Jade, eu sabia que você não estaria pronta para aceitar isso. Nem mesmo agora, talvez." Ela o olhou, a raiva e a curiosidade ainda lutando dentro de si. Mas uma coisa era certa: a verdade estava começando a se desenrolar, e não havia volta agora.A mente de Jade era um redemoinho caótico. O peso da revelação ainda reverberava em seu peito, mas o que mais a consumia era a sede. Não uma sede comum, que poderia ser saciada com água. Era algo primordial, selvagem, que queimava em suas veias e apertava seu estômago vazio com garras invisíveis. O ar parecia denso, como se cada partícula fosse insuficiente para mantê-la estável.Ela tentava ignorar o desconforto, mas o cheiro que pairava no ar era uma armadilha cruel. O aroma amadeirado do escritório de Viktor se misturava ao perfume dele — um cheiro inebriante, quente, com notas de especiarias e algo mais… ferroso e doce. O sangue dele. Era como se cada batida do coração de Viktor ressoasse dentro dela, chamando-a, despertando um instinto que ela não conseguia controlar.Viktor estava em pé, encostado casualmente na lateral da mesa, observando-a com seus olhos sombrios e enigmáticos. Não havia um traço de surpresa em sua expressão, apenas uma calma inquietante. Talvez ele soubesse o
O mundo parecia em silêncio absoluto quando Jade abriu os olhos. A sede ainda queimava em sua garganta, mas estava estranhamente controlada, como se sua mente tivesse encontrado um frágil equilíbrio entre o desespero e o autocontrole. O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, as cortinas pesadas bloqueando a maior parte da luz do lado de fora. O ar carregava um leve perfume amadeirado que ela já reconhecia: Viktor.Antes que pudesse se levantar, ouviu passos do lado de fora da porta, leves, mas inconfundíveis. Seu coração — sim, ainda pulsante — deu um salto confuso. Ela sabia quem era antes mesmo da batida suave ecoar na madeira."Entra", murmurou, sua voz rouca pelo cansaço e pela sede.A porta se abriu sem resistência, e Viktor entrou. Seus olhos cinzentos analisaram cada detalhe dela com uma intensidade que a fez se encolher ligeiramente, não por medo, mas por algo que não sabia nomear. Um pensamento fugaz passou por sua mente: ela tinha certeza de que havia trancado a por
O silêncio reinava na mansão, quebrado apenas pelos passos suaves de Viktor enquanto ele carregava Jade nos braços. Seus dedos estavam firmes, mas não a machucavam, e seu olhar era indecifrável. Jade, ainda abalada, se deixou levar sem resistência. Seu corpo parecia mais leve do que nunca, mas a sede em sua garganta continuava a arder, mesmo que menos intensa do que antes.A sensação era estranha. Sua mente estava lúcida, mas seu corpo reagia como se tivesse sido moldado para algo completamente novo. Cada som parecia mais nítido, cada textura mais intensa. Ela podia ouvir o leve farfalhar das folhas do lado de fora, o tique-taque do relógio na parede e até mesmo a respiração controlada de Viktor. Tudo parecia mais próximo, mais vívido.Quando Viktor a colocou delicadamente sobre o sofá espaçoso da sala, Jade afundou no tecido macio, sentindo o contraste entre o conforto do momento e a turbulência que carregava dentro de si. Seu olhar vagou pelo ambiente, como se precisasse confirmar q
Viktor riu baixo, um som rouco, carregado de algo indecifrável, enquanto seus dedos longos deslizavam suavemente pela mão de Jade, que ainda repousava ao redor de seu corpo. Seus olhos estreitaram levemente antes que ele a soltasse com um gesto quase preguiçoso, como se não quisesse afastá-la, mas também não pudesse mantê-la ali.Então, ele se virou para encará-la de frente, seu sorriso singelo tentando mascarar qualquer resquício de peso na conversa."Você se preocupa demais."Jade observou o rosto dele com atenção, notando os detalhes que normalmente ignoraria. O brilho sutil nos olhos âmbar, a forma como seu maxilar se contraía levemente quando ele tentava esconder algo. Ele era um homem que carregava segredos, disso ela já sabia. Mas havia algo mais profundo ali, algo que ele não queria que ninguém enxergasse.Ela fingiu não perceber sua tentativa de disfarçar. Permitiu que ele a guiasse de volta ao sofá, onde se sentou ao lado dele, o calor de seus corpos quase se tocando.Por um
Os dias se arrastaram desde que Jade encontrou aquela maldita carta vermelha. A raiva queimava em seu peito como brasas incandescentes, sufocando qualquer tentativa de raciocínio lógico. Ela sabia que Viktor não tinha culpa por amar outra pessoa, sabia que não deveria se importar. Mas o nó na garganta não desaparecia, e cada batida de seu coração ecoava a humilhação de descobrir que, por todo esse tempo, ela fora apenas uma peça descartável em um jogo que não entendia completamente.Por isso, se trancou no quarto.Ignorou cada batida na porta, cada tentativa de Viktor de se aproximar. Ele insistiu nos primeiros dias, chamando-a com uma paciência quase exasperante. Mas, eventualmente, o silêncio se instalou entre eles como um abismo intransponível. Quando ele parou de chamá-la, Jade percebeu que sua ausência deixava um vazio que não deveria existir.A única voz que permitiu cruzar aquela barreira foi a de Alfie, o servo de Viktor que lhe salvou do lago congelante.Ele vinha todas as no
Jade acordou com uma sensação que não experimentava há tempos. Seu corpo estava leve, sem o peso constante da exaustão que costumava acompanhá-la desde sua transformação. Cada músculo parecia revigorado, cada célula pulsava com uma vitalidade que a surpreendia. Ela abriu os olhos devagar, piscando diante da claridade suave que atravessava a fresta da cortina pesada. O teto de madeira esculpida acima de si parecia mais nítido, mais detalhado, como se sua percepção tivesse sido aguçada durante o sono.Movida por um ímpeto desconhecido, Jade sentou-se na cama. Nenhum vestígio de cansaço, nenhuma dor. O corpo, antes rígido e tenso, reagia agora com uma elasticidade quase desconhecida. Ela passou as mãos pelos próprios braços, sentindo a pele fria, mas estranhamente saudável. Uma onda de bem-estar percorreu sua espinha.Levantando-se, caminhou descalça pelo chão de madeira polida até as cortinas. O toque do tecido aveludado era quase reconfortante sob os dedos. Segurou as extremidades e, c
Jade mantinha o sorriso nos lábios, tentando esconder o turbilhão de pensamentos que a assolava. Viktor a observava com aquela expressão predatória, os olhos fixos nela, mas com algo mais… uma tensão que ele não tentava esconder. Ela podia sentir, em cada fibra de seu ser, o peso da descoberta da noite anterior. A carta que ela havia encontrado queimava no bolso de sua calça, e com ela, as dúvidas se multiplicavam. “Que bom saber que sua manhã foi agradável”, disse Viktor, sua voz baixa e controlada, mas com algo que Jade não conseguiu identificar completamente. Ele fechou a porta atrás de si com um cuidado quase excessivo, e o som do trinco se assemelhou ao estalo de uma armadilha. Ele se aproximou, a postura relaxada, mas seus olhos eram os de um caçador em espera. “Você parece… diferente.” Jade inclinou levemente a cabeça, os olhos observando-o com a mesma intensidade. “De maneira boa ou ruim?” “Intrigante”, respondeu Viktor, dando um passo à frente, quase como se a estudasse em
A revelação que Viktor fizera a devastou de uma maneira que Jade não conseguia compreender totalmente. Helena, uma vampira... Ela piscou, tentando encaixar essa nova peça no quebra-cabeça que se tornava cada vez mais confuso. A revelação não fazia sentido. Helena, sempre tão tranquila, tão humana em sua aparência e maneiras, agora era vista sob uma luz completamente diferente. Jade sentiu um frio percorrer sua espinha enquanto revivia mentalmente cada interação que tivera com Helena. Aqueles olhos que brilhavam sob a luz fraca da lua, a postura impecável, quase etérea, e a aura de mistério que sempre a envolvera — tudo isso agora fazia sentido. Mas, ao mesmo tempo, nada fazia.O silêncio que se seguiu ao confronto parecia eterno. Jade estava paralisada, tentando processar tudo o que Viktor havia dito, mas as palavras dele reverberavam em sua mente como um eco distante. Ela não sabia o que pensar, nem por onde começar. O quarto onde estavam parecia sufocante, as paredes se fechando ao