A água morna escorria pelo corpo de Jade, criando pequenos rios que deslizavam por sua pele pálida e fria. O calor parecia a única coisa capaz de fazer seu corpo lembrar que ainda existia, que ainda estava viva… ou algo próximo disso. Ela apoiou as mãos nas paredes de mármore do luxuoso banheiro, sentindo o contraste entre o frio da pedra e o calor da água. Seus pensamentos giravam em círculos, confusos e pesados, enquanto tentava processar tudo o que havia acabado de descobrir.
Ela era um monstro agora. O reflexo dos olhos negros e profundos ainda estava gravado em sua mente, assim como a marca de mordida em seu ombro e as presas afiadas que mal conseguia acreditar serem suas. Viktor sabia disso o tempo todo. Sabia o que ela havia se tornado e nunca teve a decência de contar. Não. Ele a tratou como um fardo, um peso insignificante, escondendo verdades que pertenciam a ela. O sangue dela fervia mais do que a água quente ao redor. Jade desligou o chuveiro bruscamente, a água gotejando de seus cabelos encharcados e deslizando por seu corpo até o chão frio. Enrolou-se em um robe de tecido macio que mal conseguia aquecer seu corpo, ainda úmido. Mas o calor que ela precisava não vinha da água nem do tecido. Era o fogo da raiva, da sede por respostas. Ela saiu do quarto com passos decididos, cada batida de seus pés descalços ecoando pelo corredor luxuoso da mansão. O robe grudava em sua pele, revelando mais do que escondendo, mas ela não se importava. Seu cabelo pingava gotas no chão de madeira polida enquanto atravessava o corredor, seus olhos negros ardendo de fúria. Quando chegou à porta do escritório, não hesitou. Empurrou-a com força, a madeira batendo com um estrondo contra a parede. Viktor estava lá, sentado atrás de sua mesa de mogno escuro, imerso em alguns papéis, mas seus olhos se ergueram para ela no mesmo instante. E Jade congelou. Os olhos dele eram de um âmbar profundo, afiados como os de uma raposa astuta, refletindo a luz suave da sala com um brilho intenso. As sobrancelhas grossas e arqueadas, como lâminas afiadas, se franziram em um gesto de leve irritação. O rosto dele parecia esculpido em pedra, com uma mandíbula forte que se contraiu levemente. Seus cabelos, de um castanho claro que lembrava o mel sob a luz, caíam de forma despretensiosa, mas perfeitamente arrumados. A camiseta branca simples moldava seus ombros largos e braços musculosos, evidenciando a força por trás daquele corpo. Jade sentiu um arrepio involuntário subir por sua espinha, seu coração acelerando de forma traiçoeira. Nunca o tinha visto daquela forma antes, nunca tinha notado o quão absurdamente atraente ele era. Ela respirou fundo, tentando sufocar o turbilhão dentro de si. "Eu já sei de tudo." Sua voz saiu um pouco mais hesitante do que queria, mas firme o suficiente. Viktor arqueou uma sobrancelha, um sorriso de canto surgindo em seus lábios, carregado de deboche enquanto olhava para ela dos pés à cabeça, notando seu estado: o robe mal ajustado, o cabelo molhado, o olhar inflamado. "Do que você sabe?" Ele perguntou com um tom leve, zombando da aparência desleixada dela. A raiva queimou ainda mais forte no peito de Jade. O atordoamento em seu rosto desapareceu, substituído por uma expressão séria e determinada. "Eu sei no que você me transformou." Ela cuspiu as palavras entre dentes cerrados, os olhos agora injetados de sangue. "Um monstro sanguessuga." O sorriso de Viktor se desfez instantaneamente. O rosto relaxado se tornou uma máscara fria e impassível. Ele se levantou da cadeira com um movimento fluido, a tensão em seu corpo visível. Seus passos foram lentos, mas firmes, enquanto ele se aproximava dela. A cada passo, o ar parecia mais denso, a presença dele esmagadora. Quando Viktor parou a poucos centímetros dela, Jade pôde sentir o calor da respiração dele contra sua pele fria, o aroma amadeirado e intenso de seu perfume envolvendo-a. Seu corpo reagiu sem permissão, um arrepio elétrico percorrendo cada centímetro dela. "Como?" Ele perguntou em voz baixa, carregada de algo entre curiosidade e fúria contida. Jade riu, uma risada amarga e incrédula. "Você acha que eu sou idiota? Que eu não perceberia o que você fez comigo?" O dedo dela pousou no peito dele, desafiador. O maxilar de Viktor se contraiu visivelmente. Num movimento rápido, ele agarrou a mão dela, o aperto firme, mas não doloroso. "Eu deveria ter deixado você morrer?!" A voz dele explodiu com uma intensidade que fez o coração de Jade saltar. Ele deu um passo à frente, forçando-a a recuar até suas costas tocarem a parede fria. O olhar de Viktor queimava nela, e sua respiração pesada era tudo o que Jade conseguia ouvir. "Por que você acha que eu te salvei?" Ela abriu a boca, mas as palavras ficaram presas na garganta. O calor da raiva agora se misturava com algo mais — algo que fazia seu estômago revirar e o coração bater descompassado. "Eu… não sei…" Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. Viktor deslizou a mão do pulso dela até o ombro, puxando o robe o suficiente para expor a pele pálida e fria. Os dedos dele traçaram um caminho até a cintura dela, tocando-a com uma gentileza inesperada. Ele suspirou, apoiando a testa no ombro dela por um breve momento, como se estivesse lutando contra um sentimento que não queria admitir. O toque dele era uma tortura. Um contraste perigoso entre raiva e desejo. De repente, Viktor se afastou, como se o próprio contato fosse um erro. Virou-se de costas para ela, caminhando de volta até sua mesa. Sentou-se novamente, soltando um longo suspiro antes de encará-la com aqueles olhos que pareciam ver sua alma. "Certo. Pode me perguntar o que quiser saber."A mente de Jade estava uma tempestade. A cada respiração, sua fome aumentava, mas não de comida comum. Algo dentro dela clamava por algo diferente, algo sombrio. Sentia a necessidade de saciar uma sede que não compreendia, como se estivesse sendo puxada para um abismo sem fim. A comida não a satisfazia, nem mesmo a água. Nada parecia preencher o vazio crescente dentro de si.Ela estava sentada à mesa do escritório de Viktor, seus pensamentos ainda em frangalhos. O cheiro amadeirado do lugar misturava-se com o aroma de Viktor, inebriante e provocante, e isso a fazia sentir uma atração que ela não entendia completamente. Cada pequeno gesto dele parecia fazer o mundo ao redor dela desaparecer, e ela odiava isso. A última coisa que queria era se sentir vulnerável diante dele, mas ali estava, sua mente cada vez mais confusa e seu corpo tremendo.Viktor estava em pé, do outro lado da mesa, observando-a em silêncio. Seus olhos profundos e penetrantes não a deixavam em paz. Ele estava tranqui
A mente de Jade era um redemoinho caótico. O peso da revelação ainda reverberava em seu peito, mas o que mais a consumia era a sede. Não uma sede comum, que poderia ser saciada com água. Era algo primordial, selvagem, que queimava em suas veias e apertava seu estômago vazio com garras invisíveis. O ar parecia denso, como se cada partícula fosse insuficiente para mantê-la estável.Ela tentava ignorar o desconforto, mas o cheiro que pairava no ar era uma armadilha cruel. O aroma amadeirado do escritório de Viktor se misturava ao perfume dele — um cheiro inebriante, quente, com notas de especiarias e algo mais… ferroso e doce. O sangue dele. Era como se cada batida do coração de Viktor ressoasse dentro dela, chamando-a, despertando um instinto que ela não conseguia controlar.Viktor estava em pé, encostado casualmente na lateral da mesa, observando-a com seus olhos sombrios e enigmáticos. Não havia um traço de surpresa em sua expressão, apenas uma calma inquietante. Talvez ele soubesse o
O mundo parecia em silêncio absoluto quando Jade abriu os olhos. A sede ainda queimava em sua garganta, mas estava estranhamente controlada, como se sua mente tivesse encontrado um frágil equilíbrio entre o desespero e o autocontrole. O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, as cortinas pesadas bloqueando a maior parte da luz do lado de fora. O ar carregava um leve perfume amadeirado que ela já reconhecia: Viktor.Antes que pudesse se levantar, ouviu passos do lado de fora da porta, leves, mas inconfundíveis. Seu coração — sim, ainda pulsante — deu um salto confuso. Ela sabia quem era antes mesmo da batida suave ecoar na madeira."Entra", murmurou, sua voz rouca pelo cansaço e pela sede.A porta se abriu sem resistência, e Viktor entrou. Seus olhos cinzentos analisaram cada detalhe dela com uma intensidade que a fez se encolher ligeiramente, não por medo, mas por algo que não sabia nomear. Um pensamento fugaz passou por sua mente: ela tinha certeza de que havia trancado a por
O silêncio reinava na mansão, quebrado apenas pelos passos suaves de Viktor enquanto ele carregava Jade nos braços. Seus dedos estavam firmes, mas não a machucavam, e seu olhar era indecifrável. Jade, ainda abalada, se deixou levar sem resistência. Seu corpo parecia mais leve do que nunca, mas a sede em sua garganta continuava a arder, mesmo que menos intensa do que antes.A sensação era estranha. Sua mente estava lúcida, mas seu corpo reagia como se tivesse sido moldado para algo completamente novo. Cada som parecia mais nítido, cada textura mais intensa. Ela podia ouvir o leve farfalhar das folhas do lado de fora, o tique-taque do relógio na parede e até mesmo a respiração controlada de Viktor. Tudo parecia mais próximo, mais vívido.Quando Viktor a colocou delicadamente sobre o sofá espaçoso da sala, Jade afundou no tecido macio, sentindo o contraste entre o conforto do momento e a turbulência que carregava dentro de si. Seu olhar vagou pelo ambiente, como se precisasse confirmar q
Viktor riu baixo, um som rouco, carregado de algo indecifrável, enquanto seus dedos longos deslizavam suavemente pela mão de Jade, que ainda repousava ao redor de seu corpo. Seus olhos estreitaram levemente antes que ele a soltasse com um gesto quase preguiçoso, como se não quisesse afastá-la, mas também não pudesse mantê-la ali.Então, ele se virou para encará-la de frente, seu sorriso singelo tentando mascarar qualquer resquício de peso na conversa."Você se preocupa demais."Jade observou o rosto dele com atenção, notando os detalhes que normalmente ignoraria. O brilho sutil nos olhos âmbar, a forma como seu maxilar se contraía levemente quando ele tentava esconder algo. Ele era um homem que carregava segredos, disso ela já sabia. Mas havia algo mais profundo ali, algo que ele não queria que ninguém enxergasse.Ela fingiu não perceber sua tentativa de disfarçar. Permitiu que ele a guiasse de volta ao sofá, onde se sentou ao lado dele, o calor de seus corpos quase se tocando.Por um
Os dias se arrastaram desde que Jade encontrou aquela maldita carta vermelha. A raiva queimava em seu peito como brasas incandescentes, sufocando qualquer tentativa de raciocínio lógico. Ela sabia que Viktor não tinha culpa por amar outra pessoa, sabia que não deveria se importar. Mas o nó na garganta não desaparecia, e cada batida de seu coração ecoava a humilhação de descobrir que, por todo esse tempo, ela fora apenas uma peça descartável em um jogo que não entendia completamente.Por isso, se trancou no quarto.Ignorou cada batida na porta, cada tentativa de Viktor de se aproximar. Ele insistiu nos primeiros dias, chamando-a com uma paciência quase exasperante. Mas, eventualmente, o silêncio se instalou entre eles como um abismo intransponível. Quando ele parou de chamá-la, Jade percebeu que sua ausência deixava um vazio que não deveria existir.A única voz que permitiu cruzar aquela barreira foi a de Alfie, o servo de Viktor que lhe salvou do lago congelante.Ele vinha todas as no
Jade acordou com uma sensação que não experimentava há tempos. Seu corpo estava leve, sem o peso constante da exaustão que costumava acompanhá-la desde sua transformação. Cada músculo parecia revigorado, cada célula pulsava com uma vitalidade que a surpreendia. Ela abriu os olhos devagar, piscando diante da claridade suave que atravessava a fresta da cortina pesada. O teto de madeira esculpida acima de si parecia mais nítido, mais detalhado, como se sua percepção tivesse sido aguçada durante o sono.Movida por um ímpeto desconhecido, Jade sentou-se na cama. Nenhum vestígio de cansaço, nenhuma dor. O corpo, antes rígido e tenso, reagia agora com uma elasticidade quase desconhecida. Ela passou as mãos pelos próprios braços, sentindo a pele fria, mas estranhamente saudável. Uma onda de bem-estar percorreu sua espinha.Levantando-se, caminhou descalça pelo chão de madeira polida até as cortinas. O toque do tecido aveludado era quase reconfortante sob os dedos. Segurou as extremidades e, c
Jade mantinha o sorriso nos lábios, tentando esconder o turbilhão de pensamentos que a assolava. Viktor a observava com aquela expressão predatória, os olhos fixos nela, mas com algo mais… uma tensão que ele não tentava esconder. Ela podia sentir, em cada fibra de seu ser, o peso da descoberta da noite anterior. A carta que ela havia encontrado queimava no bolso de sua calça, e com ela, as dúvidas se multiplicavam. “Que bom saber que sua manhã foi agradável”, disse Viktor, sua voz baixa e controlada, mas com algo que Jade não conseguiu identificar completamente. Ele fechou a porta atrás de si com um cuidado quase excessivo, e o som do trinco se assemelhou ao estalo de uma armadilha. Ele se aproximou, a postura relaxada, mas seus olhos eram os de um caçador em espera. “Você parece… diferente.” Jade inclinou levemente a cabeça, os olhos observando-o com a mesma intensidade. “De maneira boa ou ruim?” “Intrigante”, respondeu Viktor, dando um passo à frente, quase como se a estudasse em