Capitulo 04: Ardente

A água morna escorria pelo corpo de Jade, criando pequenos rios que deslizavam por sua pele pálida e fria. O calor parecia a única coisa capaz de fazer seu corpo lembrar que ainda existia, que ainda estava viva… ou algo próximo disso. Ela apoiou as mãos nas paredes de mármore do luxuoso banheiro, sentindo o contraste entre o frio da pedra e o calor da água. Seus pensamentos giravam em círculos, confusos e pesados, enquanto tentava processar tudo o que havia acabado de descobrir.

Ela era um monstro agora.

O reflexo dos olhos negros e profundos ainda estava gravado em sua mente, assim como a marca de mordida em seu ombro e as presas afiadas que mal conseguia acreditar serem suas. Viktor sabia disso o tempo todo. Sabia o que ela havia se tornado e nunca teve a decência de contar. Não. Ele a tratou como um fardo, um peso insignificante, escondendo verdades que pertenciam a ela.

O sangue dela fervia mais do que a água quente ao redor.

Jade desligou o chuveiro bruscamente, a água gotejando de seus cabelos encharcados e deslizando por seu corpo até o chão frio. Enrolou-se em um robe de tecido macio que mal conseguia aquecer seu corpo, ainda úmido. Mas o calor que ela precisava não vinha da água nem do tecido. Era o fogo da raiva, da sede por respostas.

Ela saiu do quarto com passos decididos, cada batida de seus pés descalços ecoando pelo corredor luxuoso da mansão. O robe grudava em sua pele, revelando mais do que escondendo, mas ela não se importava. Seu cabelo pingava gotas no chão de madeira polida enquanto atravessava o corredor, seus olhos negros ardendo de fúria.

Quando chegou à porta do escritório, não hesitou. Empurrou-a com força, a madeira batendo com um estrondo contra a parede.

Viktor estava lá, sentado atrás de sua mesa de mogno escuro, imerso em alguns papéis, mas seus olhos se ergueram para ela no mesmo instante.

E Jade congelou.

Os olhos dele eram de um âmbar profundo, afiados como os de uma raposa astuta, refletindo a luz suave da sala com um brilho intenso. As sobrancelhas grossas e arqueadas, como lâminas afiadas, se franziram em um gesto de leve irritação. O rosto dele parecia esculpido em pedra, com uma mandíbula forte que se contraiu levemente. Seus cabelos, de um castanho claro que lembrava o mel sob a luz, caíam de forma despretensiosa, mas perfeitamente arrumados. A camiseta branca simples moldava seus ombros largos e braços musculosos, evidenciando a força por trás daquele corpo.

Jade sentiu um arrepio involuntário subir por sua espinha, seu coração acelerando de forma traiçoeira. Nunca o tinha visto daquela forma antes, nunca tinha notado o quão absurdamente atraente ele era.

Ela respirou fundo, tentando sufocar o turbilhão dentro de si.

"Eu já sei de tudo." Sua voz saiu um pouco mais hesitante do que queria, mas firme o suficiente.

Viktor arqueou uma sobrancelha, um sorriso de canto surgindo em seus lábios, carregado de deboche enquanto olhava para ela dos pés à cabeça, notando seu estado: o robe mal ajustado, o cabelo molhado, o olhar inflamado.

"Do que você sabe?" Ele perguntou com um tom leve, zombando da aparência desleixada dela.

A raiva queimou ainda mais forte no peito de Jade. O atordoamento em seu rosto desapareceu, substituído por uma expressão séria e determinada.

"Eu sei no que você me transformou." Ela cuspiu as palavras entre dentes cerrados, os olhos agora injetados de sangue. "Um monstro sanguessuga."

O sorriso de Viktor se desfez instantaneamente. O rosto relaxado se tornou uma máscara fria e impassível.

Ele se levantou da cadeira com um movimento fluido, a tensão em seu corpo visível. Seus passos foram lentos, mas firmes, enquanto ele se aproximava dela. A cada passo, o ar parecia mais denso, a presença dele esmagadora.

Quando Viktor parou a poucos centímetros dela, Jade pôde sentir o calor da respiração dele contra sua pele fria, o aroma amadeirado e intenso de seu perfume envolvendo-a. Seu corpo reagiu sem permissão, um arrepio elétrico percorrendo cada centímetro dela.

"Como?" Ele perguntou em voz baixa, carregada de algo entre curiosidade e fúria contida.

Jade riu, uma risada amarga e incrédula.

"Você acha que eu sou idiota? Que eu não perceberia o que você fez comigo?" O dedo dela pousou no peito dele, desafiador.

O maxilar de Viktor se contraiu visivelmente. Num movimento rápido, ele agarrou a mão dela, o aperto firme, mas não doloroso.

"Eu deveria ter deixado você morrer?!" A voz dele explodiu com uma intensidade que fez o coração de Jade saltar. Ele deu um passo à frente, forçando-a a recuar até suas costas tocarem a parede fria.

O olhar de Viktor queimava nela, e sua respiração pesada era tudo o que Jade conseguia ouvir.

"Por que você acha que eu te salvei?"

Ela abriu a boca, mas as palavras ficaram presas na garganta. O calor da raiva agora se misturava com algo mais — algo que fazia seu estômago revirar e o coração bater descompassado.

"Eu… não sei…" Sua voz saiu baixa, quase um sussurro.

Viktor deslizou a mão do pulso dela até o ombro, puxando o robe o suficiente para expor a pele pálida e fria. Os dedos dele traçaram um caminho até a cintura dela, tocando-a com uma gentileza inesperada. Ele suspirou, apoiando a testa no ombro dela por um breve momento, como se estivesse lutando contra um sentimento que não queria admitir.

O toque dele era uma tortura. Um contraste perigoso entre raiva e desejo.

De repente, Viktor se afastou, como se o próprio contato fosse um erro. Virou-se de costas para ela, caminhando de volta até sua mesa.

Sentou-se novamente, soltando um longo suspiro antes de encará-la com aqueles olhos que pareciam ver sua alma.

"Certo. Pode me perguntar o que quiser saber."

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