01

Sophie Montenegro.

Estaciono minha moto na vaga e caminho até o elevador. Minutos depois, já estou no meu apartamento. Assim que abro a porta, me deparo com Zack, esparramado no sofá como se fosse o rei do mundo, sem camisa, exibindo seus músculos e as tatuagens que cobrem praticamente cada centímetro do corpo. Ele dorme tão tranquilamente que nem parece que, há poucas horas, estávamos no meio de um racha do outro lado da cidade.

Zack, para deixar claro, não mora comigo. Ele tem o próprio apartamento, assim como Kiara e Rick. Mas, é claro, todos tivemos a brilhante ideia de morar no mesmo prédio, porque, aparentemente, achamos que diversão nunca é suficiente – e também porque não levamos as encrencas a sério. E Zack, sendo o típico irmão mais velho honorário, acha que tem direito a invadir meu espaço sempre que bem entende. Como se fosse dono do pedaço.

— Acorda, babão. — Dou um tapa na testa dele enquanto deixo meu capacete na mesa de centro.

Ele se mexe, resmungando, e finalmente abre os olhos.

— Caramba, Sophie! — reclama, a voz ainda rouca de sono. Ele se levanta com aquele ar de superioridade que só Zack consegue ter. — Onde você estava, pirralha? A gente ficou preocupado.

Eu arqueio uma sobrancelha e dou de ombros. — Ué, no mesmo lugar que você.

Vou me livrando das roupas enquanto atravesso o corredor, ficando só de peças íntimas. É sempre bom esclarecer: Zack e eu não somos irmãos de sangue. Ele é o típico irmão postiço, sem um pingo de juízo, mas que me protege com unhas, dentes e, às vezes, um pouco mais de violência do que o necessário. E não, por mais que tenhamos essa intimidade esquisita, nunca rolou nada entre nós. Nunca vai rolar. Ele é meu irmão do coração, e qualquer coisa além disso seria um crime contra a humanidade.

— Quero saber onde você foi quando a polícia apareceu, sua demente. — Ele aparece atrás de mim, com aquele tom que mistura indignação e superioridade.

Reviro os olhos enquanto pego uma toalha. — Eu fugi, babaca. Achou que eu iria ficar e me entregar com um sorriso no rosto?

Sigo para o banheiro, mas ouço os passos de Zack logo atrás. Antes que ele resolva fazer algo estúpido, lanço o aviso:

— Nem pense em entrar, Zack, ou eu juro que corto fora o que você tem no meio das pernas.

— Tá maluca? — ele responde, indignado. — Quem quer ver você sem roupa? Eu, hein! Isso seria um pesadelo.

— Babaca! — grito antes de fechar a porta, ligando o chuveiro. A água morna cai sobre mim, lavando não só o suor da noite, mas também o resto da paciência que eu tinha para lidar com Zack e sua mania de se achar o dono do universo.

√√√√√

Saio do banheiro me sentindo revigorada, o corpo relaxado e a mente mais leve. Mas meu estômago, sempre dramático, protesta alto assim que o cheiro inconfundível de comida invade meus sentidos. Panquecas. Zack pode ser um babaca insuportável na maior parte do tempo, mas quando se trata de cozinhar, ele é praticamente um chef.

Sigo para a cozinha, atraída pelo aroma. Lá está ele, de costas para mim, com uma frigideira na mão e aquele ar de rei do mundo que sempre me faz revirar os olhos. Sem pensar muito, me aproximo em silêncio e pulo nas costas dele, como uma criança cheia de energia.

— AAAAAH! — Zack solta um grito tão agudo que eu quase caio no chão de tanto rir. Ele se vira, ainda segurando a frigideira, com os olhos arregalados. — Credo, pirralha! Quer me matar do coração?

— Só queria ver se você estava atento. — Dou de ombros, tentando conter o riso enquanto desço das costas dele. — Pelo visto, se a polícia entrar aqui agora, você nem vai perceber.

— Muito engraçado. — Ele balança a cabeça, voltando a atenção para as panquecas. — Um dia ainda vou jogar você pela janela.

— Duvido. — Pego uma das panquecas que já estão prontas, ignorando o olhar de reprovação dele. — Além disso, você me adora. E quem mais comeria suas panquecas perfeitas?

— Fique sabendo que eu cozinho para mim mesmo, sabia? — Zack tenta soar sério, mas há um leve sorriso no canto dos lábios. Ele sabe que é mentira.

— Claro, claro. — Mordo a panqueca, fechando os olhos dramaticamente. — Hmm... Perfeitas como sempre. Sério, Zack, se um dia você desistir das corridas, pode abrir um restaurante.

— Talvez eu faça isso. — Ele ri, mas há um brilho de orgulho em seus olhos.

Por mais que eu o chame de babaca a cada cinco minutos, é impossível não admirar Zack. Ele tem seus defeitos, muitos, mas é leal e está sempre lá quando preciso. Além disso, panquecas assim compensam qualquer falha de caráter.

- Eu não preciso de uma escolta para chegar até a faculdade. - digo com irritação, lançando um olhar fulminante para Rick, Zack e os outros dois figurantes que decidiram me acompanhar. Eu nem me importei em decorar os nomes deles, afinal, eles estão ali mais por diversão do que por qualquer preocupação genuína.

- Relaxa, princesa, tudo pela sua segurança. - Rick responde com aquele sorriso de canto que me dá vontade de socar a cara dele.

"Segurança" é a desculpa mais esfarrapada que ele podia usar. A verdade? Ele está de olho nas calouras que chegam cheias de expectativas idiotas sobre a vida universitária. Festas, caras bonitos, e sei lá mais o quê. Ah, coitadas... Mal sabem que a realidade vai bater forte e sem dó.

Reviro os olhos enquanto Zack estaciona sua moto de qualquer jeito. Desço, tiro o capacete e, como sempre, sinto os olhares perfurarem minha pele. Isso tem sido o padrão desde o meu primeiro dia aqui. O centro das atenções, mas por motivos que ninguém gostaria.

O fato de eu ter tatuagens cobrindo boa parte do meu corpo e não me importar em exibi-las me coloca sob os holofotes, mas não da maneira que muitos poderiam imaginar. Popularidade? Não mesmo. Sou mais a garota que desperta curiosidade, especulações absurdas e, claro, inveja disfarçada de comentários maldosos.

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