Sophie Montenegro.
Estaciono minha moto na vaga e caminho até o elevador. Minutos depois, já estou no meu apartamento. Assim que abro a porta, me deparo com Zack, esparramado no sofá como se fosse o rei do mundo, sem camisa, exibindo seus músculos e as tatuagens que cobrem praticamente cada centímetro do corpo. Ele dorme tão tranquilamente que nem parece que, há poucas horas, estávamos no meio de um racha do outro lado da cidade. Zack, para deixar claro, não mora comigo. Ele tem o próprio apartamento, assim como Kiara e Rick. Mas, é claro, todos tivemos a brilhante ideia de morar no mesmo prédio, porque, aparentemente, achamos que diversão nunca é suficiente – e também porque não levamos as encrencas a sério. E Zack, sendo o típico irmão mais velho honorário, acha que tem direito a invadir meu espaço sempre que bem entende. Como se fosse dono do pedaço. — Acorda, babão. — Dou um tapa na testa dele enquanto deixo meu capacete na mesa de centro. Ele se mexe, resmungando, e finalmente abre os olhos. — Caramba, Sophie! — reclama, a voz ainda rouca de sono. Ele se levanta com aquele ar de superioridade que só Zack consegue ter. — Onde você estava, pirralha? A gente ficou preocupado. Eu arqueio uma sobrancelha e dou de ombros. — Ué, no mesmo lugar que você. Vou me livrando das roupas enquanto atravesso o corredor, ficando só de peças íntimas. É sempre bom esclarecer: Zack e eu não somos irmãos de sangue. Ele é o típico irmão postiço, sem um pingo de juízo, mas que me protege com unhas, dentes e, às vezes, um pouco mais de violência do que o necessário. E não, por mais que tenhamos essa intimidade esquisita, nunca rolou nada entre nós. Nunca vai rolar. Ele é meu irmão do coração, e qualquer coisa além disso seria um crime contra a humanidade. — Quero saber onde você foi quando a polícia apareceu, sua demente. — Ele aparece atrás de mim, com aquele tom que mistura indignação e superioridade. Reviro os olhos enquanto pego uma toalha. — Eu fugi, babaca. Achou que eu iria ficar e me entregar com um sorriso no rosto? Sigo para o banheiro, mas ouço os passos de Zack logo atrás. Antes que ele resolva fazer algo estúpido, lanço o aviso: — Nem pense em entrar, Zack, ou eu juro que corto fora o que você tem no meio das pernas. — Tá maluca? — ele responde, indignado. — Quem quer ver você sem roupa? Eu, hein! Isso seria um pesadelo. — Babaca! — grito antes de fechar a porta, ligando o chuveiro. A água morna cai sobre mim, lavando não só o suor da noite, mas também o resto da paciência que eu tinha para lidar com Zack e sua mania de se achar o dono do universo. √√√√√ Saio do banheiro me sentindo revigorada, o corpo relaxado e a mente mais leve. Mas meu estômago, sempre dramático, protesta alto assim que o cheiro inconfundível de comida invade meus sentidos. Panquecas. Zack pode ser um babaca insuportável na maior parte do tempo, mas quando se trata de cozinhar, ele é praticamente um chef. Sigo para a cozinha, atraída pelo aroma. Lá está ele, de costas para mim, com uma frigideira na mão e aquele ar de rei do mundo que sempre me faz revirar os olhos. Sem pensar muito, me aproximo em silêncio e pulo nas costas dele, como uma criança cheia de energia. — AAAAAH! — Zack solta um grito tão agudo que eu quase caio no chão de tanto rir. Ele se vira, ainda segurando a frigideira, com os olhos arregalados. — Credo, pirralha! Quer me matar do coração? — Só queria ver se você estava atento. — Dou de ombros, tentando conter o riso enquanto desço das costas dele. — Pelo visto, se a polícia entrar aqui agora, você nem vai perceber. — Muito engraçado. — Ele balança a cabeça, voltando a atenção para as panquecas. — Um dia ainda vou jogar você pela janela. — Duvido. — Pego uma das panquecas que já estão prontas, ignorando o olhar de reprovação dele. — Além disso, você me adora. E quem mais comeria suas panquecas perfeitas? — Fique sabendo que eu cozinho para mim mesmo, sabia? — Zack tenta soar sério, mas há um leve sorriso no canto dos lábios. Ele sabe que é mentira. — Claro, claro. — Mordo a panqueca, fechando os olhos dramaticamente. — Hmm... Perfeitas como sempre. Sério, Zack, se um dia você desistir das corridas, pode abrir um restaurante. — Talvez eu faça isso. — Ele ri, mas há um brilho de orgulho em seus olhos. Por mais que eu o chame de babaca a cada cinco minutos, é impossível não admirar Zack. Ele tem seus defeitos, muitos, mas é leal e está sempre lá quando preciso. Além disso, panquecas assim compensam qualquer falha de caráter. - Eu não preciso de uma escolta para chegar até a faculdade. - digo com irritação, lançando um olhar fulminante para Rick, Zack e os outros dois figurantes que decidiram me acompanhar. Eu nem me importei em decorar os nomes deles, afinal, eles estão ali mais por diversão do que por qualquer preocupação genuína. - Relaxa, princesa, tudo pela sua segurança. - Rick responde com aquele sorriso de canto que me dá vontade de socar a cara dele. "Segurança" é a desculpa mais esfarrapada que ele podia usar. A verdade? Ele está de olho nas calouras que chegam cheias de expectativas idiotas sobre a vida universitária. Festas, caras bonitos, e sei lá mais o quê. Ah, coitadas... Mal sabem que a realidade vai bater forte e sem dó. Reviro os olhos enquanto Zack estaciona sua moto de qualquer jeito. Desço, tiro o capacete e, como sempre, sinto os olhares perfurarem minha pele. Isso tem sido o padrão desde o meu primeiro dia aqui. O centro das atenções, mas por motivos que ninguém gostaria. O fato de eu ter tatuagens cobrindo boa parte do meu corpo e não me importar em exibi-las me coloca sob os holofotes, mas não da maneira que muitos poderiam imaginar. Popularidade? Não mesmo. Sou mais a garota que desperta curiosidade, especulações absurdas e, claro, inveja disfarçada de comentários maldosos.Sophie Montenegro. — Sério, vocês não têm mais o que fazer? - pergunto, enquanto ajusto a alça da mochila no ombro. - Não, na verdade não. - Zack responde, fingindo um tom sério, enquanto Rick solta uma risada curta. - Certo. Ótimo. Então fiquem longe do meu caminho. - Atalho na direção do prédio principal, ignorando os murmúrios ao meu redor. Algumas pessoas apontam, outras cochicham. Sempre a mesma ladainha. "Olha a garota das tatuagens." "Acho que ouvi dizer que ela participou de rachas ilegais." Ah, que original. Adoro ser o tema do café universitário de gente que claramente não tem nada melhor para fazer. Rick se aproxima, jogando um braço sobre meus ombros como se tivesse esse direito. - Vai, admita, princesa. Você ama essa atenção. - Adoro tanto que sonho com o dia em que você e o Zack vão se perder no caminho e me deixar em paz. Ele ri, claramente sem intenção de sair do meu pé. - Só estamos aqui para garantir que ninguém se meta com você. - Ninguém nunca s
Sophie Montenegro. Ela diz isso com uma empolgação tão evidente que quase consigo ver a aura de fofoca brilhando ao redor dela. - O que aconteceu? - pergunto, mais curiosa do que deveria ser. - Me contaram que o antigo capitão do time foi expulso da universidade por má conduta. - Ela faz uma pausa dramática. - Mas, na verdade, ele estava transando com uma das professoras, que também foi demitida. E adivinha? O novo capitão é um verdadeiro astro da liga universitária, vindo de New York só para jogar pela nossa universidade. - Com "me contaram" você quer dizer que o Luke te contou a fofoca, né? - dou uma risada. Ela faz uma careta, mas não consegue evitar de rir também. Stormy namora Luke Evans, um dos caras do time de basquete. Ele é um bom sujeito, o que é uma surpresa para alguém que faz parte do time de basquete. E, claro, também é um tremendo fofoqueiro. - Isso não vem ao caso. - Ela dá de ombros. - Vamos ter uma estrela de basquete aqui na universidade! Isso é tão empolgante
A vontade de agarrar o pescoço dele e torcer como se fosse um saco de lixo é quase incontrolável. — Não me faça cometer um homicídio, Evans. — Ameaço, com o olhar fixo nele. — Vai com calma, sereia... — Cala a droga da boca, Luke. — Respondo, séria. O problema com Luke, além do fato de ser um fofoqueiro nato, é que ele tem essa mania insuportável de meter o nariz onde não é chamado. E, claro, essa curiosidade insana já o colocou em apuros mais vezes do que ele poderia contar. Quanto ao apelido "sereia", é o meu nome nas pistas. Ninguém é idiota o suficiente para usar o nome real quando as corridas clandestinas estão cheias de policiais, seja disfarçados para investigar ou apenas lá para curtir a adrenalina. Ah, e Luke tem um irmão, Alexsander Evans, conhecido nas pistas como "Fantasma". Ele é uma das ironias vivas da cidade: um dos policiais mais respeitados durante o dia, e um dos melhores pilotos mascarados à noite. A moral dessa história? Todo mundo tem seus segredos – alguns
Eles começaram a fazer os pedidos, um de cada vez, entre risinhos e comentários que eu escolhi ignorar. Quando finalmente chegou a vez dele, a estrela ascendente, Aaron se inclinou casualmente contra a cadeira, como se fosse dono do lugar. — Um hambúrguer duplo, batatas fritas grandes e um milk-shake de chocolate. — Ele sorriu como quem sabia que tinha todo o tempo do mundo. — Certo. — Anotei o pedido e estava prestes a dar meia-volta quando ele resolveu abrir a boca de novo. — Valeu, sereia. O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Todos na mesa olharam para ele, alguns prendendo o riso, outros claramente curiosos. Eu, por outro lado, estreitei os olhos e o fuzilei com um olhar que prometia consequências. — Você é muito engraçado, sabia? — murmurei, sem esperar resposta antes de virar as costas e me afastar, deixando a mesa e o engraçadinho para trás. Sabe aquela vontade súbita de cometer um homicídio? Pois é, eu estava sentindo isso agora. Primeiro, Luke, aquele imbec
Sophie Montenegro. HORAS ANTES... O vento frio corta meu rosto enquanto avanço pelas avenidas quase desertas. Estou exausta, meu corpo inteiro dói, meus pés protestam, e minha cabeça pede um descanso que parece nunca chegar. Mas, por ora, a moto é meu alívio. Ela sempre é. Chego a um cruzamento, a cidade quase silenciosa, e, por um raro momento, decido respeitar as regras. O sinal está vermelho. Olho para trás, e vejo uma picape escura, com os vidros fumê, parando logo atrás de mim. Não ligo muito, as ruas estão vazias, então sigo em frente. Quando o sinal abre, acelero sem hesitar. O vento agora parece uma faca cortando minha pele, mas eu gosto disso. A adrenalina me mantém alerta. A moto vibra sob mim, como se soubesse que eu preciso dela mais do que nunca. Passo por mais algumas esquinas, e, ao olhar para trás, a picape está lá, ainda me seguindo. O que diabos? Não quero saber quem é, nem por que está me perseguindo. A sensação estranha na minha barriga diz que não devo arri
Sophie Montenegro. Ela para no meio do corredor abarrotado de estudantes, a boca aberta em choque. — Você o quê? Sophie, tem noção do quão perigoso isso é? E você nem contou pra ninguém? — Estou contando pra você agora, parabéns. — Respondo, a voz carregada de sarcasmo enquanto sigo andando. Ela, é claro, não desiste e me segue como um grilo falante. — Sophie, isso é sério! Você deveria falar com a polícia. Isso é perigoso e quanto a seu irmão, contou a ele ? Dou uma risada seca, balançando a cabeça em sinal negativo enquanto seguimos até os armários. Zack já é protetor o suficiente eu não preciso que ele monte guarda em frente ao meu trabalho, portanto um maldito taco de baysibol ou quem sabe esperante qualquer cara que se aproxime de mim. Na verdade eu prefiro evitar problemas, com isso concluo que contar a Zack não é uma boa opção. Saímos do prédio principal e seguimos para uma das áreas arborizadas do campus. O sol está brilhando, as árvores dançam ao vento, e o lugar seria
Sophie Montenegro Uma semana depois. — Eu não vou. — digo calmamente, tomando um gole de água enquanto observo o campus à minha frente. — Nem adianta, Stormy. Não vou. — Por favor, Sophie, vai ser aniversário do Luke. Ele pediu para te chamar. — Ela faz uma cara de suplica, e eu reviro os olhos. — Você fez o que ele pediu, está me chamando, e eu me reservo ao direito de não comparecer. — Dou de ombros. — Tenho compromisso, você sabe disso. — Onde vai ser? — Ela pergunta, com uma mistura de acusação e curiosidade na voz. — Onde vai ser o quê? — me faço de desentendida. — A corrida, onde vai ser? — Não sei do que você está falando. — Dou de ombros novamente, tentando desviar. — Vamos lá, eu vou com você quando acabar a festa. — Ela diz, como se fosse a melhor troca do mundo. — Nem em sonho. — Riu, sem esconder a diversão. — Ainda não enlouqueci ao ponto de colocar você nesse meio. — Se você não me contar, eu descubro com o Alex. — Ela dá de ombros, desafiadora. — Como se um
— Cara***! — Ele levou a mão ao peito, o susto claro em seus olhos. — Que p*** você tá fazendo aqui, sua maluca? — Por que essa reação, Aaron? Achei que você ia gostar de me ver. — Um sorriso surgiu nos meus lábios enquanto eu avançava em passos lentos, quase dançando. — Me diga, estrela em ascensão... Isso é saudade ou só uma curiosidade doentia sobre minha vida? — parei bem à sua frente, obrigando-o a recuar até se encurralar no fim do corredor. — O que você quer aqui? — ele tentou soar firme, mas sua voz tremia. — Eu... Eu vou chamar a segurança! Você... você não pode estar aqui! — Engraçado. — Ri suavemente. — Seus amigos não acham o mesmo. Na verdade, eles dariam qualquer coisa para estarem sozinhos comigo. — Inclinei a cabeça, avaliando a reação dele. — Mas, claro, você foi o escolhido. Então... vamos jogar um jogo, pode ser? Minhas unhas deslizaram pelo peitoral dele, sentindo os músculos tensos enquanto sua respiração acelerava. — Verdade ou consequência. — Minha voz saiu