04

A vontade de agarrar o pescoço dele e torcer como se fosse um saco de lixo é quase incontrolável.

— Não me faça cometer um homicídio, Evans. — Ameaço, com o olhar fixo nele.

— Vai com calma, sereia...

— Cala a droga da boca, Luke. — Respondo, séria.

O problema com Luke, além do fato de ser um fofoqueiro nato, é que ele tem essa mania insuportável de meter o nariz onde não é chamado. E, claro, essa curiosidade insana já o colocou em apuros mais vezes do que ele poderia contar.

Quanto ao apelido "sereia", é o meu nome nas pistas. Ninguém é idiota o suficiente para usar o nome real quando as corridas clandestinas estão cheias de policiais, seja disfarçados para investigar ou apenas lá para curtir a adrenalina.

Ah, e Luke tem um irmão, Alexsander Evans, conhecido nas pistas como "Fantasma". Ele é uma das ironias vivas da cidade: um dos policiais mais respeitados durante o dia, e um dos melhores pilotos mascarados à noite. A moral dessa história? Todo mundo tem seus segredos – alguns só sabem disfarçar melhor que outros.

— Da próxima vez que falar tão alto assim, eu costuro sua boca, seu imbecil. — resmungo, sem nem tentar esconder minha irritação.

— Vai com calma, gatinha. — Uma voz desconhecida ecoa ao meu lado, atraindo minha atenção. — O que ele fez para te deixar assim?

Quem faz a pergunta é ninguém menos que a estrela ascendente do time, o novo capitão, que chega como quem não quer nada, pousando casualmente um dos braços sobre meus ombros. Que palhaçada é essa?

— Larga. — ordeno, retirando o braço dele com firmeza e me afastando para encará-lo de frente. Ele apenas sorri, como se fosse irresistível.

— Uuuuh, ela é brava. — provoca, com um olhar avaliador que vai dos meus pés à cabeça.

— Meninas, esse é Aaron, o novo capitão do time. — Luke se mete, tentando abafar as chamas da minha irritação. — Aaron, essa é Stormy, minha namorada. — Ele aponta para a Smurfette sorridente ao meu lado. — E essa é Sophie, nossa amiga.

— Nossa não. — interrompo, arqueando uma sobrancelha com falsa indignação. — Eu só te aturo porque a Stormy decidiu que você seria seu animal de estimação.

— Hilária como sempre. — Luke me mostra o dedo do meio, e eu apenas reviro os olhos.

— É um prazer conhecê-las. — diz Aaron, apertando a mão de Stormy com um sorriso. Quando volta a atenção para mim, a intensidade do olhar aumenta. — Bela tatuagem...

Ele aponta para as borboletas tatuadas no meu braço.

— Obrigada. — respondo secamente, me virando para Stormy e Luke, que agora me observam como se esperassem uma explosão.

— Vou nessa. Nos vemos amanhã?

Antes que Stormy possa responder, Aaron se adianta.

— Na verdade... O time vai dar uma festa hoje à noite, pra comemorar a vitória. Você devia aparecer.

— Agradeço, mas tenho outros planos. — corto, com um sorriso educado. — Até amanhã, gente. E, Luke, boca fechada ou você vai acordar sem ela.

— Pode deixar, sereia. — responde ele, com aquele tom brincalhão irritante que faz minha mão coçar para jogar a lata de refrigerante nele.

Stormy, no entanto, se encarrega disso com um tapa certeiro na cabeça dele, fazendo-o resmungar algo incompreensível. Não consigo evitar uma risada antes de sair do ginásio, atravessando o corredor em direção ao estacionamento.

Zack já me esperava lá, casualmente encostado na moto, com dois de seus brutamontes de estimação ao lado. O que ele faz com esses caras, eu nem quero saber. Sem dizer nada, pego o capacete que ele me estende e subo na moto atrás dele.

Infelizmente, minha moto estava na oficina porque esse energúmeno quase destruiu o escapamento dela. Ainda não sei por que confiei meu bebê a ele.

Zack dá partida, e logo estamos a caminho do prédio onde moramos. O motor ronca alto, mas o silêncio entre nós diz tudo: ele sabe que me deve uma explicação... E eu sei que vou arrancá-la, cedo ou tarde.

•°•°•°•°•°•°•°•°•

A noite já estava longe de ser minha favorita. Trabalhar como garçonete na lanchonete logo depois da faculdade não era exatamente meu sonho de vida, mas pelo menos pagava algumas contas. Estava na metade do turno, tentando lidar com a clientela de sempre, quando o sino acima da porta soou, indicando novos clientes.

Suspirei, terminando de atender uma mesa antes de me virar para a entrada. Meu humor, que já não era dos melhores, despencou quando reconheci alguns dos caras do time de basquete entrando. Claro, porque a lanchonete convenientemente ficava a poucos minutos da universidade, e o destino parece adorar me testar.

Voltei para trás do balcão, tentando ignorar a presença deles.

— Jenna, pode pegar aquela mesa? — pedi à minha colega, já antecipando a dor de cabeça que seria lidar com aquele grupo.

— Estou atolada com pedidos, Sophie. Vai lá. — Ela nem levantou os olhos da bandeja que equilibrava, e lá se foi minha última esperança.

Revirei os olhos, respirando fundo. "Você consegue", pensei comigo mesma enquanto pegava meu bloquinho e seguia em direção à mesa deles.

Os caras estavam espalhados em um canto, falando alto, rindo de alguma piada que provavelmente nem era engraçada. Todos eles pararam de falar quando me aproximei, e a sensação de ser observada como se estivesse em um palco me irritou ainda mais.

— Boa noite. O que vão querer? — perguntei, minha voz calma, mas carregada com aquele tom que dizia "sejam rápidos".

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