A vontade de agarrar o pescoço dele e torcer como se fosse um saco de lixo é quase incontrolável.
— Não me faça cometer um homicídio, Evans. — Ameaço, com o olhar fixo nele. — Vai com calma, sereia... — Cala a droga da boca, Luke. — Respondo, séria. O problema com Luke, além do fato de ser um fofoqueiro nato, é que ele tem essa mania insuportável de meter o nariz onde não é chamado. E, claro, essa curiosidade insana já o colocou em apuros mais vezes do que ele poderia contar. Quanto ao apelido "sereia", é o meu nome nas pistas. Ninguém é idiota o suficiente para usar o nome real quando as corridas clandestinas estão cheias de policiais, seja disfarçados para investigar ou apenas lá para curtir a adrenalina. Ah, e Luke tem um irmão, Alexsander Evans, conhecido nas pistas como "Fantasma". Ele é uma das ironias vivas da cidade: um dos policiais mais respeitados durante o dia, e um dos melhores pilotos mascarados à noite. A moral dessa história? Todo mundo tem seus segredos – alguns só sabem disfarçar melhor que outros. — Da próxima vez que falar tão alto assim, eu costuro sua boca, seu imbecil. — resmungo, sem nem tentar esconder minha irritação. — Vai com calma, gatinha. — Uma voz desconhecida ecoa ao meu lado, atraindo minha atenção. — O que ele fez para te deixar assim? Quem faz a pergunta é ninguém menos que a estrela ascendente do time, o novo capitão, que chega como quem não quer nada, pousando casualmente um dos braços sobre meus ombros. Que palhaçada é essa? — Larga. — ordeno, retirando o braço dele com firmeza e me afastando para encará-lo de frente. Ele apenas sorri, como se fosse irresistível. — Uuuuh, ela é brava. — provoca, com um olhar avaliador que vai dos meus pés à cabeça. — Meninas, esse é Aaron, o novo capitão do time. — Luke se mete, tentando abafar as chamas da minha irritação. — Aaron, essa é Stormy, minha namorada. — Ele aponta para a Smurfette sorridente ao meu lado. — E essa é Sophie, nossa amiga. — Nossa não. — interrompo, arqueando uma sobrancelha com falsa indignação. — Eu só te aturo porque a Stormy decidiu que você seria seu animal de estimação. — Hilária como sempre. — Luke me mostra o dedo do meio, e eu apenas reviro os olhos. — É um prazer conhecê-las. — diz Aaron, apertando a mão de Stormy com um sorriso. Quando volta a atenção para mim, a intensidade do olhar aumenta. — Bela tatuagem... Ele aponta para as borboletas tatuadas no meu braço. — Obrigada. — respondo secamente, me virando para Stormy e Luke, que agora me observam como se esperassem uma explosão. — Vou nessa. Nos vemos amanhã? Antes que Stormy possa responder, Aaron se adianta. — Na verdade... O time vai dar uma festa hoje à noite, pra comemorar a vitória. Você devia aparecer. — Agradeço, mas tenho outros planos. — corto, com um sorriso educado. — Até amanhã, gente. E, Luke, boca fechada ou você vai acordar sem ela. — Pode deixar, sereia. — responde ele, com aquele tom brincalhão irritante que faz minha mão coçar para jogar a lata de refrigerante nele. Stormy, no entanto, se encarrega disso com um tapa certeiro na cabeça dele, fazendo-o resmungar algo incompreensível. Não consigo evitar uma risada antes de sair do ginásio, atravessando o corredor em direção ao estacionamento. Zack já me esperava lá, casualmente encostado na moto, com dois de seus brutamontes de estimação ao lado. O que ele faz com esses caras, eu nem quero saber. Sem dizer nada, pego o capacete que ele me estende e subo na moto atrás dele. Infelizmente, minha moto estava na oficina porque esse energúmeno quase destruiu o escapamento dela. Ainda não sei por que confiei meu bebê a ele. Zack dá partida, e logo estamos a caminho do prédio onde moramos. O motor ronca alto, mas o silêncio entre nós diz tudo: ele sabe que me deve uma explicação... E eu sei que vou arrancá-la, cedo ou tarde. •°•°•°•°•°•°•°•°• A noite já estava longe de ser minha favorita. Trabalhar como garçonete na lanchonete logo depois da faculdade não era exatamente meu sonho de vida, mas pelo menos pagava algumas contas. Estava na metade do turno, tentando lidar com a clientela de sempre, quando o sino acima da porta soou, indicando novos clientes. Suspirei, terminando de atender uma mesa antes de me virar para a entrada. Meu humor, que já não era dos melhores, despencou quando reconheci alguns dos caras do time de basquete entrando. Claro, porque a lanchonete convenientemente ficava a poucos minutos da universidade, e o destino parece adorar me testar. Voltei para trás do balcão, tentando ignorar a presença deles. — Jenna, pode pegar aquela mesa? — pedi à minha colega, já antecipando a dor de cabeça que seria lidar com aquele grupo. — Estou atolada com pedidos, Sophie. Vai lá. — Ela nem levantou os olhos da bandeja que equilibrava, e lá se foi minha última esperança. Revirei os olhos, respirando fundo. "Você consegue", pensei comigo mesma enquanto pegava meu bloquinho e seguia em direção à mesa deles. Os caras estavam espalhados em um canto, falando alto, rindo de alguma piada que provavelmente nem era engraçada. Todos eles pararam de falar quando me aproximei, e a sensação de ser observada como se estivesse em um palco me irritou ainda mais. — Boa noite. O que vão querer? — perguntei, minha voz calma, mas carregada com aquele tom que dizia "sejam rápidos".Eles começaram a fazer os pedidos, um de cada vez, entre risinhos e comentários que eu escolhi ignorar. Quando finalmente chegou a vez dele, a estrela ascendente, Aaron se inclinou casualmente contra a cadeira, como se fosse dono do lugar. — Um hambúrguer duplo, batatas fritas grandes e um milk-shake de chocolate. — Ele sorriu como quem sabia que tinha todo o tempo do mundo. — Certo. — Anotei o pedido e estava prestes a dar meia-volta quando ele resolveu abrir a boca de novo. — Valeu, sereia. O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Todos na mesa olharam para ele, alguns prendendo o riso, outros claramente curiosos. Eu, por outro lado, estreitei os olhos e o fuzilei com um olhar que prometia consequências. — Você é muito engraçado, sabia? — murmurei, sem esperar resposta antes de virar as costas e me afastar, deixando a mesa e o engraçadinho para trás. Sabe aquela vontade súbita de cometer um homicídio? Pois é, eu estava sentindo isso agora. Primeiro, Luke, aquele imbec
Sophie Montenegro. HORAS ANTES... O vento frio corta meu rosto enquanto avanço pelas avenidas quase desertas. Estou exausta, meu corpo inteiro dói, meus pés protestam, e minha cabeça pede um descanso que parece nunca chegar. Mas, por ora, a moto é meu alívio. Ela sempre é. Chego a um cruzamento, a cidade quase silenciosa, e, por um raro momento, decido respeitar as regras. O sinal está vermelho. Olho para trás, e vejo uma picape escura, com os vidros fumê, parando logo atrás de mim. Não ligo muito, as ruas estão vazias, então sigo em frente. Quando o sinal abre, acelero sem hesitar. O vento agora parece uma faca cortando minha pele, mas eu gosto disso. A adrenalina me mantém alerta. A moto vibra sob mim, como se soubesse que eu preciso dela mais do que nunca. Passo por mais algumas esquinas, e, ao olhar para trás, a picape está lá, ainda me seguindo. O que diabos? Não quero saber quem é, nem por que está me perseguindo. A sensação estranha na minha barriga diz que não devo arri
Sophie Montenegro. Ela para no meio do corredor abarrotado de estudantes, a boca aberta em choque. — Você o quê? Sophie, tem noção do quão perigoso isso é? E você nem contou pra ninguém? — Estou contando pra você agora, parabéns. — Respondo, a voz carregada de sarcasmo enquanto sigo andando. Ela, é claro, não desiste e me segue como um grilo falante. — Sophie, isso é sério! Você deveria falar com a polícia. Isso é perigoso e quanto a seu irmão, contou a ele ? Dou uma risada seca, balançando a cabeça em sinal negativo enquanto seguimos até os armários. Zack já é protetor o suficiente eu não preciso que ele monte guarda em frente ao meu trabalho, portanto um maldito taco de baysibol ou quem sabe esperante qualquer cara que se aproxime de mim. Na verdade eu prefiro evitar problemas, com isso concluo que contar a Zack não é uma boa opção. Saímos do prédio principal e seguimos para uma das áreas arborizadas do campus. O sol está brilhando, as árvores dançam ao vento, e o lugar seria
Sophie Montenegro Uma semana depois. — Eu não vou. — digo calmamente, tomando um gole de água enquanto observo o campus à minha frente. — Nem adianta, Stormy. Não vou. — Por favor, Sophie, vai ser aniversário do Luke. Ele pediu para te chamar. — Ela faz uma cara de suplica, e eu reviro os olhos. — Você fez o que ele pediu, está me chamando, e eu me reservo ao direito de não comparecer. — Dou de ombros. — Tenho compromisso, você sabe disso. — Onde vai ser? — Ela pergunta, com uma mistura de acusação e curiosidade na voz. — Onde vai ser o quê? — me faço de desentendida. — A corrida, onde vai ser? — Não sei do que você está falando. — Dou de ombros novamente, tentando desviar. — Vamos lá, eu vou com você quando acabar a festa. — Ela diz, como se fosse a melhor troca do mundo. — Nem em sonho. — Riu, sem esconder a diversão. — Ainda não enlouqueci ao ponto de colocar você nesse meio. — Se você não me contar, eu descubro com o Alex. — Ela dá de ombros, desafiadora. — Como se um
— Cara***! — Ele levou a mão ao peito, o susto claro em seus olhos. — Que p*** você tá fazendo aqui, sua maluca? — Por que essa reação, Aaron? Achei que você ia gostar de me ver. — Um sorriso surgiu nos meus lábios enquanto eu avançava em passos lentos, quase dançando. — Me diga, estrela em ascensão... Isso é saudade ou só uma curiosidade doentia sobre minha vida? — parei bem à sua frente, obrigando-o a recuar até se encurralar no fim do corredor. — O que você quer aqui? — ele tentou soar firme, mas sua voz tremia. — Eu... Eu vou chamar a segurança! Você... você não pode estar aqui! — Engraçado. — Ri suavemente. — Seus amigos não acham o mesmo. Na verdade, eles dariam qualquer coisa para estarem sozinhos comigo. — Inclinei a cabeça, avaliando a reação dele. — Mas, claro, você foi o escolhido. Então... vamos jogar um jogo, pode ser? Minhas unhas deslizaram pelo peitoral dele, sentindo os músculos tensos enquanto sua respiração acelerava. — Verdade ou consequência. — Minha voz saiu
Sophie Montenegro. Ressaca. Era a palavra que mais se encaixava em mim naquele momento, enquanto estacionava minha moto no estacionamento da faculdade, já perto da segunda aula. Cheguei em casa praticamente ao amanhecer, por volta das 5h40, e caí direto na cama, como um saco de batatas. Perdi a hora, e com ela, a primeira aula, o que, para ser sincera, não era nem um pouco surpreendente, mas era também um desastre. Retirei o capacete, respirando fundo. Quando acordei, minha primeira ação foi pegar a primeira coisa que encontrei no guarda-roupa e vesti-la, engolir uma torrada seca e pegar meu capacete, as chaves da moto e a mochila, tudo em um só movimento. Eu não queria estar ali. Na verdade, minha cama me parecia muito mais convidativa, mas o teste da terceira aula estava me esperando. Um teste do qual eu não fazia a menor ideia de como iria me sair, já que o único plano que eu tinha para o dia era não cair de cara no chão por conta da ressaca. Desci da moto e me arrastei em dire
Reviro os olhos e acelero a moto, alcançando-o rapidamente. Ele dá um sorriso divertido, provavelmente achando graça da minha insistência. - Não vai não. - digo, firme, enquanto o observo. Tyler sorri para mim, prestes a sair do estacionamento, quando uma picape preta entra no local. Não é uma manobra brusca, mas definitivamente rápida demais para o horário. Reconheceria aquele carro em qualquer lugar. - Ei... Oh, ei, cara. - Tyler diz, aproximando-se da picape enquanto o vidro desce, confirmando minhas suspeitas. - Estamos fechados, cara. - Droga. - ouço Aaron murmurar de dentro do carro, a voz carregada de cansaço. - Eu só preciso de um café, desenrola essa pra mim. - Sinto muito, irmão. Já passa da meia-noite. Ficamos além do horário e as chaves nem estão conosco. - Tyler responde com sua calma habitual, apontando para nós. - Mas tem um posto de gasolina com loja de conveniência 24 horas a algumas quadras daqui. Eles vendem café. Tyler se aproxima mais do carro e começa a dar
Sophie Montenegro. Eu não sabia o que fazer. Aaron não estava bem, e eu tinha certeza disso. Mas droga, eu não podia ligar para a emergência. Olhei para ele, caído e respirando com dificuldade, e sabia que aquilo ia ferrar com o futuro dele na universidade, na liga… e eu sinceramente não estava pronta para ser essa pessoa. Ele estava tão fora de si que mal conseguia se manter em pé, e o pânico crescia dentro de mim. Não posso ligar para Zack. Ele viria com um milhão de perguntas e essa definitivamente não era a hora. Não posso fazer isso com ele, não agora. Meu coração b**e mais rápido enquanto olho para Aaron, pálido e sem reação. O que ele fez? O que ele usou? A confusão toma conta de mim. Mesmo assim, o instinto de ajudar ainda é maior. Pego meu celular com mãos trêmulas e disco o número de Stormy, sem pensar duas vezes. O telefone demora alguns segundos a mais para ser atendido, e o silêncio do outro lado só aumenta meu desespero. — Graças aos céus você atendeu. — minha voz sa