Eles começaram a fazer os pedidos, um de cada vez, entre risinhos e comentários que eu escolhi ignorar. Quando finalmente chegou a vez dele, a estrela ascendente, Aaron se inclinou casualmente contra a cadeira, como se fosse dono do lugar.
— Um hambúrguer duplo, batatas fritas grandes e um milk-shake de chocolate. — Ele sorriu como quem sabia que tinha todo o tempo do mundo. — Certo. — Anotei o pedido e estava prestes a dar meia-volta quando ele resolveu abrir a boca de novo. — Valeu, sereia. O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Todos na mesa olharam para ele, alguns prendendo o riso, outros claramente curiosos. Eu, por outro lado, estreitei os olhos e o fuzilei com um olhar que prometia consequências. — Você é muito engraçado, sabia? — murmurei, sem esperar resposta antes de virar as costas e me afastar, deixando a mesa e o engraçadinho para trás. Sabe aquela vontade súbita de cometer um homicídio? Pois é, eu estava sentindo isso agora. Primeiro, Luke, aquele imbecil que não tem nada melhor para fazer além de sair por aí gritando aos quatro ventos um apelido que deveria ser, veja bem, um segredo. E agora Aaron, a estrela em ascensão, achando que pode entrar na brincadeira como se fosse íntimo. — Sereia — murmuro para mim mesma, entre dentes, enquanto apoio as mãos no balcão. — Eu vou acabar com ele. Jenna lança um olhar de esguelha enquanto limpa algumas xícaras. — Algum problema? — Não, nenhum. Só estou planejando o assassinato de dois idiotas que decidiram que minha paciência é brinquedo. — Pego a bandeja e a empurro para o lado, tentando disfarçar o calor que sobe pelo meu rosto. Respiro fundo, tentando me acalmar, mas só consigo imaginar Luke com aquele sorriso idiota enquanto diz: “É só brincadeira, relaxa.” Ah, eu vou fazer ele relaxar... Mas não sem mandar aqueles dois idiotas direto para o hospital. Pego um pedido no balcão e me preparo para servir outra mesa, afinal de contas ainda faltam duas horas e meia para finalizar meu turno. •°•°•°•°•°•°• Ajudo Jenna a fechar a lanchonete. Já passam das 23h, e, para nossa infelicidade, pegamos o turno da noite dessa vez. Tyler, que também trabalha conosco, foi levar o lixo enquanto nós duas finalizávamos os últimos detalhes. Assim que saímos, Jenna tranca a porta, guarda as chaves no bolso e se despede, correndo para o carro do marido, que a esperava pacientemente na calçada. — Noite difícil, Soph? — Tyler pergunta, acendendo um cigarro e me oferecendo outro. — Nada que minha moto não resolva. — Respondo com um sorriso curto, aceitando o cigarro e dando uma tragada. Ele assente, parecendo considerar algo por um instante antes de abrir a boca de novo: — E aquela chance, hein? — A pergunta vem com o tom casual de quem finge não estar nervoso. — Tô livre amanhã à noite. Que tal? Cinema ou pier? Lanço um olhar de relance para ele. Tyler é um cara legal, um pouco desajeitado às vezes, mas tem bom coração. Talvez a única coisa fora da curva sobre ele seja o hábito ocasional de fumar. Ainda assim, ele simplesmente não faz meu tipo. Falta algo — aquele clique, a faísca que me faria dizer “sim” sem hesitar. — Amanhã à noite já tenho compromisso. — Digo, soprando a fumaça com calma, tentando não soar ríspida. — Mas tô livre à tarde. Seus olhos se iluminam um pouco, e ele aproveita a brecha como quem acaba de ganhar na loteria. — Pier, então? — Por que não. — Dou de ombros, levando o cigarro à boca para uma última tragada. Deixo o resto do cigarro cair no chão e apago com a ponta da bota. — Boa noite, Tyler. — Despeço-me, sem muita cerimônia. — Boa noite, Soph. — Ele responde, acenando levemente enquanto fico de costas. Caminho até minha moto, que reluz sob a luz fraca do poste, e ajusto o capacete antes de subir. O ronco do motor quebra o silêncio da rua, e acelero sem olhar para trás. _______________ História da arte. A evolução da arte através dos séculos. A arte como expressão da voz interior. Eu amo o curso que escolhi e artes sempre foi minha paixão, mas, honestamente, por que a parte teórica precisa ser tão insuportavelmente entediante? O professor Gordon, um homem de meia-idade com estatura mediana e óculos arredondados, está diante da turma há quase duas horas, despejando informações sobre os movimentos artísticos ao longo dos séculos. E eu amo história, de verdade. Sempre gostei de aprender sobre qualquer coisa relacionada à arte. O problema? Ele parece tão desanimado quanto a gente, mesmo sendo o responsável por ensinar a matéria. Como alguém consegue tornar algo tão fascinante tão... monótono? Minhas pálpebras começam a pesar. O sono ameaça me vencer, consequência direta do caos da madrugada anterior. Cheguei em casa perto das duas da manhã, exausta, e dei de cara com Zack, furioso, me interrogando como um pai bravo. E tudo isso por causa daquele maldito carro.Sophie Montenegro. HORAS ANTES... O vento frio corta meu rosto enquanto avanço pelas avenidas quase desertas. Estou exausta, meu corpo inteiro dói, meus pés protestam, e minha cabeça pede um descanso que parece nunca chegar. Mas, por ora, a moto é meu alívio. Ela sempre é. Chego a um cruzamento, a cidade quase silenciosa, e, por um raro momento, decido respeitar as regras. O sinal está vermelho. Olho para trás, e vejo uma picape escura, com os vidros fumê, parando logo atrás de mim. Não ligo muito, as ruas estão vazias, então sigo em frente. Quando o sinal abre, acelero sem hesitar. O vento agora parece uma faca cortando minha pele, mas eu gosto disso. A adrenalina me mantém alerta. A moto vibra sob mim, como se soubesse que eu preciso dela mais do que nunca. Passo por mais algumas esquinas, e, ao olhar para trás, a picape está lá, ainda me seguindo. O que diabos? Não quero saber quem é, nem por que está me perseguindo. A sensação estranha na minha barriga diz que não devo arri
Sophie Montenegro. Ela para no meio do corredor abarrotado de estudantes, a boca aberta em choque. — Você o quê? Sophie, tem noção do quão perigoso isso é? E você nem contou pra ninguém? — Estou contando pra você agora, parabéns. — Respondo, a voz carregada de sarcasmo enquanto sigo andando. Ela, é claro, não desiste e me segue como um grilo falante. — Sophie, isso é sério! Você deveria falar com a polícia. Isso é perigoso e quanto a seu irmão, contou a ele ? Dou uma risada seca, balançando a cabeça em sinal negativo enquanto seguimos até os armários. Zack já é protetor o suficiente eu não preciso que ele monte guarda em frente ao meu trabalho, portanto um maldito taco de baysibol ou quem sabe esperante qualquer cara que se aproxime de mim. Na verdade eu prefiro evitar problemas, com isso concluo que contar a Zack não é uma boa opção. Saímos do prédio principal e seguimos para uma das áreas arborizadas do campus. O sol está brilhando, as árvores dançam ao vento, e o lugar seria
Sophie Montenegro Uma semana depois. — Eu não vou. — digo calmamente, tomando um gole de água enquanto observo o campus à minha frente. — Nem adianta, Stormy. Não vou. — Por favor, Sophie, vai ser aniversário do Luke. Ele pediu para te chamar. — Ela faz uma cara de suplica, e eu reviro os olhos. — Você fez o que ele pediu, está me chamando, e eu me reservo ao direito de não comparecer. — Dou de ombros. — Tenho compromisso, você sabe disso. — Onde vai ser? — Ela pergunta, com uma mistura de acusação e curiosidade na voz. — Onde vai ser o quê? — me faço de desentendida. — A corrida, onde vai ser? — Não sei do que você está falando. — Dou de ombros novamente, tentando desviar. — Vamos lá, eu vou com você quando acabar a festa. — Ela diz, como se fosse a melhor troca do mundo. — Nem em sonho. — Riu, sem esconder a diversão. — Ainda não enlouqueci ao ponto de colocar você nesse meio. — Se você não me contar, eu descubro com o Alex. — Ela dá de ombros, desafiadora. — Como se um
— Cara***! — Ele levou a mão ao peito, o susto claro em seus olhos. — Que p*** você tá fazendo aqui, sua maluca? — Por que essa reação, Aaron? Achei que você ia gostar de me ver. — Um sorriso surgiu nos meus lábios enquanto eu avançava em passos lentos, quase dançando. — Me diga, estrela em ascensão... Isso é saudade ou só uma curiosidade doentia sobre minha vida? — parei bem à sua frente, obrigando-o a recuar até se encurralar no fim do corredor. — O que você quer aqui? — ele tentou soar firme, mas sua voz tremia. — Eu... Eu vou chamar a segurança! Você... você não pode estar aqui! — Engraçado. — Ri suavemente. — Seus amigos não acham o mesmo. Na verdade, eles dariam qualquer coisa para estarem sozinhos comigo. — Inclinei a cabeça, avaliando a reação dele. — Mas, claro, você foi o escolhido. Então... vamos jogar um jogo, pode ser? Minhas unhas deslizaram pelo peitoral dele, sentindo os músculos tensos enquanto sua respiração acelerava. — Verdade ou consequência. — Minha voz saiu
Sophie Montenegro. Ressaca. Era a palavra que mais se encaixava em mim naquele momento, enquanto estacionava minha moto no estacionamento da faculdade, já perto da segunda aula. Cheguei em casa praticamente ao amanhecer, por volta das 5h40, e caí direto na cama, como um saco de batatas. Perdi a hora, e com ela, a primeira aula, o que, para ser sincera, não era nem um pouco surpreendente, mas era também um desastre. Retirei o capacete, respirando fundo. Quando acordei, minha primeira ação foi pegar a primeira coisa que encontrei no guarda-roupa e vesti-la, engolir uma torrada seca e pegar meu capacete, as chaves da moto e a mochila, tudo em um só movimento. Eu não queria estar ali. Na verdade, minha cama me parecia muito mais convidativa, mas o teste da terceira aula estava me esperando. Um teste do qual eu não fazia a menor ideia de como iria me sair, já que o único plano que eu tinha para o dia era não cair de cara no chão por conta da ressaca. Desci da moto e me arrastei em dire
Reviro os olhos e acelero a moto, alcançando-o rapidamente. Ele dá um sorriso divertido, provavelmente achando graça da minha insistência. - Não vai não. - digo, firme, enquanto o observo. Tyler sorri para mim, prestes a sair do estacionamento, quando uma picape preta entra no local. Não é uma manobra brusca, mas definitivamente rápida demais para o horário. Reconheceria aquele carro em qualquer lugar. - Ei... Oh, ei, cara. - Tyler diz, aproximando-se da picape enquanto o vidro desce, confirmando minhas suspeitas. - Estamos fechados, cara. - Droga. - ouço Aaron murmurar de dentro do carro, a voz carregada de cansaço. - Eu só preciso de um café, desenrola essa pra mim. - Sinto muito, irmão. Já passa da meia-noite. Ficamos além do horário e as chaves nem estão conosco. - Tyler responde com sua calma habitual, apontando para nós. - Mas tem um posto de gasolina com loja de conveniência 24 horas a algumas quadras daqui. Eles vendem café. Tyler se aproxima mais do carro e começa a dar
Sophie Montenegro. Eu não sabia o que fazer. Aaron não estava bem, e eu tinha certeza disso. Mas droga, eu não podia ligar para a emergência. Olhei para ele, caído e respirando com dificuldade, e sabia que aquilo ia ferrar com o futuro dele na universidade, na liga… e eu sinceramente não estava pronta para ser essa pessoa. Ele estava tão fora de si que mal conseguia se manter em pé, e o pânico crescia dentro de mim. Não posso ligar para Zack. Ele viria com um milhão de perguntas e essa definitivamente não era a hora. Não posso fazer isso com ele, não agora. Meu coração b**e mais rápido enquanto olho para Aaron, pálido e sem reação. O que ele fez? O que ele usou? A confusão toma conta de mim. Mesmo assim, o instinto de ajudar ainda é maior. Pego meu celular com mãos trêmulas e disco o número de Stormy, sem pensar duas vezes. O telefone demora alguns segundos a mais para ser atendido, e o silêncio do outro lado só aumenta meu desespero. — Graças aos céus você atendeu. — minha voz sa
Luke ajuda a levantar Aaron, mas ele quase desaba nos braços dele. Nós o sustentamos enquanto ele balança e mal consegue andar. A imagem de Aaron em tal estado não sai da minha mente. O caminho até o apartamento de Aaron parece uma eternidade. Quando finamente estacionamos em frente ao estacionamento dos alojamentos da faculdade, desço do carro de Aaron e sigo até o de Sophie que estava ajudando Luke e move-lo. Subimos as escadas até o terceiro andar com toda a dificuldade do mundo, tenho de lembrar de agradecer a Luke e a Stormy pois eu sozinha não conseguiria fazer tudo isso. porta se abre e, antes que eu possa dizer algo, Luke e Stormy o conduzem para o banheiro. — Coloca ele no chuveiro, água fria ou morna, Luke. — Stormy sugere com urgência. Luke abre o chuveiro rapidamente e, enquanto a água começa a correr, ele começa a despir Aaron, com cuidado para não fazer movimentos bruscos demais. O som da água caindo no piso de azulejos ecoa pelo banheiro enquanto ele o coloca deba