05

Eles começaram a fazer os pedidos, um de cada vez, entre risinhos e comentários que eu escolhi ignorar. Quando finalmente chegou a vez dele, a estrela ascendente, Aaron se inclinou casualmente contra a cadeira, como se fosse dono do lugar.

— Um hambúrguer duplo, batatas fritas grandes e um milk-shake de chocolate. — Ele sorriu como quem sabia que tinha todo o tempo do mundo.

— Certo. — Anotei o pedido e estava prestes a dar meia-volta quando ele resolveu abrir a boca de novo.

— Valeu, sereia.

O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Todos na mesa olharam para ele, alguns prendendo o riso, outros claramente curiosos. Eu, por outro lado, estreitei os olhos e o fuzilei com um olhar que prometia consequências.

— Você é muito engraçado, sabia? — murmurei, sem esperar resposta antes de virar as costas e me afastar, deixando a mesa e o engraçadinho para trás.

Sabe aquela vontade súbita de cometer um homicídio? Pois é, eu estava sentindo isso agora. Primeiro, Luke, aquele imbecil que não tem nada melhor para fazer além de sair por aí gritando aos quatro ventos um apelido que deveria ser, veja bem, um segredo. E agora Aaron, a estrela em ascensão, achando que pode entrar na brincadeira como se fosse íntimo.

— Sereia — murmuro para mim mesma, entre dentes, enquanto apoio as mãos no balcão. — Eu vou acabar com ele.

Jenna lança um olhar de esguelha enquanto limpa algumas xícaras.

— Algum problema?

— Não, nenhum. Só estou planejando o assassinato de dois idiotas que decidiram que minha paciência é brinquedo. — Pego a bandeja e a empurro para o lado, tentando disfarçar o calor que sobe pelo meu rosto.

Respiro fundo, tentando me acalmar, mas só consigo imaginar Luke com aquele sorriso idiota enquanto diz: “É só brincadeira, relaxa.” Ah, eu vou fazer ele relaxar... Mas não sem mandar aqueles dois idiotas direto para o hospital.

Pego um pedido no balcão e me preparo para servir outra mesa, afinal de contas ainda faltam duas horas e meia para finalizar meu turno.

•°•°•°•°•°•°•

Ajudo Jenna a fechar a lanchonete. Já passam das 23h, e, para nossa infelicidade, pegamos o turno da noite dessa vez. Tyler, que também trabalha conosco, foi levar o lixo enquanto nós duas finalizávamos os últimos detalhes. Assim que saímos, Jenna tranca a porta, guarda as chaves no bolso e se despede, correndo para o carro do marido, que a esperava pacientemente na calçada.

— Noite difícil, Soph? — Tyler pergunta, acendendo um cigarro e me oferecendo outro.

— Nada que minha moto não resolva. — Respondo com um sorriso curto, aceitando o cigarro e dando uma tragada.

Ele assente, parecendo considerar algo por um instante antes de abrir a boca de novo:

— E aquela chance, hein? — A pergunta vem com o tom casual de quem finge não estar nervoso. — Tô livre amanhã à noite. Que tal? Cinema ou pier?

Lanço um olhar de relance para ele. Tyler é um cara legal, um pouco desajeitado às vezes, mas tem bom coração. Talvez a única coisa fora da curva sobre ele seja o hábito ocasional de fumar. Ainda assim, ele simplesmente não faz meu tipo. Falta algo — aquele clique, a faísca que me faria dizer “sim” sem hesitar.

— Amanhã à noite já tenho compromisso. — Digo, soprando a fumaça com calma, tentando não soar ríspida. — Mas tô livre à tarde.

Seus olhos se iluminam um pouco, e ele aproveita a brecha como quem acaba de ganhar na loteria.

— Pier, então?

— Por que não. — Dou de ombros, levando o cigarro à boca para uma última tragada.

Deixo o resto do cigarro cair no chão e apago com a ponta da bota.

— Boa noite, Tyler. — Despeço-me, sem muita cerimônia.

— Boa noite, Soph. — Ele responde, acenando levemente enquanto fico de costas.

Caminho até minha moto, que reluz sob a luz fraca do poste, e ajusto o capacete antes de subir. O ronco do motor quebra o silêncio da rua, e acelero sem olhar para trás.

_______________

História da arte. A evolução da arte através dos séculos. A arte como expressão da voz interior. Eu amo o curso que escolhi e artes sempre foi minha paixão, mas, honestamente, por que a parte teórica precisa ser tão insuportavelmente entediante?

O professor Gordon, um homem de meia-idade com estatura mediana e óculos arredondados, está diante da turma há quase duas horas, despejando informações sobre os movimentos artísticos ao longo dos séculos. E eu amo história, de verdade. Sempre gostei de aprender sobre qualquer coisa relacionada à arte. O problema? Ele parece tão desanimado quanto a gente, mesmo sendo o responsável por ensinar a matéria. Como alguém consegue tornar algo tão fascinante tão... monótono?

Minhas pálpebras começam a pesar. O sono ameaça me vencer, consequência direta do caos da madrugada anterior. Cheguei em casa perto das duas da manhã, exausta, e dei de cara com Zack, furioso, me interrogando como um pai bravo. E tudo isso por causa daquele maldito carro.

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