Sophie Montenegro. Abro os olhos devagar, piscando contra a claridade que invade o cômodo. Minha cabeça parece mais pesada do que o habitual, e meu corpo protesta a cada movimento enquanto me viro no minúsculo sofá. A falta da minha cama, combinada com o espaço limitado, não ajudou em nada a evitar as dores que agora percorrem cada parte de mim. Me espreguiço, tentando espantar o mal-estar e o humor ruim que ameaça se instalar. Pegando o celular, verifico as horas: 09h47. Maravilha. Perdi a primeira aula. Imagino Zack surtando por minha ausência. Não, ele não deve estar surtando; ele com certeza já está, como indicam as inúmeras mensagens e ligações dele no meu celular. E, claro, não é só Zack — Kiara e Rick também parecem ter entrado no grupo de "perturbar a Sophie". Suspiro, guardando o celular no bolso, e começo a andar pelo apartamento. Para um cara, Aaron é surpreendentemente organizado. Sobre o rack da sala, há alguns retratos. Me aproximo, reconhecendo semelhanças nos rostos
Suas mãos vão automaticamente ao rosto, pressionando as têmporas, como quem tenta organizar pensamentos que simplesmente não fazem sentido. — Sophie... Eu não queria... Eu não sei como... Me perdoa, tá? Eu só... — Ele murmura, a voz entrecortada, oscilando entre culpa e confusão. — Como... Como você... Eu... Nós... O que aconteceu? Nós... Nós fizemos... — Pode parar. — Interrompo, meu tom afiado cortando sua divagação. — Nós não fizemos nada. E, honestamente, para alguém que acabou de acordar, você raciocina rápido demais. — Acrescento com ironia, enquanto me sento ao lado dele no colchão, tentando me recompor. Ele me encara, a expressão ainda confusa, antes de desviar o olhar para o chão. — O que você tá fazendo aqui? — Ele pergunta, a voz baixa, quase um sussurro. Solto um suspiro, passando as mãos pelos cabelos desgrenhados, prendendo-os em um coque frouxo. — Resumo da noite passada? Você fez merda. Misturou comprimidos e álcool, foi parar na lanchonete onde trabalho e depois
Sophie Montenegro. Estaciono minha moto na vaga habitual, desligo o motor e desço, sentindo uma leve tensão nos ombros. Sigo em direção ao elevador, o silêncio do prédio contrastando com o turbilhão de pensamentos que ainda rondam minha mente. Assim que sai do prédio de alojamento da universidade, e coincidentemente o mesmo onde Aaron mora. Há pouco menos de duas horas, eu sentia como se pudesse explodir a qualquer momento. A raiva me consumia por completo sinceramente eu estava me sentindo uma idiota por isso. Peguei um táxi de volta até o posto, onde, sem pensar direito, deixei minha moto na pressa e na euforia daquele momento. E, honestamente, não vou mentir para mim mesma: dirigi pela cidade por quase uma hora antes de decidir que precisava voltar para casa. A raiva ainda me consome por dentro, e aquele beijo maldito não significou nada. No entanto, lá no fundo, uma sensação amarga me diz que fui uma tremenda idiota por tê-lo ajudado. Ao entrar em meu apartamento, sou envolvi
Ele tem esse jeito de transformar qualquer problema em uma oportunidade de diversão. Mesmo quando eu tento me afastar, quando tudo o que quero é ficar sozinha, Zack insiste em puxar a luz para dentro da escuridão. É irritante, mas, às vezes, exatamente o que eu preciso. ~~~°~~~ A cidade de Los Angeles vista do topo da placa de Hollywood é um espetáculo que poucos têm o privilégio de presenciar. Durante a noite, o céu estrelado se mistura perfeitamente com as luzes vibrantes da cidade abaixo, criando uma paisagem que é ao mesmo tempo caótica e serena. O ar tem aquele cheiro único de grama fresca misturado com a fumaça da fogueira recém-acesa, enquanto as risadas dos meus amigos ecoam pelo espaço aberto. Zack, Kiara, e Rick apareceram como sempre, sem aviso, mas com a energia contagiante que os define. Desta vez, eles trouxeram reforços: Maya e Jason que vieram com Kiara e Rick. O grupo parecia maior, mais animado, e o clima era de descontração completa. A cena era digna de um piquen
Sophie Montenegro. Não foi até a segunda aula que a realidade me atingiu em cheio – para não dizer o contrário. Eu mal havia dormido, e, embora o sono não estivesse tão presente, meu corpo ainda implorava pela minha cama. Hoje não é meu dia de folga. Na verdade, foi ontem. E, para ser sincera, passei boa parte dele remoendo os acontecimentos das últimas 48 horas, até que Zack me convenceu de que um piquenique nos faria bem. E ele não estava errado. Foi bom esquecer do mundo por um momento. Mas, como sempre, a manhã chegou, trazendo a rotina de volta com força total. E, claro, meu sono não desapareceu junto com a noite anterior. Tento me concentrar na aula enquanto a nova professora de artes caminha entre nós, observando atentamente cada um dos alunos. — Quero que vocês se expressem através da pintura. Não apenas desenhem o que veem, mas o que sentem — ela diz, sua voz carregada de entusiasmo. — Permitam que a arte seja a ponte entre o que está guardado dentro de vocês e o mundo ex
Apressei os passos em direção ao estacionamento, a mente sobrecarregada de pensamentos. Ouvi meu nome ser chamado ao longe. Ignorei, mantendo o ritmo. Mas os passos se tornaram mais rápidos, até que uma mão segurou meu pulso com força. Sem pensar, virei-me e golpeei com a mão livre. Meu punho acertou o rosto de Aaron, que recuou com a mão no rosto, atordoado. — Não precisava disso. — Ele disse, irritado, ainda segurando a bochecha. — Teve sorte de não ter sido o capacete. — estreitei os olhos. — Ainda não percebeu que não quero falar com você? Se eu quisesse, já teria parado e me virado. Pode parar de me seguir como um lunático e gritando meu nome, atraindo toda essa atenção? — Meu tom saiu ríspido. — Se você gosta de ser o centro das atenções, faça isso sozinho. Não me arraste para esse circo. — Não precisa de tudo isso... — Ele parecia genuinamente ofendido. — SIM, PRECISA SIM. — Minha voz ecoou, e seus olhos se arregalaram. — Olhe ao redor, Aaron. São poucas as pessoas que se a
Sophie Montenegro. A noite se arrastava mais devagar do que o normal, e a lanchonete estava um caos. Eu estava exausta, com as mãos sujas de gordura e o cheiro de fritura impregnado na roupa, mas não era hora de pensar nisso. O movimento estava insano. Tyler e Liza estavam na cozinha, como se estivessem em uma maratona, soltando pedidos a todo momento, enquanto Janne e eu tentávamos dar conta do resto. Cada mesa parecia um novo campo de batalha. Entre as risadas forçadas e as expressões cansadas, eu tentava me manter em pé, distribuindo pedidos e respondendo perguntas que nem os próprios clientes sabiam responder. O som da cineta na porta cortou o barulho constante, anunciando a chegada de mais um cliente. Eu não dei muita atenção no começo. Janne já estava indo atender e, na minha cabeça, era só mais um rosto na multidão. Eu estava lidando com um casal de clientes na mesa da frente, os dois discutindo sem parar, sem sequer olhar para o cardápio. Eles se importavam mais em gritar um
Agradeço aos céus quando o turno finalmente chega ao fim. Eu mal posso esperar para sair daquele lugar. Pego minha mochila e, com um suspiro de alívio, coloco o capacete. Me despeço rapidamente de Janne e Liza, que estão aliviadas por também estarmos quase terminando o expediente. Caminho em direção à minha moto, sentindo o peso do dia escorrer pelas minhas costas. Porém, ao me aproximar, encontro Tyler encostado na minha moto, com aquele sorriso de sempre, a típica expressão de quem já sabe de algo antes de eu até perceber. — Se sente melhor? — Ele pergunta, os olhos me observando de maneira atenta. — Tão bem quanto uma tempestade, — respondo com calma, pegando um dos copos de café que ele segura, me permitindo aproveitar o calor e o sabor reconfortante. — Como soube que... — Janne comentou algo sobre uma estranha vindo te procurar, algo sobre ela te chamar de filha. Você passou voando para os fundos, e bem... Lembro que você me falou sobre o que aconteceu anos atrás, então, liguei