Sophie Montenegro.
— Sério, vocês não têm mais o que fazer? - pergunto, enquanto ajusto a alça da mochila no ombro. - Não, na verdade não. - Zack responde, fingindo um tom sério, enquanto Rick solta uma risada curta. - Certo. Ótimo. Então fiquem longe do meu caminho. - Atalho na direção do prédio principal, ignorando os murmúrios ao meu redor. Algumas pessoas apontam, outras cochicham. Sempre a mesma ladainha. "Olha a garota das tatuagens." "Acho que ouvi dizer que ela participou de rachas ilegais." Ah, que original. Adoro ser o tema do café universitário de gente que claramente não tem nada melhor para fazer. Rick se aproxima, jogando um braço sobre meus ombros como se tivesse esse direito. - Vai, admita, princesa. Você ama essa atenção. - Adoro tanto que sonho com o dia em que você e o Zack vão se perder no caminho e me deixar em paz. Ele ri, claramente sem intenção de sair do meu pé. - Só estamos aqui para garantir que ninguém se meta com você. - Ninguém nunca se mete comigo, Rick. Exceto vocês. - Dou um empurrão em seu braço e sigo meu caminho, ouvindo a risada ecoar atrás de mim. Ser o "centro das atenções" nunca foi algo que eu desejei, mas, pelo visto, é algo que me persegue. E, para ser sincera, às vezes acho que isso me diverte mais do que eu gostaria de admitir. Zack, Rick e Kiara já deixaram os dias de universidade para trás há muito tempo. Cada um tem sua carreira bem estabelecida e vidas independentes. Mas, claro, isso nunca os impediria de aparecer na faculdade, principalmente quando se trata de Rick e Zack, que veem isso como um playground de flertes. Diferente de mim, esses dois idiotas são sempre o centro das atenções. "Bad boys", é assim que as garotas os chamam com aqueles olhos brilhando de expectativa. Já perdi a conta de quantas meninas vieram até mim com perguntas cheias de segundas intenções. - "Me apresenta o ruivo?" - "Eu prefiro o loiro! Você já viu aquela cara de mal?" - "Eles realmente são solteiros?" Sempre as mesmas perguntas, como se eu fosse a gerente da agenda deles. A resposta é simples: não, não estou com nenhum deles. Mas, pelo visto, isso só as deixa mais animadas. Apesar da fama de "pegadores", as vidas de Zack e Rick não se resumem apenas a azarações. Zack, com 27 anos, é dono de um dos estúdios de tatuagem mais badalados da cidade. O cara é uma figura: loiro, quase dois metros de altura, cabelo longo geralmente preso em um coque despretensioso no topo da cabeça, músculos de quem passa mais tempo na academia do que deveria e tatuagens cobrindo praticamente todo o corpo. Segundo ele, a "cara de marginal" é o que atrai as mulheres. E, honestamente? Parece funcionar. Rick, o ruivo, tem 28 anos e é proprietário de um pub local que combina música ao vivo, boas bebidas e um ambiente que faz você querer voltar sempre. Ele e Kiara cuidam do lugar com paixão, transformando-o em um ponto de encontro icônico na cidade. Rick não fica atrás de Zack no quesito atenção feminina: alto, musculoso, com os cabelos ruivos brilhando como um sinalizador e uma carinha de anjo, que, sem a barba, fica quase infantil. Claro que os piercings, alargadores e tatuagens quebram essa imagem, dando a ele aquele ar de "bom moço rebelde". Agora, Kiara... Bem, eu honestamente não sei como ela aguenta o irmão. Se fosse eu, já teria o empurrado de cima da roda-gigante do píer. Kiara tem 23 anos e é praticamente um furacão em forma de mulher: cabelos longos e ruivos que parecem pegar fogo sob a luz, curvas de parar o trânsito, e um par de olhos azuis que faz qualquer um esquecer o que estava dizendo. Ah, e claro, algumas tatuagens estratégicas que só adicionam mais charme à sua beleza natural. Modéstia à parte, minha amiga é de tirar o fôlego. E quanto a mim? Bom, eu gosto de dizer que sou o equilíbrio perfeito entre "normal" e "inesquecível". Tenho 1,68 m de altura, um corpo com curvas no lugar certo, olhos negros que revelam mais do que deveriam e cabelos longos e igualmente negros, caindo em cascatas lisas pelos ombros. Minha pele clara é marcada por tatuagens que contam histórias - algumas minhas, outras inventadas -, mas todas carregadas de significado. E, claro, essas tatuagens também atraem os olhares curiosos. Afinal, nada diz "misteriosa" como uma garota cheia de tinta na pele. Sigo para o meu armário, guardo o capacete e começo a procurar meus livros quando, de repente, algo pesado pula nas minhas costas, quase nos fazendo cair. - Sophieee! - Stormy, minha antiga pantera cor-de-rosa, agora transformada em Smurfette, me envolve em um abraço apertado. - Que saudade, amiga! Você não faz ideia de o quanto estou animada para esse ano letivo. Stormy é uma das poucas garotas da faculdade que fala comigo sem querer algo de Zack, Rick ou qualquer outro babaca. Nos conhecemos no ano passado durante a apresentação, quando tivemos que formar duplas. Por algum motivo, nos demos bem e, cá estamos. - Como vai, Smurfette? - sorrio, apontando para o cabelo azul dela. Stormy também cursa artes. Seus pais, artistas, sempre a incentivaram a se expressar da forma que quisesse. Não tem tatuagens ou piercings, mas o cabelo dela é sempre uma obra de arte, com tons vibrantes que, modéstia à parte, são perfeitos. - Já sabe da novidade? - Ela pergunta, cheia de entusiasmo, enquanto procuramos nossos horários. - Não me diga... O senhor Gordon finalmente se aposentou e vai nos dar paz? - respondo com uma pitada de sarcasmo. O senhor Gordon, o professor mais velho do curso, era o tipo de pessoa que claramente detestava o que fazia, mas estava ali para pagar as contas. - Infelizmente, não teremos tanta sorte. - Ela faz uma careta que me faz rir. - Na verdade, é sobre o time de basquete da universidade.Sophie Montenegro. Ela diz isso com uma empolgação tão evidente que quase consigo ver a aura de fofoca brilhando ao redor dela. - O que aconteceu? - pergunto, mais curiosa do que deveria ser. - Me contaram que o antigo capitão do time foi expulso da universidade por má conduta. - Ela faz uma pausa dramática. - Mas, na verdade, ele estava transando com uma das professoras, que também foi demitida. E adivinha? O novo capitão é um verdadeiro astro da liga universitária, vindo de New York só para jogar pela nossa universidade. - Com "me contaram" você quer dizer que o Luke te contou a fofoca, né? - dou uma risada. Ela faz uma careta, mas não consegue evitar de rir também. Stormy namora Luke Evans, um dos caras do time de basquete. Ele é um bom sujeito, o que é uma surpresa para alguém que faz parte do time de basquete. E, claro, também é um tremendo fofoqueiro. - Isso não vem ao caso. - Ela dá de ombros. - Vamos ter uma estrela de basquete aqui na universidade! Isso é tão empolgante
A vontade de agarrar o pescoço dele e torcer como se fosse um saco de lixo é quase incontrolável. — Não me faça cometer um homicídio, Evans. — Ameaço, com o olhar fixo nele. — Vai com calma, sereia... — Cala a droga da boca, Luke. — Respondo, séria. O problema com Luke, além do fato de ser um fofoqueiro nato, é que ele tem essa mania insuportável de meter o nariz onde não é chamado. E, claro, essa curiosidade insana já o colocou em apuros mais vezes do que ele poderia contar. Quanto ao apelido "sereia", é o meu nome nas pistas. Ninguém é idiota o suficiente para usar o nome real quando as corridas clandestinas estão cheias de policiais, seja disfarçados para investigar ou apenas lá para curtir a adrenalina. Ah, e Luke tem um irmão, Alexsander Evans, conhecido nas pistas como "Fantasma". Ele é uma das ironias vivas da cidade: um dos policiais mais respeitados durante o dia, e um dos melhores pilotos mascarados à noite. A moral dessa história? Todo mundo tem seus segredos – alguns
Eles começaram a fazer os pedidos, um de cada vez, entre risinhos e comentários que eu escolhi ignorar. Quando finalmente chegou a vez dele, a estrela ascendente, Aaron se inclinou casualmente contra a cadeira, como se fosse dono do lugar. — Um hambúrguer duplo, batatas fritas grandes e um milk-shake de chocolate. — Ele sorriu como quem sabia que tinha todo o tempo do mundo. — Certo. — Anotei o pedido e estava prestes a dar meia-volta quando ele resolveu abrir a boca de novo. — Valeu, sereia. O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Todos na mesa olharam para ele, alguns prendendo o riso, outros claramente curiosos. Eu, por outro lado, estreitei os olhos e o fuzilei com um olhar que prometia consequências. — Você é muito engraçado, sabia? — murmurei, sem esperar resposta antes de virar as costas e me afastar, deixando a mesa e o engraçadinho para trás. Sabe aquela vontade súbita de cometer um homicídio? Pois é, eu estava sentindo isso agora. Primeiro, Luke, aquele imbec
Sophie Montenegro. HORAS ANTES... O vento frio corta meu rosto enquanto avanço pelas avenidas quase desertas. Estou exausta, meu corpo inteiro dói, meus pés protestam, e minha cabeça pede um descanso que parece nunca chegar. Mas, por ora, a moto é meu alívio. Ela sempre é. Chego a um cruzamento, a cidade quase silenciosa, e, por um raro momento, decido respeitar as regras. O sinal está vermelho. Olho para trás, e vejo uma picape escura, com os vidros fumê, parando logo atrás de mim. Não ligo muito, as ruas estão vazias, então sigo em frente. Quando o sinal abre, acelero sem hesitar. O vento agora parece uma faca cortando minha pele, mas eu gosto disso. A adrenalina me mantém alerta. A moto vibra sob mim, como se soubesse que eu preciso dela mais do que nunca. Passo por mais algumas esquinas, e, ao olhar para trás, a picape está lá, ainda me seguindo. O que diabos? Não quero saber quem é, nem por que está me perseguindo. A sensação estranha na minha barriga diz que não devo arri
Sophie Montenegro. Ela para no meio do corredor abarrotado de estudantes, a boca aberta em choque. — Você o quê? Sophie, tem noção do quão perigoso isso é? E você nem contou pra ninguém? — Estou contando pra você agora, parabéns. — Respondo, a voz carregada de sarcasmo enquanto sigo andando. Ela, é claro, não desiste e me segue como um grilo falante. — Sophie, isso é sério! Você deveria falar com a polícia. Isso é perigoso e quanto a seu irmão, contou a ele ? Dou uma risada seca, balançando a cabeça em sinal negativo enquanto seguimos até os armários. Zack já é protetor o suficiente eu não preciso que ele monte guarda em frente ao meu trabalho, portanto um maldito taco de baysibol ou quem sabe esperante qualquer cara que se aproxime de mim. Na verdade eu prefiro evitar problemas, com isso concluo que contar a Zack não é uma boa opção. Saímos do prédio principal e seguimos para uma das áreas arborizadas do campus. O sol está brilhando, as árvores dançam ao vento, e o lugar seria
Sophie Montenegro Uma semana depois. — Eu não vou. — digo calmamente, tomando um gole de água enquanto observo o campus à minha frente. — Nem adianta, Stormy. Não vou. — Por favor, Sophie, vai ser aniversário do Luke. Ele pediu para te chamar. — Ela faz uma cara de suplica, e eu reviro os olhos. — Você fez o que ele pediu, está me chamando, e eu me reservo ao direito de não comparecer. — Dou de ombros. — Tenho compromisso, você sabe disso. — Onde vai ser? — Ela pergunta, com uma mistura de acusação e curiosidade na voz. — Onde vai ser o quê? — me faço de desentendida. — A corrida, onde vai ser? — Não sei do que você está falando. — Dou de ombros novamente, tentando desviar. — Vamos lá, eu vou com você quando acabar a festa. — Ela diz, como se fosse a melhor troca do mundo. — Nem em sonho. — Riu, sem esconder a diversão. — Ainda não enlouqueci ao ponto de colocar você nesse meio. — Se você não me contar, eu descubro com o Alex. — Ela dá de ombros, desafiadora. — Como se um
— Cara***! — Ele levou a mão ao peito, o susto claro em seus olhos. — Que p*** você tá fazendo aqui, sua maluca? — Por que essa reação, Aaron? Achei que você ia gostar de me ver. — Um sorriso surgiu nos meus lábios enquanto eu avançava em passos lentos, quase dançando. — Me diga, estrela em ascensão... Isso é saudade ou só uma curiosidade doentia sobre minha vida? — parei bem à sua frente, obrigando-o a recuar até se encurralar no fim do corredor. — O que você quer aqui? — ele tentou soar firme, mas sua voz tremia. — Eu... Eu vou chamar a segurança! Você... você não pode estar aqui! — Engraçado. — Ri suavemente. — Seus amigos não acham o mesmo. Na verdade, eles dariam qualquer coisa para estarem sozinhos comigo. — Inclinei a cabeça, avaliando a reação dele. — Mas, claro, você foi o escolhido. Então... vamos jogar um jogo, pode ser? Minhas unhas deslizaram pelo peitoral dele, sentindo os músculos tensos enquanto sua respiração acelerava. — Verdade ou consequência. — Minha voz saiu
Sophie Montenegro. Ressaca. Era a palavra que mais se encaixava em mim naquele momento, enquanto estacionava minha moto no estacionamento da faculdade, já perto da segunda aula. Cheguei em casa praticamente ao amanhecer, por volta das 5h40, e caí direto na cama, como um saco de batatas. Perdi a hora, e com ela, a primeira aula, o que, para ser sincera, não era nem um pouco surpreendente, mas era também um desastre. Retirei o capacete, respirando fundo. Quando acordei, minha primeira ação foi pegar a primeira coisa que encontrei no guarda-roupa e vesti-la, engolir uma torrada seca e pegar meu capacete, as chaves da moto e a mochila, tudo em um só movimento. Eu não queria estar ali. Na verdade, minha cama me parecia muito mais convidativa, mas o teste da terceira aula estava me esperando. Um teste do qual eu não fazia a menor ideia de como iria me sair, já que o único plano que eu tinha para o dia era não cair de cara no chão por conta da ressaca. Desci da moto e me arrastei em dire