Sophie Montenegro.
Não sei dizer ao certo quando minha vida começou a tomar o rumo que tem agora, se foi um avanço ou um retrocesso. Mas, se tem algo que sei com clareza, é que cada decisão e escolha me trouxeram até aqui, moldando quem sou hoje. Aos 17 anos, fui expulsa de casa por me recusar a seguir o caminho que meus pais escolheram para mim. Meu pai, um renomado advogado, e minha mãe, uma cirurgiã brilhante, tinham grandes expectativas para a única filha. Eles sempre imaginaram que eu herdaria a ambição e a disciplina deles. Mas a vida, pelo menos a minha, não funciona assim. Desde cedo, a arte sempre me fascinou. Ela era meu refúgio, minha expressão, meu sonho. Quando anunciei que queria seguir carreira nesse campo, a reação dos meus pais foi tudo, menos compreensiva. Não houve discussões ou tentativas de me convencer do contrário – houve portas fechadas, palavras duras e, no fim daquela noite chuvosa, malas na calçada. Com apenas um pouco de roupa e nenhum dinheiro no bolso, percebi que o mundo real seria minha nova casa. O destino, no entanto, foi mais generoso do que meus pais. Foi então que encontrei Zack, Kiara e Rick – quatro almas tão perdidas e quebradas quanto eu. Cada um deles carregava seus próprios traumas e cicatrizes, mas, juntos, criamos uma família que nada tinha a ver com laços de sangue, mas tudo a ver com amor e apoio. Eles não apenas estenderam a mão quando eu mais precisava, mas também me ajudaram a lutar pelos meus sonhos. Pela primeira vez, eu me senti vista, aceita, sem cobranças, sem expectativas irreais. Hoje, cinco anos depois, estou prestes a começar meu segundo ano na faculdade, no curso de artes. Não posso dizer que foi fácil, porque não foi. Cada dia trouxe uma luta diferente, mas sou grata por elas. Elas me tornaram mais forte, mais resiliente, mais capaz de lidar com o que quer que o futuro traga. Quando olho para trás, não sinto falta da minha vida antiga. Não sinto saudade da casa luxuosa onde cresci ou das regras sufocantes que me obrigavam a ser algo que nunca quis. Me tornei alguém melhor – para mim mesma, não para os outros. Agora, vivo do meu jeito, sem satisfações a dar, sem amarras. Ainda me chamam de "ovelha negra", mas não me importo. Essa "ovelha negra" encontrou sua liberdade, sua voz e seu propósito. E isso vale mais do que qualquer aprovação que eu poderia ter buscado no passado. O vento cortava meu rosto como uma lâmina enquanto eu inclinava o corpo em cada curva, sentindo o motor da moto vibrar como uma extensão da minha alma. Acelerei mais. O grito das sirenes rasgava o ar atrás de mim, cada vez mais perto, mas eu não sentia medo – apenas aquele frenesi que queimava no peito, uma mistura viciante de euforia e desafio. O mundo ao meu redor era um borrão de luzes e sombras, mas minha atenção estava fixa no caminho à frente. As sirenes? Apenas um detalhe. Os carros da polícia? Um obstáculo como qualquer outro. Meu verdadeiro inimigo estava logo à frente: o cruzamento ferroviário. As luzes piscavam em alerta, e a cancela começava a descer. O trem vinha rápido, seu rugido metálico ecoando pela noite, mas eu sabia que não podia hesitar. Soltei o acelerador por um milésimo de segundo, ajustei o peso do corpo e, em seguida, girei o punho com força total. A moto disparou como um raio. — Vai, vai, vai! — gritei para mim mesma, sentindo o coração disparar como o próprio motor. O som do trem ficou ensurdecedor. A distância parecia se fechar em câmera lenta enquanto eu corria contra o impossível. Os segundos se esticavam, mas, ao mesmo tempo, passavam rápido demais. Tudo o que me restava era confiar nos meus instintos e na máquina de duas rodas sob mim. E então eu cruzei. A moto passou pelo trilho a uma velocidade alucinante, o trem rugindo tão perto que senti o ar quente da sua passagem me atingir como uma onda. A cancela desceu completamente atrás de mim, e o trem bloqueou o caminho como uma muralha intransponível. Soltei um grito. — EU CONSEGUIIII! A risada escapou de mim como um sopro de liberdade, o tipo de sensação que só quem vive no limite consegue entender. Enquanto reduzia a velocidade, ouvi os pneus dos carros de polícia cantarem ao parar abruptamente do outro lado do trem. Aquelas luzes piscando ao longe me diziam que a perseguição acabava ali. Agora você deve estar se perguntando o que diabos está acontecendo. Antes que imagine coisas, não, eu não sou uma criminosa, nem matei ninguém. Mas a verdade é que há alguns anos descobri algo que mudou minha vida para sempre: o gosto pelas corridas ilegais e a paixão insana por motos e carros velozes. Não foi minha nova família quem me apresentou esse mundo – na verdade, eu sempre flertei com ele. Só que, quando ainda vivia sob o teto dos meus pais, eu era obrigada a usar uma máscara de perfeição. Eles viam o que queriam ver: a filha obediente e exemplar. Mas, no fundo, eu ansiava pela liberdade. E quando finalmente a conquistei, nunca mais quis outra vida. Não se engane. Eu não sou irresponsável, nem vivo acima da lei. Tenho meu trabalho, meu apartamento e minha rotina como qualquer pessoa normal. Mas normalidade nunca foi o suficiente para mim. Fugir da monotonia em alta velocidade é algo que faz o sangue correr nas veias de uma forma diferente, algo que me lembra o quanto estou viva. Acelero de volta à cidade, sentindo o vento frio da madrugada enquanto os primeiros raios de sol começam a tingir o horizonte. Foi uma noite intensa, daquelas que me fazem sorrir ao lembrar por que amo tanto essa vida. Talvez seja o empurrão que eu precisava para encarar a faculdade com tudo o que tenho. Mas, por enquanto, tudo o que importa é a sensação de liberdade. E, céus, como ela é viciante.Sophie Montenegro. Estaciono minha moto na vaga e caminho até o elevador. Minutos depois, já estou no meu apartamento. Assim que abro a porta, me deparo com Zack, esparramado no sofá como se fosse o rei do mundo, sem camisa, exibindo seus músculos e as tatuagens que cobrem praticamente cada centímetro do corpo. Ele dorme tão tranquilamente que nem parece que, há poucas horas, estávamos no meio de um racha do outro lado da cidade. Zack, para deixar claro, não mora comigo. Ele tem o próprio apartamento, assim como Kiara e Rick. Mas, é claro, todos tivemos a brilhante ideia de morar no mesmo prédio, porque, aparentemente, achamos que diversão nunca é suficiente – e também porque não levamos as encrencas a sério. E Zack, sendo o típico irmão mais velho honorário, acha que tem direito a invadir meu espaço sempre que bem entende. Como se fosse dono do pedaço. — Acorda, babão. — Dou um tapa na testa dele enquanto deixo meu capacete na mesa de centro. Ele se mexe, resmungando, e finalment
Sophie Montenegro. — Sério, vocês não têm mais o que fazer? - pergunto, enquanto ajusto a alça da mochila no ombro. - Não, na verdade não. - Zack responde, fingindo um tom sério, enquanto Rick solta uma risada curta. - Certo. Ótimo. Então fiquem longe do meu caminho. - Atalho na direção do prédio principal, ignorando os murmúrios ao meu redor. Algumas pessoas apontam, outras cochicham. Sempre a mesma ladainha. "Olha a garota das tatuagens." "Acho que ouvi dizer que ela participou de rachas ilegais." Ah, que original. Adoro ser o tema do café universitário de gente que claramente não tem nada melhor para fazer. Rick se aproxima, jogando um braço sobre meus ombros como se tivesse esse direito. - Vai, admita, princesa. Você ama essa atenção. - Adoro tanto que sonho com o dia em que você e o Zack vão se perder no caminho e me deixar em paz. Ele ri, claramente sem intenção de sair do meu pé. - Só estamos aqui para garantir que ninguém se meta com você. - Ninguém nunca s
Sophie Montenegro. Ela diz isso com uma empolgação tão evidente que quase consigo ver a aura de fofoca brilhando ao redor dela. - O que aconteceu? - pergunto, mais curiosa do que deveria ser. - Me contaram que o antigo capitão do time foi expulso da universidade por má conduta. - Ela faz uma pausa dramática. - Mas, na verdade, ele estava transando com uma das professoras, que também foi demitida. E adivinha? O novo capitão é um verdadeiro astro da liga universitária, vindo de New York só para jogar pela nossa universidade. - Com "me contaram" você quer dizer que o Luke te contou a fofoca, né? - dou uma risada. Ela faz uma careta, mas não consegue evitar de rir também. Stormy namora Luke Evans, um dos caras do time de basquete. Ele é um bom sujeito, o que é uma surpresa para alguém que faz parte do time de basquete. E, claro, também é um tremendo fofoqueiro. - Isso não vem ao caso. - Ela dá de ombros. - Vamos ter uma estrela de basquete aqui na universidade! Isso é tão empolgante
A vontade de agarrar o pescoço dele e torcer como se fosse um saco de lixo é quase incontrolável. — Não me faça cometer um homicídio, Evans. — Ameaço, com o olhar fixo nele. — Vai com calma, sereia... — Cala a droga da boca, Luke. — Respondo, séria. O problema com Luke, além do fato de ser um fofoqueiro nato, é que ele tem essa mania insuportável de meter o nariz onde não é chamado. E, claro, essa curiosidade insana já o colocou em apuros mais vezes do que ele poderia contar. Quanto ao apelido "sereia", é o meu nome nas pistas. Ninguém é idiota o suficiente para usar o nome real quando as corridas clandestinas estão cheias de policiais, seja disfarçados para investigar ou apenas lá para curtir a adrenalina. Ah, e Luke tem um irmão, Alexsander Evans, conhecido nas pistas como "Fantasma". Ele é uma das ironias vivas da cidade: um dos policiais mais respeitados durante o dia, e um dos melhores pilotos mascarados à noite. A moral dessa história? Todo mundo tem seus segredos – alguns
Eles começaram a fazer os pedidos, um de cada vez, entre risinhos e comentários que eu escolhi ignorar. Quando finalmente chegou a vez dele, a estrela ascendente, Aaron se inclinou casualmente contra a cadeira, como se fosse dono do lugar. — Um hambúrguer duplo, batatas fritas grandes e um milk-shake de chocolate. — Ele sorriu como quem sabia que tinha todo o tempo do mundo. — Certo. — Anotei o pedido e estava prestes a dar meia-volta quando ele resolveu abrir a boca de novo. — Valeu, sereia. O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Todos na mesa olharam para ele, alguns prendendo o riso, outros claramente curiosos. Eu, por outro lado, estreitei os olhos e o fuzilei com um olhar que prometia consequências. — Você é muito engraçado, sabia? — murmurei, sem esperar resposta antes de virar as costas e me afastar, deixando a mesa e o engraçadinho para trás. Sabe aquela vontade súbita de cometer um homicídio? Pois é, eu estava sentindo isso agora. Primeiro, Luke, aquele imbec
Sophie Montenegro. HORAS ANTES... O vento frio corta meu rosto enquanto avanço pelas avenidas quase desertas. Estou exausta, meu corpo inteiro dói, meus pés protestam, e minha cabeça pede um descanso que parece nunca chegar. Mas, por ora, a moto é meu alívio. Ela sempre é. Chego a um cruzamento, a cidade quase silenciosa, e, por um raro momento, decido respeitar as regras. O sinal está vermelho. Olho para trás, e vejo uma picape escura, com os vidros fumê, parando logo atrás de mim. Não ligo muito, as ruas estão vazias, então sigo em frente. Quando o sinal abre, acelero sem hesitar. O vento agora parece uma faca cortando minha pele, mas eu gosto disso. A adrenalina me mantém alerta. A moto vibra sob mim, como se soubesse que eu preciso dela mais do que nunca. Passo por mais algumas esquinas, e, ao olhar para trás, a picape está lá, ainda me seguindo. O que diabos? Não quero saber quem é, nem por que está me perseguindo. A sensação estranha na minha barriga diz que não devo arri
Sophie Montenegro. Ela para no meio do corredor abarrotado de estudantes, a boca aberta em choque. — Você o quê? Sophie, tem noção do quão perigoso isso é? E você nem contou pra ninguém? — Estou contando pra você agora, parabéns. — Respondo, a voz carregada de sarcasmo enquanto sigo andando. Ela, é claro, não desiste e me segue como um grilo falante. — Sophie, isso é sério! Você deveria falar com a polícia. Isso é perigoso e quanto a seu irmão, contou a ele ? Dou uma risada seca, balançando a cabeça em sinal negativo enquanto seguimos até os armários. Zack já é protetor o suficiente eu não preciso que ele monte guarda em frente ao meu trabalho, portanto um maldito taco de baysibol ou quem sabe esperante qualquer cara que se aproxime de mim. Na verdade eu prefiro evitar problemas, com isso concluo que contar a Zack não é uma boa opção. Saímos do prédio principal e seguimos para uma das áreas arborizadas do campus. O sol está brilhando, as árvores dançam ao vento, e o lugar seria
Sophie Montenegro Uma semana depois. — Eu não vou. — digo calmamente, tomando um gole de água enquanto observo o campus à minha frente. — Nem adianta, Stormy. Não vou. — Por favor, Sophie, vai ser aniversário do Luke. Ele pediu para te chamar. — Ela faz uma cara de suplica, e eu reviro os olhos. — Você fez o que ele pediu, está me chamando, e eu me reservo ao direito de não comparecer. — Dou de ombros. — Tenho compromisso, você sabe disso. — Onde vai ser? — Ela pergunta, com uma mistura de acusação e curiosidade na voz. — Onde vai ser o quê? — me faço de desentendida. — A corrida, onde vai ser? — Não sei do que você está falando. — Dou de ombros novamente, tentando desviar. — Vamos lá, eu vou com você quando acabar a festa. — Ela diz, como se fosse a melhor troca do mundo. — Nem em sonho. — Riu, sem esconder a diversão. — Ainda não enlouqueci ao ponto de colocar você nesse meio. — Se você não me contar, eu descubro com o Alex. — Ela dá de ombros, desafiadora. — Como se um