Jessica Green
Nossa o dia voou.Acabei de sair da sala da Jey, preciso ir ao toalete dar uma olhada em mim.Chegando vejo que preciso apenas retocar a maquiagem, ainda bem! Deixei o táxi reservado, não quero correr o risco e ficar na calçada lutando por um.Não me acostumei com essa guerra travada nas calçadas, quer seja por um táxi, quer seja por um sanduíche ou apenas para entrar no metrô.Mas sei que ainda vou me acostumar; termino de me arrumar e o táxi já está à minha espera.Esse pintor que estou indo prestigiar, dizem os experts, que é uma grande revelação, Emanuel Sanches é seu nome, foi descoberto por acaso e agora está realizando sua primeira exposição. Havia até um certo frisson, por parte da imprensa, porque o artista parece que já caiu no gosto de algumas celebridades.Dei uma olhada na internet e não sou tão entendida em arte, mas gostei do que vi.Se bem que arte é algo tão pessoal, lembrei do trabalho que tivemos que realizar eu e a Sam, para a feira de arte no segundo grau. Queríamos de toda maneira realizar uma escultura com argila e partimos para tentar fazer. Ao finalizar a “obra”, não conseguimos distinguir se era um vaso, uma árvore ou o que era. O mais incrível foi o comentário da nossa professora de arte. – Meninas, vocês captaram o abstrato com a inovação do modernismo. Adorei! Ficou lindo!Naquele dia ficou claro pra mim e para Sam que “arte” é tudo aquilo que não se entende. (risos)– Senhora, chegamos – diz o taxista, me tirando do meu devaneio, paguei a corrida e fui em direção onde estava acontecendo a exposição.Me deparei com um bom público, aproveitei que o artista estava um pouco tranquilo e conversei com ele sobre sua obra.Claro que se mostrou muito satisfeito com o nosso trabalho na divulgação da exposição, fez menção de trabalharmos novamente, pois como ele mesmo disse: O surpreendemos da melhor maneira possível!Mostrou–se uma pessoa muito tranquila, falou do seu entusiasmo com a exposição, da sua inspiração e vinte minutos depois, já estava tudo certo, para o próximo contato, ficamos de nos falar depois, para formalizarmos o que for necessário.Conversamos mais um pouco, tiramos algumas fotos e sai, apanhando no caminho uma taça de um espumante que nos era servido.Quadros de todos os formatos e tamanhos, paisagens do campo contrastando com o nosso dia a dia, crianças sorrindo, enquanto bombeiros ao fundo apagavam um incêndio. E assim, sai passeando pela galeria conhecendo um pouco mais sobre as obras.Inesperadamente um singelo quadro chama minha atenção, algo não muito grande, porém retrata o cotidiano de uma mulher em seus detalhes, parei diante daquela imagem e comecei a contemplar um pouco de mim mesma.Havia nele uma estrada rodeada por árvores e aquela paisagem me conduziu a lembranças outrora engavetadas em algum lugar do meu ser.Não sei quanto tempo fiquei ali, parada, imóvel, totalmente alheia ao que se passava ao meu redor.Aquele quadro me prendeu de uma maneira acidental, não conseguia compreender tudo aquilo ao qual fui levada a relembrar. Não fazia ideia de que uma simples imagem pudesse me provocar tanto.Precisava de algo para beber, para digerir e quando fui me virar para sair em busca da bebida, pumba!...Lá estava eu, nos braços de uma pessoa, ao me virar, perdi o equilíbrio e fui amparada por aquelas mãos fortes e firmes, perceptivelmente pertencentes a alguém que ganha muito tempo se exercitando.Em poucos segundos, me vi nos braços de um estranho e quando meus olhos conseguiram sair do chão, foram ao encontro daquele que me segurou para que eu não me esparramasse.Minha cabeça parou, uma sensação esquisita começou a se espalhar pelo meu corpo, um tremor, comecei a sentir minhas mãos suarem.Meu coração acelerou, num ritmo que parecia que iria escapar pela boca. Não consegui sentir meu corpo, envolvido num magnetismo tão grande e absurdamente forte.Nossos olhos se apanham de uma forma que jamais tinha vivido até aquele momento, percebi minha boca se abrindo um pouco, como se buscasse uma forma de absorver aquele momento.Comecei a sentir um tremor interno, por estar sendo segurada por aquele homem.Mas o que estava acontecendo comigo?!?Não compreendia o que estava se passando, era como se nossos corpos estivessem em tamanha sintonia que chegaram a entrar em erupção, igual a um vulcão.O que era aquilo?Nunca me vi passando por uma situação semelhante.Quem era esse homem que estava provocando essa sensação?!?Mal conseguia sentir o ar, meu cérebro congelou, não conseguia me mexer, tamanha era a profundidade daquele toque, meu cérebro queria sair dali, porém meu corpo estava começando a ceder, a se entregar aquilo que estava nos acometendo.Senti um desejo incontrolável de me render aqueles lábios, tocar aquele rosto, me perder naquele cabelo, me perder naquele cheiro, sua pele, era como se estivéssemos num casulo e a forma de nos libertar, fosse nos entregar aquele sentimento, aquela sensação, aquela magia que estava a nos envolver.Que loucura era essa?Porque eu estava me sentindo dessa forma por estar sendo segurada por um estranho?Que magia era essa?Que sensações mais bizarras, mais esquisita, mais anormal, mais incomum.O que era tudo isso, afinal…Marcus StrausNossa quanta gente!Mas basta alguns “oi, como vai”, uma voltinha e pronto, posso ir embora!Acho que vou dar uma passada no bar do Bill para relaxar, jogar conversa fora e depois vou para casa.Não consigo entender como esses lugares atraem as pessoas, mas tudo bem, mesmo que eu venha a entender, nunca vou realmente me acostumar, pois sei o quanto divertido e alegre pode ser uma partida de basquetebol, isso sim eu entendo, agora uma vernissage, não me atrai em nada.Isso tudo é tão entediante para mim, prefiro a algazarra do jogo, a adrenalina da torcida, a gritaria, do que isso aqui, até o cheiro do hotdog, do pastel e da pizza, é mais suportável do que isso! Mas fazer o quê, faz parte, isso veio junto com o pacote ao me tornar quem sou hoje.Ninguém mandou Marcus, se tornar um CEO, se fosse um simples mortal, poderia estar esparramado no sofá de casa, assistindo ao campeonato e bebendo uma boa cerveja.Mas vamos lá, como sempre me lembro: Ossos do ofício!Não consigo ser ignorado, logo vêm os fotógrafos e toda galera da mídia, e começa aquele velho alvoroço em torno de mim, todos sentem a necessidade de me fotografar e outros fazem de tudo para se fazerem ser visto por mim. Como se suas atitudes fossem mudar alguma decisão que precise tomar.As pessoas não são criativas, querem de alguma forma se dar bem, seja em qualquer situação.Já tive que dar um basta em algumas figuras, que querem se aproveitar da "coincidência" em me encontrar. Como se isso fosse verdade, pois há uma logomarca da minha empresa, estampada em cada material de divulgação utilizado pelo cara que está expondo.É o maior saco, ter que aguentar mais isso, em um momento assim.Em meio aquela confusão criada, em meio aquele agito todo, algo me chama a atenção lá no fundo.Uma moça parada, lá no canto, não consigo prestar atenção em mais nada do que acontece ao meu redor e sou totalmente preso por aquela pessoa ali, distante, imóvel, mergulhada naquela paisagem a sua frente.Tento me desvencilhar das pessoas, da mídia, que estão em toda volta. Termino o mais rápido possível as fotos, os sorrisos, os comprimentos e caminho na direção daquela mulher.Quem é ela, não a conheço, não me lembro de vê-la por aí em outras exposições, em outros eventos.Ela me prende de uma maneira diferente.Sou tomado por uma necessidade enorme de ir até lá e caminho, sem ao menos entender o que está acontecendo.Me aproximo, bem devagar, sem despertá–la do seu momento.Não quero atrapalhar.O que é isso, afinal?Meu coração começou a acelerar o ritmo, sinto em meu corpo percorrer uma estranha força, nunca senti isso antes.O que está acontecendo comigo???É apenas uma garota, como tantas outras, mas percebo que algo de errado está ocorrendo, vou me aproximando, ficando cada vez mais perto, cada vez mais próximo.Sinto um enorme desejo de tocá-la, o que está acontecendo com meus sentimentos, consigo sentir cada vez mais forte aquele perfume (uma mistura de floral com cítrico).Aquela fragrância me invade, e sou tomado por uma sensação inexplicável, enquanto estou tentando entender o que está ocorrendo, inesperadamente estou com ela em meus braços, sinto meu corpo eletrificado, uma onda me atinge ao ponto dos cabelos de minha nuca se arrepiarem.Sou tomado por uma vontade incontrolável de beijá–la, sinto em meu corpo o desejo de tocá–la, de acariciar sua pele de uma forma jamais sonhada, sentir minha boca se deliciando ao explorá–la por inteiro, de mergulhar em seus cabelos, afundar minha boca em sua pele, atravessar cada barreira e lhe proporcionar algo jamais imaginado. Esse desejo ardente me consome, está me levando a um nível de loucura que jamais me vi passando.O que estou fazendo?!?O que é isso???Que pensamentos e sensações mais bizarras!!!Não consigo me reconhecer!Esse definitivamente não sou eu, o que é tudo isso, onde foi parar minha racionalidade.Que transtorno é esse???Que alucinação é esta???Que merda é essa afinal???“... Às vezes sentada no escuro desejando que você estivesse aqui começo a ficar louca... Mas é você que me faz perder a cabeça... – (Crazy for you – Adele)” Jessica Green Onde eu estava com a cabeça tropeçando assim em um homem! Tudo bem, não foi assim tão caótico, nem traumático, mas meu olhar embasbacado, literalmente babando, contemplando ele em toda a sua vivacidade, isso foi de mais!!! E o que falar sobre ser traída por meu próprio corpo, tudo bem, não sou nenhuma “senhora tive vários romances”, no entanto, ficar por aí parada nos braços de um estranho, totalmente de quatro pelo cara e mais, o que foi aquilo minha senhora??? Que energia estranha foi aquela, senti como se estivesse recebendo uma descarga elétrica contínua, e o desejo de sentir aquelas mãos me tocando, me acariciando, sentir aquela boca em mim. Nossaaaa, perdi o decoro completamente! E aquele aroma, uma coisa máscula, não era colônia, nem perfume, loção corporal talvez, xampu, hidratante, não sei, seja o que
Jessica Green Nada como dias comuns para receber o bálsamo merecido.O que aconteceu na quarta feira na exposição, já estava sendo digerido, o restante da semana seguia tranquilo e sem grandes novidades.Ali estava eu, esperando a Sam para almoçarmos juntas. Momentos depois, ela já estava ao meu lado no Cloud Bistrô onde eu havia feito nossa reserva. Nos acomodamos e realizamos nosso pedido. Desde que concluímos nossos estudos, ao menos uma vez por semana nos encontramos para almoçar, ou para jantar ou apenas para farrear. Sempre damos um jeitinho de ganharmos um tempinho juntas, para que o papo sempre esteja em dia ou até mesmo usamos esse tempo para relaxar e dar boas risadas. Sam é minha amiga desde a pré–escola, a partir daí, não conseguimos nos desligar, nos conhecemos muito bem e sabemos reconhecer quando algo não vai bem com a outra. Ao me ver sentada a mesa já foi logo perguntando:– E aí, como está sendo seus dias, quase não nos vemos mais, mesmo morando na mesma casa… d
Jessica Green Como voltar a minha rotina sem pensar naquele homem, chego a achar que estou precisando esfriar os sentimentos, as emoções. Esse homem não me sai da cabeça, que coisa! Nunca me vi vivendo algo assim, grudento demais, inoportuno demais, chato para caramba! – Relaxa Jesse, você precisa se concentrar (falo para mim mesma).– Aff, mas está difícil. Que sonho foi esse que tive noite passada... De repente me vejo numa sala, rodeada por lindos e aconchegantes móveis, uma mistura do colonial com moderno, à minha direita um lindo sofá branco em forma de C, tenho a impressão dele poder aconchegar umas dez pessoas muito à vontade e inesperadamente, sou despeça por uma linda melodia (1). Saio em busca de onde poderia vir aquele som e me deparo com um piano negro de cauda. Aquela melodia começa a me envolver, sou atraída por aqueles acordes magníficos que saem do piano, meus pés começam a percorrer o caminho até me aproximar dele. A cada passo, meu corpo começa a se render aque
Marcus StrausPronto, terminei por hoje, afinal, tenho algo muito importante a fazer. Estou bem esquisito, já tive tantas mulheres, me relacionei com algumas, me mantive sempre distante o suficiente, para não me envolver com tantas outras e não criar relacionamentos duradouros.Não que isso irá mudar, acredito que depois dessa conversa, iremos seguir nossas vidas. Sempre estive longe dessas chorumelas e melodramas, sem saco ou paciência para essas esquisitices. Mas agora estou eu, enfeitiçado por uma mulher! Como pode um homem feito como eu, estar assim, embasbacado por uma simples mulher. Não estou em busca de me envolver com ninguém, nem nada parecido, o que dizer sobre me relacionar, quero continuar assim, solteiro, livre e dono do meu destino.Porém, tenho que admitir que a senhorita Green mexe com minha cabeça, meus sentimentos ficam estranhos e o que dizer do meu corpo, ele fica de um jeito que não me reconheço. Ela não é só linda, mas ao que me parece, inteligente também, a
Jessica GreenUma moça se aproxima, cumprimenta com um largo sorriso e nos serve. O lugar é aconchegante. Passei pela pista de dança que fica no meio do salão, este lugar me faz lembrar de alguns pubs londrinos.Eu e Sam, fomos para Londres, na viagem de formatura. Mas este lugar aqui tem um pouco mais de requinte do que os lugares que conhecemos na viagem. Nossa mesa fica numa área privativa, muito embora bem localizada, temos visão da pista e do bar onde algumas pessoas se divertem. Hoje é sexta–feira, muita gente sai para se distrair. Sam irá gostar desse lugar, vou mencionar a ela, quem sabe não possamos vir aqui jantar.Não vou deixar me intimidar, afinal, de tímida não tenho nada se bem me lembro, e antes de tudo sou profissional e esse é um jantar de negócios. – Então, Senhor Straus, trouxe alguns prospectos que gostaria que visse, afinal, fomos sondados por sua corporação e apenas agora ganhamos a confiança de demonstrar nossa ideia, em como realizar o lançamento da nova
Jessica GreenNossa, caramba, nem consigo abrir os olhos, parece que alguém aqui deu uma boa extrapolada.É isso que dá, nem percebi, mas bebi sozinha tudo isso! Sobre a mesa de centro estava uma garrafa de Cabernet Sauvignon e no balcão da pia, mais duas. Nossa, dei uma boa exagerada, quero ver a conta dessa estrapolia. Agora entendo como consegui dormir.Saio, rumo a tomar um banho, hoje é sábado e nem sei o que fazer. Não planejei nada para o meu final de semana.Antes, passo pela cozinha, preciso de um bom café, afinal, essa ressaca, meu Deus, como consegui beber tanto?!?Me empurro rumo ao banheiro, abro a ducha e me deixo envolver pela água quente. Preciso dessa renovada que um bom banho pode causar a alguém que rompe com seus limites. E que limites rompi noite passada, gente, fui me deixando levar pelo vinho e agora estou eu aqui, tentando me refazer para não perder meu sábado. Vou dar uma caminhada, depois passo na rotisseria e vejo algo pra comprar para trazer para casa,
Como ele pôde se aproveitar dessa maneira???Parece que ele não está me ouvindo, parece alheio ao que estou falando, de repente, se vira e entra em seu carro que está estacionado bem a nossa frente. Mantém seu silêncio e posso ver em seus olhos, antes de entrar em seu carro, a incerteza, esperando apenas um posicionamento meu e a angústia começa a ser visível. Me rendo, baixo a guarda, mesmo porque, foi apenas um beijo, ele não me arrancou nenhum pedaço, não levou nada de mim embora. Foi apenas um beijo e nada mais!E em sua quietude, ele entra em seu carro e sai. E ali estou eu petrificada, dura, estática, sem saber o que fazer. Acho que não entendi?!?Ele vem atrás de mim, me segue, me beija e depois sai sem falar… nada! Absolutamente… nada! Respiro fundo, procurando me acalmar. Volto na loja, entrego os livros e vou embora, preciso me refazer. Não entendi nada, o que foi isso??? Preciso da Sam, mas sei que só a terei na segunda, preciso me aguentar até lá. Nossa quanto mais
Jessica GreenAs oito horas em ponto meu interfone anuncia: “Ele chegou”. Agradeci a portaria e fui conferir o resultado de tanta briga com o espelho. Acabei aceitando a dica da Sam e colocando o vestidinho rosa com alcinhas finas e aquele salto agulha combinando, realçava meu busto, porém nada indiscreto. Apanhei minha bolsa e fui, rumo ao elevador. A briga com a ansiedade já havia começado bem antes, quando os ponteiros do relógio mostravam a proximidade das horas, e por fim, o carro com o motorista me esperando, e cá estou eu, nervosa! Sinto minha respiração presa, pareço uma menininha inexperiente, não uma mulher resolvida e prática.Estou aquém do que costumo ser e isso leva meus nervos a frangalhos. Respiro fundo ao me deparar que o térreo é o próximo andar. Sai tentando maquiar meu nervosismo, comprimento o porteiro do prédio com um sorriso cordial e vou até a saída.Vejo–me aguardando o motorista das Indústrias Straus, caminho até ele. – Boa noite Ben!– Boa noite, senh