Ravenna
Quanto tempo ainda faltava para chegar a Seattle? Meus olhos se fixavam nas placas que cruzavam o caminho do ônibus onde eu estava, enquanto eu acariciava suavemente minha pequena barriga que começava a crescer
Cada dia mais distante do local que um dia eu chamei de lar. Cada dia mais distante dos horrores que vivi na mão de quem deveria me amar.
Um companheiro deveria representar, apoio, segurança e amor, mas Mason não era assim.
Mason era o oposto de tudo que planejei para minha vida.
Minha prisão, ou melhor, meu casamento, foi arranjado com o mais temido alfa de toda a região Sul. Não tinha uma alcateia que não evitasse passar perto dele. Infelizmente meu destino e o dele estavam cruzados, e por dois anos passei pelas piores atrocidades. Nem mesmo um prisioneiro de guerra sofria tanto quanto eu, nas mãos do Alfa, no caso, meu marido.
Mason só queria um filho e enquanto não conseguiu colocá-lo em meu ventre, ele não parou. Quanto mais eu pedia por piedade, mais violento ele se tornava, me deixando devastada e machucada no dia seguinte. Quando pôr fim a boa notícia chegou, ela foi afastada pelo desejo de um filhote Macho.
“Não aceito nada menos do que um filhote macho, Ravenna. Não traga ao mundo uma coisa insignificante e fraca como você.” Ele me disse. “Faça o que lhe ordeno, ou matarei sua cria assim que nascer.” Meus pelos se arrepiaram, pois eu sabia que ele não blefava. Daquele dia em diante, a única coisa que eu pensava era em como fugir das garras daquele desgraçado e salvar o meu bebê.
Algumas semanas depois, ludibriei alguns guardas, passando pelas brechas que eu conhecia melhor do que eles. Corri sabendo que minha vida dependia daquilo e entre matas e asfaltos, mirei a cidade onde algo dentro de mim dizia que seria a minha salvação.
Ao chegar em Seattle, senti uma mistura de alívio e apreensão. A cidade era vasta e movimentada, um labirinto de arranha-céus e luzes brilhantes. Algo totalmente diferente do que eu estava acostumada em meu lar.
No entanto, antes que eu pudesse sequer começar a me ambientar, o destino cruel decidiu testar minha coragem novamente. Enquanto caminhava pelas ruas, tentando não chamar a atenção pelas roupas sujas e desleixadas, fui abordada por um grupo de humanos.
"Oi lindinha, perdida?" minha loba rosnou em resposta, porém a única coisa que consegui tirar deles, foi uma gargalhada.
"A moça é brava. O que vai fazer, nos morder?" novamente todos riram e tremi, preocupada.
"Pegue a mochila dela." um homem maior se aproximou e puxou a mochila dos meus ombros, fazendo com que meus pertences caísses ao chão.
"Não tem nada de valor aqui, chefe." senti o cheiro de pólvora se espalhar com seus movimentos e minha loba entrou em alerta, sabendo que eu não poderia derrubar todos eles de uma vez, sem que a arma fosse sacada.
"Para onde está indo?" perguntou novamente o que parecia liderar o grupo.
"Não sei." falei sucinta, mantendo minha voz baixa.
"Não sabe? É o quê? Uma nova vagabunda procurando clientes?" ele se aproximou, afastando meu cabelo para o lado e avaliando meu perfil. "Não é de se jogar fora, mas precisa de um banho." todos voltaram a rir e aproveitei o momento para usar minha força para empurrá-lo contra os homens e correr o mais rápido que podia.
"VADIA! EU VOU TE..." Não consegui terminar de ouvir o que eles tinham a dizer, com minha agilidade eu já tinha virado a esquina.
Trombei em alguns pedestres e acabei caindo, mas me levantei rápido, voltando a correr, tentando focar minha visão para que novos acidentes não acontecessem, mas era inevitável.
Corri desesperadamente, minha mente turva pela irritação e pela dor. Cada passo era uma luta contra a escuridão que ameaçava me consumir só de pensar em voltar para as agressões que sofria diariamente. Olhei para trás tentando observar se já tinha me afastado o suficiente do grupo de homens, quando me choquei contra uma parede.
Caí no chão com força, sentindo meus ossos estralarem. Meus joelhos estavam ralados, minhas mãos tremiam de dor e minha mente tentava identificar no que eu tinha acabado de trombar.
Olhei para cima, vislumbrando o rosto de um estranho que se erguia sobre mim. Ele tinha uma expressão de surpresa, seus olhos azuis, encontrando os meus com uma intensidade que me fez estremecer.
Era como se em algum momento de minha vida, aqueles lindos olhos já tivessem me observado de perto, e pudesse desvendar todos os meus segredos mais profundos. Um arrepio delicioso correu por minha pele, me fazendo corar.
"Você está bem?" Sua voz era grave e levemente rouca, cheia de preocupação. Eu queria acreditar nele, queria confiar que sua oferta de ajuda não era apenas uma ilusão. Mas o medo ainda pulsava dentro de mim, uma constante lembrança de todos os perigos que enfrentei. Eu mal conseguia articular palavras, minha voz falhando em um sussurro rouco.
"Eu... eu não sei. Estou com medo de ter machucado o bebê." As palavras escaparam de mim, carregadas de medo e incerteza.
O estranho se ajoelhou ao meu lado, seus olhos percorrendo meu corpo machucado com cuidado. Sua expressão era uma mistura de poder e tranquilidade.
O homem me pegou nos braços como se eu não pesasse nada e entrou em um imponente prédio que estava a suas costas. Todos no lugar nos olhavam abismados com a situação.
"Senhor Reynolds, como posso ajudá-lo." uma mulher pequena e ruiva, parecia aflita ao seu lado. Ela corria ao seu redor, fazendo o homem bufar de irritação.
"Avise a enfermaria que estamos chegando. A senhora está gravida e precisa de cuidados." sua voz reverberou por todo o lugar, calando a todos que continuavam a nos observar.
"Claro, senhor. Agora mesmo." a humana saiu correndo, enquanto o homem esperava pacientemente que o elevador chegasse ao andar onde estávamos.
"Pode me colocar no chão, eu posso andar." falei segurando um soluço que queria escapar por meus lábios.
"Suas palavras foram: estou com medo de ter machucado o meu bebê, não vamos deixar que isso aconteça, não é?" engoli em seco, vendo ele analisar novamente meu rosto, e me encolhi em seus braços, tentando não chamar mais atenção do que já estava fazendo.
O elevador chegou e as portas se fecharam ao nosso redor. Sua respiração se tornou mais lenta e ritmada.
"De quem está fugindo, loba?" meus olhos se voltaram para ele, alarmados e só então percebi que estava diante de um lobisomem.
BenjaminA reação da mulher em meus braços, me fez ficar ainda mais em alerta. Não era incomum, lobos errantes aparecerem em nossa porta pedindo ajuda, porém uma loba grávida naquele estado..."Não vai responder minha pergunta?" perguntei novamente assim que a porta do elevador se abriu e Valery, minha assistente, já estava do lado de fora junto com a enfermeira."Por aqui senhor." segui a mulher até a sala preparada para tender os acidentes de trabalho que poderiam ocorrer em nossa empresa. Pousei-a sobre a maca e ela se encolhei escondendo o rosto nos joelhos. Aquilo chamou a atenção de todos, e Valery se aproximou de mim."Devo chamar a polícia?" ela sussurrou, mas a loba se virou imediatamente para nós."Não preciso de polícia." sua voz vibrou em um rosnado profundo."Eu resolvo isso, Valery. Volte para o meu escritório e peça para o Ton me ligar, assim que possível." ela concordou e saiu. Ao abrir a porta, vários funcionários estavam amontoados na frente da sala esperando alguma
Ravenna"A história toda é muito longa." falei me afastando dele. "Por acaso, hoje eu não tenho mais nenhuma reunião. Você trombou em mim quando eu estava de saída." seu sorriso, mexia com minha loba, e isso era estranho."Eu preciso sair do país, só isso. Eu não posso voltar para casa, sou uma loba errante, senhor Reynolds." aquelas palavras apareceram irritá-lo e ele me olhou com maior severidade."Acredito que o pai do bebê que carrega, não pense isso." tremi com a menção de Mason.Aquele homem odioso, me mataria assim que colocasse suas mãos em mim. Eu sabia que não tinha escolha quando resolvi fugir para nos salvar. "Ele pensa pior." ri da minha desgraça e aquilo pareceu chamar sua atenção de alguma forma."Tem certeza, que nunca nos vimos antes?" sua desconfiança me deixou agitada. Pela posição de meu marido, era claro que ele teria me visto em alguma das reuniões. Os alfas e suas famílias sempre eram convidados para fazer parte da cúpula do alfa supremo, relatando os aconteci
BenjaminMeu lobo queria rasgar sua garganta, tamanha era a falta de prudência daquela loba. Ela não era de nossa região, não conhecia nada aqui, e achava que estava segura ao andar pelas matas sem supervisão."Idiota." Rosnei alto, enquanto a carregava ainda em meus braços, desacordada. Entramos no estacionamento do subsolo do hospital, onde uma equipe médica já nos aguardava. Todos ali eram lobos e sabiam quem eu era."Senhor, coloque-a aqui." rosnei, fazendo o que ele pediu e o homem gemeu. "Cuidaremos muito bem da senhora." "Faça seu melhor. Não sei se a armadilha estava envenenada." ele confirmou, pedindo um toxicológico e correndo pelos corredores com ela.Olhei para meus homens que me olhavam com interesse. "Sumam daqui." todos abaixaram as cabeças e desapareceram.Fiquei andando de um lado a outro tentando acalmar meu lobo que uivava irado em minha mente, como um bicho enjaulado. Respirei algumas vezes, até que meu celular tocou e o atendi instantaneamente."Ton?" falei de fo
Benjamin "Senhor Reynolds, saia do quarto, por favor." olhei para toda a situação e concordei, sabendo que não conseguiria ajudar em nada, naquele momento. Meus braços e minha roupa estavam manchados com o sangue dela e me direcionei até o banheiro para me lavar. Não conseguia entender por que aquela loba estava mexendo tanto com meus sentidos. Nunca tive a necessidade de resolver os problemas causados por lobos errantes, como eu sentia por ela. Algo estava me prendendo aquela loba e eu não conseguia identificar o que era. Sai do banheiro, dobrando a manga manchada da camisa e liguei para minha assistente. "Valery, traga uma troca de roupas para mim. Estou no Memorial Trenton." minha assistente se assustou, mas cortei seu desespero. "Apenas uma calça e uma camiseta são suficientes." desliguei sem esperar a mulher falar mais nada. Eu não estava com paciência para o drama humano. Enquanto aguardava, minha mente continuava a girar em torno de Ravenna. Seus olhos, cheios de determina
RavennaAcordei vendo tubos presos aos meus braços, e aparelhos a minha barriga. O monitor cardíaco era acompanhado por um monitor fetal."O que aconteceu?" falei ao sussurro vendo a enfermeira anotar os resultados em uma prancheta."Senhora Miller, que bom que acordou. Estávamos preocupados." tentei levar a mão a barriga, mas meus movimentos foram parados por amarras em meu braço e a olhei assustada. "Oh, sinto muito, já vou soltá-la. A senhora tentou arrancar os fios enquanto dormia, tivemos que prendê-la até que acordasse e não fizesse mais isso.""Por que eu tenho que ficar conectada a essa máquina?" questionei, olhando pelo quarto e vendo que não havia mais ninguém."Não sou a pessoa certa a lhe dar essa informação, vou pedir para que o médico venha vê-la e tire todas as suas dúvidas." concordei me sentindo emotiva. Novamente olhei pelo quarto, esperando que alguém estivesse ali para me apoiar naquele momento, contudo eu sabia que não tinha ninguém. Não tinha por quem esperar."
BenjaminVê-la naquela situação mexeu com meu lobo, algo se partiu dentro do meu peito de uma forma que eu não esperava. Não conhecia aquela mulher, mas desejava cuidar dela, como cuidava das mulheres de minha família e aquilo era uma coisa apavorante."Não precisa ser em sua casa, senhor. Pode ser em um quartinho qualquer, prometo pagar todas as despesas assim que conseguir um emprego." sorri com raiva."Não se preocupe quanto a isso, minha empresa tem uma fundação para lobos errantes, você será colocada no programa de proteção." menti. Mesmo que isso existisse, o processo para entrar não era tão simples quanto eu queria que parecesse. Muitas pesquisas eram feitas, para saber a real procedência do lobo e se nossa alcateia não correria riscos."Descanse Ravenna, vou providenciar tudo o que for necessário." dei uma última olhada em sua barriga ainda exposta, com os fios ligados ao monitor. Um rosnado baixo saiu de meus lábios involuntariamente, e me virei, saindo do quarto e indo em
RavennaAs últimas palavras daquele lobo me deixaram atordoadas. A postura impecável e o olhar severo, não haviam me mostrado aquele lado dele. O flerte foi involuntário e senti uma louca vontade de rir assim que ele fechou a porta.Não espera por nada daquilo. Nem roupas, nem uma casa como aquela, muito menos a atenção. Nada disso esteve presente nos meus últimos dois anos. Peguei uma calça de moletom e uma blusa regata dentro da gaveta. Explorei o restante do closet localizando algumas lingeries e pantufas, e me animei as abraçando. Estava com saudades de roupas limpas.Fui até o banheiro e percebi que vários produtos de higiene pessoal já me esperavam. O shampoo e o condicionador, eram de capim-limão, uma fragrância suave e refrescante, assim como o cheiro dele. Sorri involuntariamente com esse pensamento.Tomei um banho rápido para evitar ficar de pé por muito tempo e me vesti, sentindo as roupas se acomodarem perfeitamente em meu corpo. Enrolei a toalha em meu longo cabelo e cal
Benjamin Esperei até que ela saísse do banheiro, mas os segundos foram se transformando em minutos e nada dela abrir aquela porta. Meu lobo estava agitado e me incentivava a interferir em sua privacidade, enquanto meu lado humano esperava por sua permissão. "Ravenna, está tudo bem?" perguntei depois de algum tempo, abrindo e fechando minhas mãos, para tentar afastar a ansiedade que corroía meu corpo. Não havia respostas, apenas uma série de barulhos que me faziam crer que minha escolha de alimentos não tinha sido das melhores. Me sentei na cama, secando minhas mãos suadas na calça de moletom e olhando fixamente para a porta, apenas esperando a deixa que me fizesse arrombá-la. Não demorou muito até que ouvi seu choro baixinho e me levante, forçando a fechadura com mais força que o necessário. Encontrei Ravenna sentada no chão, com a cabeça encostada no azulejo e respirando rápido. Seu peito se movimentava de forma acelerada, acompanhando as lágrimas que escorriam por seu rosto. "