3. A fuga

Ravenna

"A história toda é muito longa." falei me afastando dele. 

"Por acaso, hoje eu não tenho mais nenhuma reunião. Você trombou em mim quando eu estava de saída." seu sorriso, mexia com minha loba, e isso era estranho.

"Eu preciso sair do país, só isso. Eu não posso voltar para casa, sou uma loba errante, senhor Reynolds." aquelas palavras apareceram irritá-lo e ele me olhou com maior severidade.

"Acredito que o pai do bebê que carrega, não pense isso." tremi com a menção de Mason.

Aquele homem odioso, me mataria assim que colocasse suas mãos em mim. Eu sabia que não tinha escolha quando resolvi fugir para nos salvar. 

"Ele pensa pior." ri da minha desgraça e aquilo pareceu chamar sua atenção de alguma forma.

"Tem certeza, que nunca nos vimos antes?" sua desconfiança me deixou agitada. Pela posição de meu marido, era claro que ele teria me visto em alguma das reuniões. Os alfas e suas famílias sempre eram convidados para fazer parte da cúpula do alfa supremo, relatando os acontecimentos em cada território. Participei três vezes desde que me casei.

"Tenho plena certeza de não o ter visto antes, senhor. Como pode ver, não estamos no mesmo círculo social." apontei para minhas roupas, mas ele continuou a me observar.

"Se é o que diz," deu de ombro e voltou a analisar meus machucados. "Vou providenciar um local para ficar, assim podemos conversar tranquilamente, enquanto se recupera." mordi o lábio o vendo sair da sala. "Me siga, sra. Miller." fiz o que ele pediu, sentindo meus sentidos de lobo se espalharem pelo local.

Passando por algumas salas com paredes de vidro, eu podia ver as cabeças se virando para mim. A curiosidade invadia o lugar e as atenções estavam todas voltadas para o meu ser.

Entramos no elevador e suspirei, ao sentir o cheiro do lobo invadir o pequeno espaço. Era terroso e almiscarado, uma mistura incomum.

"Você não é puro." falei em voz alta e arregalei os olhos percebendo a quão indelicada eu tinha sido. "Sinto muito." abaixei a cabeça, envergonhada.

"Isso não é novidade para ninguém, que minha mãe era humana, quando me gerou." voltei a olhá-lo nos olhos, de um azul vibrante. 

"Híbrido, filho de um alfa. Isso é mesmo possível?" meu coração saltou ainda mais forte no peito.

"É o que sou." disse abrindo os braços me fazendo encará-lo. Ruborizei quando meus olhos percorreram perigosamente seu corpo, e virei o rosto. Seu riso, fez com que eu me sentisse ainda pior.

"Não precisa ter vergonha de me perguntar as coisas, Ravenna, eu não sou tão mal quanto pareço." concordei ainda com a cabeça baixa, sentindo minha loba se inflar, o que era incomum.

Ela nunca tinha tido essa reação com Mason, na verdade, o que nós duas compartilhávamos com ele, era medo e dor. Cada vez que ele entrava no quarto, eu só pedia para morrer. 

"Está me ouvindo, Ravenna?" pisquei várias vezes, até focá-lo novamente. "Sua mente a levou para longe." Benjamin segurava a porta do elevador, do lado de fora, esperando que eu saísse.

"Sinto muito." falei passando por ele, e o seguindo até a entrada da empresa, onde nos esbarramos pela primeira vez.

Parei ao seu lado enquanto ele ligava para o seu motorista. Suas palavras eram rápidas e assertivas, mas algo não estava certo. Ouvi um rosnado, após outro sair de seus lábios, e entendi que meu paradeiro deveria ter sido descoberto.

Meu coração batia descompassado enquanto eu observava Benjamin ocupado com seu celular. Era agora ou nunca. Eu precisava fugir antes que ele descobrisse a verdade sobre mim, antes que descobrisse o perigo que eu representava.

Silenciosamente, deslizei para o lado, me afastando alguns metros dele, aproveitando cada segundo de distração. Meus passos eram leves e rápidos, guiados pelo medo e pela urgência de escapar. Eu precisava desaparecer, encontrar um jeito de sair deste país antes que fosse tarde demais.

Assim que Benjamin se virou, eu comecei a correr para o lado oposto, sentindo o vento ricochetear em meu rosto. Meus machucados, enfaixados, latejavam, pois não tiveram tempo de se curar adequadamente.

Tranquei os dentes, tentando não sucumbir a dor, e corri, até que uma vegetação se estendesse a minha frente. 

Quando finalmente achei o que queria, a noite já se estendia no céu e parei amparando minhas mãos nas pernas tremulas.

"Estamos bem, querida. Eu sei que estamos." alisei minha barriga. 

Voltei a andar, sentindo meu corpo protestar. Resolvi que o melhor seria me transformar. Meu corpo de lobo, era mais adaptado as regiões de mata fechada. 

Tirei a roupa que usava e me transformei, pegando-as com a boca e as carregando comigo. Voltei a correr, sentindo meu corpo menos, dolorido.

Cada passo na mata era uma luta contra a escuridão que ameaçava me engolir. Meus sentidos estavam aguçados, alertas para qualquer sinal de perigo iminente, mas nada poderia me deter, nem mesmo o medo que me consumia por dentro.

De repente, um estalo ecoou na floresta, seguido por uma dor lancinante em minha pata. Gritei de agonia, mas não havia ninguém por perto para ouvir. A armadilha me prendeu, imobilizando-me em um instante de desespero. 

Olhei para minha pata, presa em uma armadilha de caçadores, e uivei de dor. O sangue gotejava, aumenta minha agonia.

"Oh Deusa, me leve desse mundo, eu não aguento mais sofrer." gritei desesperada.

Transformei-me em humana, mas minhas mãos tremiam de fraqueza. Não havia forças suficientes para me soltar. Em um último ato de desespero, transformei-me novamente em loba, uivando alto na esperança de que alguém da alcateia mais próxima pudesse me encontrar.

Chorei tanto que não senti a presença de quem eu menos esperava.

Com seus rastreadores, Benjamin surgiu diante de mim. Seus olhos refletiam fúria e preocupação, enquanto ele se aproximava da armadilha.

"Nos encontramos de novo, senhora Miller." ele disse com voz firme, levantando delicadamente minha perna traseira e observando o estrago. Seus dedos habilmente trabalharam para liberar minha pata da armadilha. O alívio inundou meu ser quando com um estalo a armadilha foi retirada. Gemi sentindo a dor se alastrar ainda mais profundamente, onde os dentes do objeto se infiltraram.

Benjamin, me pegou no colo, ainda em meu formato de loba. Eu estava desfalecida e não tinha forças nem para levantar minha cabeça para agradecê-lo.

"Reze para a armadilha não estar envenenada." sua voz estava cruel.

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