Ravenna
"A história toda é muito longa." falei me afastando dele.
"Por acaso, hoje eu não tenho mais nenhuma reunião. Você trombou em mim quando eu estava de saída." seu sorriso, mexia com minha loba, e isso era estranho.
"Eu preciso sair do país, só isso. Eu não posso voltar para casa, sou uma loba errante, senhor Reynolds." aquelas palavras apareceram irritá-lo e ele me olhou com maior severidade.
"Acredito que o pai do bebê que carrega, não pense isso." tremi com a menção de Mason.
Aquele homem odioso, me mataria assim que colocasse suas mãos em mim. Eu sabia que não tinha escolha quando resolvi fugir para nos salvar.
"Ele pensa pior." ri da minha desgraça e aquilo pareceu chamar sua atenção de alguma forma.
"Tem certeza, que nunca nos vimos antes?" sua desconfiança me deixou agitada. Pela posição de meu marido, era claro que ele teria me visto em alguma das reuniões. Os alfas e suas famílias sempre eram convidados para fazer parte da cúpula do alfa supremo, relatando os acontecimentos em cada território. Participei três vezes desde que me casei.
"Tenho plena certeza de não o ter visto antes, senhor. Como pode ver, não estamos no mesmo círculo social." apontei para minhas roupas, mas ele continuou a me observar.
"Se é o que diz," deu de ombro e voltou a analisar meus machucados. "Vou providenciar um local para ficar, assim podemos conversar tranquilamente, enquanto se recupera." mordi o lábio o vendo sair da sala. "Me siga, sra. Miller." fiz o que ele pediu, sentindo meus sentidos de lobo se espalharem pelo local.
Passando por algumas salas com paredes de vidro, eu podia ver as cabeças se virando para mim. A curiosidade invadia o lugar e as atenções estavam todas voltadas para o meu ser.
Entramos no elevador e suspirei, ao sentir o cheiro do lobo invadir o pequeno espaço. Era terroso e almiscarado, uma mistura incomum.
"Você não é puro." falei em voz alta e arregalei os olhos percebendo a quão indelicada eu tinha sido. "Sinto muito." abaixei a cabeça, envergonhada.
"Isso não é novidade para ninguém, que minha mãe era humana, quando me gerou." voltei a olhá-lo nos olhos, de um azul vibrante.
"Híbrido, filho de um alfa. Isso é mesmo possível?" meu coração saltou ainda mais forte no peito.
"É o que sou." disse abrindo os braços me fazendo encará-lo. Ruborizei quando meus olhos percorreram perigosamente seu corpo, e virei o rosto. Seu riso, fez com que eu me sentisse ainda pior.
"Não precisa ter vergonha de me perguntar as coisas, Ravenna, eu não sou tão mal quanto pareço." concordei ainda com a cabeça baixa, sentindo minha loba se inflar, o que era incomum.
Ela nunca tinha tido essa reação com Mason, na verdade, o que nós duas compartilhávamos com ele, era medo e dor. Cada vez que ele entrava no quarto, eu só pedia para morrer.
"Está me ouvindo, Ravenna?" pisquei várias vezes, até focá-lo novamente. "Sua mente a levou para longe." Benjamin segurava a porta do elevador, do lado de fora, esperando que eu saísse.
"Sinto muito." falei passando por ele, e o seguindo até a entrada da empresa, onde nos esbarramos pela primeira vez.
Parei ao seu lado enquanto ele ligava para o seu motorista. Suas palavras eram rápidas e assertivas, mas algo não estava certo. Ouvi um rosnado, após outro sair de seus lábios, e entendi que meu paradeiro deveria ter sido descoberto.
Meu coração batia descompassado enquanto eu observava Benjamin ocupado com seu celular. Era agora ou nunca. Eu precisava fugir antes que ele descobrisse a verdade sobre mim, antes que descobrisse o perigo que eu representava.
Silenciosamente, deslizei para o lado, me afastando alguns metros dele, aproveitando cada segundo de distração. Meus passos eram leves e rápidos, guiados pelo medo e pela urgência de escapar. Eu precisava desaparecer, encontrar um jeito de sair deste país antes que fosse tarde demais.
Assim que Benjamin se virou, eu comecei a correr para o lado oposto, sentindo o vento ricochetear em meu rosto. Meus machucados, enfaixados, latejavam, pois não tiveram tempo de se curar adequadamente.
Tranquei os dentes, tentando não sucumbir a dor, e corri, até que uma vegetação se estendesse a minha frente.
Quando finalmente achei o que queria, a noite já se estendia no céu e parei amparando minhas mãos nas pernas tremulas.
"Estamos bem, querida. Eu sei que estamos." alisei minha barriga.
Voltei a andar, sentindo meu corpo protestar. Resolvi que o melhor seria me transformar. Meu corpo de lobo, era mais adaptado as regiões de mata fechada.
Tirei a roupa que usava e me transformei, pegando-as com a boca e as carregando comigo. Voltei a correr, sentindo meu corpo menos, dolorido.
Cada passo na mata era uma luta contra a escuridão que ameaçava me engolir. Meus sentidos estavam aguçados, alertas para qualquer sinal de perigo iminente, mas nada poderia me deter, nem mesmo o medo que me consumia por dentro.
De repente, um estalo ecoou na floresta, seguido por uma dor lancinante em minha pata. Gritei de agonia, mas não havia ninguém por perto para ouvir. A armadilha me prendeu, imobilizando-me em um instante de desespero.
Olhei para minha pata, presa em uma armadilha de caçadores, e uivei de dor. O sangue gotejava, aumenta minha agonia.
"Oh Deusa, me leve desse mundo, eu não aguento mais sofrer." gritei desesperada.
Transformei-me em humana, mas minhas mãos tremiam de fraqueza. Não havia forças suficientes para me soltar. Em um último ato de desespero, transformei-me novamente em loba, uivando alto na esperança de que alguém da alcateia mais próxima pudesse me encontrar.
Chorei tanto que não senti a presença de quem eu menos esperava.
Com seus rastreadores, Benjamin surgiu diante de mim. Seus olhos refletiam fúria e preocupação, enquanto ele se aproximava da armadilha.
"Nos encontramos de novo, senhora Miller." ele disse com voz firme, levantando delicadamente minha perna traseira e observando o estrago. Seus dedos habilmente trabalharam para liberar minha pata da armadilha. O alívio inundou meu ser quando com um estalo a armadilha foi retirada. Gemi sentindo a dor se alastrar ainda mais profundamente, onde os dentes do objeto se infiltraram.
Benjamin, me pegou no colo, ainda em meu formato de loba. Eu estava desfalecida e não tinha forças nem para levantar minha cabeça para agradecê-lo.
"Reze para a armadilha não estar envenenada." sua voz estava cruel.
BenjaminMeu lobo queria rasgar sua garganta, tamanha era a falta de prudência daquela loba. Ela não era de nossa região, não conhecia nada aqui, e achava que estava segura ao andar pelas matas sem supervisão."Idiota." Rosnei alto, enquanto a carregava ainda em meus braços, desacordada. Entramos no estacionamento do subsolo do hospital, onde uma equipe médica já nos aguardava. Todos ali eram lobos e sabiam quem eu era."Senhor, coloque-a aqui." rosnei, fazendo o que ele pediu e o homem gemeu. "Cuidaremos muito bem da senhora." "Faça seu melhor. Não sei se a armadilha estava envenenada." ele confirmou, pedindo um toxicológico e correndo pelos corredores com ela.Olhei para meus homens que me olhavam com interesse. "Sumam daqui." todos abaixaram as cabeças e desapareceram.Fiquei andando de um lado a outro tentando acalmar meu lobo que uivava irado em minha mente, como um bicho enjaulado. Respirei algumas vezes, até que meu celular tocou e o atendi instantaneamente."Ton?" falei de fo
Benjamin "Senhor Reynolds, saia do quarto, por favor." olhei para toda a situação e concordei, sabendo que não conseguiria ajudar em nada, naquele momento. Meus braços e minha roupa estavam manchados com o sangue dela e me direcionei até o banheiro para me lavar. Não conseguia entender por que aquela loba estava mexendo tanto com meus sentidos. Nunca tive a necessidade de resolver os problemas causados por lobos errantes, como eu sentia por ela. Algo estava me prendendo aquela loba e eu não conseguia identificar o que era. Sai do banheiro, dobrando a manga manchada da camisa e liguei para minha assistente. "Valery, traga uma troca de roupas para mim. Estou no Memorial Trenton." minha assistente se assustou, mas cortei seu desespero. "Apenas uma calça e uma camiseta são suficientes." desliguei sem esperar a mulher falar mais nada. Eu não estava com paciência para o drama humano. Enquanto aguardava, minha mente continuava a girar em torno de Ravenna. Seus olhos, cheios de determina
RavennaAcordei vendo tubos presos aos meus braços, e aparelhos a minha barriga. O monitor cardíaco era acompanhado por um monitor fetal."O que aconteceu?" falei ao sussurro vendo a enfermeira anotar os resultados em uma prancheta."Senhora Miller, que bom que acordou. Estávamos preocupados." tentei levar a mão a barriga, mas meus movimentos foram parados por amarras em meu braço e a olhei assustada. "Oh, sinto muito, já vou soltá-la. A senhora tentou arrancar os fios enquanto dormia, tivemos que prendê-la até que acordasse e não fizesse mais isso.""Por que eu tenho que ficar conectada a essa máquina?" questionei, olhando pelo quarto e vendo que não havia mais ninguém."Não sou a pessoa certa a lhe dar essa informação, vou pedir para que o médico venha vê-la e tire todas as suas dúvidas." concordei me sentindo emotiva. Novamente olhei pelo quarto, esperando que alguém estivesse ali para me apoiar naquele momento, contudo eu sabia que não tinha ninguém. Não tinha por quem esperar."
BenjaminVê-la naquela situação mexeu com meu lobo, algo se partiu dentro do meu peito de uma forma que eu não esperava. Não conhecia aquela mulher, mas desejava cuidar dela, como cuidava das mulheres de minha família e aquilo era uma coisa apavorante."Não precisa ser em sua casa, senhor. Pode ser em um quartinho qualquer, prometo pagar todas as despesas assim que conseguir um emprego." sorri com raiva."Não se preocupe quanto a isso, minha empresa tem uma fundação para lobos errantes, você será colocada no programa de proteção." menti. Mesmo que isso existisse, o processo para entrar não era tão simples quanto eu queria que parecesse. Muitas pesquisas eram feitas, para saber a real procedência do lobo e se nossa alcateia não correria riscos."Descanse Ravenna, vou providenciar tudo o que for necessário." dei uma última olhada em sua barriga ainda exposta, com os fios ligados ao monitor. Um rosnado baixo saiu de meus lábios involuntariamente, e me virei, saindo do quarto e indo em
RavennaAs últimas palavras daquele lobo me deixaram atordoadas. A postura impecável e o olhar severo, não haviam me mostrado aquele lado dele. O flerte foi involuntário e senti uma louca vontade de rir assim que ele fechou a porta.Não espera por nada daquilo. Nem roupas, nem uma casa como aquela, muito menos a atenção. Nada disso esteve presente nos meus últimos dois anos. Peguei uma calça de moletom e uma blusa regata dentro da gaveta. Explorei o restante do closet localizando algumas lingeries e pantufas, e me animei as abraçando. Estava com saudades de roupas limpas.Fui até o banheiro e percebi que vários produtos de higiene pessoal já me esperavam. O shampoo e o condicionador, eram de capim-limão, uma fragrância suave e refrescante, assim como o cheiro dele. Sorri involuntariamente com esse pensamento.Tomei um banho rápido para evitar ficar de pé por muito tempo e me vesti, sentindo as roupas se acomodarem perfeitamente em meu corpo. Enrolei a toalha em meu longo cabelo e cal
Benjamin Esperei até que ela saísse do banheiro, mas os segundos foram se transformando em minutos e nada dela abrir aquela porta. Meu lobo estava agitado e me incentivava a interferir em sua privacidade, enquanto meu lado humano esperava por sua permissão. "Ravenna, está tudo bem?" perguntei depois de algum tempo, abrindo e fechando minhas mãos, para tentar afastar a ansiedade que corroía meu corpo. Não havia respostas, apenas uma série de barulhos que me faziam crer que minha escolha de alimentos não tinha sido das melhores. Me sentei na cama, secando minhas mãos suadas na calça de moletom e olhando fixamente para a porta, apenas esperando a deixa que me fizesse arrombá-la. Não demorou muito até que ouvi seu choro baixinho e me levante, forçando a fechadura com mais força que o necessário. Encontrei Ravenna sentada no chão, com a cabeça encostada no azulejo e respirando rápido. Seu peito se movimentava de forma acelerada, acompanhando as lágrimas que escorriam por seu rosto. "
Benjamin "Eu preciso de respostas." falei apertando o copo em minha mão até ouvi-lo estralar com a pressão. "Me dê isso aqui, não precisamos de mais problemas." Connor arrancou o copo de mim e analisou minha postura. "Trazê-la para cá foi um desafio claro ao meu pai. Preciso que mantenha a descrição." ele me olhou surpreso e passei a mão com força por meu cabelo, o segurando no final e dando um leve puxão. "Por que está fazendo isso?" o encarei de forma mortal, e ele levantou as mãos. "Benji, eu só quero entender. Você nunca trouxe ninguém que não fosse da sua família para esse apartamento. Agora simplesmente traz uma desconhecida e ignora as ordens do alfa?" suas palavras me deixaram desconfortável e me sentei a poltrona do outro lado da sacada, abaixando minha cabeça entre as pernas, tentando deixar que minhas ideias se reformulassem. "Eu não sei explicar, só preciso de tempo." voltei a me sentar e respirei fundo. "Só mais alguns dias para entender." Connor se aproximou com cuid
RavennaSeu comentário me deixou mexida. A forma que ele me olhava estava diferente e arrumei minha postura abaixando a cabeça, para não ter mais que encarar sua intensidade azul."Peço desculpas novamente." falei olhando para o chão."Ravenna, se eu estivesse incomodado, você não estaria aqui, concorda?" seu indicador levantou meu queixo e o encarei. "Não faço nada que eu não tenha vontade, lembre-se disso." ele sorriu de forma enigmática, soltando meu queixo."Vou tentar me lembrar." dei um passo para trás, saindo de perto de seu corpo, que parecia chamar pelo meu de uma forma nova."Deveria ir se deitar. O médico disse que seu estado ainda é delicado, e que as contrações do seu estomago podem piorar o caso." ele cruzou os braços e suspirei baixo."Me sinto entediada, só isso. Teria algum livro que poderia me emprestar?" ele concordou e segurou meu pulso, me fazendo segui-lo."Pode vir até o meu escritório, quando quiser." ele abriu a porta que ficava em frente ao meu quarto.Um esc