Era, definitivamente um clube subterrâneo com dois andares. E estava a toda. Pessoas dançavam e bebiam ao som da batida alucinante, a iluminação era pouca, exceto pelas luzes néon em meio a toda fumaça cinzenta que impregnava o ar. Cheiro de álcool, sexo e drogas eram um dos aromas detectáveis, e Alana franziu o cenho para isso.
Viu Vincent começar a se mover por meio da multidão de corpos agitados, cortando caminho pelas pessoas que tentavam o apalpar, tirar uma casquinha daquele deus grego, e apressou-se em segui-lo, tomando cuidado com as mãos bobas.
— O encontrou? — Vincent perguntou, sua voz mais alta do que o normal para que não fosse abafada pela música, quando pararam bem no meio da pista de dança.
Alana correu os olhos mais uma vez por todo o local, e foi quando olhou para cima, para o segundo andar, que travou.
— Ele nos encontrou! — disse por sobre a música. Vincent estreitou os olhos, mas buscou com os olhos o local para o qual Alana olhava petrificada.
No segundo andar, com o corpo levemente debruçado sobre o corrimão roliço de ferro que dava a volta por todo o salão, Ian os encarava. Fora algo instantâneo. Fora como se, no meio daquela multidão que ele observava com tédio, tivesse sentido a presença de Alana e no meio daquela mesma multidão a encontrou, parada na pista de dança.
Alana não sabia o que dizer, o que sentir. Seu coração estava batendo tão acelerado, tão forte e alto que imaginou se as batidas dele não estavam mais altas do que a da música que preenchia todo o lugar. Ainda que não o pudesse ver com clareza, devido a iluminação escassa e toda a fumaça, ela sabia que era ele. Podia sentir o olhar de Ian sobre si, atravessando com toda a intensidade que ele tinha. E então, de repente, o viu sorrir através de toda a fumaça. Um sorriso que embora fosse branco, cheio de dentes perfeitamente alinhados, era completamente... vazio.
— Vamos. — Vincent disse quando Ian se afastou do corrimão, sumindo de suas visões. Alana não pode ouvir o que Vincent falara devido à música, mas o seguiu prontamente rumo as escadas que levavam ao andar superior.
Subiram, e Alana achou que ali era – em sua perspectiva – pior do que o andar debaixo. No andar de baixo, as pessoas estavam mais interessadas em dançar e, ora ou outra, trocar uns amassos, mas tudo era muito oculto devido a fumaça e pouca luz. Ali, naquele andar, as coisas eram mais explicitas. Pessoas se drogando nas mesas, bebendo, e até mesmo transando em diversos cantos. Vincent, que seguia adiante, não importando-se com a movimentação do ambiente por já ter freqüentado lugares ainda mais devassos, ao olhar para trás fez força imensa para não rir. A garota Steawart encarava o chão, atônita demais, perdida demais no ambiente no qual se encontrava.
Seguiam em linha reta, Alana timidamente erguendo os olhos para as mesas que passavam, tentando encontrar Ian em uma delas.
— Não perca o seu tempo. — Vincent avisou ao seu lado, aumentando a voz por sobre a música para ser ouvido. — Ian vai estar no fundo.
— Como sabe?
Vincent riu secamente, jogando a cabeça para o lado em deboche silencioso.
— É o Ian! — explicou ele, como se aquilo fosse o suficiente. E era. Sendo quem era, sendo do jeito que era, era mais que obvio que Ian escolheria a mesa mais afastada.
Não estavam errados. Ele, de fato, estava lá. Na última mesa, a que ficava ao fundo, oculta dos olhares que vinham do andar debaixo; sentado no sofá vermelho tendo a presença de mais duas garotas, cada uma de um lado, que se drogavam, bebiam e riam, completamente tomadas pelo vicio.
— Vincent. Alana. — Ian os saudou com ironia, um cigarro pendia entre os dedos e de hora em hora ele o levava aos lábios, dando uma tragada. — Que surpresa vê-los, aqui! — piscou.
Em pé, diante da mesa redonda que era a única coisa que os separava de colocarem as mãos em Ian, Vincent e Alana o encaravam em silencio. Essa segunda, completamente abalada diante da visão do loiro a ponto de prender o fôlego. Ian exalava um ar tão... auto-destrutivo, que a fez estremecer por dentro. Ele estava a usar um jeans escuro, tênis baixo e uma regata preta que deixava a mostra seus braços e todos os músculos leves, mas bem torneados deles. Seu cabelo, sempre com aquele ar rebelde, todo espetado para cima, agora estava um pouco baixo, mas não menos bagunçado por isso, fazendo até com que algumas pequenas mexas lhe caíssem rente aos olhos. Mas não era seu estado físico, ou as olheiras profundas que ele tinha que estavam a preocupar Alana. Era o sorriso. O sorriso amplo e nitidamente falso. Vazio.
— Está na hora de ir, Ian. — Vincent disse, frieza e impaciência presentes em sua fala. — Levante agora daí ou eu vou levantá-lo.
Alana olhou para Ian, e então para Vincent. E então mais uma vez de Ian para Vincent até parar os olhos no loiro, sentado à mesa. Ian riu levemente, balançando a cabeça divertidamente enquanto dava uma nova tragada no cigarro e expirava a fumaça no ar. Alana, por mais que odiasse vê-lo fumando, agradeceu silenciosamente por aquilo não passar de seu tradicional cigarro legal, ao invés de ser uma droga ilegal – algo como o qual as garotas em volta dele usavam.
— Vincent, Vincent... Eu não posso ir. — Ian sorria ao dizer, seu olhar morto deslizou pelas garotas ao seu lado, antes de cravar-se em Alana, que mesmo abalada, o manteve firme. — ... Estou acompanhado.
— Dispense-as. — o Bennie fitou as garotas à mesa com intensidade o suficiente para fazê-las encará-lo com medo, e, lentamente, deslizarem para fora do sofá, caminhando para longe.
Ian balançou a cabeça negativamente, dando um novo trago no cigarro em mão e batendo as cinzas dele para o chão. Suas lindas orbes azuis encararam Vincent com um brilho divertido, e o mesmo divertimento pairava sobre o sorriso no canto de seus lábios.
— Não estava me referindo a elas. — explicou, calmamente, para um segundo depois olhar para algo além de Vincent e sorrir ainda mais divertido.
Vincent estreitou os olhos para tal gesto.
— É claro que ele não estava falando delas. Estava falando de mim!
Alana e Vincent se viraram no mesmo instante em que a pessoa atrás dele calou-se.
— Elizabeth. — Vincent murmurou por entre os dentes trincados.
Os lábios, tingidos por um batom vermelho sangue, de Elizabeth curvaram-se num sorriso singelo. Ela sorriu para Vincent, e então piscou para Alana.
— Que prazer em vê-lo, Vincent. — disse com a voz doce, esboçando um sorriso perverso para o moreno. — Já faz muito tempo, não é mesmo?
Elizabeth passou por entre Vincent e Alana, o barulho de seu salto agulha contra o piso sendo abafado pela música e toda a movimentação ao redor.
— Aqui querido, me desculpe à demora. O barman daqui é um inútil. — sibilou ela, entregando a Ian um dos dois copos de whisky que trazia nas mãos. Ian nada disse, apenas tomou um longo gole do líquido, logo após inclinando um pouco o corpo frente a mesa que foi onde depositou o copo.
— Você perdeu o enterro de Yara, Ian. — Vincent não escondeu sua raiva nas palavras. Ian ergueu os olhos para o mesmo.
— Era hoje? — fez-se de desentendido, mas Alana bem viu o modo como os olhos dele perderam o brilho à menção da irmã. Ele estava sofrendo, e aquilo era tão obvio que chegava a ser ridículo era fingir que não. — Não é engraçado Vincent, Elizabeth apareceu assim... de repente. — Ian continuou, destilando sarcasmo para ambos os referidos, muito embora isso não importasse a Lizzie. — Resolveu se juntar a mim para uns drinques... — riu levemente, dando um novo trago no cigarro que pendia na mão.
— já lhe disse várias vezes para aprender a escolher melhor suas companhias... — frio e cruel Vincent falou, seu olhar fincado em Elizabeth enquanto Ian gargalhava altamente.
— Isso não foi gentil, Vincent. — sibilou a ofendida, seus olhos cor mel emitiriam um brilho falsamente ofendido, e um que suplicava por vingança. — O que pensaria seu pai ao saber que o fedelho Bennie não sabe tratar uma dama?
Vincent apertou as mãos em punhos.
— Se por ‘dama’ você está se referindo a si mesma, Elizabeth, acho que está cometendo um erro. — disse. — Vadias como você não merecem o título de damas.
Os olhos de Elizabeth estreitaram-se, mas isso foi apenas por um segundo enquanto bebericava de seu próprio whisky. Ela colocou-se de pé, tomando o cigarro de Ian para si e dando uma tragada no mesmo, antes de expelir a fumaça cinzenta contra o rosto de Vincent. Sorriu malignamente ao brilho raivoso no olhar do Bennie.
— Vadias como eu, são as que tornam as coisas divertidas. — sussurrou lentamente, o sorriso ainda permanente no canto de seus lábios. Por um instante Vincent viu a si mesmo segurando-a pelo cabelo, enrolando a mão naquele rabo-de-cavalo que era seu penteado da noite e esmagando a cara dela contra a mesa, mas ainda sim sabia que não o faria. Não por que Elizabeth não merecia isso, por que – oh sim – ela merecia e muito, mas por que ainda tinha certa noção de cavalheirismo; mesmo com vadias psicóticas como ela.
Ian que, assim como Alana, observava a toda cena em silencio bufou contrariado ao ver que Vincent abdicara do direito de resposta por simplesmente considerar Elizabeth indigna de uma. Suspirou então, pegando sua bebida e finalizando-a num único gole, para então largar o copo sob a mesa enquanto se colocava de pé.
— Aonde pensa que vai? — inquiriu Vincent, seus olhos repletos de intenções assassinas desviando-se de Elizabeth para encontrar os de Ian.
O Norton deu de ombros, sorrindo desleixadamente.
— Ao banheiro. — respondeu sem preocupação enquanto passava pelo amigo de infância.
— Não há como fugir, Ian!!! — Vincent gritou, enquanto o loiro se afastava. — David está lá fora. Você ouviu? Não tem como você sair daqui sem a gente, seu idiota. — continuou, e viu Ian dar de ombros.
Alana, ao ver Ian caminhar para as escadas apressou-se em segui-lo. Elizabeth estava pronta a fazer o mesmo se não fosse um pequeno empecilho chamado Bennie Vincent que a segurou pelo braço e a forçou a sentar-se novamente no sofá.
— Você é muito bruto, Vincent... — sussurrou com a voz arrastada e sensual, embora em sua mente matasse o Bennie três vezes.
— O que você está fazendo, Elizabeth? — questionou o moreno, seus olhos estreitos e a face desprovida de emoções enquanto a encarava de cima. — Por que você voltou?
Elizabeth sorriu. Deu uma última tragada no cigarro, jogando a bituca no chão e esmagando a mesma com a ponta de seu salto antes de encarar o rapaz a sua frente.
— Foi como eu te disse Vincent... — sua voz saia tão doce quanto a de como anjos seriam embora ostentasse um sorriso sombrio no canto dos lábios. — ... Eu só estou me divertindo um pouco. — piscou divertida. Vincent estreitou os olhos, cruzando os braços.
— Você está perdendo seu tempo, sabe... — disse o Bennie, com um sorriso cínico e divertidamente diabólico em seus lábios finos. — Voltando para cá... Indo atrás do Ian... — balançou a cabeça negativamente, sorrindo internamente cada vez mais ao ver a pose e o sorriso de Elizabeth esmorecer. — ... Ele nunca vai querer você. Ninguém nunca, jamais, vai querer você. E você, minha querida, é a única culpada disso.
Ah! Como era bom ser Bennie Vincent!... Como ele adorava ser cruel com as pessoas, mais ainda com as que mereciam. Era tão divertidamente prazeroso ver a falsa aura angelical de Elizabeth vir abaixo mediante a raiva e ódio que cresciam dentro da mesma por si diante daquelas palavras.— Agora, escute aqui, seu idiota... — como previsto, Elizabeth se colocara de pé, e havia tanto ódio em suas palavras e olhar que deu a Vincent a vontade de sorrir divertidamente. — Ian e eu vamos ficar juntos. Isso, é mais que uma promessa, é um objetivo que eu vou cumprir. Ele é meu, você ouviu? Meu. E não me importa quantas garotas eu tenha que afastar, ou quantas amizades dele eu tenha que destruir... Eu e ele vamos ficar juntos, e não há ninguém que vai me impedir de conseguir isso. Você entendeu?Vincent riu divertidamente, o corpo inclinando-se lenta
Era, definitivamente um clube subterrâneo com dois andares. E estava a toda. Pessoas dançavam e bebiam ao som da batida alucinante, a iluminação era pouca, exceto pelas luzes néon em meio a toda fumaça cinzenta que impregnava o ar. Cheiro de álcool, sexo e drogas eram um dos aromas detectáveis, e Alana franziu o cenho para isso.Viu Vincent começar a se mover por meio da multidão de corpos agitados, cortando caminho pelas pessoas que tentavam o apalpar, tirar uma casquinha daquele deus grego, e apressou-se em segui-lo, tomando cuidado com as mãos bobas.— O encontrou? — Vincent perguntou, sua voz mais alta do que o normal para que não fosse abafada pela música, quando pararam bem no meio da pista de dança.Alana correu os olhos mais uma vez por todo o local, e foi quando olhou para cima, para o segundo andar, que
(...)Numa corrida apressada que envolvia tropeços leves e diversos corpos dançantes esbarrando no seu, Alana seguia atrás de Ian chamando pelo mesmo. Sabia que ele a ouvia, não estavam tão distantes assim para não ouvir, e além disso estava a gritar.Ian deu a volta na pista de dança, e foi na diminuída de velocidade de seus passos que Alana viu a chance de enfim alcançá-lo. Apressou os próprios passos, desviando dos corpos que dançavam e pulavam, desviando-se das mãos másculas que
— Vincent! — berrou Lisandra, o coração em disparada de susto. Poderia tê-lo atropelado se David não tivesse puxado o freio de mão.— O que diabos você pensa que está fazendo? — rosnou o Deeper, já descendo do carro. Aquela noite toda – na verdade, aquele dia em geral – estava lhe trazendo muitas dores de cabeça. — O que aconteceu lá dentro?...— Parem de discutir. Precisamos ir atrás do Ian! — gritou-lhes Lisandra, batendo as mãos no volante. — Onde está a Alana?— O deixem ir... — Vincent disse, sem fôlego devido a corrida que fez para chegar ali.— O quê? — gritaram os três. Três por que Alana chegara, também sem fôlego devido a corrida que fizera para alcançar o Bennie, e pegara o fi
Estreitou o olhar mediante ao fato de que não estava sendo seguido, e fazendo uma curva fechada entrou com o carro numa ruela mal iluminada, parando. Sua cabeça foi de encontro ao volante, onde permaneceu por um tempo enquanto cerrava os olhos com força. Em sua mente havia mil e um pensamentos, o que fazia com que acabasse por não conseguir se concentrar em nenhum. Sentiu uma carícia em um de seus braços, uma mão deslizava gentil e lentamente por toda a extensão, demorando-se um pouco mais nos músculos. Ergueu os olhos, só então parecendo se lembrar de que não estava sozinho. A cabeça tornou a posição inicial, apenas um segundo antes de tombá-la contra o banco macio do veículo, e ainda de olhos fechados perguntou: — O que você está fazendo aqui, Elizabeth?... Por que voltou? Mesmo que não pudesse ver Ian sentiu a movimentação da garota no banco ao lado. Um segundo mais tarde, Elizabeth já havia
Não adiantou. Ela já sabia que não ia adiantar. Sabia, pois a única pessoa capaz de afastar sua dor era justamente aquela que causava ela. Chorou mais. Em silêncio, naquela noite chuvosa em sua sala escura. Sentiu-se bem e mal por estar sozinha; ainda faltava algumas horas para Cassandra retornar da lanchonete com Eva, e ela já não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim assim como também não sabia dizer se ter recusado educadamente a companhia de Lisandra fora a melhor idéia. Estava sozinha, e de alguma forma isso a acalentava e a assustava ao mesmo tempo.Respirou fundo, sua mente novamente lhe traindo e levando seus pensamentos em direção a Ian. Resfolegou. Qual era o problema consigo? Por que era tão difícil tirá-lo de seus pensamentos? Por que era tão difícil arrancar aquele amor que tinha a capacidade de lhe fazer tão bem quanto mal do
O sorriso esmoreceu e sua expressão que havia se suavizado tornou a ficar séria enquanto a observava, em pé ao lado da cama. O que estava fazendo? Por que fora até ali? Por que era tão difícil ficar longe dela? Por que apenas tal pensamento o feria como mil adagas lhe atravessando o corpo? Esfregou o rosto com as mãos, irritado consigo mesmo. Alana mexeu-se levemente na cama, o suficiente para fazer com que os olhos atentos de Ian se focassem novamente nela, ainda recolhida em sono profundo.Na escuridão do quarto, cortada apenas pela leve luz pálida que vinha de fora, os olhos azuis brilharam sobre ela. Era um brilho cheio de devoção a ela, e cheio de tristeza por pensar no que estava fazendo a ela, no que estava fazendo aos dois. Novamente se viu naquele turbilhão de pensamentos conflituosos e então veio a pergunta: O que estava fazendo à Alana?
Ao final da leitura, lágrimas já rolavam por sua face, molhando o papel. Resfolegou diante do final. O que poderia ter sido aquele ‘eu’ riscado?... Um ’eu amo você’? Seu coração falhou uma batida diante de possibilidade, e bateu as mãos na cabeça, ordenando a si mesma para não se iludir. Poderia ser qualquer coisa!Chorou. Chorou e chorou mais. Fora dessa maneira que Ian se sentiu quando terminou tudo entre eles? Fora essa dor, que lhe esmagava e lhe torturava, que se abateu sobre ele quando lhe disse que estava acabado?O bilhete fora largado sobre a cama e com pressa e desespero a pequena gaveta da mesinha fora aberta. De dentro dela Alana buscou um cordão de ouro, com um pingente. Um coração. Apertou o colar contra o peito. Era o colar que Ian lhe dera, e que, por alguma razão, não conseguira lhe devolver q