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— Vincent! — berrou Lisandra, o coração em disparada de susto. Poderia tê-lo atropelado se David não tivesse puxado o freio de mão.

— O que diabos você pensa que está fazendo? — rosnou o Deeper, já descendo do carro. Aquela noite toda – na verdade, aquele dia em geral – estava lhe trazendo muitas dores de cabeça. — O que aconteceu lá dentro?...

— Parem de discutir. Precisamos ir atrás do Ian! — gritou-lhes Lisandra, batendo as mãos no volante. — Onde está a Alana?

— O deixem ir... — Vincent disse, sem fôlego devido a corrida que fez para chegar ali.

— O quê? — gritaram os três. Três por que Alana chegara, também sem fôlego devido a corrida que fizera para alcançar o Bennie, e pegara o fim da fala.

— Vocês me ouviram. O deixem ir!

— Você, absolutamente, perdeu a cabeça? — enfureceu-se Lisandra. — É o Ian e ele...

— Ele está sendo um grande egoísta de merda! — rosnou Vincent, fazendo-a se calar. — Ele perdeu uma irmã? Triste. Mas não passou pela cabeça daquele infeliz que ele não é o único sofrendo com a morte de Yara, não é?... Ele perdeu uma irmã... David perdeu uma prima, Frederick perdeu uma filha, e eu perdi... — suspirou. — ... perdi uma amiga!...

David baixou os olhos, pensativo.

— Ele está sofrendo... — Alana tentou justificá-lo e Vincent rolou os olhos, mais uma vez limpando o filete de sangue em seu lábio com a manga do terno escuro que ainda trajava.

— Ele não é o único, Steawart. — disse. — E enquanto sofre e se afoga em raiva por isso, ele não vai se importar em causar dor nos outros. Inclusive em você!!... Agora, eu sugiro que voltemos todos para nossas casas... Não dormimos e comemos a quase dois dias agora, e aquele filho da mãe novamente me deu um murro. Ele está testando meu limite de paciência, com isso!

— Vincent está certo... — David lhes disse, e vendo os protestos mais que prontos de Lisandra e Alana para aquilo continuou sem demora. — Não dormimos ou nos alimentamos direito há horas. Precisamos estar em condições físicas e mentais o suficiente para lidar com Ian, o que não é o caso agora. Estamos todos sofrendo com a perda de Yara. Ian, principalmente. Ele precisa de um tempo sozinho, e nós precisamos dar esse tempo a ele antes de ir buscá-lo onde quer que se meta.

— Mas... Ele estava com Elizabeth... — tentou, mais uma vez, Alana. — ... Não é perigoso deixá-lo com ela?...

— Elizabeth, no momento, não vai causar mais danos que não aqueles que Ian permitir. — Vincent respirou fundo, cansaço físico e mental visíveis no gesto. — Além disso, a hora dela vai chegar.

— Com certeza. — murmurou Lisandra, rendida ao que sugeriram os rapazes. A verdade era que todos estavam nos seus limites, precisavam descansar, precisavam se alimentar. Como David dissera, nas condições em que estavam, nenhum estava apto a tratar de Ian no momento. Nem mesmo Alana.

— David, você as leva para casa... Tenho que ir a um lugar antes. — Vincent disse, ao que o ruivo respondeu com um dar de ombros despreocupado.

O Bennie afastou-se com as mãos no bolso, rumo ao seu carro, enquanto Alana entrava no banco detrás da BMW, com Lisandra passando a direção para David e indo lhe fazer companhia.

— Vai ficar tudo bem, Alana. — lhe consolou a Sheroman, abraçando-a pelos ombros enquanto lágrimas rolavam silenciosas por sua face. — Vamos encontrá-lo amanhã, vai ver.

— N-Não é isso... — em meio a soluços e choro, conseguiu colocar para fora. Fitou Lisandra com os olhos mais desesperados que a loira já vira. — Nós o perdemos, Lisandra. Eu o perdi. Ele não é mais o meu Ian... Eu vi nos olhos dele; estavam vazios.

Lisandra lhe abraçou com mais força.

— Ele só... só está perdido, Alana. Mas vai se encontrar de novo, vai ver...

— Você não entende... — fungou a Steawart, balançando a cabeça. — ... Quando os olhos dele não estavam vazios, tudo o que havia ali era raiva e ódio!...

— Ele está com raiva. — a voz de Lisandra continuava calma, consoladora. — Ele se culpa pelo o que aconteceu a Yara, e então tem raiva de si mesmo. Tem raiva do pai por achar que o mesmo tem raiva de si. Tem raiva de nós por nos importamos com ele e não o deixarmos seguir com seu plano de auto-destruição em paz. — suspirou pesadamente, enxugando uma lágrima de Alana com o polegar. — Entenda, Alana... Ele está se apagando a raiva com o tudo o que pode, o máximo que der por que ele sabe... Ele sabe que enquanto estiver com raiva, não vai ter que se preocupar tanto com a dor. Ele sempre foi assim.

— Eu sei que o perdi, Lisandra. — Alana suspirou em meio a confissão. — O perdi ontem quando terminei tudo, mas... Hoje, hoje foi diferente de ontem... Ontem eu ainda mantinha esperanças de que talvez as coisas pudessem se resolver mais pra frente. — pausou brevemente antes de prosseguir, com mais lágrimas lhe saindo dos olhos. — Hoje eu senti que o perdi para sempre. E isso dói. Dói mais do que acho que sou capaz de suportar!

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