Entardecia.
E nenhuma outra palavra poderia descrever tal entardecer que não a palavra ‘perfeito’. Era um entardecer perfeito. O sol que, estranhamente, resolvera brilhar um pouco mais forte durante todo aquele dia, pouco a pouco começava a recolher sua luz, lentamente começando a se esconder por trás das montanhas, até que fosse o momento de sumir por completo. O céu, que embora tivesse algumas tímidas nuvens densas – que muito provavelmente trariam chuva ao anoitecer completo, tinha aquele tom alaranjado misturado ao azul perfeito, fazendo um belo crepúsculo surgir.
Perfeito. Era um entardecer perfeito, e, exatamente por essa razão uma afronta, uma brincadeira cruel sem tamanho. Era cruel que, o destino, em uma piada interna sua, estivesse fazendo daquele entardecer deslumbrante palco de tamanha dor e tristeza, perante uma perda sofrida e, para alguns, inaceitável.
Yara Norton.
2001 – 2021.
Amada filha, adorada irmã.
Eram esses os dizeres que, já a algum tempo, ele lia e relia diversas vezes. Sua pele mostrava uma palidez mais acentuada do que o normal, e seus olhos sempre tão negros e inexpressivos, naquele momento, pareciam um abismo cheio de tristeza e dor que tentava camuflar o máximo que conseguia. Suas vestes negras só deixavam ainda mais claro seu luto, e suas mãos fechadas em punhos apertados, sua revolta por aquela perda tão precoce. Era tão injusto!
Injusto com Frederick, que perdera uma filha, injusto com Ian, que perdera uma irmã, injusto com ele e muitos outros que perderam uma amiga. Mas, acima de tudo, o mais importante: era injusto com ela, com Yara, que perdera a chance de uma longa vida. Uma vida que, todos sabiam, ela merecia viver, mas que infelizmente não viveria.
Vincent se sentiu, de repente, claustrofóbico ao pensar no corpo sem vida de Yara, dentro da madeira branca, enterrado a sete palmos abaixo de onde estava. Sua bile subindo e descendo de uma maneira lenta enquanto sentiu algo se espremer em dor no peito. Suspirou, uma das mãos pálidas deslizando por uma mexa de seu cabelo negro que, com o vento, insistia em lhe cair nos olhos. Seus pensamentos, subitamente, foram levados em direção a Cassandra. Deus! Como queria que ela estivesse ali... Que estivesse segurando sua mão, da mesma maneira com a qual Lisandra fez com David durante toda a cerimônia de despedida e o enterro. Apenas queria a rosada ao seu lado, sabia que com ela ao seu lado, qualquer dor seria menor. Ainda sim, tinha total consciência de que não podia cobrar isso dela.
Passos, falsamente calmos, quase hesitantes – como se não quisessem, e muito provavelmente não queriam mesmo, se aproximar para não ter a dolorosa visão da lápide – denunciaram a aproximação de pessoas que Vincent não precisou se virar para saber de quem se tratava. Logo, a garota de longos cabelos tão negros quanto suas vestes naquele momento passou por ele segurando uma rosa branca nas mãos, que, gentilmente depositou frente a lápide de Yara ao agachar-se perante a mesma.
— E então?... — indagou o Bennie quando David, acompanhado de Lisandra, postou-se ao seu lado. A voz sempre tão fria e altiva do moreno estava repleta de um cansaço e desolação que não havia necessidade de esconder – mesmo porque, todos os outros presentes sentiam-se da mesma forma.
Lisandra suspirou pesadamente, seu olhar alternando entre os inscritos na lápide a frente e a uma Alana agachada e de olhos pousados no chão.
— Seu pai driblou os fotógrafos e conseguiu colocá-lo no carro. — respondeu a loira, tristeza e preocupação evidentes em suas palavras, enquanto apertava mais a própria mão entrelaçada na de um David quieto demais. — Deus, eu nunca vi tio Frederick tão... desolado.
Um silêncio agonizante baixou-se sobre eles, instantes antes de uma rápida – porém forte, ventania cercá-los, sacudindo brevemente suas vestes negras e seus cabelos, levantando um pouco de terra do gramado recém cavado para o enterro.
— Eu não posso acreditar que ela se foi.
— Eu não posso acreditar que ele não está aqui. — em contrapartida ao comentário sofrido de Lisandra, este de Vincent veio cercado de um leve rancor que não passou despercebido a ninguém, ainda mais com ele cerrando os dentes. — É a irmã dele, afinal de contas!
— E é exatamente por isso que ele não está aqui. — a voz sempre doce, e naquele momento repleta de tristeza e dor de Alana fez imediatamente que toda a atenção se voltasse para ela enquanto que, ainda sem desviar os olhos pérolas da lápide a frente ela se levantava do chão, batendo fracamente a mão no vestido preto para tirar qualquer eventual grama ou terra que poderia ter ficado. Suspirou. — Ele não consegue dizer adeus. Não para ela.
Novamente o silêncio sepulcral se fez presente entre os jovens, enquanto cada um mergulhava em seus próprios pensamentos, em suas próprias lamentações e dor pela perda; ninguém tendo menção de discordar do que a Steawart dissera pois sabiam: ela estava certa.
Por mais revoltante que pudesse ser ele não ter estado presente no funeral e enterro da própria irmã, ninguém seria capaz de julgá-lo. Alana estava certa. Ele não conseguiria dizer adeus a ela, não a Yara. Abrir mão dela já devia ter sido difícil demais para ele, noite passada. Ninguém o julgaria por não conseguir se despedir ainda, embora fosse necessário para que ele conseguisse seguir em frente.
Ian.
Encarando a lápide de Yara com olhos penosos, repleto de diversas emoções que variavam entre dor, cansaço, tristeza, preocupação, mais tristeza e ainda mais dor, Alana simplesmente não conseguia desligar sua mente de Ian. Como poderia, afinal de contas? Não havia maneiras. Sua reação ao fato de que Yara estava, definitivamente, morta quando David apareceu no colégio no dia anterior não podia ser de mais extremo choque e tristeza, e ainda que lamentasse – e muito – pela morte da jovem ruiva que não tivera o prazer de conhecer realmente, o primeiro pensamento, o primeiro nome que passou por sua mente foi um só: Ian. E esse nome vinha se repetindo, como um mantra, desde então.
Onde ele estaria? Estaria bem? Sentia todo seu peito cercado numa dor e agonia que pareciam não caber em si. Apesar disso, Alana estava impressionada consigo mesma, impressionada com o fato de que sua mente guardava cada mínimo detalhe desde o que acontecera depois que saíra do colégio, acompanhada pelos outros em busca de Ian, até o momento em que estava agora, parada, frente a lápide da irmã do rapaz que amava com lágrimas nos olhos.
Depois de sair do colégio – o que, ela sabia teria conseqüência severas, pois saíram de lá em período de aula – Alana lembrava-se perfeitamente de ficar vagando com Lisandra, Cassandra, Vincent e David em busca de Ian pelas ruas de Amsterdã, pelos bares em que ele freqüentava, na oficina, até mesmo na montanha, enquanto o Bennie e o Deeper se integram por telefone do que tinha acontecido no hospital, como fora o processo de desligamento dos aparelhos de Yara e tudo mais. Ainda sim, Alana não conseguia prestar atenção neles. Sua mente estava total e completamente focada em Ian. Precisava achá-lo. Precisava dele porque sabia que ele precisava dela. A culpa, ela não sabia direito por que – se pelo término, ou pelo modo do término do namoro deles – pesou tão forte em seu peito que por um instante Alana pensou que fosse desmaiar. Era irônico aquilo. No dia anterior, quando abriu os olhos pela manhã, havia jurado para si mesma que não importava o quão difícil fosse ia fazer o máximo para arrancar aquele amor por Ian de seu coração partido e que por nada iria em busca do rapaz loiro... Horas mais tarde, lá estava ela, procurando por qualquer mínimo sinal de Ian, pouco se importando com seu ego ferido por estar fazendo exatamente o oposto do que jurara a si mesma fazer, pouco se importando com o lado racional – e, cruel – de sua mente que dizia que estava sendo controlada por seus sentimentos, por seu amor, por Ian naquela busca. Pouco se importava que ainda estivesse quebrada, destruída, dilacerada com as palavras de Ian, com o termino. Juntando seus cacos, agrupando os pedaços do seu coração destruído, ela buscava por ele. Nada mais importava, só ele. Só Ian. Ian que, irritantemente, parecia ter sumido como fumaça. Passara a noite inteira em claro – oque explicava as olheiras profundas embaixo de suas belas íris peroladas – mesmo quando Vincent e David disseram-na para ir pra casa descansar. Simplesmente não conseguira pregar o olho; não encontrava maneiras de como dormir, não tendo a mínima idéia de onde Ian estava, de como ele estava. Estaria ele sofrendo? Era óbvio. E tudo o que uma Alana insone orou noite passada, enquanto lágrimas caiam de seus olhos, fora para encontrarem Ian rápido, para que assim pudesse envolvê-lo em seus braços e tentar absorver para si um pouco, ou tudo se ele permitisse, da dor que ela sabia que ele estava sentindo. Mas não o encontraram. O dia amanheceu, o funeral e o enterro de Yara vieram e continuavam sem saber onde Ian estava.
De repente, enquanto os olhos de Alana paravam sobre o sobrenome ‘Norton’ na lápide cinzenta, a garota não pode evitar se lembrar do senhor Frederick. Ele, o loiro sempre tão altivo e de olhar tão cruel, naquele dia não pareceu mais do que uma pessoa total e completamente sem rumo. Lembrar-se da cena triste que foi o homem loiro sentado sozinho no banco reservado apenas a família da defunta, enquanto todo o resto dos parentes e amigos mais próximos – incluso o pai de David, que deixou Alana tensa perante ao descaso a presença do filho mais novo na igreja, os Bennies, e mesmo Antonia acompanhada de seu marido e suas duas crianças – estavam espalhados pelo resto do local. Alana sabia que a imagem de Norton Frederick, sentado sozinho, ora olhando para o corpo da filha no caixão alguns metros a sua frente, ora olhando o assento vazio reservado a seu filho, seria algo que jamais sairia de sua mente.
A cerimônia, assim como o enterro em si, fora o mais rápida e singela possível, sem grandes alardes, mesmo por que o senhor Norton não era exatamente adepto a uma religião em si. Além do mais, havia uma chuva de paparazzi frente ao cemitério, que Alana perguntou-se em como podiam ser tão desprezíveis, tirando fotos e fazendo todo um alarde sobre um momento de dor. Não era algo de se espantar realmente, afinal, para todo o resto do mundo que excluía apenas poucas pessoas contadas a dedo, Yara Norton estava em uma viagem ao redor do mundo. A notícia de sua morte, procedente a um coma de um ano, era algo que realmente ainda estamparia muita capa de revista e manchetes de jornais mundo a fora. Todos queriam saber o que realmente aconteceu, como, por que, quando e os envolvidos. Alana, mais uma vez, lamentou por Ian e Frederick. Os jornalistas não os dariam mais folga.
O som estridente de um celular interrompeu todos os pensamentos, e assim como os outros dois logo Alana encarava Lisandra. A Sheroman lançou-lhes um pequeno sorriso, como que se desculpando antes de buscar o aparelho na bolsa.
— O que foi? — questionou David, e mesmo que sua voz tenha saído o mais neutra possível sua testa franziu-se minimamente ao ver a namorada perder por completo a cor do rosto enquanto tinha os olhos pregados no aparelho em suas mãos. — Lisandra?
— O que aconteceu? — Alana apressou-se em se aproximar da amiga, o tom de voz saindo quase em desespero de preocupação. — É o Ian?... Ele está bem?... Diga alguma coisa Lisandra! — mas a loira não disse nada; apenas ergueu os olhos para David, e havia um pedido de desculpas mudo em seu olhar que não passou despercebido ao ruivo.
— Tsc... Dê-me isso aqui. — Vincent aproximou-se, e antes mesmo que Lisandra pudesse pensar em protestar o Bennie já havia lhe tomado o celular das mãos. — É uma mensagem de texto. — comunicou ele aos outros, antes de ler em voz alta, seus olhos estreitando-se cada vez mais na medida em que as palavras saiam. — ”Vamos jogar um jogo. Seu nome? Pique - esconde. O alvo? Ian. Quem o encontrar primeiro, vence. Lizzie”.
— Mas o quê diabos... — murmurou David, a confusão explicita em seu olhar só durou um segundo antes que se virasse para Lisandra com raiva cega nos olhos. — Era isso que você estava escondendo de mim?
— O quê? — intrometeu-se Vincent, seus olhos negros brilhando em fúria. — Você sabia que Lizzie estava na cidade a dias e não nos contou? — rosnou. — Lisandra, qual é a merda do seu problema?
Alana que observava a discussão calada, estreitou os olhos. Lizzie?... Poderia ser a garota do dia anterior?... Mas... O que queria dizer com o primeiro que encontrar Ian, vence?
— E-Eu... — Lisandra gaguejava. Nervosa e mediante aos olhos acusativos e irritados dos dois rapazes sobre si suspirou pesadamente antes de despejar tudo de uma vez. — Sim, eu sabia que ela estava na cidade... Quero dizer, eu não tinha certeza. — respirou fundo, pousando seu olhar sobre David. — Eu comecei a receber essas mensagens estranhas, alguém perguntando como eu estava e quais eram as novidades e tudo o mais... O número era desconhecido, eu não fazia a menor idéia de quem era, isso até...
— Até que foi me visitar semana passada na clínica. — completou David, Lisandra assentiu.
— Exatamente. — nervosa a loira deslizou as mãos pelos cabelos, seus olhos azuis focando-se em Vincent por um segundo, e intercalando o olhar entre todos os presentes a partir de então. — Era mais uma mensagem corriqueira, um tanto quanto ácida, é verdade, mas o que me deixou abalada fora assinatura no final. Assinou como “L”, e perguntava de maneira debochada como estava meu relacionamento com a bulimia...
— Espere. Você teve bulimia? — Alana perguntou espantada, Lisandra rolou os olhos.
— Foi há muito tempo atrás. Estou bem agora. — tranqüilizou-a, logo então tornando a se virar para os dois rapazes que, impacientes, aguardavam o encerramento da história. — Imediatamente comecei a achar que se tratava da Elizabeth. Apenas essa vadia pra fazer graça de algo que foi um grande problema para mim no passado. — seus olhos faiscaram em revolta.
— E, por que você não nos avisou que ela estava na cidade?
— Eu não queria preocupá-los! — defendeu-se a loira da revolta explicita de Vincent. — Era uma suspeita apenas; eu precisava confirmar antes de contar algo a alguém. O problema é que, eu tentei descobrir onde Lizzie estava, se ela podia mesmo estar aqui em Amsterdã, mas não consegui descobrir nada.
— A vadia sempre foi boa em se esconder... — Vincent murmurou por entre os dentes, as mãos apertando-se em punhos fechados. Lisandra assentiu a suas palavras.
— Eu não entendo. — David se pronunciou no instante em que Alana pretendia falar, fazendo a mesma fechar a boca e esperar. Lisandra, assim como os outros dois presentes, voltou sua atenção para o namorado, franzindo o cenho quando o viu olhar diretamente para si com mágoa explicita no olhar. — Por que você não me disse?... Eu te perguntei o que era, se tinha acontecido algo e você...
— Eu já disse. Precisava ter certeza antes...
— ... Você mentiu pra mim, Lisandra! — ele prosseguiu, como se nem a tivesse ouvido. Balançou a cabeça negativamente. — Tudo o que eu quero saber agora é o por que. Por que você mentiu pra mim? Por que você não me contou?... E não me venha dizer que precisava ter certeza antes; nós dois sabemos que não é isso!
A atmosfera, de repente, não estava envolta apenas de tristeza mais; e muito embora tristeza e dor ainda fossem predominantes no ambiente, Alana encolheu levemente os ombros mediante a tensão que parecia crescer ali.
Lisandra suspirou vagarosamente, seu olhar suplicante preso sob o acusador de David.
Era, definitivamente um clube subterrâneo com dois andares. E estava a toda. Pessoas dançavam e bebiam ao som da batida alucinante, a iluminação era pouca, exceto pelas luzes néon em meio a toda fumaça cinzenta que impregnava o ar. Cheiro de álcool, sexo e drogas eram um dos aromas detectáveis, e Alana franziu o cenho para isso.Viu Vincent começar a se mover por meio da multidão de corpos agitados, cortando caminho pelas pessoas que tentavam o apalpar, tirar uma casquinha daquele deus grego, e apressou-se em segui-lo, tomando cuidado com as mãos bobas.— O encontrou? — Vincent perguntou, sua voz mais alta do que o normal para que não fosse abafada pela música, quando pararam bem no meio da pista de dança.Alana correu os olhos mais uma vez por todo o local, e foi quando olhou para cima, para o segundo andar, que
Ah! Como era bom ser Bennie Vincent!... Como ele adorava ser cruel com as pessoas, mais ainda com as que mereciam. Era tão divertidamente prazeroso ver a falsa aura angelical de Elizabeth vir abaixo mediante a raiva e ódio que cresciam dentro da mesma por si diante daquelas palavras.— Agora, escute aqui, seu idiota... — como previsto, Elizabeth se colocara de pé, e havia tanto ódio em suas palavras e olhar que deu a Vincent a vontade de sorrir divertidamente. — Ian e eu vamos ficar juntos. Isso, é mais que uma promessa, é um objetivo que eu vou cumprir. Ele é meu, você ouviu? Meu. E não me importa quantas garotas eu tenha que afastar, ou quantas amizades dele eu tenha que destruir... Eu e ele vamos ficar juntos, e não há ninguém que vai me impedir de conseguir isso. Você entendeu?Vincent riu divertidamente, o corpo inclinando-se lenta
Era, definitivamente um clube subterrâneo com dois andares. E estava a toda. Pessoas dançavam e bebiam ao som da batida alucinante, a iluminação era pouca, exceto pelas luzes néon em meio a toda fumaça cinzenta que impregnava o ar. Cheiro de álcool, sexo e drogas eram um dos aromas detectáveis, e Alana franziu o cenho para isso.Viu Vincent começar a se mover por meio da multidão de corpos agitados, cortando caminho pelas pessoas que tentavam o apalpar, tirar uma casquinha daquele deus grego, e apressou-se em segui-lo, tomando cuidado com as mãos bobas.— O encontrou? — Vincent perguntou, sua voz mais alta do que o normal para que não fosse abafada pela música, quando pararam bem no meio da pista de dança.Alana correu os olhos mais uma vez por todo o local, e foi quando olhou para cima, para o segundo andar, que
(...)Numa corrida apressada que envolvia tropeços leves e diversos corpos dançantes esbarrando no seu, Alana seguia atrás de Ian chamando pelo mesmo. Sabia que ele a ouvia, não estavam tão distantes assim para não ouvir, e além disso estava a gritar.Ian deu a volta na pista de dança, e foi na diminuída de velocidade de seus passos que Alana viu a chance de enfim alcançá-lo. Apressou os próprios passos, desviando dos corpos que dançavam e pulavam, desviando-se das mãos másculas que
— Vincent! — berrou Lisandra, o coração em disparada de susto. Poderia tê-lo atropelado se David não tivesse puxado o freio de mão.— O que diabos você pensa que está fazendo? — rosnou o Deeper, já descendo do carro. Aquela noite toda – na verdade, aquele dia em geral – estava lhe trazendo muitas dores de cabeça. — O que aconteceu lá dentro?...— Parem de discutir. Precisamos ir atrás do Ian! — gritou-lhes Lisandra, batendo as mãos no volante. — Onde está a Alana?— O deixem ir... — Vincent disse, sem fôlego devido a corrida que fez para chegar ali.— O quê? — gritaram os três. Três por que Alana chegara, também sem fôlego devido a corrida que fizera para alcançar o Bennie, e pegara o fi
Estreitou o olhar mediante ao fato de que não estava sendo seguido, e fazendo uma curva fechada entrou com o carro numa ruela mal iluminada, parando. Sua cabeça foi de encontro ao volante, onde permaneceu por um tempo enquanto cerrava os olhos com força. Em sua mente havia mil e um pensamentos, o que fazia com que acabasse por não conseguir se concentrar em nenhum. Sentiu uma carícia em um de seus braços, uma mão deslizava gentil e lentamente por toda a extensão, demorando-se um pouco mais nos músculos. Ergueu os olhos, só então parecendo se lembrar de que não estava sozinho. A cabeça tornou a posição inicial, apenas um segundo antes de tombá-la contra o banco macio do veículo, e ainda de olhos fechados perguntou: — O que você está fazendo aqui, Elizabeth?... Por que voltou? Mesmo que não pudesse ver Ian sentiu a movimentação da garota no banco ao lado. Um segundo mais tarde, Elizabeth já havia
Não adiantou. Ela já sabia que não ia adiantar. Sabia, pois a única pessoa capaz de afastar sua dor era justamente aquela que causava ela. Chorou mais. Em silêncio, naquela noite chuvosa em sua sala escura. Sentiu-se bem e mal por estar sozinha; ainda faltava algumas horas para Cassandra retornar da lanchonete com Eva, e ela já não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim assim como também não sabia dizer se ter recusado educadamente a companhia de Lisandra fora a melhor idéia. Estava sozinha, e de alguma forma isso a acalentava e a assustava ao mesmo tempo.Respirou fundo, sua mente novamente lhe traindo e levando seus pensamentos em direção a Ian. Resfolegou. Qual era o problema consigo? Por que era tão difícil tirá-lo de seus pensamentos? Por que era tão difícil arrancar aquele amor que tinha a capacidade de lhe fazer tão bem quanto mal do
O sorriso esmoreceu e sua expressão que havia se suavizado tornou a ficar séria enquanto a observava, em pé ao lado da cama. O que estava fazendo? Por que fora até ali? Por que era tão difícil ficar longe dela? Por que apenas tal pensamento o feria como mil adagas lhe atravessando o corpo? Esfregou o rosto com as mãos, irritado consigo mesmo. Alana mexeu-se levemente na cama, o suficiente para fazer com que os olhos atentos de Ian se focassem novamente nela, ainda recolhida em sono profundo.Na escuridão do quarto, cortada apenas pela leve luz pálida que vinha de fora, os olhos azuis brilharam sobre ela. Era um brilho cheio de devoção a ela, e cheio de tristeza por pensar no que estava fazendo a ela, no que estava fazendo aos dois. Novamente se viu naquele turbilhão de pensamentos conflituosos e então veio a pergunta: O que estava fazendo à Alana?