Depois de ter apresentado Belém como o novo diretor do Porto Seguro, Teodoro voltou para sua casa porque ainda tinha documentos para ler dos outros negócios que sua empresa possui. Ele se encontrava trancado na sala com uma xícara de café e uma pilha de documentos digitalizados quando começou a escutar uma conversa muito barulhenta vindo da sala de estar da mansão. Primeiro, pensou que seria a família dos empregados que viviam ali, mas a conversa se estendeu por tanto tempo que acabou atrapalhando seu trabalho e o homem teve que ir até o local ver do que se tratava.Assim que chegou à sala de estar, encontrou uma figura feminina familiar. Tinha o mesmo tom de cabelo que sua falecida esposa, a mesma cor nos olhos, entretanto, a personalidade destoava significativamente uma da outra, apesar de serem irmãs. Helena, sua cunhada.— Mas do que se trata isso? — perguntou o empresário de frente para a mulher que estava entre as duas empregadas.— Teodoro, essas duas queridas não queriam te ch
A febre do pequeno Gigio não diminuía apesar de todos os esforços que os funcionários fizeram para que fosse possível. Tiveram que chamar um dos médicos que atende de forma voluntária no “Instituto Porto Seguro para Crianças e Adolescentes” para examinar o pequeno já que o caso havia saído do alcance de suas mãos.Enquanto o jovem médico de boa aparência, lembrando um galã de novela das nove horas, terminava de realizar os exames na criança adoentada, um dos funcionários do lugar se encontrava em agonia parado em frente a porta do dormitório. Assim como a impaciência em sua face, sua mão pousada em seu peitoral e seu pé sem parar de tremer por um único segundo denunciavam a sua preocupação quase maternal.O médico se afastou da cama, colocou o estetoscópio novamente pousado em seus ombros, percebendo essa movimentação o funcionário do instituto se aproximou em poucos passos sem deixar de encarar o outro.— Então? O que o Gigio tem, Doutor Jean? — perguntou o rapaz tentando mascarar su
Belém ficou um tempo ao lado de Gigio, o observando dormir agora tranquilamente depois da medicação. A testa do menino já não estava mais tão quente quanto antes. O funcionário acabou dispensando a toalha úmida e a água gelada que estava usando para acalmar a temperatura da região. Quando se sentiu mais seguro de que nada fosse acontecer, saiu dali para o dormitório onde Nádia e Maria ainda esperavam por ele. Elas queriam ouvir a história antes de dormir, apesar de já passar da meia-noite. — Vocês duas já deveriam estar de olhos fechados e sonhando. — disse Belém rindo quando abriu a porta do dormitório e viu apenas as duas acordadas. Nádia correu para a cama de Maria, as duas se ajeitaram enquanto o rapaz se aproximava. Ele se ajoelhou em frente a cama e ainda sorrindo, ficou observando as duas. — A gente quer ouvir a história. — comentou Maria. — É, conta uma história para a gente, por favor… — pediu Nádia em seguida. — Tudo bem, eu vou contar. — mais uma vez o rapaz se ajeitou
Chegou um momento da madrugada que, conforme a doença era combatida pelo antibiótico, Gigio começou a suar muito. Belém se assustou com aquilo, mas logo percebeu que estava sendo parte do processo, apesar da cama, das roupas e do travesseiro da criança ter ficado empapada com o suor. Quando finalmente a febre baixou de vez e a temperatura do corpo se estabeleceu no ideal, o coração do mais velho também conseguiu se manter calmo e parou de bater de preocupação como as asas de um beija-flor. Gigio ficaria melhor logo pela manhã, os olhos de Maurício se encheram de lágrimas de felicidades e assim que os primeiros raios de sol tocaram a ilha em que o instituto se localiza, o jovenzinho abriu seus olhos pequenos.Gigio viu logo a sua frente Belém com sua cabeça deitada em seus braços sobre a cama, tentou abrir sua boca, mas sentiu seus lábios grudados um no outro e sua garganta seca além do gosto amargo em sua língua. Quando conseguiu abrir a boca, o menino disse:— Tio…A voz fraquinha da
Fazia tempo desde a última vez em que Belém saiu em um encontro com alguém. Na ilha havia poucas opções relevantes em aplicativos para essa finalidade.Depois de vestir uma camisa cor-de-rosa de abotoar, deixando os dois primeiros botões abertos para mostrar um pouco do seu peitoral, uma calça jeans que ficava cada vez mais folgada conforme se aproximava dos seus calcanhares e por fim seu par de coturnos, o rapaz percebeu ao olhar seu reflexo no espelho que sentia falta daquilo. De se arrumar para si mesmo e também para impressionar outra pessoa, então, para concluir finalmente abriu o perfume que havia comprado há quase um ano. Para sua sorte a data de validade ainda estava longe. Quem sabe depois desse encontro não poderia nascer uma relação diferente apenas do sentimento de amizade que Belém tinha pelo médico, pela primeira vez, ele sentiu que essa porta poderia se abrir.Jean deixou seu carro vestindo uma camisa em um tom predominantemente bege com algumas listras vermelhas que es
Por muitos anos a casa grande que um dia pertenceu ao coronel que já mandou em toda aquela ilha ficou sem receber ninguém e isso porque quando a era de mandos e desmandos da poderosa família chegou ao fim com a nova república, eles decidiram se mudar para o continente e deixaram aquele lugar apenas com os empregados para que cuidassem da propriedade. Várias gerações viveram ali, recebendo um bom dinheiro para cuidar das terras, então, não é surpresa que a geração atual foi pega de surpresa quando foram noticiados de que um novo dono estava prestes a chegar ao local. Como suas famílias já viviam naquelas terras por anos, nunca pensaram que os verdadeiros donos poderiam retornar e que muito menos um novo proprietário poderia surgir. — Eu fiquei sabendo, Cleusa, que o homem se chama Teodoro Ayala Montes. — disse a matriarca da família descendente dos funcionários originais. — Um empresário lá do continente. Pedi para a Amandinha pesquisar na internet e achar uma foto do homem… — E aí,
Tudo estava muito calmo. Calmo demais. A febre de Giovanni baixou muito naquela manhã de quarta-feira e por causa disso todos, principalmente Belém, pensaram que aquele era um bom sinal de que o resto da semana seria recheada de dias mais tranquilos. Aconteceu de repente quando Belém e Tatiana estavam observando as crianças brincarem no pátio central do instituto, os demais cuidadores também estavam ali ajudando os dois principais funcionários. Gigio brincava sem parar com Nádia, Maria e as demais crianças do lugar, a alegria do menino fazia com que Belém e Tatiana comentassem entre si sobre essa felicidade toda. Um estouro. Todos olharam para dentro do prédio. — O que foi isso? — perguntou Belém em voz alta e quando entrou, percebeu a água escorrendo pelo piso. Seguiu esse caminho e chegou até um dos banheiros, abriu a porta. A pia estava vazando. — Ah, que merda… — O que? — a voz de Tatiana se aproximou rapidamente e soltou sua respiração quando encontrou aquela situação, fico
A empregada deixou a bandeja com o café em cima da mesa do escritório, Teodoro agradeceu e em seguida pediu para que ela se retirasse do local. Por mais curiosa que estivesse para acompanhar o desenrolar daquela história, não havia muito o que a mulher pudesse fazer, obedeceu o seu patrão e em seguida deixou o cômodo.— Podem se servir. — disse o mais velho apontando para as xícaras vazias.— Obrigado. — agradeceu Jean.— Não, obrigado. — respondeu Belém seco.O médico e o empresário trocam olhares, então, Teodoro se ajeitou em seu assento, suas mãos sobre a mesa, começou a falar olhando para o funcionário do instituto:— O senhor disse que eu não entreguei o dinheiro que prometi.— Sim. — respondeu o mais novo da mesma forma seca. — Promessas vazias, como a de um político.— Mas eu já transferi a primeira doação para o instituto. — respondeu Teodoro mantendo a sua fachada de seriedade. — E tenho como provar que eu fiz isso. Tenho extratos, o aplicativo do banco…— Então, cadê esse di