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Capítulo 04 - O Encontro

Fazia tempo desde a última vez em que Belém saiu em um encontro com alguém. Na ilha havia poucas opções relevantes em aplicativos para essa finalidade.

Depois de vestir uma camisa cor-de-rosa de abotoar, deixando os dois primeiros botões abertos para mostrar um pouco do seu peitoral, uma calça jeans que ficava cada vez mais folgada conforme se aproximava dos seus calcanhares e por fim seu par de coturnos, o rapaz percebeu ao olhar seu reflexo no espelho que sentia falta daquilo. De se arrumar para si mesmo e também para impressionar outra pessoa, então, para concluir finalmente abriu o perfume que havia comprado há quase um ano. Para sua sorte a data de validade ainda estava longe. Quem sabe depois desse encontro não poderia nascer uma relação diferente apenas do sentimento de amizade que Belém tinha pelo médico, pela primeira vez, ele sentiu que essa porta poderia se abrir.

Jean deixou seu carro vestindo uma camisa em um tom predominantemente bege com algumas listras vermelhas que escondia levemente a silhueta do seu tronco, entretanto, realçava seus bíceps malhados. O funcionário do instituto não conseguiu não deixar de rir graciosamente quando percebeu o cabelo do outro perfeitamente dividido, o Doutor Jean tinha uma beleza da qual Belém não conseguia descrever muito bem em poucas palavras, ele parecia ser feito de porcelana, no bom sentido, seus olhos perfeitamente desenhados eram assimétricos com seu nariz e sua boca rosada. Diferente da beleza do beneficiário do instituto, por exemplo, que era dono de uma beldade mais bruta, apesar de ser um homem de muitas posses.

— Você está rindo. — comentou Jean se aproximando, começando a acompanhar a risada do outro. — Espero que seja porque você me achou bonito e não porque está me achando feio.

Antes de responder Belém negou com sua cabeça, segurou seu riso.

— Não se preocupe. É porque te achei bonito. De verdade.

— Obrigado. — respondeu o médico observando o outro, seus olhos brilharam como o de alguém que acabou de cruzar com o maior diamante do mundo. — Você também está bonito. — olhou para trás, havia deixado a porta do carona aberta. — Vamos?

Belém concordou com sua cabeça.

O céu estava limpo naquela noite, nenhuma nuvem no céu e se não fosse pela poluição das luzes espalhadas pela a Terra, os dois poderiam ver mais estrelas. Não havia nenhum vento, nenhum sinal de chuva e isso era perfeito porque Jean levou Belém em um daqueles restaurantes montados em um navio e que apenas turistas da ilha frequentavam. Quando o funcionário do instituto abriu o menu, teve uma surpresa ao olhar os preços daqueles pratos.

— Esse lugar é bem caro. — sussurrou Belém, olhou ao seu redor. — Não é atoa que só tem turista aqui.

— Não se preocupe, eu vou pagar tudo, tá bem? — disse o doutor sorrindo. — Pode escolher o que quiser do menu.

— Tem certeza? — perguntou Belém, não estava acostumado a um ambiente daquele nível, começou a se sentir como um intruso.

Para acalmar os ânimos do seu encontro, Jean passou sua mão nas costas da mão de Belém e no mesmo tom calmo que usou para conversar sobre a saúde de Gigio, ele disse:

— Eu te convidei. Você estar aqui comigo é o que eu queria, então, como eu disse, não se preocupe porque eu vou pagar tudo.

— Bom… — Belém deu de ombros. — Poderia ter me avisado antes, então, porque eu poderia ter me vestido melhor.

— Você é lindo de qualquer jeito. Já sabe o que vai pedir?

O encontro olhou para o cardápio mais uma vez e suspirou preocupado.

— O que foi? — Jean perguntou. — Eu já disse que eu vou pagar.

— É que eu como muito… — sussurrou Belém envergonhado.

O médico se divertiu tanto com aquela resposta que acabou soltando uma risada um pouco alta, Belém ficou em silêncio, não entendeu.

— Pode pedir. — concluiu Jean após engolir sua risada.

— Você realmente come muito. — comentou o médico após ver o que o seu encontro havia pedido.

— Não pode dizer que eu não avisei. — disse Belém olhando para o homem à sua frente e depois para os pratos que pediu. — A gente ainda pode dividir a conta.

— Não! — Jean respondeu rápido. — Desculpa, eu não quis insinuar isso… Bom, vamos mudar de assunto… — pegou o guardanapo e colocou em seu colo. — Como vão as coisas no Porto Seguro? O Gigio está cem por cento?

— Sim, graças a sua ajuda. — respondeu Belém sorrindo. — Hmm… Um empresário foi visitar lá essa semana.

— Um empresário?

— Sim. Ele vai se tornar beneficiário do lugar. — respondeu o cuidador de crianças. — Ele é um tipo bem sério, sabe? Mas gostou tanto do instituto que se comprometeu em ajudar. Nessa semana mesmo, acho que o dinheiro deve cair na conta.

— Isso é uma coisa muito boa, Belém. — disse o médico. — E você deve estar feliz com isso.

— Óbvio que sim. — respondeu o outro. — Aquele lugar tá precisando de tanta coisa, esse dinheiro que vai entrar vai dar uma boa ajuda. Eu tô tão ansioso para ver as coisas melhorando para aquelas crianças de uma vez por todas.

Jean segurou a mão de Belém, seus olhos se encontraram e o rapaz que cuida das crianças sentiu uma energia elétrica sair do corpo do médico e percorrer o seu.

— É por isso que me apaixonei por você. — disse Jean.

Belém ficou com suas bochechas vermelhas, desviou seus olhos do olhar do outro, ficou sem coragem. Sussurrou:

— Não fala assim…

— Mas é a verdade. A paixão que você tem ao cuidar dessas crianças. Essa paixão, a energia que você tem… Cara, é capaz de amolecer qualquer coração empedrado. — disse o médico em um tom que parecia poesia aos ouvidos do que estava a sua frente.

Por sua vez, Belém tentou abrir a boca para responder, mas não conseguiu. Sua voz faltou, não sabia como reagir aquele tipo de elogio, foi a primeira vez que alguém lhe disse algo semelhante.

— Não precisa ter vergonha da tua luz. — continuou o médico. — Do teu amor, NÃO TEM que sentir vergonha dessas coisas… Afinal, é tudo isso que faz com que as pessoas se apaixonem por você. Eu não me apaixonei por você só porque você é bonito por fora, mas também porque você é bonito por dentro…

— Jean! — exclamou Belém surpreso, olhou para os lados e colocou sua mão sobre seu peito. — Não vamos falar dessas coisas assim, alguém pode ouvir e… Bem, você sabe que as pessoas com mente fechada são a maioria em relação às pessoas com mente aberta. Por favor.

Após o jantar a bordo do navio restaurante, os dois foram passear pelo calçadão do centro da ilha, onde outros turistas estavam por ali aproveitando o clima mágico do lugar. Jean comprou dois potinhos de gelatos e os dois ficaram conversando por mais um tempo quando sentaram em um banco. Os olhos de Jean não paravam de brilhar por ele estar tendo um momento como aquele com o outro, era um sonho se tornando realidade. Belém também estava aproveitando o momento, apesar de ter um medo interno de não acabar conseguindo retribuir os sentimentos que o doutor claramente tinha por ele, mas logo essa nuvem passou.

— Pronto, está em casa. — disse Jean deixando Belém em frente a sua casa.

— Obrigado. — agradeceu o cuidador. — Foi um encontro muito…

— Muito?

— Muito bom. — respondeu Belém rindo. — Não, de verdade, foi muito bom. Obrigado. Agora eu vou entrar, já está tarde.

Jean arqueou sua sobrancelha, riu e concordou com sua cabeça, parecia decepcionado e Belém percebeu, então, antes de sair do carro teve que perguntar:

— O que foi?

— Nada, eu só esperava um fim diferente para essa noite.

— Tipo? — perguntou Belém.

Jean olhou para o rapaz, decidiu ser direto:

— Esperava um beijo.

— Um beijo? — Belém perguntou surpreso. — Você quer um beijo?

— Se você também quiser. — respondeu Jean encolhendo seus ombros.

A mão do jovem cuidador pousou sobre o maxilar do médico, levemente o puxou para mais perto do seu rosto e o beijou. Não foi um beijo intenso ou muito sexualizado, mas foi um beijo calmo. Seus lábios brincavam em um jogo sedutor, mas foi o suficiente para que o doutor se sentisse no céu.

— Boa noite. — disse Belém ao encerrar o ato.

— Boa noite. — sorriu Jean com fogos de artifício explodindo em seu interior.

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