Lá estava, bem à frente do seu campo de visão, a casa grande que se converteu na mansão de Teodoro. Não fazia muito tempo desde o dia em que esteve ali para reclamar o dinheiro que foi prometido, sua mão tinha memória do tapa que depositou no rosto do famoso empresário, memória tão boa que seus dedos formigavam pedindo por mais. Para o seu azar, uma gota caiu no topo de sua cabeça, depois duas e depois três, mais quatro e de um segundo para outro, uma forte chuva caiu. Não podia mais esperar, correu em direção a porta da frente e bateu em desespero.— Meu Deus… — disse Cleusa, a irmã da empregada mais velha, ao abrir a porta. — Menino, você tá todo molhado, entra vem…Assim que Belém passou para dentro do casarão, Teodoro surgiu do corredor que leva até seu escritório, perguntando quem estava batendo na porta, porém quando encontrou o cuidador das crianças molhado das cabeças aos pés ficou em silêncio.— O que deu em você para vir até aqui, nessa chuva?— A chuva começou depois que eu
Quando deixou o quarto de hóspedes, pronto para voltar para sua casa, Belém ficou surpreso ao esbarrar em Teodoro que também acabara de deixar sua suíte, vestindo seu melhor terno — como sempre estava — e pronto para o café da manhã. Os dois ficaram se observando em silêncio, ambos não esperavam se encontrar assim por mais que um se lembrasse da presença do outro ali.— Bo-bom dia. — disse Belém evitando olhar para o rosto do dono da casa grande.Teodoro ajeitou sua gravata antes de falar.— Bom dia… Dormiu bem? Você ficou bem mexido ontem com as coisas que eu disse.— Ah, sim… Eu dormi bem… Tô com um pouco de dor de cabeça, mas eu vou ficar bem. Quando chegar em casa, vou tomar um café antes de ir para o instituto e vou ficar bem. — sorriu ao terminar de falar.— Não precisa, faça seu desjejum aqui. Qual o problema? Hmmm? Já passou a noite.Belém encarou o homem mais velho, tentou pensar em alguma coisa, alguma desculpa, entretanto, não encontrou um motivo que o outro não conseguiria
Belém entregou a chave do seu apartamento para o médio e depois de, mais ou menos, uma hora o homem retornou com uma muda de roupa para o cuidador das crianças. Sorrindo, Belém agradeceu e quando se virou para voltar para o instituto, Jean pediu para que ele esperasse porque queria conversar rapidamente. — Tudo bem… — respondeu Belém confuso. — Sobre o quê? — Duas coisas… — respondeu Jean. — Primeiro, realmente o menino tá bem? Não aconteceu nada? Ele não voltou a ficar doente. — Não… Não é isso… Olha eu te explico tudo depois… Agora não posso, mas tem uma explicação. — Ah bom… — sussurrou o médico sem entender, mas, então, se preparou para a próxima pergunta. — Eu queria te convidar para ir viver comigo… No meu apartamento. Belém ficou paralisado com aquele convite, naquele momento se arrependeu de ter pedido para Jean ir até seu apartamento. Logo a paralisia foi passando e dando lugar a um sentimento de constrangimento. — Olha… — começou o mais novo, entretanto o outro homem fo
Assim que o dia amanheceu, Belém se preparou para voltar para seu apartamento, seu plano era tomar um banho, beber um café e depois ir até a casa do beneficiário, porém o rapaz teve uma surpresa ao encontrar, mais uma vez, Jean esperando por ele logo pela manhã. O médico estava com seu quadril encostado na dianteira do seu carro, seus braços cruzados, deixando seus bícepis maiores, em uma postura de badboy que resumia a energia que aquele homem emanava sem o jaleco de bom doutor. — O que está fazendo aqui? — Belém perguntou. — Vim te buscar, vamos para meu apartamento. — Seu apartamento? — Sim. Achei que seria bom porque lá você pode descansar melhor, eu faço uma comida para você. Você toma banho e fica tranquilo. Como poderia dizer não para aqueles olhos? Ah, aqueles olhos tão bonitos e o sorriso do médico, a combinação perfeita entre gesto e beleza fizeram seu coração bater mais forte. Sua conversa com o empresário poderia esperar um tempo, naquele momento Belém queria se entreg
Precisava pensar no que estava fazendo, para isso Belém pediu um dia de folga a Regina e se dirigiu em direção a praia da ilha.A água quente do mar que subia com a maré abraçava delicadamente os pés do jovem cuidador que estava parado em frente a linda paisagem do oceano a sua frente e um refrescante vento batendo contra seu rosto. Não podia pedir nada mais terapêutico do que aquilo. Do fundo do seu coração gostaria de retribuir os sentimentos de Jean, queria poder que aquele mar trouxesse a paixão para dentro do seu corpo e a partir disso passasse a ver o médico da maneira que ele merecia ser visto. Machucar o coração do homem seria inevitável, não tinha uma forma de negar sua paixão, seu amor, sem fazer com que o doutor sofresse com as dores da rejeição. Por que não conseguia amá-lo de volta? Existia alguma coisa que o impedia de sentir de volta o mesmo? Não era apenas o trabalho, tinha que ter mais alguma coisa, porém o rapaz não sabia responder essa dúvida persistente. Não ness
Como faria agora? Talvez tivesse melhor ter mentido para si mesmo e ter se forçado a gostar do médico, entretanto, mesmo assim, teria sido pior porque Belém não seria capaz de corresponder os sentimentos do outro. Não o amaria da mesma forma que ele o ama, estariam fadados a um relacionamento caótico e corrisivo.Depois do último encontro dos dois Jean sumiu, o cuidador das crianças ficou preocupado, mas não teve coragem de ir atrás do médico, sabia que ele precisava de um tempo, porém não sabia que era tanto tempo assim.Vamos voltar para essa história mais tarde. Ainda temos um percalço para resolver.Apesar da sua conversa desastrosa com o médico, Belém teria que seguir em frente e em relação a história da corrupção, teria que agir o mais rápido possível para poder resolver isso de uma vez por todas. Ele tinha duas escolhas: ir para seu apartamento e descansar ou, então, ir até a mansão do empresário e entregar a ele as cópias dos papéis do livro de contas do instituto. Belém optou
De madrugada, Maria e Nádia entraram escondidas no escritório. Apesar da segunda estar com muito sono, resolveu acompanhar sua amiga para que ela não ficasse perdida pelos corredores do instituto.— O que estamos fazendo aqui, Maria?— Ali… — apontou para a janela que Belém disse que era mágica. — Belém disse que a gente pode olhar para aquela janela e ver nossos sonhos. Eu quero fazer um pedido pra ela porque se é assim, então, ela é mágica.Nádia suspirou, poderia dizer que era tudo mentira, mas qual graça teria? Nenhuma, apenas concordou com sua cabeça.Então, em silêncio Maria ficou de frente para a janela e sorrindo, mostrando seus dentes tortos e de leite faltando, pediu em sua mente com todo seu coração. A janela brilhou e Nádia percebeu, mas escolheu acreditar que era apenas sua cabeça com sono pregando uma peça em seus olhos.— O que você pediu, Maria?— Pedi que… Que nosso aniversário desse ano, a gente encontre nossos pais ou papais novos. — respondeu a mocinha sorrindo ain
Uma semana desde a última vez que falou com o médico. Belém estava preocupado, claro e por que não estaria? Não o amava como seu amante, mas sim como um grande irmão. Um amigo. Apesar das tentativas de comunicação, Jean não respondeu às mensagens de Belém. Apenas visualizou, não chegou a bloquear o contato do cuidador de crianças, apenas estava em silêncio. Depois de uma semana, Belém resolveu desistir e esperar de verdade o tempo do outro. — Preocupado? — perguntou Tatiana entrando na sala de convivência dos cuidadores, sentou de frente para o amigo. — Deixa eu advinhar, o Jean… — Sim. — respondeu Belém com a voz fraca. — Ai amigo, o que você esperava? Você deu o maior fora nele. — Eu sei, mas… — de repente uma luz em sua mente. Olhou para a amiga. — Tati… Pode me fazer um favor? A moça fica em silêncio por alguns segundos até o momento em que compreendeu. — Eu vou até o hospital tentar falar com ele. — respondeu a amiga sorrindo. — Obrigado. Em seguida o rapaz levantou e deu