Podia sentir em seus ossos a diferença entre acordar em seu colchão duro e naquela cama gigantesca e espaçosa com um colchão que era como deitar-se em nuvens e lençois tão sedosos e macios que pareciam mais um abraço angelicam do que um pedaço de tecido esticando sobre a cama. Ainda tinha o bônus de ser acordado pelo som do silêncio, não pela vizinhança barulhenta onde vive, nem pelo ar gelado que sai pelas paredes cheias de infiltração do seu modesto apartamento.Não sabia que era possível acordar tão relaxado como daquela forma, era algo totalmente novo… Tinha descoberto um mundo novo.Assim que seus olhos abriram, encontraram o quarto vazio, sem a presença do empresário mais velho, a mobília cara lhe encarando, pareciam que tinha vindo do século passado e provavelmente eram, pois tinha a estética ao mesmo tempo em que pareciam novas.Assim que se vestiu com as roupas que usava na noite anterior, desceu para a sala de estar onde encontrou Teodor conversando com um homem bem vestido,
A antiga diretora do instituto foi embora sem se despedir dos seus funcionários, enquanto todos estavam ocupados com seus afazeres, a mulher foi embora como uma fumaça que ganha o céu. Ao ficar sozinho com Teodoro no escritório, Belém fica em silêncio tentando absorver tudo que havia acontecido ali em poucos minutos. Em tão pouco tempo, tudo havia mudado e ele nem havia tido tempo para analisar a situação, refletir sobre ela e se acostumar.Preocupado ao perceber a expressão do mais jovem, Teodoro perguntou:— Está tudo bem?Antes de responder, Belém teve que se virar para ficar frente a frente com o empresário.— Na verdade, não estou, não. — soltou um breve suspiro. — Não sei se vou conseguir fazer isso… Ser diretor de um lugar como esse? Não sei se estou pronto para uma responsabilidade tão grande, Teodoro.De uma forma tão delicada que nem mesmo o jovem promovido a diretor reconheceu, Teodoro segurou suas mãos e seus olhos viram dentro do outro, sorrindo, começou a dizer com um to
A febre do pequeno Gigio não diminuía apesar de todos os esforços que os funcionários fizeram para que fosse possível. Tiveram que chamar um dos médicos que atende de forma voluntária no “Instituto Porto Seguro para Crianças e Adolescentes” para examinar o pequeno já que o caso havia saído do alcance de suas mãos.Enquanto o jovem médico de boa aparência, lembrando um galã de novela das nove horas, terminava de realizar os exames na criança adoentada, um dos funcionários do lugar se encontrava em agonia parado em frente a porta do dormitório. Assim como a impaciência em sua face, sua mão pousada em seu peitoral e seu pé sem parar de tremer por um único segundo denunciavam a sua preocupação quase maternal.O médico se afastou da cama, colocou o estetoscópio novamente pousado em seus ombros, percebendo essa movimentação o funcionário do instituto se aproximou em poucos passos sem deixar de encarar o outro.— Então? O que o Gigio tem, Doutor Jean? — perguntou o rapaz tentando mascarar su
Belém ficou um tempo ao lado de Gigio, o observando dormir agora tranquilamente depois da medicação. A testa do menino já não estava mais tão quente quanto antes. O funcionário acabou dispensando a toalha úmida e a água gelada que estava usando para acalmar a temperatura da região. Quando se sentiu mais seguro de que nada fosse acontecer, saiu dali para o dormitório onde Nádia e Maria ainda esperavam por ele. Elas queriam ouvir a história antes de dormir, apesar de já passar da meia-noite. — Vocês duas já deveriam estar de olhos fechados e sonhando. — disse Belém rindo quando abriu a porta do dormitório e viu apenas as duas acordadas. Nádia correu para a cama de Maria, as duas se ajeitaram enquanto o rapaz se aproximava. Ele se ajoelhou em frente a cama e ainda sorrindo, ficou observando as duas. — A gente quer ouvir a história. — comentou Maria. — É, conta uma história para a gente, por favor… — pediu Nádia em seguida. — Tudo bem, eu vou contar. — mais uma vez o rapaz se ajeitou
Chegou um momento da madrugada que, conforme a doença era combatida pelo antibiótico, Gigio começou a suar muito. Belém se assustou com aquilo, mas logo percebeu que estava sendo parte do processo, apesar da cama, das roupas e do travesseiro da criança ter ficado empapada com o suor. Quando finalmente a febre baixou de vez e a temperatura do corpo se estabeleceu no ideal, o coração do mais velho também conseguiu se manter calmo e parou de bater de preocupação como as asas de um beija-flor. Gigio ficaria melhor logo pela manhã, os olhos de Maurício se encheram de lágrimas de felicidades e assim que os primeiros raios de sol tocaram a ilha em que o instituto se localiza, o jovenzinho abriu seus olhos pequenos.Gigio viu logo a sua frente Belém com sua cabeça deitada em seus braços sobre a cama, tentou abrir sua boca, mas sentiu seus lábios grudados um no outro e sua garganta seca além do gosto amargo em sua língua. Quando conseguiu abrir a boca, o menino disse:— Tio…A voz fraquinha da
Fazia tempo desde a última vez em que Belém saiu em um encontro com alguém. Na ilha havia poucas opções relevantes em aplicativos para essa finalidade.Depois de vestir uma camisa cor-de-rosa de abotoar, deixando os dois primeiros botões abertos para mostrar um pouco do seu peitoral, uma calça jeans que ficava cada vez mais folgada conforme se aproximava dos seus calcanhares e por fim seu par de coturnos, o rapaz percebeu ao olhar seu reflexo no espelho que sentia falta daquilo. De se arrumar para si mesmo e também para impressionar outra pessoa, então, para concluir finalmente abriu o perfume que havia comprado há quase um ano. Para sua sorte a data de validade ainda estava longe. Quem sabe depois desse encontro não poderia nascer uma relação diferente apenas do sentimento de amizade que Belém tinha pelo médico, pela primeira vez, ele sentiu que essa porta poderia se abrir.Jean deixou seu carro vestindo uma camisa em um tom predominantemente bege com algumas listras vermelhas que es
Por muitos anos a casa grande que um dia pertenceu ao coronel que já mandou em toda aquela ilha ficou sem receber ninguém e isso porque quando a era de mandos e desmandos da poderosa família chegou ao fim com a nova república, eles decidiram se mudar para o continente e deixaram aquele lugar apenas com os empregados para que cuidassem da propriedade. Várias gerações viveram ali, recebendo um bom dinheiro para cuidar das terras, então, não é surpresa que a geração atual foi pega de surpresa quando foram noticiados de que um novo dono estava prestes a chegar ao local. Como suas famílias já viviam naquelas terras por anos, nunca pensaram que os verdadeiros donos poderiam retornar e que muito menos um novo proprietário poderia surgir. — Eu fiquei sabendo, Cleusa, que o homem se chama Teodoro Ayala Montes. — disse a matriarca da família descendente dos funcionários originais. — Um empresário lá do continente. Pedi para a Amandinha pesquisar na internet e achar uma foto do homem… — E aí,
Tudo estava muito calmo. Calmo demais. A febre de Giovanni baixou muito naquela manhã de quarta-feira e por causa disso todos, principalmente Belém, pensaram que aquele era um bom sinal de que o resto da semana seria recheada de dias mais tranquilos. Aconteceu de repente quando Belém e Tatiana estavam observando as crianças brincarem no pátio central do instituto, os demais cuidadores também estavam ali ajudando os dois principais funcionários. Gigio brincava sem parar com Nádia, Maria e as demais crianças do lugar, a alegria do menino fazia com que Belém e Tatiana comentassem entre si sobre essa felicidade toda. Um estouro. Todos olharam para dentro do prédio. — O que foi isso? — perguntou Belém em voz alta e quando entrou, percebeu a água escorrendo pelo piso. Seguiu esse caminho e chegou até um dos banheiros, abriu a porta. A pia estava vazando. — Ah, que merda… — O que? — a voz de Tatiana se aproximou rapidamente e soltou sua respiração quando encontrou aquela situação, fico