Colocou o ovo que havia acabado de fritar em seu prato com uma torrada, pegou sua xícara de café e sentou a sua mesa.Desde que voltou da viagem, Belém estava com dificuldade em se acostumar novamente ao seu apartamento velho, aos mofos na parede, a umidade do ar… Não estava se tornando mimado ou descontente com sua própria realidade, mas era difícil voltar depois de frequentar lugares diferentes. Só que não era apenas isso que estava habitando sua mente, mas a imagem de Teodoro ao lado de Gigio, suas semelhanças físicas, estavam registradas em sua memória como um arquivo em um HD externo.Sabia que Gigio foi criado por freis, pois foi deixando ainda bebê em um seminário, mas depois de uma certa idade foi transferido para Porto Seguro. Tudo o que Belém tinha que fazer agora era encontrar esse lugar em que Gigio foi deixado ainda bebê. Sabia onde encontrar essas informações.Entrou no escritório de Regina em uma tarde em que a diretora saiu para realizar algumas compras para o lugar co
A viagem tinha sido uma decepção até certo ponto, saber que Gigio não era o bebê que Teodoro procura diminuía as opções em duas crianças, Nádia e Maria. Belém retornou à ilha disposto a conversar com o empresário sobre sua descoberta e a possibilidade de ser uma das meninas. Todavia, antes de ir conversar com Teodoro, havia uma coisa mais urgente a ser feita, assim que voltou para a ilha, o rapaz foi até Regina, a diretora do instituto comentar o que tinha descoberto, mas claro que a mulher logo estranhou, pois não foi com essa justificativa que o rapaz teve um dia de folga.— Confesso que menti.Disse Belém sentado de frente para a mesa da diretora.Regina apenas suspirou e ajeitou seus cabelos, antes de tomar uma decisão, queria compreender o motivo de um dos seus melhores funcionários. Então, ela questionou:— Por quê?— Eu estava fazendo uma investigação para o Teodoro.— Para o Teodoro? Por qual motivo ele quer investigar o Giovanni?— Bem… — começou Belém tentando pensar em uma
Podia sentir em seus ossos a diferença entre acordar em seu colchão duro e naquela cama gigantesca e espaçosa com um colchão que era como deitar-se em nuvens e lençois tão sedosos e macios que pareciam mais um abraço angelicam do que um pedaço de tecido esticando sobre a cama. Ainda tinha o bônus de ser acordado pelo som do silêncio, não pela vizinhança barulhenta onde vive, nem pelo ar gelado que sai pelas paredes cheias de infiltração do seu modesto apartamento.Não sabia que era possível acordar tão relaxado como daquela forma, era algo totalmente novo… Tinha descoberto um mundo novo.Assim que seus olhos abriram, encontraram o quarto vazio, sem a presença do empresário mais velho, a mobília cara lhe encarando, pareciam que tinha vindo do século passado e provavelmente eram, pois tinha a estética ao mesmo tempo em que pareciam novas.Assim que se vestiu com as roupas que usava na noite anterior, desceu para a sala de estar onde encontrou Teodor conversando com um homem bem vestido,
A antiga diretora do instituto foi embora sem se despedir dos seus funcionários, enquanto todos estavam ocupados com seus afazeres, a mulher foi embora como uma fumaça que ganha o céu. Ao ficar sozinho com Teodoro no escritório, Belém fica em silêncio tentando absorver tudo que havia acontecido ali em poucos minutos. Em tão pouco tempo, tudo havia mudado e ele nem havia tido tempo para analisar a situação, refletir sobre ela e se acostumar.Preocupado ao perceber a expressão do mais jovem, Teodoro perguntou:— Está tudo bem?Antes de responder, Belém teve que se virar para ficar frente a frente com o empresário.— Na verdade, não estou, não. — soltou um breve suspiro. — Não sei se vou conseguir fazer isso… Ser diretor de um lugar como esse? Não sei se estou pronto para uma responsabilidade tão grande, Teodoro.De uma forma tão delicada que nem mesmo o jovem promovido a diretor reconheceu, Teodoro segurou suas mãos e seus olhos viram dentro do outro, sorrindo, começou a dizer com um to
Depois de ter apresentado Belém como o novo diretor do Porto Seguro, Teodoro voltou para sua casa porque ainda tinha documentos para ler dos outros negócios que sua empresa possui. Ele se encontrava trancado na sala com uma xícara de café e uma pilha de documentos digitalizados quando começou a escutar uma conversa muito barulhenta vindo da sala de estar da mansão. Primeiro, pensou que seria a família dos empregados que viviam ali, mas a conversa se estendeu por tanto tempo que acabou atrapalhando seu trabalho e o homem teve que ir até o local ver do que se tratava.Assim que chegou à sala de estar, encontrou uma figura feminina familiar. Tinha o mesmo tom de cabelo que sua falecida esposa, a mesma cor nos olhos, entretanto, a personalidade destoava significativamente uma da outra, apesar de serem irmãs. Helena, sua cunhada.— Mas do que se trata isso? — perguntou o empresário de frente para a mulher que estava entre as duas empregadas.— Teodoro, essas duas queridas não queriam te ch
A febre do pequeno Gigio não diminuía apesar de todos os esforços que os funcionários fizeram para que fosse possível. Tiveram que chamar um dos médicos que atende de forma voluntária no “Instituto Porto Seguro para Crianças e Adolescentes” para examinar o pequeno já que o caso havia saído do alcance de suas mãos.Enquanto o jovem médico de boa aparência, lembrando um galã de novela das nove horas, terminava de realizar os exames na criança adoentada, um dos funcionários do lugar se encontrava em agonia parado em frente a porta do dormitório. Assim como a impaciência em sua face, sua mão pousada em seu peitoral e seu pé sem parar de tremer por um único segundo denunciavam a sua preocupação quase maternal.O médico se afastou da cama, colocou o estetoscópio novamente pousado em seus ombros, percebendo essa movimentação o funcionário do instituto se aproximou em poucos passos sem deixar de encarar o outro.— Então? O que o Gigio tem, Doutor Jean? — perguntou o rapaz tentando mascarar su
Belém ficou um tempo ao lado de Gigio, o observando dormir agora tranquilamente depois da medicação. A testa do menino já não estava mais tão quente quanto antes. O funcionário acabou dispensando a toalha úmida e a água gelada que estava usando para acalmar a temperatura da região. Quando se sentiu mais seguro de que nada fosse acontecer, saiu dali para o dormitório onde Nádia e Maria ainda esperavam por ele. Elas queriam ouvir a história antes de dormir, apesar de já passar da meia-noite. — Vocês duas já deveriam estar de olhos fechados e sonhando. — disse Belém rindo quando abriu a porta do dormitório e viu apenas as duas acordadas. Nádia correu para a cama de Maria, as duas se ajeitaram enquanto o rapaz se aproximava. Ele se ajoelhou em frente a cama e ainda sorrindo, ficou observando as duas. — A gente quer ouvir a história. — comentou Maria. — É, conta uma história para a gente, por favor… — pediu Nádia em seguida. — Tudo bem, eu vou contar. — mais uma vez o rapaz se ajeitou
Chegou um momento da madrugada que, conforme a doença era combatida pelo antibiótico, Gigio começou a suar muito. Belém se assustou com aquilo, mas logo percebeu que estava sendo parte do processo, apesar da cama, das roupas e do travesseiro da criança ter ficado empapada com o suor. Quando finalmente a febre baixou de vez e a temperatura do corpo se estabeleceu no ideal, o coração do mais velho também conseguiu se manter calmo e parou de bater de preocupação como as asas de um beija-flor. Gigio ficaria melhor logo pela manhã, os olhos de Maurício se encheram de lágrimas de felicidades e assim que os primeiros raios de sol tocaram a ilha em que o instituto se localiza, o jovenzinho abriu seus olhos pequenos.Gigio viu logo a sua frente Belém com sua cabeça deitada em seus braços sobre a cama, tentou abrir sua boca, mas sentiu seus lábios grudados um no outro e sua garganta seca além do gosto amargo em sua língua. Quando conseguiu abrir a boca, o menino disse:— Tio…A voz fraquinha da