Um véu mágico estava sob a lua naquela noite, tinha algo muito atraente que puxava a atenção de Teodoro. Parecia que sua falecida esposa estava o observando de lá. — Aqui está seu café, senhor… — Adélia deixou a bandeja com o bule e a xícara em cima da mesa. O empresário se virou, depois de ouvir a voz, não esboçou nenhuma reação e apenas agradeceu com um movimento de cabeça. Bebeu seu café ainda olhando para a esfera de prata no céu. Pela primeira vez o homem percebeu a calmaria daquela ilha, não estava escutando os barulhos chatos e incômodos da metrópole que vivia. Apenas escutava o barulho da natureza, os grilos cantando, miados, alguns latidos, o som do vento passando pelas árvores e levemente conseguia escutar também as ondas do mar se debatendo. De repente a voz de Maurício falando seu nome, “Teodoro Ayala Montes”, surgiu como se alguém dentro de sua mente tivesse dado o play e ligado a função repetir no áudio dele falando o nome. Odiava como aquele rapaz dizia seu nome comp
Foi uma surpresa para Belém quando atravessou o portão do seu prédio e viu o carro de Jean estacionado ali em frente, mas uma surpresa boa.Belém queria poder negar que gostou daquilo, mas não conseguia porque o sorriso em seu rosto o denunciava sem dó. Era a primeira vez que tinha alguém que fazia aquele tipo de surpresa, o pegar em frente a sua casa para levá-lo até o trabalho. Primeira vez que sentia que alguém estava pensando nele.Durante o caminho, os dois conversaram sobre os últimos acontecimentos e acabaram caindo em uma sinuca sem bico entre suas opiniões. Belém desconfiava muito da caridade de Teodoro, chegava ao ponto de não esconder mais e Jean estava no lado contrário, ele não achava estranho o interesse do empresário em querer ajudar o instituto e aquelas crianças.— Não é você que diz que aqueles três são especiais? — perguntou o médico enquanto dirigia.— Sim, mas… Ainda é estranho. Se não fosse só com eles, mas com todas aquelas crianças, mas só com eles… — comentou
Lá estava, bem à frente do seu campo de visão, a casa grande que se converteu na mansão de Teodoro. Não fazia muito tempo desde o dia em que esteve ali para reclamar o dinheiro que foi prometido, sua mão tinha memória do tapa que depositou no rosto do famoso empresário, memória tão boa que seus dedos formigavam pedindo por mais. Para o seu azar, uma gota caiu no topo de sua cabeça, depois duas e depois três, mais quatro e de um segundo para outro, uma forte chuva caiu. Não podia mais esperar, correu em direção a porta da frente e bateu em desespero.— Meu Deus… — disse Cleusa, a irmã da empregada mais velha, ao abrir a porta. — Menino, você tá todo molhado, entra vem…Assim que Belém passou para dentro do casarão, Teodoro surgiu do corredor que leva até seu escritório, perguntando quem estava batendo na porta, porém quando encontrou o cuidador das crianças molhado das cabeças aos pés ficou em silêncio.— O que deu em você para vir até aqui, nessa chuva?— A chuva começou depois que eu
Quando deixou o quarto de hóspedes, pronto para voltar para sua casa, Belém ficou surpreso ao esbarrar em Teodoro que também acabara de deixar sua suíte, vestindo seu melhor terno — como sempre estava — e pronto para o café da manhã. Os dois ficaram se observando em silêncio, ambos não esperavam se encontrar assim por mais que um se lembrasse da presença do outro ali.— Bo-bom dia. — disse Belém evitando olhar para o rosto do dono da casa grande.Teodoro ajeitou sua gravata antes de falar.— Bom dia… Dormiu bem? Você ficou bem mexido ontem com as coisas que eu disse.— Ah, sim… Eu dormi bem… Tô com um pouco de dor de cabeça, mas eu vou ficar bem. Quando chegar em casa, vou tomar um café antes de ir para o instituto e vou ficar bem. — sorriu ao terminar de falar.— Não precisa, faça seu desjejum aqui. Qual o problema? Hmmm? Já passou a noite.Belém encarou o homem mais velho, tentou pensar em alguma coisa, alguma desculpa, entretanto, não encontrou um motivo que o outro não conseguiria
Belém entregou a chave do seu apartamento para o médio e depois de, mais ou menos, uma hora o homem retornou com uma muda de roupa para o cuidador das crianças. Sorrindo, Belém agradeceu e quando se virou para voltar para o instituto, Jean pediu para que ele esperasse porque queria conversar rapidamente. — Tudo bem… — respondeu Belém confuso. — Sobre o quê? — Duas coisas… — respondeu Jean. — Primeiro, realmente o menino tá bem? Não aconteceu nada? Ele não voltou a ficar doente. — Não… Não é isso… Olha eu te explico tudo depois… Agora não posso, mas tem uma explicação. — Ah bom… — sussurrou o médico sem entender, mas, então, se preparou para a próxima pergunta. — Eu queria te convidar para ir viver comigo… No meu apartamento. Belém ficou paralisado com aquele convite, naquele momento se arrependeu de ter pedido para Jean ir até seu apartamento. Logo a paralisia foi passando e dando lugar a um sentimento de constrangimento. — Olha… — começou o mais novo, entretanto o outro homem fo
Assim que o dia amanheceu, Belém se preparou para voltar para seu apartamento, seu plano era tomar um banho, beber um café e depois ir até a casa do beneficiário, porém o rapaz teve uma surpresa ao encontrar, mais uma vez, Jean esperando por ele logo pela manhã. O médico estava com seu quadril encostado na dianteira do seu carro, seus braços cruzados, deixando seus bícepis maiores, em uma postura de badboy que resumia a energia que aquele homem emanava sem o jaleco de bom doutor. — O que está fazendo aqui? — Belém perguntou. — Vim te buscar, vamos para meu apartamento. — Seu apartamento? — Sim. Achei que seria bom porque lá você pode descansar melhor, eu faço uma comida para você. Você toma banho e fica tranquilo. Como poderia dizer não para aqueles olhos? Ah, aqueles olhos tão bonitos e o sorriso do médico, a combinação perfeita entre gesto e beleza fizeram seu coração bater mais forte. Sua conversa com o empresário poderia esperar um tempo, naquele momento Belém queria se entreg
Precisava pensar no que estava fazendo, para isso Belém pediu um dia de folga a Regina e se dirigiu em direção a praia da ilha.A água quente do mar que subia com a maré abraçava delicadamente os pés do jovem cuidador que estava parado em frente a linda paisagem do oceano a sua frente e um refrescante vento batendo contra seu rosto. Não podia pedir nada mais terapêutico do que aquilo. Do fundo do seu coração gostaria de retribuir os sentimentos de Jean, queria poder que aquele mar trouxesse a paixão para dentro do seu corpo e a partir disso passasse a ver o médico da maneira que ele merecia ser visto. Machucar o coração do homem seria inevitável, não tinha uma forma de negar sua paixão, seu amor, sem fazer com que o doutor sofresse com as dores da rejeição. Por que não conseguia amá-lo de volta? Existia alguma coisa que o impedia de sentir de volta o mesmo? Não era apenas o trabalho, tinha que ter mais alguma coisa, porém o rapaz não sabia responder essa dúvida persistente. Não ness
Como faria agora? Talvez tivesse melhor ter mentido para si mesmo e ter se forçado a gostar do médico, entretanto, mesmo assim, teria sido pior porque Belém não seria capaz de corresponder os sentimentos do outro. Não o amaria da mesma forma que ele o ama, estariam fadados a um relacionamento caótico e corrisivo.Depois do último encontro dos dois Jean sumiu, o cuidador das crianças ficou preocupado, mas não teve coragem de ir atrás do médico, sabia que ele precisava de um tempo, porém não sabia que era tanto tempo assim.Vamos voltar para essa história mais tarde. Ainda temos um percalço para resolver.Apesar da sua conversa desastrosa com o médico, Belém teria que seguir em frente e em relação a história da corrupção, teria que agir o mais rápido possível para poder resolver isso de uma vez por todas. Ele tinha duas escolhas: ir para seu apartamento e descansar ou, então, ir até a mansão do empresário e entregar a ele as cópias dos papéis do livro de contas do instituto. Belém optou