Luís Renato
— Bando de gente incompetente! — esbravejo enquanto caminho de volta para a minha sala, sobre os olhares atentos e curiosos dos meus funcionários. Dou de ombros. Eu simplesmente odeio pessoas que não têm pontualidade e nem compromisso com o seu trabalho. Odeio ainda mais quando não conseguem fazer as suas tarefas direito. Não deve ser tão difícil fazer as coisas do jeito que eu peço. — Está cada vez mais difícil encontrar uma secretária pontual e competente — resmungo para o meu sócio. Essa já é a quarta que dispenso em menos de quinze dias, que saco! Penso ainda mais irritado. — Tive que demitir mais uma secretária hoje, acredita? Depois do terceiro dia chegando com pelo menos meia hora de atraso. E hoje o seu descaso com o trabalho foi a gota d'água — digo parando de frente para a minha mesa e encaro o Marcos sentado na minha cadeira.
— Ih! Dia difícil hoje, mano? — Se levanta fazendo uma cara sacana e segura um sorriso sínico. Acredite, às vezes tenho vontade de esmurrar essa cara de babaca que ele tem.— Põe difícil nisso! — digo seco, me acomodando em minha cadeira. Esfrego meu rosto com as mãos, um claro sinal da minha impaciência, enquanto ele se senta na cadeira a minha frente.— Acredita que a m*****a além de chegar atrasada, imprimiu as cópias erradas para a minha reunião com os membros da diretoria? Caralho! Tive que cancelar a porra da reunião! Não sabia onde enfiar a minha cara! — cuspo as palavras. — Detesto quando as coisas não saem do jeito que eu havia planejado!— Cara, você precisa fazer sexo, sabia? Sei lá, para ver se diminui esse seu mau-humor canino — Marcos diz sério, mas com ar de deboche. — Cacete, Luís! Em apenas quinze dias você já trocou de secretária quatro vezes, cara! Fala sério! — resmunga com a cara amarrada, deixando-me ainda mais puto da vida. Praticamente o fuzilo com os olhos.— Veio aqui para tirar uma com a minha cara, Marcos? — pergunto, segurando o impulso de expulsá-lo da minha sala. — Não estou com paciência e nem humor para as suas tolices! Você não tem nada pra fazer, não? — rosno no meu limite da impaciência Ele ergue as mãos em sinal de paz, levantando-se em seguida e dando alguns passos para trás.— Tenho! Mais cinco entrevistas para encontrar sua próxima vítima. — sibila abrindo um sorriso escroto e gira nos próprios calcanhares para sair da minha sala. Mas antes que ele chegue à porta, eu falo.— Deixa que eu mesmo faço essas entrevistas, Marcos. — Ele para bruscamente no meio do caminho e me encara com espanto. — Penso que você é que não está sabendo escolher a candidata certa para esse trabalho. — Marcos engole o sorriso debochado e arqueia as sobrancelhas para mim.— Está falando sério? — indaga incrédulo. — Você vai mesmo encarar aquelas cinco garotas lindas e gostosas na sala de reunião e fazer as entrevistas pessoalmente? — Agora sou eu que arqueio as sobrancelhas para ele. Marcos sabe o quanto odeio fazer esse tipo de entrevista, mas eu preciso resolver isso quanto antes. Então encaro os olhos escuros em desafio. — Estou falando muito sério, Marcos Albuquerque! Veremos o que temos para hoje — digo e ele dá de ombros me dando as costas. — Pode me emprestar sua secretária, só para orientá-las a virem direto para a minha sala uma de casa vez? — peço o fazendo parar a sua caminhada outra vez. Ele me aponta o seu indicador.— Posso, mas não se acostuma não, viu? Será só para esse seu servicinho sujo aí. Depois ela é toda minha. — Ele pisca um olho, abre o maldito sorriso debochado outra vez e eu reviro os olhos, mostrando-lhe o dedo do meio.— Deixa de ser idiota, Marcos! Se eu quiser, a Cassandra trabalha comigo e ponto final, afinal, eu sou o chefão dessa porra toda! — rosno para o meu amigo e ele solta uma gargalhada sonora, saindo da minha sala e fechando a porta atrás de si. — Filho da mãe! — xingo e me pego rindo das suas tolices.Marcos Albuquerque é o meu amigo desde sempre e apesar de termos pensamentos bem distintos, nos damos muito bem. Exceto quando eu não estou no clima e mesmo assim ele resolve fazer das suas sandices. Olho para o relógio em meu pulso e resolvo esquecer o incidente na sala de reuniões, concentrando-me no trabalho. Ajeito alguns papéis em cima da minha mesa, abro o meu e-mail e me concentro na leitura.***Ana Júlia Andei o dia inteiro procurando emprego e já rabisquei pelo menos oito dos dez classificados que marquei no jornal, mas só cheguei a fazer cinco entrevistas e confesso que não senti firmeza em nenhuma delas. Agora só me resta mais duas opções e nesse exato momento estou indo direto para um escritório de uma rede de hotéis internacionais que está começando a crescer aqui no Brasil. Paro em frente ao prédio imponente e olho o arranha-céu que chega a se perder nas nuvens densas. Puxo o ar com força, encarando o prédio suntuoso de pelo menos vinte andares, todo revestido em concreto e vidros escuros. Encho-me de coragem e entro no hall, tão luxuoso quanto a sua fachada e não pude deixar de admirar o letreiro com letras cheias em tons de vermelho. Construtora & Hotelaria Caravelas. Entro no saguão do hotel, que me chama ainda mais a atenção por sua elegância e beleza, com o seu piso de mármore negro e brilhante igual um espelho d’água. Suas paredes exibem enormes quadros com várias imagens de hotéis que chegam a encher os olhos com tamanho luxo e poderio. Um mais luxuoso do que o outro. Penso. Observo as belas poltronas negras, acolchoadas e seus elegantes elevadores. O lugar é bem amplo e há pelo menos dois balcões de atendimento, todo em vidro escuro. Receosa, vou direto para um dos balcões e aviso que tenho uma entrevista marcada com o doutor Marcos Albuquerque. Uma moça sorridente me indica um dos elevadores que fica em um corredor do lado esquerdo do balcão.— Aperte o botão que vai para o último andar — avisa. — Procure por Cassandra Xavier, ela te levará à sala de reuniões onde serão realizadas as entrevistas. — Assinto com um sorriso e agradeço a informação. Respiro fundo e sigo para um dos elevadores, como me orientou. Enquanto aguardo o andar, observo que até a pequena e apertada caixa de aço exala um luxo e requinte extraordinário. Os painéis digitais exibem números verdes e na parede de trás tem um espelho que vai do teto ao chão e do meu lado direito tem uma descrição de cada andar com letras verdes. Aproveito os segundos para olhar como estou diante do espelho e solto uma respiração audível, assim que as portas se abrem. Em meu campo de visão surge um salão grande e elegante, decorado com sofás quadrados de couro de cor de grafite, destacando-se no piso branco e nas paredes que exibem os graciosos tons pastéis, que expõem alguns quadros abstratos. Sou recebida por uma jovem de trajes muito elegantes. No canto do terno feminino, tem as letras iniciais da empresa bordadas com o mesmo tom vermelho que observei na recepção. Observo a mulher muito alta, com seus traços asiáticos sentada atrás da sua mesa.— Olá, você deve ter vindo para a entrevista. — Ela diz com seu tom profissional.— Sim, me chamo Ana Júlia Falcão — digo-lhe estendendo a minha mão.— Sou Cassandra, me acompanhe, por favor! — pede educadamente. Respiro fundo algumas vezes enquanto a sigo por um corredor comprido. Cassandra me leva uma sala de reuniões. Lá dentro encontro mais quatro moças sentadas ao redor de uma mesa enorme e retangular. Elas são muito bonitas e carregam algumas pastas nas mãos, parecem ter experiência para o trabalho oferecido. Minutos depois começam a nos chamar, uma por vez. A medida que elas vão saindo da sala, eu vou ficando nervosa. Queria muito ter uma oportunidade nesta empresa. Ela parece ser muito promissora. São quase quatro da tarde quando finalmente me chamam. Sou a última a fazer a entrevista, já que fui a última a chegar na empresa. Entro em uma sala enorme e muito bem decorada com um estilo totalmente masculino. No centro da sala há uma mesa com tampo de vidro preto e um homem usando um terno caro e elegante da mesma cor. Enquanto entro na sala, observo o seu porte. Ele parece ser muito alto, apesar de estar sentado e curvado sob
Ana JúliaO tempo parece que não passa quando você está em casa sem nada para fazer. Deixo o meu celular sempre por perto, esperando alguma ligação de alguma das entrevistas que fiz no dia anterior. Confesso que estou perdendo as minhas esperanças, pois já são quase nove horas da manhã e Mônica saiu para trabalhar já faz algum tempo. Estou na sala cuidando da Isabelly, a sobrinha da Mônica. Ela é uma bebê linda e alegre, um amor de criança. Sempre tranquila e divertida. Coloquei-a em seu carrinho com o seu brinquedo preferido, um ursinho de borracha que vive colocando na boca. Enquanto ela brinca, dou mais uma olhada nos classificados do jornal de hoje. A minha insegurança, me faz pensar em bolar um plano B. Passo longos minutos procurando novas oportunidades de emprego e dessa vez, círculo apenas três opções que se encaixam no meu perfil. Mariana, a enfermeira que cuida do seu Genaro passa por mim com um leve sorriso no rosto. Ela é uma garota jovem, tem a minha idade e é muito boni
— Sim, tenho que estar lá amanhã, às oito da manhã em ponto. Cassandra deixou bem claro que não pode haver atrasos.— Ana, você sabe o que isso significa, não é? — pergunta ficando séria. — Dizem que não é nada fácil conseguir uma vaga nessa rede de hotelaria, e você conseguiu!— Eu sei! — Contive uma explosão de alegria. — Acredito que finalmente algo começou a dar certo para mim! — falo entusiasmada.— Você é uma guerreira, minha amiga. Você dará muito orgulho à sua mãe de onde ela estiver e vencerá, porque você merece isso da vida. — Suas palavras me emocionam.— Obrigada, amiga, por tudo! Por estar comigo, por me apoiar, por não me deixar desistir nunca. Eu te amo muito, minha irmã!— Também te amo muito! Mas tudo isso que conquistou é mérito seu e não meu. — fala com um sorriso iluminando seu rosto e coloca Belly em seu carrinho. — Temos que comemorar! — Mônica fala batendo palmas e dando pulinhos no meio da sala. Belly solta algumas risadinhas, batendo palminhas, pensando ser um
— Merda, isso está um caos! — xinguei irritado quando o telefone voltou a tocar no meio de mais uma leitura de relatórios. Respirei fundo. Preciso resolver a questão da minha secretária logo, ou enlouquecerei aqui. Parei tudo que tinha para fazer e peguei alguns currículos das entrevistas dentro da minha gaveta. Li atentamente um por um, mas foi o último currículo que me chamou a atenção. CURRÍCULO VITAINOME: Ana Júlia Falcão.IDADE: 20 anos.ESCOLARIDADE: Segundo período de medicina e curso completo de inglês.EXPERIÊNCIA: Sem experiências.OBSERVAÇÃO: Aberta a novas experiências. — Interessante! — disse baixinho. — Jovem, boa aparência, inexperiente, essa parte me preocupa. Tive que demitir algumas mulheres com bastante experiência no cargo. Será que ela conseguiria dar conta? Olho a foto no topo do currículo e me deixo levar. Ela é bonita! Uma morena e tanto! Olhos castanhos e meigos, cabelos negros, lábios cheios. Simplesmente linda! Bufei, esfregando as mãos no rosto. No que v
Ana JúliaO despertador tocou às seis da manhã em ponto, mas eu já estou acordada há mais de meia hora e deitada na cama com a mente distante, perdida em pensamentos. Tive uma noite agitada, pensando no meu primeiro dia de trabalho. Como será trabalhar no Caravelas? Como será o meu chefe? Na verdade, estou mesmo é com medo de pôr tudo a perder. Nunca trabalhei na minha vida, não porque não precisasse, mas a minha mãe queria que eu me dedicasse inteiramente aos meus estudos. Ela queria que eu me formasse e que eu fosse alguém na vida. Por isso era a única que trabalhava em casa e se empenhava para que eu nunca abandonasse os meus estudos. Após separar uma roupa, a deixo em cima da cama e tomo um banho relaxante. A água morna consegue me acalmar sempre que fico tensa ou ansiosa. Sem pressa, lavo os meus cabelos, o meu corpo e saio enrolada numa toalha. Olho para as minhas roupas sobre a cama e fico indecisa no que vestir para o primeiro dia. Acabo optando por uma saia-lápis azul-marinho
— Bom dia, Ana! — Ele diz de costas para mim. — Antes de tudo, eu quero o meu café. Espero que tenham colocado você a par de tudo na sua função.— Sim, senhor — digo sem esperar que continue. — O seu café já está na sua mesa, senhor. Extra forte, puro e bem quente, como o senhor gosta — digo acompanhando-o até a sua sala.— Ótimo! — diz num tom firme e seco. — Sente-se. — ordenou contornando a sua mesa. — O que temos para hoje, Ana? — Eu me acomodo na cadeira de frente para a sua mesa e enquanto mexo no tablet, ele leva a xícara a boca.— O senhor tem duas reuniões, uma com o senhor Bartolomeu Dias, do marketing e outra com alguns acionistas. Em seguida tem mais uma reunião com o advogado. Um almoço com a senhora Joana Alcântara, além de uma videoconferência e três inspeções nos hotéis do litoral.— Certo. Eu preciso que você me acompanhe na reunião com Bartolomeu, Ana. E que faça algumas anotações para mim. Quanto ao almoço com a minha mãe, cancele! As inspeções dos hotéis tomam muit
Algumas horas antes…Luís RenatoEram cinco da manhã, o sol ainda estava fraco lá fora. Não conseguia mais dormir, sentia-me ansioso e inquieto. Pulei da minha cama e fui direto para o banheiro. Fiz minha higiene pessoal, tomei um banho rápido e coloquei uma roupa para fazer a minha corrida matinal. Como sempre, eu corri alguns quarteirões, chegando no calçadão e encontrei Guilherme Albuquerque se preparando para iniciar a sua corrida matinal. Gui, como o chamamos, é o irmão mais novo de Marcos Albuquerque. Ele é advogado e tem um escritório bem requisitado no centro da cidade, a G & G Advogados. As siglas fazem jus a uma sociedade dele com a esposa Gisele Albuquerque, que começou quando ainda nem sonhavam em estar casados. Hoje, eles têm uma filhinha linda, de apenas dois anos, a Amanda, que é minha afilhada e a minha alegria também. Amo aquela gorduchinha!— E aí, cara, como você está? — perguntou assim que me viu. — Sabia exatamente a que estava se referindo. Gui queria falar sobre
— Bom dia, senhor Luís! Podemos conferir a sua agenda do dia? — Fechei minha cara ao ouvir o som doce da sua voz. Sem falar que me irrita saber que esse som consegue rasurar a escuridão dentro de mim e isso me deixa com medo, acuado.— Bom dia! Primeiro, preciso do meu café. — Lhe respondi da maneira mais profissional e o tom mais seco possível. Mas a sua resposta profissional me fez parar no meio da minha sala e eu encarei a xícara descansando sobre o pires. Um café quente, forte e puro, como eu gosto. Um ponto para você, senhorita Ana Júlia! Pontualidade, dois pontos. Talvez você tenha algum futuro por aqui… por enquanto. Repassamos toda a agenda do dia, e não sei o porquê, mas acabei por levá-la comigo à reunião com Bartolomeu e às inspeções dos hotéis do litoral, algo totalmente desnecessário, já que os próprios gerentes resolvem tudo isso sozinhos. Quando terminamos enfim as inspeções, almoçamos em um dos restaurantes do hotel. Como um cavalheiro, puxei uma cadeira para que ela s