Ana Júlia
O despertador tocou às seis da manhã em ponto, mas eu já estou acordada há mais de meia hora e deitada na cama com a mente distante, perdida em pensamentos. Tive uma noite agitada, pensando no meu primeiro dia de trabalho. Como será trabalhar no Caravelas? Como será o meu chefe? Na verdade, estou mesmo é com medo de pôr tudo a perder. Nunca trabalhei na minha vida, não porque não precisasse, mas a minha mãe queria que eu me dedicasse inteiramente aos meus estudos. Ela queria que eu me formasse e que eu fosse alguém na vida. Por isso era a única que trabalhava em casa e se empenhava para que eu nunca abandonasse os meus estudos. Após separar uma roupa, a deixo em cima da cama e tomo um banho relaxante. A água morna consegue me acalmar sempre que fico tensa ou ansiosa. Sem pressa, lavo os meus cabelos, o meu corpo e saio enrolada numa toalha. Olho para as minhas roupas sobre a cama e fico indecisa no que vestir para o primeiro dia. Acabo optando por uma saia-lápis azul-marinho, uma blusa fina cor de salmão e com mangas três quartos, saltos altos preto e por fim, faço uma maquiagem leve. Olho no espelho quando termino e sorrio, parece estar ótimo. Espero que não esteja exagerado. Saio do quarto e vou direto para a cozinha. Ao me ver, Mônica me serve uma xícara de café quente, com torradas, mas tomo apenas um café, já que não consigo comer nada com toda essa ansiedade revirando o meu estômago.
— Como está se sentindo no seu primeiro dia de trabalho? — Mônica pergunta com um certo entusiasmo e um grande sorriso no rosto. Respiro fundo.— Ansiosa, muito ansiosa e com medo.— Medo de quê? — indaga sem entender.— Sei lá! De pôr tudo a perder. Ah! Amiga, eu nunca trabalhei na vida. Não sei… deve haver um motivo para tanta dificuldade em entrar lá, certo? Concluo, nervosa. — Eles devem ser muito exigentes e… e se eu não conseguir? De repente alguns pensamentos negativos começam a querer me dominar. — Mônica seguir em meus ombros e me faz olhá-la nos olhos— Você consegue, Ana! Olha só, o segredo é ser pontual, ser atenciosa com o seu trabalho, ser educada com todos, sempre solícita e estar sempre atenta. Não se preocupe, vai dar tudo certo! — Eu assinto com um suspiro baixo e forço um sorriso.— Eu espero, amiga — Dou-lhe um abraço e beijo o seu rosto. — Tenho que ir, tenho que estar lá às oito em ponto, vou de ônibus e não quero me atrasar.— Vai lá, e confiança, Ana! — Assinto mais uma vez.Saio de casa e vou direto para a parada de ônibus. Enquanto o aguardo, repito para mim mesma que dará tudo certo e peço proteção para a minha mãe. Sei que ela deve estar torcendo por mim lá de cima. Chego no Caravelas pelo menos meia hora antes do meu horário e sou recebida por Cida, uma senhora que aparenta ter quarenta anos. Ela me leva para a sala onde fiz a entrevista no dia anterior.— Essa é a sala do senhor Luís Renato Alcântara. Você será a secretária dele. — informa. Dentro de mim, começa uma agitação desconhecida. Ele me pareceu muito mal-educado e impaciente também e pareceu ter manias de perfeição. Ai, estou ferrada! — Ouça, Ana, ele é um homem super legal, mas também é muito exigente com os cuidados do trabalho e principalmente com a pontualidade. O Senhor Luís detesta atrasos. Então nunca, eu disse nunca, em hipótese alguma se atrase. Esteja sempre atenta ao que ele fala, pede ou precisa. — Enquanto fala, ela me entrega um tablet, onde há uma agenda eletrônica. — Esta é a agenda dele. — Meu Deus, é muita informação! Será que eu consigo? Você consegue, Ana! A voz da Mônica soa dentro de mim. Eu conseguirei!— Tenha essa agenda sempre em mãos — Cida continua com as suas instruções. — Quando ele chegar ao escritório, deixe sempre uma xícara de café extra forte e bem quente sobre sua mesa e diariamente repasse com ele a agenda do dia. Sempre deixe preparado qualquer material que ele precise com antecedência, principalmente os que ele precisa de manhã cedo. — Ela respira fundo. — A última secretária dele foi demitida por levar o material errado para uma reunião muito importância. O Senhor Luís teve que cancelar a reunião por isso. Ele não tolera erros, de nenhum tipo. — Engulo em seco.— Entendi — digo. Respiro fundo e repasso as informações que acabei de receber em voz alta, para ela ter certeza de que não esqueci de nada. — Café extra forte e bem quente na mesa, repassar a agenda do dia, preparar o material antecipado, e atenção redobrada, certo?— E nada de atrasos. — Lembra e eu assinto.— Certo, nada de atrasos.— Ótimo! Essa será a sua mesa. Aqui você encontrará qualquer documento que ele precisar. — Ela aponta para um móvel de arquivo cor de chumbo ao lado da minha mesa. — Os documentos estão separados por ordem alfabética, ou por datas. — Cida aponta para a primeira gaveta. — Nessa gaveta você poderá organizar novos documentos que virão. Você entendeu?— Sim, eu entendi.— Ótimo! Boa sorte, Ana! Preciso que ir, Cassandra precisou viajar e eu tenho muitas coisas para fazer no setor de RH. Infelizmente não consegui ninguém para o seu treinamento de hoje — lamenta. — Você está por conta própria, querida, mas qualquer coisa é só me ligar. — Boa sorte! — Ela me dá um cartão com o seu número pessoal e sai apressadamente em direção dos elevadores. Eu me sento em minha cadeira e começo a olhar a agenda do Senhor Luís.✓Duas reuniões com acionistas e empresários entre as 8:00h e as 9:25h.✓A visita do advogado da empresa às 10:15h.✓Almoço de negócios às 12:30h.✓Uma videoconferência com os italianos às 15:00h.Ufa! Tem muito a ser feito hoje. São quase oito horas e faltam poucos minutos para o senhor Luís chegar na empresa. Então corro até a copa e preparo uma xícara de café extra forte e bem quente. Após deixá-lo em sua mesa, saio da sua sala. Assim que me acomodar na cadeira, escuto o sinal do elevador avisando que alguém chegou. Vejo o meu chefe, que em modéstia parte, é muito lindo saindo de dentro do elevador acompanhado de uma loira alta e muito bonita. Observo os olhos grandes e verdes da moça. Ela é muito magra e elegante, poderia até ser modelo de passarela. Deve ser a namorada dele. Eles conversam e riem. E que sorriso é aquele, papai? A loira segue para o outro lado do corredor e meu chefe caminha firme em minha direção. Observo os seus passos como em câmera lenta. Ele segura uma maleta preta em uma das mãos e a outra está no bolso da calça cara, que faz um conjunto perfeito com o terno escuro. Os seus olhos avaliadores encontram os meus. Eles estão sérios e tem a cara de poucos amigos. Puxo uma respiração sutilmente e mantenho a calma o máximo possível.
— Bom dia, senhor Alcântara! — digo ao levantar-me. — Sou Ana Júlia, sua nova secretária — digo enquanto ele continua andando, sem me dar a menor atenção, indo direto para a sua sala. — Podemos colocar a sua agenda em dia agora, se o Senhor quiser — sugiro.— Bom dia, Ana! — Ele diz de costas para mim. — Antes de tudo, eu quero o meu café. Espero que tenham colocado você a par de tudo na sua função.— Sim, senhor — digo sem esperar que continue. — O seu café já está na sua mesa, senhor. Extra forte, puro e bem quente, como o senhor gosta — digo acompanhando-o até a sua sala.— Ótimo! — diz num tom firme e seco. — Sente-se. — ordenou contornando a sua mesa. — O que temos para hoje, Ana? — Eu me acomodo na cadeira de frente para a sua mesa e enquanto mexo no tablet, ele leva a xícara a boca.— O senhor tem duas reuniões, uma com o senhor Bartolomeu Dias, do marketing e outra com alguns acionistas. Em seguida tem mais uma reunião com o advogado. Um almoço com a senhora Joana Alcântara, além de uma videoconferência e três inspeções nos hotéis do litoral.— Certo. Eu preciso que você me acompanhe na reunião com Bartolomeu, Ana. E que faça algumas anotações para mim. Quanto ao almoço com a minha mãe, cancele! As inspeções dos hotéis tomam muit
Algumas horas antes…Luís RenatoEram cinco da manhã, o sol ainda estava fraco lá fora. Não conseguia mais dormir, sentia-me ansioso e inquieto. Pulei da minha cama e fui direto para o banheiro. Fiz minha higiene pessoal, tomei um banho rápido e coloquei uma roupa para fazer a minha corrida matinal. Como sempre, eu corri alguns quarteirões, chegando no calçadão e encontrei Guilherme Albuquerque se preparando para iniciar a sua corrida matinal. Gui, como o chamamos, é o irmão mais novo de Marcos Albuquerque. Ele é advogado e tem um escritório bem requisitado no centro da cidade, a G & G Advogados. As siglas fazem jus a uma sociedade dele com a esposa Gisele Albuquerque, que começou quando ainda nem sonhavam em estar casados. Hoje, eles têm uma filhinha linda, de apenas dois anos, a Amanda, que é minha afilhada e a minha alegria também. Amo aquela gorduchinha!— E aí, cara, como você está? — perguntou assim que me viu. — Sabia exatamente a que estava se referindo. Gui queria falar sobre
— Bom dia, senhor Luís! Podemos conferir a sua agenda do dia? — Fechei minha cara ao ouvir o som doce da sua voz. Sem falar que me irrita saber que esse som consegue rasurar a escuridão dentro de mim e isso me deixa com medo, acuado.— Bom dia! Primeiro, preciso do meu café. — Lhe respondi da maneira mais profissional e o tom mais seco possível. Mas a sua resposta profissional me fez parar no meio da minha sala e eu encarei a xícara descansando sobre o pires. Um café quente, forte e puro, como eu gosto. Um ponto para você, senhorita Ana Júlia! Pontualidade, dois pontos. Talvez você tenha algum futuro por aqui… por enquanto. Repassamos toda a agenda do dia, e não sei o porquê, mas acabei por levá-la comigo à reunião com Bartolomeu e às inspeções dos hotéis do litoral, algo totalmente desnecessário, já que os próprios gerentes resolvem tudo isso sozinhos. Quando terminamos enfim as inspeções, almoçamos em um dos restaurantes do hotel. Como um cavalheiro, puxei uma cadeira para que ela s
Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Assunto: Aviso.Ela me pediu para avisá-lo que só retornará ao Brasil na terça, pois precisam de mais um dia para resolver os problemas do novo hotel....Ansioso por conversar com ela, mesmo que o assunto seja trabalho, começo a digitar apressadamente:Luís Renato Alcântara.CEO da Caravelas e Hotelaria.Boa noite, senhorita Ana! Posso fazer uma pergunta?...Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Sim....Luís Renato Alcântara.CEO da Caravelas e Hotelaria.Por que ela mesmo não me ligou avisando?... Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Ela disse que tentou várias vezes, mas não conseguiu, senhor. Espero que o senhor não tenha se chateado!...Luís Renato Alcântara.CEO da Caravelas e Hotelaria.Não estou chateado, Ana, é só curiosidade mesmo. Acredito que ela tentou, quando eu estava jantando com meus pais....Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Certo! Então, é isso!
Termino o meu café e saio da cozinha, subo as escadas e vou para o meu quarto. No banheiro, vou direto para o balcão da pia e encaro o meu rosto. A barba está cheia, e o cabelo desalinhado. Pego a máquina na gaveta e começo a fazer o design da minha barba. Ao terminar, vou para o box de vidro temperado e ligo o chuveiro. Tomo uma ducha rápida. Vou para o closet e escolho uma bermuda leve e branca, e uma camiseta azul-escuro, sandálias de dedo e os meus óculos de estilo aviador. Observo o visual no espelho de corpo inteiro e passo as pontas dos dedos em meus cabelos, alinhando os fios. Puxo a respiração, observando o homem ansioso, louco para sair da sua jaula.Definitivamente, não sei o que estou fazendo.Minutos depois, desço as escadas e noto que Marta não está mais na cozinha. Saio de casa e vou direto para o elevador. Mesmo parado na caixa de aço, as pontas dos meus dedos tamborilando na palma da mão e a perna inquieta dizem o quão nervoso estou com esse almoço. Abro o primeiro bo
— Tio, a Ana é a sua mamolada? — Minha afilhada pergunta depois de um tempo. Olho para Amanda meio constrangido com o seu comentário, e tento explicar para ela que a Ana é apenas uma amiga que veio para conhecê-la. Pergunto-me se Guilherme e Gisele estão pensando o mesmo que Amanda. Bom, a resposta para eles seria bem pragmática; não. Nem de longe quero um compromisso sério. O churrasco começa minutos depois e flui maravilhosamente bem e com todos estão bem à vontade! Conversamos de tudo um pouco, e logo depois, Amanda se anima para um banho de piscina, acompanhada da mãe, que convida Ana para um mergulho. Lanço um olhar de lado e vejo que ela aceitou sem pensar duas vezes. Tento desviar o meu olhar, mas, minha nossa! Vê-la tirar aquele shortinho, que deslizava pelas pernas em seguida, até chegar ao chão, revelando o pequeno biquíni de estampa floral foi o meu inferno! E o top, porra, ela tirou o top! O biquíni tomara que caia não conseguiu guardar os perfeitos seios redondos e moreno
Horas antes do churrasco na casa dos Albuquerque… Ana JúliaEntrei em casa com o meu coração quase saindo pela boca e encontrei minha amiga andando de um lado para o outro da pequena sala de visitas. Assim que me viu ela parou e respirou aliviada. Ela parecia desesperada.— Ana, onde você estava, menina?! Eu já ia ligar para polícia, para denunciar o seu desaparecimento — rosnou soltando o ar com força. — Pelo amor de Deus, já passam das oito e você deveria ter chegado desde às seis e meia! — disse, exasperada. — Puxei a respiração. Definitivamente, não sou uma boa amiga. Eu deveria ter ligado para ela!— Desculpa! — Ergui os meus braços. — Meu chefe resolveu se trancar no escritório dele e eu me distraí preparando a sua agenda para a segunda-feira — Dei de ombros. — Julguei que ele ainda precisaria de mim e fui ficando. Quando dei por mim, já eram oito horas, mas não fique assim, ele me trouxe em casa — disse abraçando-a.— Ele trouxe você? — Mônica se afastou do meu abraço e me ol
Me espreguicei em cima da cama e abri uma brecha de olho, encontrando um dia lindo e ensolarado. Saltei para fora do colchão e fui tomar um banho. Na dúvida, separei três pares de roupa para esse passeio, mas escolhi um short jeans branco, com banhado desfiado e um top preto. Pus o biquíni e vesti a roupa em seguida. Não fim uma maquiagem dessa vez, passei apenas um batom cor-de-rosa e amarrei meus cabelos com uma liga preta e antes de sair do quarto tive o cuidado de arrumar uma pequena bolsa de tecido floral com algumas coisas que talvez eu possa precisar. Na cozinha, tomei o meu café da manhã junto com a Mônica, que estava com um sorriso sinistro nos lábios e com a Belly, que estava em sua cadeirinha mamando. Terminei o meu café em silêncio e fui escovar os dentes e quando terminei, o meu celular vibrou dentro do bolso do meu short. Olhei a tela e abri um sorriso, que acredito estava maior que o meu rosto.— Luís já chegou! — avisei, saindo do quarto e peguei a minha bolsa de praia