— Bom dia, Ana! — Ele diz de costas para mim. — Antes de tudo, eu quero o meu café. Espero que tenham colocado você a par de tudo na sua função.
— Sim, senhor — digo sem esperar que continue. — O seu café já está na sua mesa, senhor. Extra forte, puro e bem quente, como o senhor gosta — digo acompanhando-o até a sua sala.— Ótimo! — diz num tom firme e seco. — Sente-se. — ordenou contornando a sua mesa. — O que temos para hoje, Ana? — Eu me acomodo na cadeira de frente para a sua mesa e enquanto mexo no tablet, ele leva a xícara a boca.— O senhor tem duas reuniões, uma com o senhor Bartolomeu Dias, do marketing e outra com alguns acionistas. Em seguida tem mais uma reunião com o advogado. Um almoço com a senhora Joana Alcântara, além de uma videoconferência e três inspeções nos hotéis do litoral.— Certo. Eu preciso que você me acompanhe na reunião com Bartolomeu, Ana. E que faça algumas anotações para mim. Quanto ao almoço com a minha mãe, cancele! As inspeções dos hotéis tomam muito do meu tempo, depois ligo explicando. Ah! E preciso que você me acompanhe nessas inspeções também e fique atenta a tudo, pois preciso que faça algumas anotações no decorrer delas, ok? Uma metralhadora de palavras. Como eu disse, muito o que fazer! Suspiro.— Sim, senhor — digo sem titubear. — Deseja mais alguma coisa, senhor Luís? — Uso o meu melhor tom profissional sério, mas sorrio por dentro.— Outro café, por favor, e prepare a sala de reuniões.— Sim, senhor, com licença, senhor Alcântara! — Respiro aliviada quando saio da sala do meu chefe e abro um largo sorriso depois de fechar a porta e logo me ponho a caminhar para a copa. Bom, suponho que me saí muito bem para um primeiro dia.***
As reuniões são bem chatas, na verdade, não entendi quase nada do que foi conversado lá dentro, mas fiz algumas anotações que julguei seria importante. Quanto às inspeções dos três hotéis do litoral, realmente, como ele disse, tomaram um tempão, mas ainda sim, fiquei extremamente encantada com os hotéis, com suas decorações, que são extremamente luxuosas, impecáveis. E as piscinas? São enormes, com aqueles jardins de capa de revista. O que me tirou mesmo o fôlego foi encontrar todas aquelas lojas, as academias e restaurantes. Tudo era regado a muito luxo e requinte. Os hotéis são praticamente um shopping particular. As inspeções terminaram perto das duas da tarde e foi nessa hora que fomos almoçar. Fiquei tão ocupada, que nem percebi que já era tão tarde!— Com fome? — inquire olhando seu relógio de ouro branco em seu pulso.— Um pouco.— Vamos almoçar em um dos restaurantes aqui do hotel mesmo e logo depois podemos ir para o escritório. Tudo bem para você? — Sério que ele está pedindo a minha opinião?— Sim, senhor. Por mim tudo bem — digo formalmente. Ele me encara por trás das lentes dos óculos escuros e assente. Sentamos em uma mesa perto da janela. Ainda bem! Assim posso me distrair olhando as pessoas nas ruas, caso me sinta um peixe fora d’água. A vista daqui de cima é belíssima, algo para se encantar. Não me cansaria nunca de observar o Corcovado daqui. Sem falar nesse ambiente climatizado, que deixava o ar mais leve, menos tenso.— Você gostaria de escolher, ou posso fazer isso por você? — A voz do meu chefe me tira de meus devaneios.— Pode escolher, senhor Luís. Eu não saberia o que pedir — dou de ombros, meio sem graça.— Algo para beber?— Água, por favor!— Certo. — Ele faz os nossos pedidos, enquanto viajo com os meus pensamentos. Queria que a minha mãe estivesse aqui. Queria que ela me visse agora. Com certeza estaria muito orgulhosa de mim, apesar de ter desistido da faculdade. Posso até ver aquele sorriso lindo dela! Eu nunca desistirei, mãe… por você, eu serei forte, por você, lutarei e vou ven…— No que está pensando, Ana? — o senhor Luís me pergunta, tirando-me mais uma vez de meus devaneios. Encaro-o, enquanto ele me olha intrigado. Seus olhos claros especulam o meu rosto, cada centímetro dele. Queria poder desviar o meu olhar, mas meus olhos parecem estar presos aos dele.— Em minha mãe — digo enfim. — Em como ela estaria feliz por mim agora. — Ele une as sobrancelhas, parece confuso.— Estaria, quer dizer, no passado? — pergunta. Encosto-me no encosto da cadeira.— Sim, eu perdi a minha mãe faz alguns dias. Ainda dói muito falar disso, me desculpe! — digo num tom baixo.— Sinto muito, Ana! — sussurra. — Eu não sabia. — Ele segura a minha mão sobre a mesa. Seu toque quente me faz estremecer por dentro. É algo estranho, que nunca senti antes. — Mas não falaremos sobre isso, não quero que fique triste. Tivemos um dia corrido hoje, então vamos tentar relaxar um pouco, certo?— Certo. — Dou um meio sorriso. O almoço seguiu tranquilo. Conversamos um pouco sobre o trabalho, sobre o seu melhor amigo e sócio, Marcos Albuquerque. Eu falei um pouco sobre a minha faculdade e sobre o meu primeiro dia de trabalho. Luís não era muito de sorrir, estava sempre sério, pensativo e sempre me observando. Uma hora depois nós voltamos para o escritório e lá ele se despediu de mim com uma frase fria: Estou no meu escritório, não atendo mais ninguém hoje. E simplesmente entrou em sua sala com o rosto fechado, um olhar frio e passou o resto do dia trancado lá.Já passava das oito da noite quando ele abriu a porta e saiu do seu escritório. Luís me lançou um olhar surpreso ao me ver em minha mesa.— Ainda está aqui? — interrogou irritado. Levantei-me em um sobressalto, pois estava distraída no computador, olhando as imagens dos prédios lindos que a construtora Caravelas construiu ao longo dos anos.— Des… desculpe! — gaguejei. — Eu não sabia se o Senhor ainda precisaria de mim, então… — Ele me interrompeu bruscamente.— Senhorita Ana Júlia, o seu expediente terminou há duas horas. Era para sair às dezoito horas daqui! — esbravejou. Seu tom de voz ríspido me causa um certo temor.— Ah, tudo bem! Eu… eu já estou saindo. — gaguejo uma resposta, enquanto guardo as minhas coisas na bolsa, desligo o computador e caminho apressadamente em direção dos elevadores. — Até amanhã, Senhor Luís! — despeço-me. Mas antes que eu pudesse partir, ele segurou firme o meu braço, impedindo-me de sair do lugar. O seu toque provocou um arrepio em minha pele, que percorreu pela minha espinha.— Senhorita Ana Júlia, duas coisas: primeiro, eu levo você em sua casa. Já está tarde e como sei que vai de ônibus, será perigoso ir sozinha. E, segundo, amanhã é sábado, não haverá expediente, então só nos veremos na segunda — disse implacável.Que bicho mordeu esse homem? Como pode ser tão bonito e tão rude ao mesmo tempo?— Ah! — É só o que eu consigo dizer, perdida em seu olhar rude. Sinto-me uma retardada perto dele. Por que ninguém me avisou dos meus horários antes? Argh! Isso é tão injusto! O dia estava indo tão perfeito!Não acredito que estou no carro dele pela terceira vez hoje! O seu perfume invade os meus sentidos, deixando-me inebriada. É um cheiro doce e agradável, é tão gostoso! Luís está concentrado no trânsito e muito por vezes aproveito para olhar o seu semblante, que agora parece mais relaxado. Consigo observar com mais atenção o cavanhaque de pelos claros, as sobrancelhas grossas, ora unidas, ora erguidas, o olhar sério fixo na estrada. Também posso sentir que ele passa por alguma luta interna, como se ele se esforçasse para ser outra pessoa. Mesmo que sorria, ou quando conversa. Até mesmo quando se fecha ou quando é irritante ou arrogante. É como se quisesse manter-se distante das pessoas. Ele para em frente à minha casa e sem dizer uma palavra, sai do carro e abre a porta para mim.— Obrigada por me trazer em casa, senhor Luís e por sua preocupação! Realmente não precisava. E, prometo que isso não vai se repetir — digo meio sem jeito.— Não precisa agradecer, Ana. Só cumpra a sua promessa e está tudo certo. Boa noite!— Boa noite! — Caminho para a porta da frente da minha casa, mas quando chego no primeiro batente, volto a olhar para o meu chefe que acabou de entrar no carro. Ele faz sinal para eu entrar, então girei a maçaneta e assim que abri a porta, escutei o motor do carro sendo ligado.Algumas horas antes…Luís RenatoEram cinco da manhã, o sol ainda estava fraco lá fora. Não conseguia mais dormir, sentia-me ansioso e inquieto. Pulei da minha cama e fui direto para o banheiro. Fiz minha higiene pessoal, tomei um banho rápido e coloquei uma roupa para fazer a minha corrida matinal. Como sempre, eu corri alguns quarteirões, chegando no calçadão e encontrei Guilherme Albuquerque se preparando para iniciar a sua corrida matinal. Gui, como o chamamos, é o irmão mais novo de Marcos Albuquerque. Ele é advogado e tem um escritório bem requisitado no centro da cidade, a G & G Advogados. As siglas fazem jus a uma sociedade dele com a esposa Gisele Albuquerque, que começou quando ainda nem sonhavam em estar casados. Hoje, eles têm uma filhinha linda, de apenas dois anos, a Amanda, que é minha afilhada e a minha alegria também. Amo aquela gorduchinha!— E aí, cara, como você está? — perguntou assim que me viu. — Sabia exatamente a que estava se referindo. Gui queria falar sobre
— Bom dia, senhor Luís! Podemos conferir a sua agenda do dia? — Fechei minha cara ao ouvir o som doce da sua voz. Sem falar que me irrita saber que esse som consegue rasurar a escuridão dentro de mim e isso me deixa com medo, acuado.— Bom dia! Primeiro, preciso do meu café. — Lhe respondi da maneira mais profissional e o tom mais seco possível. Mas a sua resposta profissional me fez parar no meio da minha sala e eu encarei a xícara descansando sobre o pires. Um café quente, forte e puro, como eu gosto. Um ponto para você, senhorita Ana Júlia! Pontualidade, dois pontos. Talvez você tenha algum futuro por aqui… por enquanto. Repassamos toda a agenda do dia, e não sei o porquê, mas acabei por levá-la comigo à reunião com Bartolomeu e às inspeções dos hotéis do litoral, algo totalmente desnecessário, já que os próprios gerentes resolvem tudo isso sozinhos. Quando terminamos enfim as inspeções, almoçamos em um dos restaurantes do hotel. Como um cavalheiro, puxei uma cadeira para que ela s
Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Assunto: Aviso.Ela me pediu para avisá-lo que só retornará ao Brasil na terça, pois precisam de mais um dia para resolver os problemas do novo hotel....Ansioso por conversar com ela, mesmo que o assunto seja trabalho, começo a digitar apressadamente:Luís Renato Alcântara.CEO da Caravelas e Hotelaria.Boa noite, senhorita Ana! Posso fazer uma pergunta?...Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Sim....Luís Renato Alcântara.CEO da Caravelas e Hotelaria.Por que ela mesmo não me ligou avisando?... Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Ela disse que tentou várias vezes, mas não conseguiu, senhor. Espero que o senhor não tenha se chateado!...Luís Renato Alcântara.CEO da Caravelas e Hotelaria.Não estou chateado, Ana, é só curiosidade mesmo. Acredito que ela tentou, quando eu estava jantando com meus pais....Ana Júlia Falcão.Secretária do Doutor L. R. Alcântara.Certo! Então, é isso!
Termino o meu café e saio da cozinha, subo as escadas e vou para o meu quarto. No banheiro, vou direto para o balcão da pia e encaro o meu rosto. A barba está cheia, e o cabelo desalinhado. Pego a máquina na gaveta e começo a fazer o design da minha barba. Ao terminar, vou para o box de vidro temperado e ligo o chuveiro. Tomo uma ducha rápida. Vou para o closet e escolho uma bermuda leve e branca, e uma camiseta azul-escuro, sandálias de dedo e os meus óculos de estilo aviador. Observo o visual no espelho de corpo inteiro e passo as pontas dos dedos em meus cabelos, alinhando os fios. Puxo a respiração, observando o homem ansioso, louco para sair da sua jaula.Definitivamente, não sei o que estou fazendo.Minutos depois, desço as escadas e noto que Marta não está mais na cozinha. Saio de casa e vou direto para o elevador. Mesmo parado na caixa de aço, as pontas dos meus dedos tamborilando na palma da mão e a perna inquieta dizem o quão nervoso estou com esse almoço. Abro o primeiro bo
— Tio, a Ana é a sua mamolada? — Minha afilhada pergunta depois de um tempo. Olho para Amanda meio constrangido com o seu comentário, e tento explicar para ela que a Ana é apenas uma amiga que veio para conhecê-la. Pergunto-me se Guilherme e Gisele estão pensando o mesmo que Amanda. Bom, a resposta para eles seria bem pragmática; não. Nem de longe quero um compromisso sério. O churrasco começa minutos depois e flui maravilhosamente bem e com todos estão bem à vontade! Conversamos de tudo um pouco, e logo depois, Amanda se anima para um banho de piscina, acompanhada da mãe, que convida Ana para um mergulho. Lanço um olhar de lado e vejo que ela aceitou sem pensar duas vezes. Tento desviar o meu olhar, mas, minha nossa! Vê-la tirar aquele shortinho, que deslizava pelas pernas em seguida, até chegar ao chão, revelando o pequeno biquíni de estampa floral foi o meu inferno! E o top, porra, ela tirou o top! O biquíni tomara que caia não conseguiu guardar os perfeitos seios redondos e moreno
Horas antes do churrasco na casa dos Albuquerque… Ana JúliaEntrei em casa com o meu coração quase saindo pela boca e encontrei minha amiga andando de um lado para o outro da pequena sala de visitas. Assim que me viu ela parou e respirou aliviada. Ela parecia desesperada.— Ana, onde você estava, menina?! Eu já ia ligar para polícia, para denunciar o seu desaparecimento — rosnou soltando o ar com força. — Pelo amor de Deus, já passam das oito e você deveria ter chegado desde às seis e meia! — disse, exasperada. — Puxei a respiração. Definitivamente, não sou uma boa amiga. Eu deveria ter ligado para ela!— Desculpa! — Ergui os meus braços. — Meu chefe resolveu se trancar no escritório dele e eu me distraí preparando a sua agenda para a segunda-feira — Dei de ombros. — Julguei que ele ainda precisaria de mim e fui ficando. Quando dei por mim, já eram oito horas, mas não fique assim, ele me trouxe em casa — disse abraçando-a.— Ele trouxe você? — Mônica se afastou do meu abraço e me ol
Me espreguicei em cima da cama e abri uma brecha de olho, encontrando um dia lindo e ensolarado. Saltei para fora do colchão e fui tomar um banho. Na dúvida, separei três pares de roupa para esse passeio, mas escolhi um short jeans branco, com banhado desfiado e um top preto. Pus o biquíni e vesti a roupa em seguida. Não fim uma maquiagem dessa vez, passei apenas um batom cor-de-rosa e amarrei meus cabelos com uma liga preta e antes de sair do quarto tive o cuidado de arrumar uma pequena bolsa de tecido floral com algumas coisas que talvez eu possa precisar. Na cozinha, tomei o meu café da manhã junto com a Mônica, que estava com um sorriso sinistro nos lábios e com a Belly, que estava em sua cadeirinha mamando. Terminei o meu café em silêncio e fui escovar os dentes e quando terminei, o meu celular vibrou dentro do bolso do meu short. Olhei a tela e abri um sorriso, que acredito estava maior que o meu rosto.— Luís já chegou! — avisei, saindo do quarto e peguei a minha bolsa de praia
Ana JúliaCheguei ao escritório uma hora mais cedo e como se já fosse automático, liguei o meu computador, separei algumas pastas para a reunião dos associados, fiz algumas cópias dos documentos para serem apresentados durante a reunião e liguei para uma padaria que fica bem próximo aqui do hotel. Pedi um café da manhã variado e organizei em um carinho na sala de reuniões. Verifiquei sua agenda do dia e olhei o relógio soltando uma respiração baixa. Faltam poucos minutos para o meu chefe chegar. Pensei me sentindo empolgada e corri para a copa para fazer o seu café do jeito que ele gostava e voltei para a sua sala, para organizar tudo sobre a sua mesa. O elevador fez o seu sinal habitual, anunciando a chegada de alguém e o senhor Luís saiu de lá acompanhado, dessa vez de Cassandra. Ela está linda em seu conjunto de terno azul marinho. — Bom dia, Cassandra! — digo lançando um sorriso amistoso.— Bom dia! Nossa, já está aqui? — Ela abre um sorriso gigante e olha para o senhor Luís, arq