— Então... você ir amanhã?
— Bom, é. – Kazuo levou a mão aos cabelos, bagunçando-os. — Estamos muito empolgados, Vanya-chan! Acho que hoje à noite nem conseguirei dormir!
Vanya sorriu.
— Eu estar orgulhoso de você. De verdade.
E pôde notar a mudança na tonalidade facial de Kazuo.
— Mas... e você? Como têm sido esses seus últimos dias? Ainda continua tendo aquelas visões? – ele perguntou, tímido.
Pela primeira vez em sua vida, Vanya sentiu vontade de desabafar com alguém os seus delírios costumeiros. Kazuo apareceu no momento certo – a proximidade que surgiu entre eles a fez contar todas as imagens surreais que apareciam diante dos seus olhos.
— Às vezes. Acontecer mais quando estar sozinho.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Por que n&atil
O barulho ininterrupto do telefone obrigou Damiano a acordar. Sonolento, não se preocupou em olhar pela tela do celular para saber quem o chamava, apenas atendeu. Esfregando os olhos, pronunciou um “alô” desanimado e sem vida.— Damiano?Reconhecia aquela voz. Mariana. E ela chorava.Péssimo sinal.— O que aconteceu? – ele sentiu a voz falhar. Já imaginava o que estava por vir.— Ele sofreu um ataque por causa do efeito da anestesia e entrou em coma. Você entendeu, Damiano? Seu pai está em coma!Foi preciso muito controle para Damiano não exprimir qualquer emoção que a notícia poderia ter lhe causado. Respirou fundo, apertou o travesseiro com força, tentando descontar nele a dor que passava por seu corpo. Velho maldito, o que Damiano havia falado sobre não morrer?— A que horas, isso? – pe
Não sabia mais se estava viva ou se já havia conhecido a passagem para a morte. Nada via, nada sentia, mas, caso se remexesse um pouco, conseguia sentir uma forte pontada nas costas. Até sua respiração doía. Com muito esforço, tentou se levantar, contorcendo-se de dor. Quando já sentada, pôde perceber: continuava viva.Desconhecia a altura da qual pulara, mas, pelo que notava, não havia sido pequena. Olhando para a superfície onde estava sentada, vira que era uma mistura de feno e tijolos de barro. Certamente, encontrava-se sobre o teto de uma casa. Tomando cuidado, observou até onde iam as dimensões do telhado, contudo não obteve êxito – parecia ser extenso demais. Também não conseguira ver que altura media a construção, o que a preocupava ainda mais. Como iria sair dali?Cautelosamente, come&cc
— Casa de Lady Liberté. Quem desce?Esforçando-se para conseguir libertar-se do imprensado de braços e corpos, estendeu o bilhete e gritou:— Aqui, aqui!Outras duas criaturas também estenderam seus bilhetes, escondendo seu braço pequeno e humano. Resolvendo abandonar a educação, empurrou alguns dos seres que a impediam de passar e de ficar visível, abrindo, finalmente, a porta da desproporcional carruagem, entregando a passagem fora do veículo.— Aqui! – repetiu, obrigando o cocheiro a receber o pequeno papel.Contudo, não existia propriamente um cocheiro ali, apenas as roupas de cavalheiro que vestiam um ser invisível aos olhos, perceptível somente pelas formas que suas vestimentas ganhavam. A luva lhe tomou o bilhete.— Sabe como chegar até lá, me
Uma mão decididamente forte a puxou da massa de água gélida e pesada.— Venha, querida! Venha comigo!Quando voltou à bonita sala de Lady Liberté, sentia-se mal, deprimida. Estava molhada, com frio, os cabelos pesados pingando e, mesmo assim, não hesitou em se jogar nos braços da Lady, abraçando-a e caindo em lágrimas.— Shh, querida. – dizia a bruxa, enquanto afagava seus cabelos molhados. — Não precisa ficar assim, podemos reverter esse quadro. – ela a forçou a se levantar. — Venha, vamos enxugá-la. Você descansará e aí poderemos conversar sem interrupção.E, ainda agarrada a Lady, a menina aquiesceu, pesarosa e assustada.*— Quer?Damiano olhou para
Abriu os olhos rapidamente, assustado, como se saísse de um pesadelo. Olhando o ambiente que o cercava, continuou no mesmo estado de alerta. Ao que conseguia distinguir, parecia uma cabine ricamente detalhada, com suas paredes de madeira e decoração dourada. Havia ali um pequeno beliche, além da mesinha de centro e do banco acolchoado e vermelho, onde estava sentado. Levou a mão aos olhos, esfregando-os e tentando recuperar a memória. Logo visualizou a bem trabalhada manga do seu sobretudo negro, bordado com linha azul, e da blusa branca que usava por baixo. Tocando em si mesmo, notou a presença do colete azul marinho e do relógio de bolso banhado a ouro. Trajava, também, uma calça preta cuja barra era escondida pela bota escura. Que raio era aquilo?Encostando-se na parede, voltou a cabeça para a janela de vidro. Uma imagem desconhecida passava por seus olhos, a velocidade tão rápida q
— Sinto que você está triste, Princesa. O que este servo pode fazer para deixá-la feliz?Deitada em cima de uma cama de folhas, ela sentia as lágrimas quentes correrem por seu rosto. Enfim, estava começando a aceitar sua condição. Não sabia como sair, encontrava-se completamente só e sem chances, apoiada apenas pelo belo e sarcástico Phobeto. Contentar-se? Continuou calada.— Acho que sei o que passa por sua cabecinha... Não se preocupe, vou trazer essa felicidade a você.Não, ela não sabia. Não tinha lucidez, logo não possuía cabeça e desejos. Era uma louca confinada em uma prisão para lunáticos sem cura, presa em um mundo paralelo àquele que sempre chamou de real. Cavara a sua própria cova, escrevera o seu destino. Para que se lamentar agora? Mas, no fundo, sabia que não houvera meios de impe
Ela o olhou, receosa, amedrontada com a espada que estava em suas mãos. Tremia incontrolavelmente, nunca empunhara uma daquelas. E não se sentia segura.— Vamos lá, querida, use isto.A jovem voltou o olhar para trás, a mulher loura encarando-a severamente.— Mãe... – murmurou.Ele escutou seu sussurro e visualizou a bonita mulher.Os mortos nunca vêm ao Phantasos e nunca virão.É claro! Phobeto a pegara em sua fraqueza, utilizava a imagem da mãe morta para fazer a menina ceder facilmente. Um gosto amargo se formou em sua boca.— Espere! – tentou gritar, sentindo náuseas. — Essa... Isso... Não é a sua mãe!Aos poucos, ele percebeu que a imagem da bonita mulher se desfazia, dando vazão à outra figura, dessa vez, asquerosa. Tudo que via agora era apenas uma criatura gosmenta e acinze
Parar a espada com as mãos foi a única atitude que ele conseguiu tomar. Sangue jorrava de seus dedos feridos, ocasionando mais dores em seu corpo já flagelado pela batalha anterior. A menina, por sua vez, ainda impunha força na arma, mas estava atordoada o suficiente para tentar atacá-lo de outra forma – não esperava aquela reação. Encarava-o com dúvida, tentando compreender que tipo de defesa era aquela. A surpresa, porém, baixou a sua guarda. O rapaz, aproveitando o momento, segurou a lâmina e jogou-a ao longe. Desarmada e assustada, a garota estava vulnerável, pronta para ser vencida a qualquer instante.E com aquelas mãos feridas, banhadas por vermelho vivo, ele segurou algo que pendia da sua garganta, invisível até ali. Tão logo seus dedos o tocaram, uma extensa corrente começou a surgir lentamente, como se por encanto. Ainda assustada, a menina fit