Ela estava lá; contra sua vontade, na verdade contra tudo que mais acreditava. Mas fazer o quê? Não poderia dizer não; não poderia negar como sempre fazia quando não queria algo porque naquele momento ela precisava, aquele emprego seria bom para a sua carteira, para a sua publicidade e quando uma das maiores empresas do país lhe contrata como assessora você não pode dizer não, na verdade ela até tinha dito, tinha esperneado, gritado e praguejado para todos os lados que nunca na sua vida trabalharia para um egoísta, esnobe, infantil e convencido como Pietro Fischer. Mas e agora?
Ela estava ali como a última de uma fila de novos funcionários que serviriam apenas para correrem de um lado para o outro sob as ordens dela, todos imposturados como se fossem máquinas estúpidas paradas no corredor. Até que o ambiente era favorável; nem parecia ser de um bilionário. A sala era composta por uma poltrona residencial com uma mesa e uma cadeira giratória para clientes; todos os móveis eram de cor preta, um quadro tomava um lugar enorme na parede com o desenho de Pietro de terno segurando o prêmio de mais novo empresário bem-sucedido do estado.
Estavam todos; menos ela, parados ali olhando para o elevador, esperando ansiosamente pela chegada do chefe. Todos com o coração na mão esperando por um lapso de aceitação do Deus do poder, mas ela não! Ela não precisava se preocupar em agradá-lo porque não podia ser demitida, haviam implorado pelos seus serviços porque ela era a melhor no que fazia. Ela sabia gerenciar uma empresa mais do que qualquer outra pessoa; ela tinha potencial, era visionária, e sim; era tudo que eles precisavam, então não! Definitivamente, ela não queria aceitação, só queria que o dia passasse rápido e ela fosse para seu grande apartamento se jogar no sofá confortável que ficava em sua varanda e sentir a brisa noturna enquanto bebia seu vinho; admirava o oceano e escrevia em seu notebook.
Ela estava perdida em pensamentos quando o sinal do elevador tocou indicando que ele abriria; todos os funcionários ali parados em fileiras estufaram seu peito e colocaram uma máscara intensa de seriedade, menos uma… A porta do elevador se abriu e de dentro saiu um homem de blazer preto com uma camisa rosa aberta até o peito, ele media uns um metro e setenta de altura, era moreno de um tom claro, seus olhos castanhos e seu cabelo mais pareciam com o do Justin Bieber depois da fase inicial só que mais desgrenhado e charmoso!
Ele seguiu em direção aos funcionários com uma expressão despreocupada e descontraída sendo seguido por um de seus executivos que havia feito à contratação dos novos funcionários. Era Drake; seu amigo e homem de confiança, branco, baixo e de cabelos tão alinhados que o fazia parecer certinho demais.
— Bom dia a todos. — Falou Drake se referindo aos novos funcionários.
— Bom dia. — Todos responderam em tom uníssono.
— Esse aqui... — Ele apontou para o cara ao seu lado. — como vocês já conhecem. Quem não, não é mesmo? — Drake falou arrancando risinhos que mais pareciam de puxa sacos, e como sempre, ansiosos por aceitação. Menos uma. — Esse é Pietro Fischer!
— Vamos parar com esse puxa saquismo exagerado, meu caro Drake! — Pietro abriu um sorriso que pareceu parar o coração de todas as novas funcionárias ali contratadas, e o revirar de olhos de outra. — Me apresente logo um por um, para que assim possamos iniciar o nosso trabalho e fazer com que os coitadinhos sentem pelo menos um pouco. — Ele falou se referindo a postura que os novos contratados estavam e já fazia um tempo.
— Ok, Ok. Esse é o John; ele será secretário auxiliar de finanças. — Ele apontou para o primeiro funcionário, logo passando para o segundo. — Essa é a Débora e ela será secretária executiva. — E assim foi falando o nome dos sete até chegar à última e mais importante de todos que estavam ali apenas enfeitando o ambiente. — Essa é a Andy Miller; ela será a sua… — Ele parou de falar ao ser interrompido por um toque de celular que vinha do bolso de alguém.
— Caramba… — Pietro falou tirando o celular do bolso do Blazer e desligando. — Continue. Essa é a? … — Ele suspirou olhando a charmosa e intrigante mulher que estava a sua frente, bronzeada; deveria ter uns um metro e cinquenta e oito de altura; cabelos vermelhos presos num rabo de cavalo não tão penteado, com um vestido tubinho preto que ia até suas coxas e contrastava com o Escarpem preto que ela calçava. Ele parou em seus olhos, olhos de um tom roxo misterioso. — Olhos lilás? — Ele sorriu encarando-a.
— Roxos, na verdade. Eu serei a sua assessora como o rapaz aí estava tentando falar. — Ela o encarou ironicamente; nem um sorriso, apenas uma troca de olhares. Ela não precisava sorrir; pois não se sentia agradecida, era ele quem deveria agradecer por ela estar ali!
— São seus? — Ele continuou encarando-a de forma descontraída e provocativa que a deixou mais impaciente do que já estava.
— O que? — Ela arqueou as sobrancelhas.
— Os olhos. Só vi isso até agora! — Ele desviou o olhar por um instante com um sorriso desafiador e voltou a encará-la. — Nunca vi uma mulher de olhos roxos; e nem um homem!
— Sim; são meus. E eu poderia ficar aqui lhe explicando sobre um erro genético, mas como você mesmo disse seria melhor nos adiantarmos porque os coitadinhos que estão aqui por 40 minutos nesta postura robótica, precisam sentar! — Ela falou cruzando os braços e relaxando a postura logo depois de terminar.
— Ah, claro! — Pietro falou como se tivesse esquecido que estavam todos ali. — Vocês todos irão com o Drake para que ele explique os setores, normas e blá.
— Ok. — Andy falou fazendo menção de se retirar e agradecendo aos céus por sair da vista daqueles olhos penetrantes, quando Pietro se colocou um pouco diante dela.
— Você, não. Você irá me acompanhar. — Ele falou num tom sério; apontando para o escritório dele na direção contrária a que os novos funcionários estavam indo.
— Tudo bem; só achei que conheceria meu escritório primeiro. — Ela deu de ombros e o seguiu.
— Bom. É para lá mesmo que estou te levando, Senhorita Miller. — Ele sorriu ironicamente ao dizer a última palavra como se tivesse saboreado um gostinho bom naquelas letrinhas.
— Tudo bem... —Ela falou; olhando-o de soslaio enquanto ele consertava a camisa por dentro de seu blazer. E por um momento teve que apagar a imagem inebriante daquele homem sem blazer e só com a camisa rosa aberta sorrindo para ela. “Cruzes” pensou, não era nada demais. Homens egocêntricos exalam masculinidade e isso poderia até atrair mulheres, mas não ela; porque ela já havia se preparado para homens como ele. Homens que acreditam que dinheiro e poder são tudo e por isso acha que podem usar mulheres como ela, ela não era uma escrava sexual de homens poderosos, porque os conhecia muito bem.
Eles entraram em seu escritório, ele se sentou na poltrona presidencial e fez menção para que ela se sentasse logo a sua frente.
— Então, esse é o seu escritório. — Ele falou quando ela se sentou na cadeira giratória.
— Não entendi. — Ela o encarou confusa.
— Bom... É simples! — Ele apoiou os cotovelos na mesa e abriu um largo sorriso. — Você é minha assessora; então ficará aqui comigo, estaremos sempre juntos; por todos os lugares. — Ele parecia estar saboreando aquelas palavras e soltando-as com um toque de malícia considerável, em determinado momento, ela se questionou se aquilo era proposital ou a essência dele. — Não achei que precisaria explicar a sua função. — Ele se recostou na cadeira.
— E não precisa, estou aqui porque sou a melhor no que faço, e obviamente eu sabia que nós ficaríamos juntos. Só achei que teria meu cantinho da paz como exigi quando fui contratada, é um dos meus termos para aceitar um trabalho, um escritório apenas meu. — Ela consertou a postura e sua expressão se tornou séria.
— Cantinho da paz? — Ele se apoiou novamente na mesa para que ficasse mais próximo dela e abriu um sorriso.
— Sim. Algum problema? É porque fico pelo menos por um minuto longe de toda a patifaria que costumam serem as máquinas de uma empresa correndo de um lado ao outro, ansiosos, com o coração na mão, para agradar ao Senhorzinho. Por isso, eu exijo em todos os meus acordos um cantinho da paz! — Ela o encarou sem ao menos se importar se aquelas palavras o machucariam ou se deixaria feia a sua reputação, ela de fato não ligava porque sua sinceridade era a marca que a tinha feito crescer profissionalmente.
— Caramba! — Ele estreitou os olhos. — Senhorzinho?
— Palavrão também é uma das coisas que eu não aceito em meus termos, mas pelo visto esqueceram de falar sobre minhas regrinhas para o Senhor porque não é importante, não é mesmo? — Ela sorriu ironicamente voltando a ficar séria depois de segundos...
— Olha. Ok. Vamos lá! Até leram o contrato para mim, sério mesmo! Mas eu tenho três manias infalíveis. — Ele falou isso num tom irônico. — Primeira. — Ele falou gesticulando com o dedo. — Eu esqueço para caramba! Segundo. — Ele sorriu a encarando. — Eu sou completo; e não seria sem os xingamentos. A terceira; última e, mais importante! — Ele chegou sua cadeira mais próxima à mesa. Estreitou os olhos e arqueou uma sobrancelha com um sorriso desafiador tomando conta de seus lábios. — Eu não recebo ordens de ninguém, nós negociamos e eu vejo se posso resolver. Então, regras não são aceitas nessa empresa, há não ser que saia da minha boca, porque sou eu quem manda aqui!
— Bom… — Ela sorriu e aproximou seu rosto do dele, o encarando. — Então temos um impasse aqui! — Ela estreitou os olhos. —Acho que vamos precisar negociar; ou ver quem vai ganhar esse jogo, porque eu não sou mandada por ninguém! Você pode me demitir agora mesmo ou aceitar os fatos! — Ela abriu um sorriso desafiador! “Que comecem os jogos” Pensou.
Já era noite quando Andy abriu a porta de seu grande, mas modesto apartamento. Entrou e fechou-a atrás de si; tirou o scarpin que machucava seus pés com os calcanhares deixando-os ali mesmo na entrada. Jogou a bolsa no sofá e foi direto para o banheiro, desabotoou seu vestido, tirou o resto das vestimentas, soltou os seus longos cabelos e se olhou no espelho. “Preciso retocar a chapinha, tá horrível” pensou passando os dedos pela raiz encaracolada, tomou coragem e entrou no Box ligando o chuveiro elétrico. Andy se colocou debaixo e deixou que a água lavasse seu corpo e limpasse sua alma cansada. Quem ele pensava que era? O dia não havia sido nada bom, informações e mais informações com um egocêntrico que não havia sequer respeitado suas regras, ele não havia a demitido! Mas não iria ficar assim, ela era uma jogadora, adorava desafios e iria fazê-lo entender que é a melhor assessora do País porque tem controle do que faz! Ela passou as mãos sobre o rosto e massageou seus cabelos notan
Andy estava jogada em seu sofá quase no finalzinho de seu vinho tinto quando seu telefone tocou. — Andy Miller. — Ela falou ainda com os olhos vidrados em seu notebook, uma página aberta falava sobre uma nova série que seria lançada da N*****x chamada The Pandemic. — Está ocupada? Não né? Se ajeita aí que vamos numa festa. — Uma voz feminina falou agitada. — Ah não Celly, hoje não! — Andy falou revirando os olhos em sinal de protesto. — Hoje, sim! Olhe, você passou tanto tempo longe de mime ainda se recusa a me fazer companhia? Não estou perguntando, se ajeite e meu motorista vai passar aí em vinte minutos. — A garota falou num tom de puxão de orelha e desligou o telefone antes que a amiga retrucasse. Andy se sentou e suspirou frustrada por seu momento tão relaxante ter que acabar assim, ela queria dizer não e ficar ali até pegar no sono. Mas Celine era sua melhor amiga de tantos anos que ela já tinha perdido a conta, moravam em países diferentes e não se viam com tanta frequê
Chegaram a uma parte da pista de dança, estava tocando Alessia Cara - Here. Ele puxou-a levemente pela cintura para mais perto. — Você sabe dançar? — Ele falou em seu ouvido. — Você sabe? — Ela falou retribuindo a provocação. Andy passou uma das mãos pelo pescoço de Pietro enquanto mexia seu quadril sensualmente ao toque da música, ele sorriu se sentindo tentado então apertou as mãos em sua cintura e começou a mexer seu corpo em sincronia com o dela. A música trazia uma vibração desconhecida! Andy não sabia se os copos de Uísque estavam começando a fazer efeito ou se o cheiro de Pietro estava a embriagando, era inacreditável como aquele homem era ainda mais sexy dançando. Eles se encararam; Andy desceu a mão passando pelas costas de Pietro e sorriu ao vê-lo se arrepiar com o toque, estava extasiada. Ela dançava como se estivesse em um palco, parecia brilhar e seu sorriso então... “Nossa, que sorriso” Ele pensou, hipnotizado pela mulher dançando à sua frente. Ele aproximou mais
Andy acordou ofegante; ela suava frio. Fechou os olhos e respirou fundo, “Foi apenas um pesadelo!” Ela disse para si mesma, pegou o celular na banquinha e olhou o horário, ainda eram 05h30min da manhã. Ela se levantou e foi direto para debaixo do chuveiro, tomou um banho super demorado e deixou que a água quente lavasse todo vestígio de dor e nojo que aquele pesadelo havia despertado, então saiu do banheiro decidida a ir para o trabalho mais cedo. Ela sabia que quando chegasse ao trabalho teria que dar de cara com o homem que ela deixou plantado numa pista de dança sem entender nada, mas precisava trabalhar. Ocupar a mente e se obrigar a esquecer do pesadelo que tivera, enfiada em assuntos profissionais ela esqueceria a dor. Naquela noite ela tinha chegado em casa tão confusa que não havia tomado seu remédio para dormir! Mas; não continuaria pensando naquilo, ela se obrigou a esvaziar a mente. Vestiu seu terninho sofisticado, seu salto preto, prendeu os cabelos e se olhou no espelh
Andy se recompôs e voltou ao trabalho, analisando planilhas, gastos, relatórios da empresa. Uma assessora tinha que saber como a empresa estava funcionando, tinha que visualizar os erros, as margens, e descobrir qual projeto seria melhor. Tinha que colocar seu cliente no lugar certo, no evento certo e no momento certo! O resto da manhã se passou tranquilamente, conversavam sobre os projetos em pauta e como fazer os concorrentes estarem abaixo deles. Uma hora ou outra eles se pegavam encarando um ao outro, perdidos entre um encontro de olhares pensativo. O remédio de fato tinha feito efeito em menos de 15 minutos e fora o sono, ela estava bem, só precisava trabalhar e esquecer o resto das coisas que a mantinha desequilibrada. Eram quase uma da tarde quando Pietro se levantou da sua poltrona e pegou as chaves de seu carro. — Você não vai almoçar? — Ele perguntou se dirigindo a porta de saída. — Estou sem fome. — Andy falou sem tirar os olhos d
Ela pegou as sacolas de cima da mesa e foi para o sofá em menos de três minutos, preferiu pensar que ele só havia comprado apenas para satisfazer o ego de cavalheiro e nada mais. Ela abriu os embrulhos e sorriu ao ver a refeição saborosa, ele pensou nela. Preocupou-se com ela. Andy comeu seu almoço e sua sobremesa se deliciando a cada garfada ao imaginar Pietro Fischer um homem fora de controle que não aceita ordens escolhendo o almoço para ela. Quando terminou Andy estava completamente satisfeita. Pietro a observava de momento em momento com um sorriso de canto por vê-la comendo e adorando. Ela se sentou novamente em sua cadeira e o encarou. — Obrigada. — Ela falou o olhando de soslaio. — Pelo quê? — Ele encarou aquele par de olhos perfeitos por um momento e voltou a olhar para o notebook. — Por se preocupar comigo. — Ela disse abrindo um sorriso de canto. — Não me preocupei com você; preocupei-me com a imagem de minha empresa. — Ele sorriu discretamente; sabia que aquilo er
— Pietro! — Andy chamou, tentando esconder o fato de que tinha um enorme pavor de escuro. — Eu estou aqui. — Ele respondeu; ligando a lanterna do celular e indo em direção a ela. — Quer dizer que você tem medo de escuro? — Não é Medo de escuro! — Andy rezou para que ele não tivesse notado a careta que ela havia feito. — Não tem problema ter medo de escuro, Senhorita Miller. — Pietro se jogou no sofá ao lado dela. — Eu não... — Ela iria argumentar, mas, se calou. Sabia que não adiantaria! — Então… por que ficou até agora? — Ele puxou assunto tentando acabar com o tédio causado pela impossibilidade de trabalhar no escuro. — Porque temos muito trabalho a fazer. — Ela falou tentando se manter calma e focar no pingo de luz da lanterna que restava naquela sala. — E você? — O mesmo motivo. Muito trabalho a ser feito. — Ele colocou a lanterna no colo, analisando o olhar fixo e perdido de Andy em direção ao ponto de luz. Por um minuto os olhos se encontraram. Tinha
Pietro abriu e forrou o sofá cama, ligou a tevê, que agora falava sobre como a cidade estava completamente alagada e a tempestade não tinha hora para acabar. — Esse lençol aqui é para nos enrolarmos. — Ele falou se sentando de um lado do sofá cama. — Não tem outro? — Andy revirou os olhos. — Tá achando ruim, Senhorita Miller? Não acha que tudo isso é melhor do que dormimos nas cadeiras? — Ele parou e a encarou. “Que mulher marrenta.” Pensou. Ela abriu a boca para falar algo, mas fechou logo em seguida, fazendo uma careta como uma criança mimada. Se tinha que escolher entre a chuva terrível lá fora e o sofá cama ali dentro, foi até um pouco fácil adormecer... *** “— Olá meu bem, qual o seu nome? — Uma mulher de aparentemente 30 anos, vestida num uniforme de empregada se abaixou para ficar da altura da menina. — Cattleya. E o seu? — A menina perguntou com um sorriso triste no rosto. —Você tem olhos lindos, minha doce Cattleya. Parecem seus dois pares de amuleto da sorte. —