Já era noite quando Andy abriu a porta de seu grande, mas modesto apartamento. Entrou e fechou-a atrás de si; tirou o scarpin que machucava seus pés com os calcanhares deixando-os ali mesmo na entrada. Jogou a bolsa no sofá e foi direto para o banheiro, desabotoou seu vestido, tirou o resto das vestimentas, soltou os seus longos cabelos e se olhou no espelho. “Preciso retocar a chapinha, tá horrível” pensou passando os dedos pela raiz encaracolada, tomou coragem e entrou no Box ligando o chuveiro elétrico. Andy se colocou debaixo e deixou que a água lavasse seu corpo e limpasse sua alma cansada. Quem ele pensava que era?
O dia não havia sido nada bom, informações e mais informações com um egocêntrico que não havia sequer respeitado suas regras, ele não havia a demitido! Mas não iria ficar assim, ela era uma jogadora, adorava desafios e iria fazê-lo entender que é a melhor assessora do País porque tem controle do que faz!
Ela passou as mãos sobre o rosto e massageou seus cabelos notando o quanto estava sujo, mas sabia que iria procrastinar em seus pensamentos até que chegasse o fim do banho e não o lavaria. Estava trabalhando com um cara charmosamente convencido… opa, charmosamente não; “Merda” Teve que apagar de sua mente aqueles sorrisinhos debochados e maliciosos que ele abria toda vez que pronunciava o seu sobrenome. Pietro Fischer era como todos os homens poderosos: achavam serem donos de tudo e tratavam as mulheres como mero objeto subordinado. Ela suspirou; qualquer outra mulher em seu lugar sorriria e aceitaria seus termos calada em troca de estar apenas ao lado daquele homem, mas ela não, ela não deixaria barato e se ele não gostasse que a demitisse e achasse outra assessora para pôr em seu lugar. Andy não daria o braço a torcer para aquele homem inconveniente, sem noção e rude.
Andy saiu do banho, se secou, vestiu seu robe de seda lilás e foi direto para cozinha. Abriu a geladeira pegando seu vinho tinto e fechando-a com os pés então foi até a sala pegou seu notebook na mesinha de centro e se encaminhou para sua varanda, se jogou em seu confortável e maravilhoso sofá dando uma golada em seu vinho delicioso e se permitindo admirar a vista.
Era ali onde ela queria ter estado o dia todo, vendo aquele oceano maravilhoso, aquele perfeito céu estrelado com seu vinho na mão e notebook ao lado. Ela pertencia àquela paisagem! Fazia muito tempo que ela havia prometido saborear os mínimos detalhes que a vida poderia lhe oferecer. Ela viajava para vários lugares com paisagens incríveis, mas no final da tarde ela só queria voltar para casa e ver as paisagens que ela guardara em sua mente todas as vezes que só conseguia enxergar o escuro e infinito vazio de sua alma quando fechava os olhos. Ali; sozinha, estava bem, estava completa.
∞
Pietro Fischer estacionou seu Mitsubishi Lancer 2.0 16V CVT 2015, e passou pela garagem indo em direção ao seu elevador quando seu celular tocou.
— Pietro Fischer. — Ele falou enquanto entrava no elevador e apertava o botão do último andar.
— E aí, cara. — Uma voz masculina falou num tom distraído seguido por um barulho de festa atrás.
— Drake? — Ele falou mal conseguindo escutar.
— Sim, tá ocupado? Não, né? Tá tendo uma festa aqui em minha casa de praia. Você tem meia hora pra passar pela porta da frente e impressionar as gatas por mim! — Drake gritou do outro lado da linha.
— Porra cara; hoje não! Estou exausto, vou tomar uns copos de Uísque e relaxar lendo um bom livro. — Pietro falou saindo do elevador que dava direto para sua sala de estar.
— Como? Não estou escutando. Meia hora Pietro, ou eu mato você! Não deixe seu irmão na mão, cara. — Drake falou quase trocando as palavras e desligou antes mesmo que Pietro pudesse argumentar.
A casa de Pietro não era nada modesta, eram quatro andares: O primeiro andar era a garagem, o segundo andar era o apart. de hóspedes, o terceiro era um ambiente de relaxamento que mais parecia uma biblioteca, era seu refúgio e ele não deixava que ninguém entrasse ali. O último era de fato sua casa, mas ainda havia em cima onde ficava a piscina, a melhor vista da cidade, um bar; e era onde ele dava festas.
Ele tirou os sapatos largando-os na entrada e foi desabotoando sua roupa até o seu balcão americano, pegou um copo, completou com Uísque e virou na boca. Então foi até o banheiro tirou o resto de suas roupas e se jogou debaixo do chuveiro que expulsava uma água completamente gelada. Era daquilo que ele precisava, fechou os olhos e respirou lentamente expirando e inspirando o ar como num exercício respiratório.
Quem ela pensava que era para chegar à sua empresa já ditando regras? Andy Miller era a mulher mais atrevida, controladora e atraente que ele já havia conhecido. Por um momento pensou em demiti-la, mas não iria dar o gostinho de perder esse jogo. Ele sorriu enquanto levantava o rosto, aqueles olhos roxos carregavam um mistério que o seduzia... “Nossa!” Ele sussurrou. Era impressionante como simplesmente falar com aquela mulher o deixava excitado. Mas isso não mudava nada em sua vida, ela era apenas uma assessora, não tinha como chegar e controlá-lo assim. Ele não era controlável, ele não era domado e não seriam simples e exóticos olhos roxos que iria mudar isso.
Ele saiu do chuveiro foi até o Closet e pegou uma camisa de manga comprida vermelha e uma calça jeans preta, calçou seu tênis esportivo também preto e passou as mãos em seus cabelos, enfim. Ele tinha uma festa para ir!
Andy estava jogada em seu sofá quase no finalzinho de seu vinho tinto quando seu telefone tocou. — Andy Miller. — Ela falou ainda com os olhos vidrados em seu notebook, uma página aberta falava sobre uma nova série que seria lançada da N*****x chamada The Pandemic. — Está ocupada? Não né? Se ajeita aí que vamos numa festa. — Uma voz feminina falou agitada. — Ah não Celly, hoje não! — Andy falou revirando os olhos em sinal de protesto. — Hoje, sim! Olhe, você passou tanto tempo longe de mime ainda se recusa a me fazer companhia? Não estou perguntando, se ajeite e meu motorista vai passar aí em vinte minutos. — A garota falou num tom de puxão de orelha e desligou o telefone antes que a amiga retrucasse. Andy se sentou e suspirou frustrada por seu momento tão relaxante ter que acabar assim, ela queria dizer não e ficar ali até pegar no sono. Mas Celine era sua melhor amiga de tantos anos que ela já tinha perdido a conta, moravam em países diferentes e não se viam com tanta frequê
Chegaram a uma parte da pista de dança, estava tocando Alessia Cara - Here. Ele puxou-a levemente pela cintura para mais perto. — Você sabe dançar? — Ele falou em seu ouvido. — Você sabe? — Ela falou retribuindo a provocação. Andy passou uma das mãos pelo pescoço de Pietro enquanto mexia seu quadril sensualmente ao toque da música, ele sorriu se sentindo tentado então apertou as mãos em sua cintura e começou a mexer seu corpo em sincronia com o dela. A música trazia uma vibração desconhecida! Andy não sabia se os copos de Uísque estavam começando a fazer efeito ou se o cheiro de Pietro estava a embriagando, era inacreditável como aquele homem era ainda mais sexy dançando. Eles se encararam; Andy desceu a mão passando pelas costas de Pietro e sorriu ao vê-lo se arrepiar com o toque, estava extasiada. Ela dançava como se estivesse em um palco, parecia brilhar e seu sorriso então... “Nossa, que sorriso” Ele pensou, hipnotizado pela mulher dançando à sua frente. Ele aproximou mais
Andy acordou ofegante; ela suava frio. Fechou os olhos e respirou fundo, “Foi apenas um pesadelo!” Ela disse para si mesma, pegou o celular na banquinha e olhou o horário, ainda eram 05h30min da manhã. Ela se levantou e foi direto para debaixo do chuveiro, tomou um banho super demorado e deixou que a água quente lavasse todo vestígio de dor e nojo que aquele pesadelo havia despertado, então saiu do banheiro decidida a ir para o trabalho mais cedo. Ela sabia que quando chegasse ao trabalho teria que dar de cara com o homem que ela deixou plantado numa pista de dança sem entender nada, mas precisava trabalhar. Ocupar a mente e se obrigar a esquecer do pesadelo que tivera, enfiada em assuntos profissionais ela esqueceria a dor. Naquela noite ela tinha chegado em casa tão confusa que não havia tomado seu remédio para dormir! Mas; não continuaria pensando naquilo, ela se obrigou a esvaziar a mente. Vestiu seu terninho sofisticado, seu salto preto, prendeu os cabelos e se olhou no espelh
Andy se recompôs e voltou ao trabalho, analisando planilhas, gastos, relatórios da empresa. Uma assessora tinha que saber como a empresa estava funcionando, tinha que visualizar os erros, as margens, e descobrir qual projeto seria melhor. Tinha que colocar seu cliente no lugar certo, no evento certo e no momento certo! O resto da manhã se passou tranquilamente, conversavam sobre os projetos em pauta e como fazer os concorrentes estarem abaixo deles. Uma hora ou outra eles se pegavam encarando um ao outro, perdidos entre um encontro de olhares pensativo. O remédio de fato tinha feito efeito em menos de 15 minutos e fora o sono, ela estava bem, só precisava trabalhar e esquecer o resto das coisas que a mantinha desequilibrada. Eram quase uma da tarde quando Pietro se levantou da sua poltrona e pegou as chaves de seu carro. — Você não vai almoçar? — Ele perguntou se dirigindo a porta de saída. — Estou sem fome. — Andy falou sem tirar os olhos d
Ela pegou as sacolas de cima da mesa e foi para o sofá em menos de três minutos, preferiu pensar que ele só havia comprado apenas para satisfazer o ego de cavalheiro e nada mais. Ela abriu os embrulhos e sorriu ao ver a refeição saborosa, ele pensou nela. Preocupou-se com ela. Andy comeu seu almoço e sua sobremesa se deliciando a cada garfada ao imaginar Pietro Fischer um homem fora de controle que não aceita ordens escolhendo o almoço para ela. Quando terminou Andy estava completamente satisfeita. Pietro a observava de momento em momento com um sorriso de canto por vê-la comendo e adorando. Ela se sentou novamente em sua cadeira e o encarou. — Obrigada. — Ela falou o olhando de soslaio. — Pelo quê? — Ele encarou aquele par de olhos perfeitos por um momento e voltou a olhar para o notebook. — Por se preocupar comigo. — Ela disse abrindo um sorriso de canto. — Não me preocupei com você; preocupei-me com a imagem de minha empresa. — Ele sorriu discretamente; sabia que aquilo er
— Pietro! — Andy chamou, tentando esconder o fato de que tinha um enorme pavor de escuro. — Eu estou aqui. — Ele respondeu; ligando a lanterna do celular e indo em direção a ela. — Quer dizer que você tem medo de escuro? — Não é Medo de escuro! — Andy rezou para que ele não tivesse notado a careta que ela havia feito. — Não tem problema ter medo de escuro, Senhorita Miller. — Pietro se jogou no sofá ao lado dela. — Eu não... — Ela iria argumentar, mas, se calou. Sabia que não adiantaria! — Então… por que ficou até agora? — Ele puxou assunto tentando acabar com o tédio causado pela impossibilidade de trabalhar no escuro. — Porque temos muito trabalho a fazer. — Ela falou tentando se manter calma e focar no pingo de luz da lanterna que restava naquela sala. — E você? — O mesmo motivo. Muito trabalho a ser feito. — Ele colocou a lanterna no colo, analisando o olhar fixo e perdido de Andy em direção ao ponto de luz. Por um minuto os olhos se encontraram. Tinha
Pietro abriu e forrou o sofá cama, ligou a tevê, que agora falava sobre como a cidade estava completamente alagada e a tempestade não tinha hora para acabar. — Esse lençol aqui é para nos enrolarmos. — Ele falou se sentando de um lado do sofá cama. — Não tem outro? — Andy revirou os olhos. — Tá achando ruim, Senhorita Miller? Não acha que tudo isso é melhor do que dormimos nas cadeiras? — Ele parou e a encarou. “Que mulher marrenta.” Pensou. Ela abriu a boca para falar algo, mas fechou logo em seguida, fazendo uma careta como uma criança mimada. Se tinha que escolher entre a chuva terrível lá fora e o sofá cama ali dentro, foi até um pouco fácil adormecer... *** “— Olá meu bem, qual o seu nome? — Uma mulher de aparentemente 30 anos, vestida num uniforme de empregada se abaixou para ficar da altura da menina. — Cattleya. E o seu? — A menina perguntou com um sorriso triste no rosto. —Você tem olhos lindos, minha doce Cattleya. Parecem seus dois pares de amuleto da sorte. —
Andy soltou um suspiro quando as mãos de Pietro passaram pela sua cintura por baixo de sua blusa, eles estavam imersos em uma nuvem de tensão e prazer quando o celular dele tocou. — Tá de sacanagem! — Ele deixou escapar, enquanto deixava a cabeça cair de frustração sobre o ombro dela. — Melhor você atender. — Andy falou tentando disfarçar a fúria que aquela ligação havia lhe causado. Logo agora! — Eu não vou atender. — Ele falou ainda acariciando a sua cintura e fazendo-a se arrepiar em resposta. — Sério? — Andy falou mostrando com uma careta o quanto aquele toque insistente a estava irritando. — Que porra. — Ele falou procurando o celular após Andy sair de seu colo. — Alô… — Atendeu num tom exposto de irritação. Andy se deixou cair de costas na cama, fechou os olhos e respirou fundo tentando apagar o fogo que havia se alastrado sobre seu corpo. — O que aconteceu? — Pietro se levantou da cama bruscamente. Andy abriu os olhos e encarou sua feição preocupada. —