02

Uma semana depois.

Larissa, narrando:

Eu estava desesperada. Não podia ser verdade. Bruno não atendia mais minhas ligações, não respondia minhas mensagens. O que estava acontecendo, meu Deus?

Terminei de arrumar a casa e me sentei no sofá da sala, tentando assistir a um desenho na TV, mas minha mente só pensava em Bruno.

— Você vai pegar suas coisas e sumir da minha casa! — meu pai entrou em casa revoltado.

— Mas, como assim, pai? — falei sem entender nada.

— Bem que Melyssa falava, você não presta, Larissa! — desferiu um tapa em meu rosto.

— O senhor é louco? Pode me explicar o que está acontecendo? — coloquei a mão em meu rosto.

— Está todo mundo falando de você na rua, todos já sabem que você perdeu a honra com aquele tal de Bruno. Larissa... Você não têm vergonha não? Parece que eu criei uma prostituta!

Peraí? Como assim todos sabem que eu fiquei com Bruno? Isso não pode ser verdade. Eu precisava acordar desse pesadelo.

— Ah, você não criou uma prostituta. Você nunca me criou! — aumentei o tom de voz. — Você só tinha tempo para as luxúrias e desejos da bruxa da Melyssa. Você nunca foi um pai para mim. Será que você não percebe? — disse, já chorando. — Eu não preciso que você me julgue, e nem nunca tive um pai mesmo. Ir embora não vai fazer a mínima diferença.

— Amanhã, quero você longe daqui, bem longe! — ele disse seco e saiu da sala.

Corri para o quarto, tranquei a porta e chorei. Chorei como se não houvesse um mundo lá fora, como se eu estivesse morta por dentro. De todas as dores que já senti, seja Melyssa me humilhando dia e noite, a morte da minha mãe, meu pai me desconsiderando como filha... essa foi a pior.

E agora, o que eu iria fazer? Para onde ir... O único lugar em que posso contar é a casa da minha prima por parte de mãe. Meu pai não poderia ter feito isso comigo, não mesmo. Eu achava que ele pelo menos sentia um pingo de amor de pai por mim. E Bruno? Por que ele estava fazendo tudo isso? Por que ele sumiu e me abandonou na hora em que eu mais precisava?

Depois de todas aquelas juras de amor, eu realmente pensei que significava algo para ele. Ele me derrubou, a pessoa que eu mais amava conseguiu me destruir. Agora eu percebo, tenho saudade dos joelhos ralados, doíam menos do que ter o coração partido.

Me levantei da cama e tentei me reerguer, peguei minha mala e mandei uma mensagem para minha prima Luísa. Ela tinha 18 anos, era um pouco maluquinha, mas uma pessoa incrível. Lembro de tê-la visto pela última vez quando éramos crianças, quando passei as férias na casa da tia no Rio de Janeiro.

Ela logo me respondeu, contei tudo exatamente como aconteceu. Luísa morava sozinha, era independente e tinha seu trabalho, não muito glamouroso, mas suficiente para sobreviver. Luísa ficou indignada, disse que um homem como Bruno não merece minhas lágrimas, e ela estava certa.

Arrumei minhas roupas, tirei tudo do armário. Não deixei uma única coisa nesta casa em que tanto fui infeliz. Pegaria o trem amanhã cedo, já havia combinado tudo com Luísa. Chegando no Rio, arrumaria um emprego e tentaria me virar. Qualquer coisa era melhor do que esse inferno, onde meu pai me rebaixava e fazia questão de mostrar que eu não significava nada para ele, e uma madrasta maldosa que me odiava.

Olhei para o meu celular e eram 7:00 da noite. Iria dormir, pois não tinha mais nada para fazer. Podia estar com fome, mas não iria sair desse quarto. Não posso negar, iria tentar descobrir o que aconteceu com Bruno e como todos ficaram sabendo que fiquei com ele. Certamente foi alguma fofoqueira, porque aqui nesse bairro só tem fofocas.

Mas me digam, o que fazer quando ficar ou ir embora se tornam duas opções dolorosas?

Bruno:

Larissa teria que me perdoar, mas eu não podia abrir mão da minha herança por causa dela. Claro, eu gostava dela, e ainda gosto. Ela é linda, formosa e tem todas as qualidades que um homem quer em uma mulher.

Uma ex-peguete minha ficou com raiva porque eu estava com Larissa e me seguiu até lá, depois espalhou essa história para todo mundo, inclusive para o meu pai, que quase me matou, ameaçou tirar minha herança e arranjou uma noiva para mim.

— Bruno, você vai se casar com a Maribel Hernández, queira ou não! — meu pai disse bravo.

— Eu não tenho o mínimo interesse nessa garota, até o nome dela é bizarro.

— Você não tem querer! Olha aí o que estão falando de você e da filha de Luís. Você só me dá desgosto, Bruno. — ele praticamente cuspiu as palavras.

— Pai, por favor...

— Estamos conversados. — ele piscou para mim e saiu.

Eu queria morrer. Ou então fugir. Preferia qualquer coisa a me casar com essa tal de Maribel. Mas tudo bem, eu me casaria com ela, pegaria minha herança, agiria como um bom marido por um tempo e depois... bem, depois a vida é minha de novo.

Porque ou você toma atitude, ou você toma na cabeça.

Não vou dizer que amo Larissa, mas estamos juntos desde que tinhamos dezesseis anos. Conseguimos manter esse namoro em segredo por três longos anos, e eu gostava dela do jeito que ela era, com seus cabelos loiros longos e cacheados. De certa forma, ela era especial para mim. E não vou negar que ela mexia comigo, e eu já pensei várias vezes em fugir com ela.

Mas não vou jogar minha vida fora. Sem o dinheiro do meu pai, eu sou um ninguém.

Só consigo pensar no quanto Larissa deve estar triste. Eu magoei os sentimentos dela, eu sei. Mas as mulheres logo se apaixonam por outros, isso passa. Logo, logo ela esquecerá de tudo isso. Ela precisa entender que, entre o dinheiro e o amor... bem, a vida boa está com o dinheiro.

Um dia, Larissa há de me perdoar.

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