Uma semana depois.
Larissa, narrando:
Eu estava desesperada. Não podia ser verdade. Bruno não atendia mais minhas ligações, não respondia minhas mensagens. O que estava acontecendo, meu Deus?
Terminei de arrumar a casa e me sentei no sofá da sala, tentando assistir a um desenho na TV, mas minha mente só pensava em Bruno.
— Você vai pegar suas coisas e sumir da minha casa! — meu pai entrou em casa revoltado.
— Mas, como assim, pai? — falei sem entender nada.
— Bem que Melyssa falava, você não presta, Larissa! — desferiu um tapa em meu rosto.
— O senhor é louco? Pode me explicar o que está acontecendo? — coloquei a mão em meu rosto.
— Está todo mundo falando de você na rua, todos já sabem que você perdeu a honra com aquele tal de Bruno. Larissa... Você não têm vergonha não? Parece que eu criei uma prostituta!
Peraí? Como assim todos sabem que eu fiquei com Bruno? Isso não pode ser verdade. Eu precisava acordar desse pesadelo.
— Ah, você não criou uma prostituta. Você nunca me criou! — aumentei o tom de voz. — Você só tinha tempo para as luxúrias e desejos da bruxa da Melyssa. Você nunca foi um pai para mim. Será que você não percebe? — disse, já chorando. — Eu não preciso que você me julgue, e nem nunca tive um pai mesmo. Ir embora não vai fazer a mínima diferença.
— Amanhã, quero você longe daqui, bem longe! — ele disse seco e saiu da sala.
Corri para o quarto, tranquei a porta e chorei. Chorei como se não houvesse um mundo lá fora, como se eu estivesse morta por dentro. De todas as dores que já senti, seja Melyssa me humilhando dia e noite, a morte da minha mãe, meu pai me desconsiderando como filha... essa foi a pior.
E agora, o que eu iria fazer? Para onde ir... O único lugar em que posso contar é a casa da minha prima por parte de mãe. Meu pai não poderia ter feito isso comigo, não mesmo. Eu achava que ele pelo menos sentia um pingo de amor de pai por mim. E Bruno? Por que ele estava fazendo tudo isso? Por que ele sumiu e me abandonou na hora em que eu mais precisava?
Depois de todas aquelas juras de amor, eu realmente pensei que significava algo para ele. Ele me derrubou, a pessoa que eu mais amava conseguiu me destruir. Agora eu percebo, tenho saudade dos joelhos ralados, doíam menos do que ter o coração partido.
Me levantei da cama e tentei me reerguer, peguei minha mala e mandei uma mensagem para minha prima Luísa. Ela tinha 18 anos, era um pouco maluquinha, mas uma pessoa incrível. Lembro de tê-la visto pela última vez quando éramos crianças, quando passei as férias na casa da tia no Rio de Janeiro.
Ela logo me respondeu, contei tudo exatamente como aconteceu. Luísa morava sozinha, era independente e tinha seu trabalho, não muito glamouroso, mas suficiente para sobreviver. Luísa ficou indignada, disse que um homem como Bruno não merece minhas lágrimas, e ela estava certa.
Arrumei minhas roupas, tirei tudo do armário. Não deixei uma única coisa nesta casa em que tanto fui infeliz. Pegaria o trem amanhã cedo, já havia combinado tudo com Luísa. Chegando no Rio, arrumaria um emprego e tentaria me virar. Qualquer coisa era melhor do que esse inferno, onde meu pai me rebaixava e fazia questão de mostrar que eu não significava nada para ele, e uma madrasta maldosa que me odiava.
Olhei para o meu celular e eram 7:00 da noite. Iria dormir, pois não tinha mais nada para fazer. Podia estar com fome, mas não iria sair desse quarto. Não posso negar, iria tentar descobrir o que aconteceu com Bruno e como todos ficaram sabendo que fiquei com ele. Certamente foi alguma fofoqueira, porque aqui nesse bairro só tem fofocas.
Mas me digam, o que fazer quando ficar ou ir embora se tornam duas opções dolorosas?
Bruno:
Larissa teria que me perdoar, mas eu não podia abrir mão da minha herança por causa dela. Claro, eu gostava dela, e ainda gosto. Ela é linda, formosa e tem todas as qualidades que um homem quer em uma mulher.
Uma ex-peguete minha ficou com raiva porque eu estava com Larissa e me seguiu até lá, depois espalhou essa história para todo mundo, inclusive para o meu pai, que quase me matou, ameaçou tirar minha herança e arranjou uma noiva para mim.
— Bruno, você vai se casar com a Maribel Hernández, queira ou não! — meu pai disse bravo.
— Eu não tenho o mínimo interesse nessa garota, até o nome dela é bizarro.
— Você não tem querer! Olha aí o que estão falando de você e da filha de Luís. Você só me dá desgosto, Bruno. — ele praticamente cuspiu as palavras.
— Pai, por favor...
— Estamos conversados. — ele piscou para mim e saiu.
Eu queria morrer. Ou então fugir. Preferia qualquer coisa a me casar com essa tal de Maribel. Mas tudo bem, eu me casaria com ela, pegaria minha herança, agiria como um bom marido por um tempo e depois... bem, depois a vida é minha de novo.
Porque ou você toma atitude, ou você toma na cabeça.
Não vou dizer que amo Larissa, mas estamos juntos desde que tinhamos dezesseis anos. Conseguimos manter esse namoro em segredo por três longos anos, e eu gostava dela do jeito que ela era, com seus cabelos loiros longos e cacheados. De certa forma, ela era especial para mim. E não vou negar que ela mexia comigo, e eu já pensei várias vezes em fugir com ela.
Mas não vou jogar minha vida fora. Sem o dinheiro do meu pai, eu sou um ninguém.
Só consigo pensar no quanto Larissa deve estar triste. Eu magoei os sentimentos dela, eu sei. Mas as mulheres logo se apaixonam por outros, isso passa. Logo, logo ela esquecerá de tudo isso. Ela precisa entender que, entre o dinheiro e o amor... bem, a vida boa está com o dinheiro.
Um dia, Larissa há de me perdoar.
Larissa narrando:Peguei as poucas malas que tinha em mãos, me despedi daquela casa e recordei os poucos momentos felizes que tive com minha mãe. Talvez se ela estivesse aqui, tudo seria diferente.Sai do quarto, passei pela sala e, graças a Deus, a bruxa não estava lá. Não me despediria do meu "pai", porque para ele, se eu fosse embora, eu seria apenas um peso a menos em suas costas. Ele poderia ser feliz com sua amada bruxa, sem a filha bastarda para atrapalhar.Olhei ao redor da fazenda e vi aquela árvore. A árvore onde vivi os momentos mais bonitos com Bruno. Ah, Bruno, por que ele me abandonou? Será que há algo errado comigo? É difícil entender, muito difícil.Eu costumava acreditar que era a Cinderela e que Bruno era meu príncipe, que me tiraria da casa da minha madrasta e me levaria para seu palácio. Mas acorda, Larissa! Isso só acontece em contos de fadas. Minha realidade é essa, e não há como fugir dela.Estava prestes a colocar os pés na rua quando o carro que eu tinha chama
Larissa narrandoUma semana se passou desde a minha chegada ao Rio. Acordei me sentindo um pouco fora do lugar, afinal, havia passado tanto tempo dormindo na minha cama de casal que a adaptação seria difícil.— Bom dia — Luísa chegou quase gritando no quarto.— Que boa forma de me acordar — falei ainda sonolenta.— Vamos, levanta, come algo, que vamos à casa da minha mãe.— Tudo bem, vou me arrumar.De certa forma, eu estava feliz. Finalmente, eu tinha uma família. Minha tia e minha prima, por parte de mãe, eram um sopro de esperança. Por outro lado, meu pai continuava sendo um enigma. Por que ele nunca me amou? Essa pergunta ainda me atormentava.Levantei da cama, tomei um banho no pequeno banheiro do apartamento e vesti uma calça jeans preta com uma blusa branca e um par de tênis. Estava na hora de me adaptar às roupas que as pessoas usavam no Rio de Janeiro.Após uma refeição leve, composta por frutas, café e bolo, estava pronta para sair.— Vamos! — disse para Luísa, que estava oc
Rangel narrandoNós trocávamos olhares profundos, e a cada hora que ela me olhava, eu desviava o olhar, e vice-versa.Eu precisava descobrir quem era essa garota que estava mexendo com a minha mente, porque com certeza ela não era daqui do morro.— Alan — chamei meu parceiro e amigo de confiança.— Dá o papo, chefe.— Sabe quem é aquela mina? — apontei discretamente para a loira.— Ih, não tô ligado, Rangel. Só sei que ela tá com aquela ruivinha que tá de treta com o Júnior.— Ah — falei casualmente.— Mas por que quer saber, mano?— Não é da sua conta, não.Eu geralmente sou de boas, mas às vezes o Alan faz umas perguntas idiotas pra caramba.Fiquei no camarote, me pegando com algumas minas. Umas se esfregavam em mim e outras me beijavam. Era uma bagunça, admito, mas nasci para isso.Algum tempo depois, olhei ao redor. A loirinha não estava lá, mas a amiga dela estava se agarrando com o Júnior, meu melhor amigo. Como assim?Me levantei do camarote e me misturei com a galera, procuran
Larissa narrandoTrês semanas depois...— Luísa? — chamei enquanto minha prima corria para o banheiro.Fui atrás dela, e ela estava vomitando o café da manhã todo.— Você está se sentindo mal?— Estou, e muito! — fez uma careta de nojo.— Precisamos descobrir por que você está assim. — acariciei seus cabelos.— Eu não sei. — ela andou de um lado para o outro.— Hm... Vômitos, enjôos, dores abdominais...— Não, nem vem.— Gravidez, Luísa! Não finja ser tapada. — revirei os olhos.— Não pode ser eu... — pareceu pensar. — É, pode ser.— Ai, meu santo protetor das mulheres em apuros! — passei a mão entre os cabelos.— Porra, eu me mato, Lari!— Se mata nada. Eu vou ali comprar o teste de farmácia, e você me espera aqui se não quiser que eu te engarguelo com seu próprio cabelo. — disse, e ela riu fraco.Vesti a primeira roupa que encontrei e fui à farmácia perto dali. Não é possível que minha prima, uma moça da cidade, não saiba que não usar camisinha pode levar a isso! Jesus do céu.— Me
Rangel Eu a observava atentamente, essa loira estava mexendo com a minha cabeça. Nunca fui de me esforçar com garotas que faziam joguinhos, eu gostava daquelas que rapidamente se entregavam às minhas conversas. No entanto, com ela, estava tentando ser paciente."Porra! Tu é linda", falei para uma jovem daqui do morro."Obrigada, Rangel", ela sorriu, como se estivesse se achando."Bora lá para a minha casa?""Vamos."A levei até meu barraco. Depois de uma noite intensa, percebi que ela era inexperiente, mas mesmo assim, era incrivelmente atraente."Quantos anos você tem, morena?", perguntei enquanto vestia minhas roupas."Dezoito."Sorri. "Essas garotas novas são encrenca, mas são exatamente o tipo que eu gosto.""Você não vai ficar aqui comigo?", ela perguntou."Qual é, menina? Já fiz o que queria", pisquei para ela e saí.Essas garotas sempre acham que, depois de uma conversa, estamos prontos para pedi-las em casamento. Mas eu sabia que a realidade na favela era bem diferente.Volte
Um ano depois LarissaAs vezes as coisas acontecem sem a gente perceber. Cá me encontro morando com meu marido. Rangel.Talvez fosse a pior e a melhor escolha da minha vida. Nunca pensei que um dia iria me envolver com um traficante, que iria perder minha virgindade com o "amor da minha vida" e que ele me abandonaria , meu pai me expulsaria de casa e etc etc. Resumindo, eu nunca imaginei nada disso. Meu pai está na miséria. Soube por amigas que ele só anda bebendo e jogado por aí por causa de Melyssa. Isso mesmo, ela traiu ele com um homem que tinha mais dinheiro.Ai pai, como eu queria estar do seu lado e dizer : Eu avisei!Ao mesmo tempo queria te ajudar e dar todo meu apoio de filha... Mas eu nem sequer para ele, nunca fui a sua filha. Meu relacionamento com Rangel não é o melhor de todos . Isso com certeza não era. Mas eu aprendi à amar ele tanto , esse amor transbordava em mim que eu não conseguia explicar. Eu me tornei dependente dele e isso m
Hoje era o meu aniversário, um dos muitos que planejava celebrar ao lado de Rangel. Acordei coberta de beijos por ele, com seu braço sobre mim, apertando minha cintura e me beijando. — Feliz aniversário — ele sussurrou no meu ouvido. — Obrigada, meu amor! — Pra você, o que a rainha deseja no café da manhã? — Rangel — ri. — Você nem sabe fritar um ovo. — Ah, vou comprar coisas, você vai ver — ele disse, levantando-se da cama. Enquanto ele se arrumava, eu permaneci deitada, cansada de uma noite exaustiva. Rangel estava se arrumando e escovando os dentes. Ele vestiu uma camisa e estava prestes a sair do quarto. — Para onde você vai? — perguntei. — Na padaria, tchau. Ele saiu, e eu fiquei deitada, reclamando em silêncio. Rangel podia ser bruto, mas, tirando isso, eu estava muito feliz. Afinal, estava completando dezoito anos. Mais tarde, Rangel voltou com várias coisas e preparou o café da manhã. A felicidade se refletia nele quando ele era romântico, o que acontecia raramente.
LarissaDepois do meu maravilhoso aniversário, tudo continuou indo bem. Rangel estava me tratando até com um pouco de exagero, o que me deixou desconfiada, pensei que talvez houvesse algo de errado, como uma traição.Levantei cedo, me arrumei e enviei uma mensagem para Carla, dizendo que chegaria à loja em cerca de quinze minutos.— Para onde você vai? — Rangel me questionou.— Para o meu trabalho, ué!— Por que você quer trabalhar? Ainda mais com essa roupa, mostrando tudo.— Rafael, deixemos esse assunto para lá, ok?— Você que sabe. Mas estou meio bolado, entende?— Por quê?— Meu parceiro, Willian, foi preso.— O namorado daquela novinha que se tornou minha colega?— Exatamente, ele mesmo.— Poxa, Rangel... Ela deve estar sofrendo. Poder&iacut