Larissa narrando
Três semanas depois...
— Luísa? — chamei enquanto minha prima corria para o banheiro.
Fui atrás dela, e ela estava vomitando o café da manhã todo.
— Você está se sentindo mal?
— Estou, e muito! — fez uma careta de nojo.
— Precisamos descobrir por que você está assim. — acariciei seus cabelos.
— Eu não sei. — ela andou de um lado para o outro.
— Hm... Vômitos, enjôos, dores abdominais...
— Não, nem vem.
— Gravidez, Luísa! Não finja ser tapada. — revirei os olhos.
— Não pode ser eu... — pareceu pensar. — É, pode ser.
— Ai, meu santo protetor das mulheres em apuros! — passei a mão entre os cabelos.
— Porra, eu me mato, Lari!
— Se mata nada. Eu vou ali comprar o teste de farmácia, e você me espera aqui se não quiser que eu te engarguelo com seu próprio cabelo. — disse, e ela riu fraco.
Vesti a primeira roupa que encontrei e fui à farmácia perto dali. Não é possível que minha prima, uma moça da cidade, não saiba que não usar camisinha pode levar a isso! Jesus do céu.
— Me vende um teste de farmácia, por favor? — pedi, sentindo toda a vergonha do mundo, mesmo que não fosse para mim.
A farmacêutica, com cara de poucos amigos, me entregou o teste, e eu fui pagar. Paguei e voltei ansiosa para casa. Luísa não pode estar grávida, não mesmo!
— Pronto,Lu, aqui. — entreguei o teste a ela.
— E agora, Jesus...
— Lu, seja franca comigo! Suas regras já vieram?
— Não... Mas, quem usa essa palavra, regras? — ela riu.
— Ah, meu Deus... Vai fazer logo o teste.
Ela foi ao banheiro, e eu esperei ansiosa. O futuro de minha prima estava em jogo. Como cuidaríamos de nós mesmas e de uma criança?
Ela saiu do banheiro sem expressão no rosto, e eu perguntei:
— E aí?
Luísa permaneceu calada.
— Fala!
— Dois traços. — falou incrédula.
Eu também fiquei tipo "não pode ser".
Sabe quando você sabe de uma coisa, mas no fundo ainda tem esperanças de que não seja verdade?
Mas é verdade.
— E agora, o que vou fazer? Estou fodida, Larissa! Minha mãe vai me matar, eu engravidei de um traficante. Como vou cuidar da criança com apenas um salário?
— Calma! Respira fundo e bebe isso. — entreguei um copo de água com açúcar para ela.
— Como vou me acalmar nessa situação?
— Primeiro, você vai ligar para o pai da criança e contar tudo a ele. Se ele não quiser assumir, manda ele se lascar! Depois, você vai contar à sua mãe e cuidar da criança com todo o amor do mundo.
— Para você, é fácil.
— Não, Luísa! Não é fácil para mim. Eu só estou tentando te ajudar.
— Eu sei, desculpas, mas meu nervosismo está a mil!
Uma semana se passou, e minha tia não aceitou a gravidez de Luísa porque o pai da criança era um bandido. Ele fez o mínimo por Luísa, convidando-a para morar com ele.
Eu também iria, pois não tinha como pagar o aluguel deste apartamento. Eu não tinha dinheiro e ainda não estava estabelecida aqui no Rio. Se eu continuasse aqui, todo pouco dinheiro que eu tinha iria embora. E não queria morar com minha tia e incomodar. O namorado ou sei lá o que de Luisa
Terminei de arrumar minhas coisas e descemos. O porteiro nos ajudou com as malas, e entramos no táxi. Paramos na entrada do morro, e o táxi não podia descer. Aff.
— Júnior mandou um carro nos buscar. — Luísa falou, e eu assenti.
O carro veio nos buscar. Era um garoto todo armado, Jesus! Espero que Luísa tenha sorte.
Luísa parou na casa onde iria morar, e eu parei na que ficaria.
— Pode ficar de boa aqui na casa. — Júnior falou seco.
— Obrigado. — sorri fraco.
Ele era todo fechado, tinha cara de ignorante. Deus é mais. Espero que Luísa tenha sorte.
Me estabilizei e dei uma geral na casa. Estava muito suja. Esse cara não limpava esta casa?
Depois, me deitei exausta... Peguei meu celular e usei meu 3G para fuçar as redes sociais, mas não tinha ninguém, nem uma alma viva, para conversar.
Só vi aquele idiota postando fotos com a esposa dele. Meu coração não se partiu, ele foi destroçado. Eu ainda gosto de Bruno demais!
Queria que alguém realmente me amasse. Queria encontrar alguém para ficar comigo.
Alguém bateu na porta, e eu fui atender. Quem seria? Não conhecia ninguém aqui, além de Júnior e Lu.
Abri o portão e dei de cara com aquele retardado gostoso... Argh!
— Minha nova moradora da comunidade. — ele sorriu.
— O que faz aqui? — revirei os olhos.
— Nada, só vim te ver, princesa.
Ouvir ele me chamar de princesa me dava raiva. Me lembrava de Bruno me chamando assim. Era tudo mentira!
— Ah, tá. — revirei os olhos.
— Tô com sede... Quero água, posso entrar? — sorriu.
— Entra. — fiz cara feia.
Dei a tal água para ele e o olhei esperando que fosse embora.
— Vai morar aqui?
— Se me deixarem, moro. — sorriu de lado.
— Pois eu não deixo.
— Ô, neném. — se aproximou. — Faz assim não. Você só me maltrata, adoro mulher assim, sabe.
— Você é brasileiro mesmo, né? Nunca desiste. — revirei os olhos.
— Não mesmo! — ele me puxou para si e me beijou.
De início,
relutei, mas depois cedi ao beijo, me culpando mentalmente por estar beijando um bandido.
— Socorro! — me soltei dele e gritei.
— Tá doida?
— Tô, você me beijou sem eu querer.
— Não foi o que pareceu. Pode gritar, ninguém vai ousar fazer nada contra o dono do morro. — sorriu.
— Idiota.
— Insuportável!
O tapado ficou me olhando e me jogou no sofá, me beijando de novo.
Posso com esse homem?
Rangel Eu a observava atentamente, essa loira estava mexendo com a minha cabeça. Nunca fui de me esforçar com garotas que faziam joguinhos, eu gostava daquelas que rapidamente se entregavam às minhas conversas. No entanto, com ela, estava tentando ser paciente."Porra! Tu é linda", falei para uma jovem daqui do morro."Obrigada, Rangel", ela sorriu, como se estivesse se achando."Bora lá para a minha casa?""Vamos."A levei até meu barraco. Depois de uma noite intensa, percebi que ela era inexperiente, mas mesmo assim, era incrivelmente atraente."Quantos anos você tem, morena?", perguntei enquanto vestia minhas roupas."Dezoito."Sorri. "Essas garotas novas são encrenca, mas são exatamente o tipo que eu gosto.""Você não vai ficar aqui comigo?", ela perguntou."Qual é, menina? Já fiz o que queria", pisquei para ela e saí.Essas garotas sempre acham que, depois de uma conversa, estamos prontos para pedi-las em casamento. Mas eu sabia que a realidade na favela era bem diferente.Volte
Um ano depois LarissaAs vezes as coisas acontecem sem a gente perceber. Cá me encontro morando com meu marido. Rangel.Talvez fosse a pior e a melhor escolha da minha vida. Nunca pensei que um dia iria me envolver com um traficante, que iria perder minha virgindade com o "amor da minha vida" e que ele me abandonaria , meu pai me expulsaria de casa e etc etc. Resumindo, eu nunca imaginei nada disso. Meu pai está na miséria. Soube por amigas que ele só anda bebendo e jogado por aí por causa de Melyssa. Isso mesmo, ela traiu ele com um homem que tinha mais dinheiro.Ai pai, como eu queria estar do seu lado e dizer : Eu avisei!Ao mesmo tempo queria te ajudar e dar todo meu apoio de filha... Mas eu nem sequer para ele, nunca fui a sua filha. Meu relacionamento com Rangel não é o melhor de todos . Isso com certeza não era. Mas eu aprendi à amar ele tanto , esse amor transbordava em mim que eu não conseguia explicar. Eu me tornei dependente dele e isso m
Hoje era o meu aniversário, um dos muitos que planejava celebrar ao lado de Rangel. Acordei coberta de beijos por ele, com seu braço sobre mim, apertando minha cintura e me beijando. — Feliz aniversário — ele sussurrou no meu ouvido. — Obrigada, meu amor! — Pra você, o que a rainha deseja no café da manhã? — Rangel — ri. — Você nem sabe fritar um ovo. — Ah, vou comprar coisas, você vai ver — ele disse, levantando-se da cama. Enquanto ele se arrumava, eu permaneci deitada, cansada de uma noite exaustiva. Rangel estava se arrumando e escovando os dentes. Ele vestiu uma camisa e estava prestes a sair do quarto. — Para onde você vai? — perguntei. — Na padaria, tchau. Ele saiu, e eu fiquei deitada, reclamando em silêncio. Rangel podia ser bruto, mas, tirando isso, eu estava muito feliz. Afinal, estava completando dezoito anos. Mais tarde, Rangel voltou com várias coisas e preparou o café da manhã. A felicidade se refletia nele quando ele era romântico, o que acontecia raramente.
LarissaDepois do meu maravilhoso aniversário, tudo continuou indo bem. Rangel estava me tratando até com um pouco de exagero, o que me deixou desconfiada, pensei que talvez houvesse algo de errado, como uma traição.Levantei cedo, me arrumei e enviei uma mensagem para Carla, dizendo que chegaria à loja em cerca de quinze minutos.— Para onde você vai? — Rangel me questionou.— Para o meu trabalho, ué!— Por que você quer trabalhar? Ainda mais com essa roupa, mostrando tudo.— Rafael, deixemos esse assunto para lá, ok?— Você que sabe. Mas estou meio bolado, entende?— Por quê?— Meu parceiro, Willian, foi preso.— O namorado daquela novinha que se tornou minha colega?— Exatamente, ele mesmo.— Poxa, Rangel... Ela deve estar sofrendo. Poder&iacut
Rangel narrandoSai de casa cheio de ódio. Estava cansado das ideias sem noção de Larissa, algum dia eu iria me cansar definitivamente. Quem mora na favela sabe como são as coisas, mulher de bandido tem que andar na linha.Larissa achava que podia se comandar,, vem com historinha de estudar, de não sei quê, daqui a pouco tá é me traindo. É aquilo né, quem faz tem medo de receber o troco.Tô numa onda nova aí... Novinha chegou do nada lá de bem longe, morena gostosa que nem essa e ainda não tinha visto aqui. Novidade na area, carne nova no pedaço!Júnior me procurou e começou a conversar sobre a situação. Ele falou que eu tinha Larissa e que não podia vacilar com ela nem com Cíntia, que era a prima dele.Sim, eu estava me envolvendo com a prima de Júnior. A situação era complicada e cheia de nuances. Eu tinha Larissa, minha mulher, que era tudo para mim. Isso era algo que todos sabiam, eu a amava mais do que tudo, mesmo que eu não demonstrasse ou a tratasse mal em muita
Larissa narrandoNão tem jeito, homem quando é ruim, não muda nunca. Descarada é a gente que aceita as patifarias.Esperei Rangel até as duas horas da manhã e nada, fiquei chorando e acabei dormindo no sofá.Quando acordei, era sete horas da manhã, não consegui dormir nada.Joguei uma água na cara e fiquei esperando ele, nada dele chegar... Liguei para mãe dele, ela disse que nem viu a cara do filho ontem.Vai Larissa, teu chifre a cada dia só aumenta.Resolvi não me importar mais, e tomei um banho pra tirar essa cara de choro, fui no meu guarda-roupa e peguei meu canivete dourado com minhas iniciais, tinha mandando fazer ele a tempo pra defesa pessoal, o descarado nem sabia.Fui tomar meu café. Foda- se, de amor eu não morro! Largo ele e arranjo um boy magia em dois tempos.Ouvi o portão se abrir e permaneci quieta no meu canto tomando meu café. Se ele vim pra cima de mim agressivo eu meto o canivete no braço dele, sem ideia.O idiota veio com papinho frouxo, dei nem confiança. Se el
Já fiz um coque nos cabelos e bati palmas em frente à casa da xoxada. Carla veio comigo, mesmo não apoiando minhas atitudes, mas amiga é pra essas coisas.Bati mais algumas vezes para ver se a monete não ia dar as caras. Depois de alguns minutos, ela apareceu.- Qual foi, Larissa? Precisa de algo? - falou toda sonsa.- Preciso sim, como vai tu? - me fiz de sonsa também.- Vou bem. - deu um sorrisinho.Ela ainda não havia notado que eu já tinha descoberto, mas é uma jumenta mesmo!Do nada, puxei ela pelos cabelos e fiz ela me olhar cara a cara.- Qual foi, garota? Tá louca, me solta. - ela tentava se soltar.- Te soltar, meu cu, puta! - puxei ela para fora de casa. - Não vem do quinto dos infernos caçar macho dos outros? Agora vai aguentar a pressão, porra!- Você é doente, cara, eu não tô com macho de ninguém.- Ah, não... - ri sarcasticamente. - Tu é muito cara de pau, garota. Vou te dar o papo reto. Tu anda com a mina e ainda tem a coragem de pegar o homem dela. Eu sou a fiel, porra
RangelEu fiquei a noite toda puto da vida. Que porra, Larissa comediou a mina em frente da favela inteira, e depois sumiu com minha prima.Fumei a noite toda e acabei dormindo no chão morrendo de ódio. Acordei ela não tinha chegado em casa, eu estava ciente que eu estava no erro, mas mesmo assim estava com ódio.Larissa era a mulher da minha vida, eu vacilava muito com ela, aliás desde pequeno eu sempre fui vacilão, sempre dei trabalho a minha mãe. E segui os caminhos de meu pai.Meu pai era de boa, gostava de mim demais, mas traia e batia na minha mãe e isso é uma grande mágoa pra mim. Minha coroa é tudo pra mim, por ela eu mato e morro.Ouvi o portão bater com certeza era ela, limpei meus olhos que estavam vermelhos e esperei ela .Ela entrou em casa toda doida com os saltos na mão, estava com aparência de ter bebido muito.- Onde você estava? - falei calmamente.- Estava na rua, te interessa? Só vim aqui pra pegar minhas coisas e sumir da sua vida.- Larissa, me perdoa. -a toquei