05

Rangel narrando

Nós trocávamos olhares profundos, e a cada hora que ela me olhava, eu desviava o olhar, e vice-versa.

Eu precisava descobrir quem era essa garota que estava mexendo com a minha mente, porque com certeza ela não era daqui do morro.

— Alan — chamei meu parceiro e amigo de confiança.

— Dá o papo, chefe.

— Sabe quem é aquela mina? — apontei discretamente para a loira.

— Ih, não tô ligado, Rangel. Só sei que ela tá com aquela ruivinha que tá de treta com o Júnior.

— Ah — falei casualmente.

— Mas por que quer saber, mano?

— Não é da sua conta, não.

Eu geralmente sou de boas, mas às vezes o Alan faz umas perguntas idiotas pra caramba.

Fiquei no camarote, me pegando com algumas minas. Umas se esfregavam em mim e outras me beijavam. Era uma bagunça, admito, mas nasci para isso.

Algum tempo depois, olhei ao redor. A loirinha não estava lá, mas a amiga dela estava se agarrando com o Júnior, meu melhor amigo. Como assim?

Me levantei do camarote e me misturei com a galera, procurando por ela, mas nada de encontrá-la. Saí do baile até que a vi encostada em um carro, com a cabeça baixa, provavelmente chorando.

— O que foi? — me aproximei dela, e ela deu um pulo assustada, se afastando.

— O que você quer? — perguntou, assustada e ainda chorando.

Definitivamente, ela não era como as outras.

— Não quero te fazer nada. Só quero saber por que você está chorando e te alertar que aqui não é um parque de diversões para você ficar sozinha na rua.

— Eu só estou chorando, me deixa.

— Você sabe com quem está falando?

— Não, e não me interessa.

Ah, que garota marrenta. Se fosse outra, eu já teria metido bronca! Mas eu ainda tinha planos com ela.

— Sua amiga tá lá se agarrando com o meu parceiro. Se você quiser ficar aqui, pode ficar. Não vou insistir.

Eu já ia saindo quando ela gentilmente pediu para eu ficar.

— Espera... Você pode me levar pra casa?

— Onde é a sua casa?

— Fica na Zona Sul, perto de Copacabana.

— Então, você é uma patricinha?

— Não, eu... Você pode ou não?

— Vamos lá.

Peguei meu carro, e ela entrou. Fui seguindo as coordenadas dela até que chegamos a um apartamento. Não era tão luxuoso como eu imaginava, mas era simples e aconchegante.

— Chegamos.

— Obrigada. Se não fosse você, eu nem sei...

— Você não vai sair daqui sem antes me contar as suas paradas.

— Que paradas?

— Seus problemas — revirei os olhos.

— Nem te conheço.

— Pô, mina — olhei para ela com uma expressão triste.

— Eu só estou triste. Me mudei recentemente para o Rio, era de Belo Horizonte. Fui expulsa de casa depois de ficar com o meu namorado, que me abandonou depois de... bem, depois disso — suspirou. — Agora estou morando com a minha prima, tentando me virar.

— Quantos anos você tem, garota?

— Dezoito, mas por que voce quer saber?

— Prazer, meu nome é Rafael, mas na Grota, sou mais conhecido como Rangel. Tenho 24 anos.

— Você é o dono daquele morro?

— Sou eu mesmo, surpresa, né? — sorri convencido.

— Ah, tá, legal.—deu de ombros parecendo não se importar.

— Sua amiga deve estar preocupada com você.

— Você pode me emprestar o seu celular para que eu possa mandar uma mensagem? Se tiver crédito, é claro.

— Pega. — Tirei o meu celular do bolso e entreguei a ela.

Ela mandou a mensagem para a amiga, que, nesse momento, já devia estar na cama com o meu parceiro. Logo depois, ela estava saindo do carro.

— Ei, pra onde você vai?

— Entrar em casa, ué. Valeu pela carona.

— Me passa o seu número... — Ela pareceu pensar por um momento, mas depois anotou o número dela no meu celular.

— Já é, novinha.

Que novinha é essa? Parece o paraíso, uma loira de tirar o fôlego! Espero que eu a encontre mais vezes.

Dei ré no carro e voltei para o morro. A noite estava só começando.

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