Rangel narrando
Nós trocávamos olhares profundos, e a cada hora que ela me olhava, eu desviava o olhar, e vice-versa.
Eu precisava descobrir quem era essa garota que estava mexendo com a minha mente, porque com certeza ela não era daqui do morro.
— Alan — chamei meu parceiro e amigo de confiança.
— Dá o papo, chefe.
— Sabe quem é aquela mina? — apontei discretamente para a loira.
— Ih, não tô ligado, Rangel. Só sei que ela tá com aquela ruivinha que tá de treta com o Júnior.
— Ah — falei casualmente.
— Mas por que quer saber, mano?
— Não é da sua conta, não.
Eu geralmente sou de boas, mas às vezes o Alan faz umas perguntas idiotas pra caramba.
Fiquei no camarote, me pegando com algumas minas. Umas se esfregavam em mim e outras me beijavam. Era uma bagunça, admito, mas nasci para isso.
Algum tempo depois, olhei ao redor. A loirinha não estava lá, mas a amiga dela estava se agarrando com o Júnior, meu melhor amigo. Como assim?
Me levantei do camarote e me misturei com a galera, procurando por ela, mas nada de encontrá-la. Saí do baile até que a vi encostada em um carro, com a cabeça baixa, provavelmente chorando.
— O que foi? — me aproximei dela, e ela deu um pulo assustada, se afastando.
— O que você quer? — perguntou, assustada e ainda chorando.
Definitivamente, ela não era como as outras.
— Não quero te fazer nada. Só quero saber por que você está chorando e te alertar que aqui não é um parque de diversões para você ficar sozinha na rua.
— Eu só estou chorando, me deixa.
— Você sabe com quem está falando?
— Não, e não me interessa.
Ah, que garota marrenta. Se fosse outra, eu já teria metido bronca! Mas eu ainda tinha planos com ela.
— Sua amiga tá lá se agarrando com o meu parceiro. Se você quiser ficar aqui, pode ficar. Não vou insistir.
Eu já ia saindo quando ela gentilmente pediu para eu ficar.
— Espera... Você pode me levar pra casa?
— Onde é a sua casa?
— Fica na Zona Sul, perto de Copacabana.
— Então, você é uma patricinha?
— Não, eu... Você pode ou não?
— Vamos lá.
Peguei meu carro, e ela entrou. Fui seguindo as coordenadas dela até que chegamos a um apartamento. Não era tão luxuoso como eu imaginava, mas era simples e aconchegante.
— Chegamos.
— Obrigada. Se não fosse você, eu nem sei...
— Você não vai sair daqui sem antes me contar as suas paradas.
— Que paradas?
— Seus problemas — revirei os olhos.
— Nem te conheço.
— Pô, mina — olhei para ela com uma expressão triste.
— Eu só estou triste. Me mudei recentemente para o Rio, era de Belo Horizonte. Fui expulsa de casa depois de ficar com o meu namorado, que me abandonou depois de... bem, depois disso — suspirou. — Agora estou morando com a minha prima, tentando me virar.
— Quantos anos você tem, garota?
— Dezoito, mas por que voce quer saber?
— Prazer, meu nome é Rafael, mas na Grota, sou mais conhecido como Rangel. Tenho 24 anos.
— Você é o dono daquele morro?
— Sou eu mesmo, surpresa, né? — sorri convencido.
— Ah, tá, legal.—deu de ombros parecendo não se importar.
— Sua amiga deve estar preocupada com você.
— Você pode me emprestar o seu celular para que eu possa mandar uma mensagem? Se tiver crédito, é claro.
— Pega. — Tirei o meu celular do bolso e entreguei a ela.
Ela mandou a mensagem para a amiga, que, nesse momento, já devia estar na cama com o meu parceiro. Logo depois, ela estava saindo do carro.
— Ei, pra onde você vai?
— Entrar em casa, ué. Valeu pela carona.
— Me passa o seu número... — Ela pareceu pensar por um momento, mas depois anotou o número dela no meu celular.
— Já é, novinha.
Que novinha é essa? Parece o paraíso, uma loira de tirar o fôlego! Espero que eu a encontre mais vezes.
Dei ré no carro e voltei para o morro. A noite estava só começando.
Larissa narrandoTrês semanas depois...— Luísa? — chamei enquanto minha prima corria para o banheiro.Fui atrás dela, e ela estava vomitando o café da manhã todo.— Você está se sentindo mal?— Estou, e muito! — fez uma careta de nojo.— Precisamos descobrir por que você está assim. — acariciei seus cabelos.— Eu não sei. — ela andou de um lado para o outro.— Hm... Vômitos, enjôos, dores abdominais...— Não, nem vem.— Gravidez, Luísa! Não finja ser tapada. — revirei os olhos.— Não pode ser eu... — pareceu pensar. — É, pode ser.— Ai, meu santo protetor das mulheres em apuros! — passei a mão entre os cabelos.— Porra, eu me mato, Lari!— Se mata nada. Eu vou ali comprar o teste de farmácia, e você me espera aqui se não quiser que eu te engarguelo com seu próprio cabelo. — disse, e ela riu fraco.Vesti a primeira roupa que encontrei e fui à farmácia perto dali. Não é possível que minha prima, uma moça da cidade, não saiba que não usar camisinha pode levar a isso! Jesus do céu.— Me
Rangel Eu a observava atentamente, essa loira estava mexendo com a minha cabeça. Nunca fui de me esforçar com garotas que faziam joguinhos, eu gostava daquelas que rapidamente se entregavam às minhas conversas. No entanto, com ela, estava tentando ser paciente."Porra! Tu é linda", falei para uma jovem daqui do morro."Obrigada, Rangel", ela sorriu, como se estivesse se achando."Bora lá para a minha casa?""Vamos."A levei até meu barraco. Depois de uma noite intensa, percebi que ela era inexperiente, mas mesmo assim, era incrivelmente atraente."Quantos anos você tem, morena?", perguntei enquanto vestia minhas roupas."Dezoito."Sorri. "Essas garotas novas são encrenca, mas são exatamente o tipo que eu gosto.""Você não vai ficar aqui comigo?", ela perguntou."Qual é, menina? Já fiz o que queria", pisquei para ela e saí.Essas garotas sempre acham que, depois de uma conversa, estamos prontos para pedi-las em casamento. Mas eu sabia que a realidade na favela era bem diferente.Volte
Um ano depois LarissaAs vezes as coisas acontecem sem a gente perceber. Cá me encontro morando com meu marido. Rangel.Talvez fosse a pior e a melhor escolha da minha vida. Nunca pensei que um dia iria me envolver com um traficante, que iria perder minha virgindade com o "amor da minha vida" e que ele me abandonaria , meu pai me expulsaria de casa e etc etc. Resumindo, eu nunca imaginei nada disso. Meu pai está na miséria. Soube por amigas que ele só anda bebendo e jogado por aí por causa de Melyssa. Isso mesmo, ela traiu ele com um homem que tinha mais dinheiro.Ai pai, como eu queria estar do seu lado e dizer : Eu avisei!Ao mesmo tempo queria te ajudar e dar todo meu apoio de filha... Mas eu nem sequer para ele, nunca fui a sua filha. Meu relacionamento com Rangel não é o melhor de todos . Isso com certeza não era. Mas eu aprendi à amar ele tanto , esse amor transbordava em mim que eu não conseguia explicar. Eu me tornei dependente dele e isso m
Hoje era o meu aniversário, um dos muitos que planejava celebrar ao lado de Rangel. Acordei coberta de beijos por ele, com seu braço sobre mim, apertando minha cintura e me beijando. — Feliz aniversário — ele sussurrou no meu ouvido. — Obrigada, meu amor! — Pra você, o que a rainha deseja no café da manhã? — Rangel — ri. — Você nem sabe fritar um ovo. — Ah, vou comprar coisas, você vai ver — ele disse, levantando-se da cama. Enquanto ele se arrumava, eu permaneci deitada, cansada de uma noite exaustiva. Rangel estava se arrumando e escovando os dentes. Ele vestiu uma camisa e estava prestes a sair do quarto. — Para onde você vai? — perguntei. — Na padaria, tchau. Ele saiu, e eu fiquei deitada, reclamando em silêncio. Rangel podia ser bruto, mas, tirando isso, eu estava muito feliz. Afinal, estava completando dezoito anos. Mais tarde, Rangel voltou com várias coisas e preparou o café da manhã. A felicidade se refletia nele quando ele era romântico, o que acontecia raramente.
LarissaDepois do meu maravilhoso aniversário, tudo continuou indo bem. Rangel estava me tratando até com um pouco de exagero, o que me deixou desconfiada, pensei que talvez houvesse algo de errado, como uma traição.Levantei cedo, me arrumei e enviei uma mensagem para Carla, dizendo que chegaria à loja em cerca de quinze minutos.— Para onde você vai? — Rangel me questionou.— Para o meu trabalho, ué!— Por que você quer trabalhar? Ainda mais com essa roupa, mostrando tudo.— Rafael, deixemos esse assunto para lá, ok?— Você que sabe. Mas estou meio bolado, entende?— Por quê?— Meu parceiro, Willian, foi preso.— O namorado daquela novinha que se tornou minha colega?— Exatamente, ele mesmo.— Poxa, Rangel... Ela deve estar sofrendo. Poder&iacut
Rangel narrandoSai de casa cheio de ódio. Estava cansado das ideias sem noção de Larissa, algum dia eu iria me cansar definitivamente. Quem mora na favela sabe como são as coisas, mulher de bandido tem que andar na linha.Larissa achava que podia se comandar,, vem com historinha de estudar, de não sei quê, daqui a pouco tá é me traindo. É aquilo né, quem faz tem medo de receber o troco.Tô numa onda nova aí... Novinha chegou do nada lá de bem longe, morena gostosa que nem essa e ainda não tinha visto aqui. Novidade na area, carne nova no pedaço!Júnior me procurou e começou a conversar sobre a situação. Ele falou que eu tinha Larissa e que não podia vacilar com ela nem com Cíntia, que era a prima dele.Sim, eu estava me envolvendo com a prima de Júnior. A situação era complicada e cheia de nuances. Eu tinha Larissa, minha mulher, que era tudo para mim. Isso era algo que todos sabiam, eu a amava mais do que tudo, mesmo que eu não demonstrasse ou a tratasse mal em muita
Larissa narrandoNão tem jeito, homem quando é ruim, não muda nunca. Descarada é a gente que aceita as patifarias.Esperei Rangel até as duas horas da manhã e nada, fiquei chorando e acabei dormindo no sofá.Quando acordei, era sete horas da manhã, não consegui dormir nada.Joguei uma água na cara e fiquei esperando ele, nada dele chegar... Liguei para mãe dele, ela disse que nem viu a cara do filho ontem.Vai Larissa, teu chifre a cada dia só aumenta.Resolvi não me importar mais, e tomei um banho pra tirar essa cara de choro, fui no meu guarda-roupa e peguei meu canivete dourado com minhas iniciais, tinha mandando fazer ele a tempo pra defesa pessoal, o descarado nem sabia.Fui tomar meu café. Foda- se, de amor eu não morro! Largo ele e arranjo um boy magia em dois tempos.Ouvi o portão se abrir e permaneci quieta no meu canto tomando meu café. Se ele vim pra cima de mim agressivo eu meto o canivete no braço dele, sem ideia.O idiota veio com papinho frouxo, dei nem confiança. Se el
Já fiz um coque nos cabelos e bati palmas em frente à casa da xoxada. Carla veio comigo, mesmo não apoiando minhas atitudes, mas amiga é pra essas coisas.Bati mais algumas vezes para ver se a monete não ia dar as caras. Depois de alguns minutos, ela apareceu.- Qual foi, Larissa? Precisa de algo? - falou toda sonsa.- Preciso sim, como vai tu? - me fiz de sonsa também.- Vou bem. - deu um sorrisinho.Ela ainda não havia notado que eu já tinha descoberto, mas é uma jumenta mesmo!Do nada, puxei ela pelos cabelos e fiz ela me olhar cara a cara.- Qual foi, garota? Tá louca, me solta. - ela tentava se soltar.- Te soltar, meu cu, puta! - puxei ela para fora de casa. - Não vem do quinto dos infernos caçar macho dos outros? Agora vai aguentar a pressão, porra!- Você é doente, cara, eu não tô com macho de ninguém.- Ah, não... - ri sarcasticamente. - Tu é muito cara de pau, garota. Vou te dar o papo reto. Tu anda com a mina e ainda tem a coragem de pegar o homem dela. Eu sou a fiel, porra