Larissa narrando
Uma semana se passou desde a minha chegada ao Rio. Acordei me sentindo um pouco fora do lugar, afinal, havia passado tanto tempo dormindo na minha cama de casal que a adaptação seria difícil.
— Bom dia — Luísa chegou quase gritando no quarto.
— Que boa forma de me acordar — falei ainda sonolenta.
— Vamos, levanta, come algo, que vamos à casa da minha mãe.
— Tudo bem, vou me arrumar.
De certa forma, eu estava feliz. Finalmente, eu tinha uma família. Minha tia e minha prima, por parte de mãe, eram um sopro de esperança. Por outro lado, meu pai continuava sendo um enigma. Por que ele nunca me amou? Essa pergunta ainda me atormentava.
Levantei da cama, tomei um banho no pequeno banheiro do apartamento e vesti uma calça jeans preta com uma blusa branca e um par de tênis. Estava na hora de me adaptar às roupas que as pessoas usavam no Rio de Janeiro.
Após uma refeição leve, composta por frutas, café e bolo, estava pronta para sair.
— Vamos! — disse para Luísa, que estava ocupada no celular.
— Bora.
Peguei meu celular, coloquei algum dinheiro na bolsa e saímos. Pegamos o ônibus e logo estávamos na casa da minha tia, que não ficava muito longe do apartamento de Luísa.
Minha tia me recebeu calorosamente, e seu abraço era um conforto que eu estava ansiosa para sentir. Ela ainda era tão bonita, com seus cabelos loiros e uma aparência jovial que lembrava minha mãe.
— Minha sobrinha — ela me abraçou docemente.
— Que saudades — disse enquanto a abraçava e dava um beijo.
Eu me sentia feliz por estar com minha tia e prima, e a sensação de ter uma família era reconfortante. Mas meu pai ainda pairava como uma sombra no fundo da minha mente, um mistério que eu precisava resolver.
Enquanto conversávamos sobre diversos assuntos para colocar em dia, Luísa mencionou que precisava ir para o trabalho.
— Mãe, foi bom te ver, mas temos que ir. Tenho que trabalhar, beijos — Lu disse.
— Tchau, tia — me despedi com um abraço.
Pegamos um Uber, e Luísa partiu para o trabalho, enquanto eu voltei para o apartamento dela. Naquele dia, minha rotina se resumiu a passar o tempo, mexendo no celular e assistindo a um filme monótono na TV. Eu rezava mentalmente para conseguir esquecer o meu passado, mas as memórias continuavam a me assombrar.
Decidi então limpar a casa, que parecia não ter sido limpa por anos. Comecei pela sala, passando pano nos móveis e lavando as cortinas. Em seguida, limpei a cozinha, os quartos e a área de serviço. Quando terminei, estava completamente exausta, mas essa não era uma tarefa tão diferente do que eu costumava fazer na minha antiga casa. Lá, eu era praticamente a "Cinderela" e Melissa a madrasta má.
— Querida, cheguei — Luísa cantarolou ao entrar em casa.
— Ah, meu Deus, finalmente — eu disse, revirando os olhos e sorrindo.
— Estamos indo para um lugarzinho hoje... — começou a dizer, mas eu a interrompi.
— Que lugar?
Ela começou a enrolar, mas finalmente explicou que era uma festa. Fiquei relutante a princípio, preocupada com a violência que eu tinha visto nos noticiários sobre o Rio de Janeiro.
— Deixa de agonia, Lari, já fui lá mil vezes. Não é nada disso, só vamos a uma festa e voltamos.
Eu ainda estava incerta, mas percebi que essa era uma oportunidade de sair da minha zona de conforto. Eu sempre quis experimentar a liberdade, e agora era a minha chance.
— Pensando bem, por que não? Uma festa não vai fazer mal — concordei.
Escolhi um vestido rosa, o mais curto que eu tinha, e calcei um par de saltos pretos emprestados de Luísa. Ela também fez cachos no meu cabelo loiro e caprichou na maquiagem. Ao me olhar no espelho, mal pude reconhecer a mulher que estava olhando de volta para mim. Não era mais aquela menina triste e derrotada que havia chegado de Belo Horizonte.
— Vamos, o táxi já está esperando lá embaixo — Luísa disse empolgada.
Eu me senti completamente desconfortável com aqueles saltos, mas sabia que era hora de me soltar. Afinal, eu precisava mostrar para mim mesma que poderia ser feliz sem ele.
— Chegamos — Luísa anunciou quando saímos do táxi.
— Estou com medo — admiti.
— Ah, Larissa, chega de medo, tudo vai dar certo — Luísa tentou me tranquilizar.
Paramos na entrada do morro, onde homens armados faziam a segurança. Seus olhares intensos nos seguiram enquanto caminhávamos. Aparentemente, Luísa era conhecida naquelas redondezas, pois fomos autorizadas a entrar.
— Esses caras pareciam sinistros — sussurrei no ouvido dela enquanto descíamos o morro.
— Você que está com medo — ela riu.
— Calma, já estamos chegando — Luísa tranquilizou.
Andamos mais um pouco, enfrentando assédio de homens idiotas pelo caminho, até finalmente chegarmos à tal festa.
Luísa entrou animada, e eu a segui. A festa estava lotada, parecia uma dessas feiras que costumava frequentar na minha cidade natal. Mulheres se jogavam em homens com armas visíveis, outros usavam drogas. Tudo aquilo parecia uma loucura.
— Incrível. Eu quero ir embora — murmurei, olhando em volta.
— O quê? Você está louca, Lari? Eu só vou embora daqui amanhã — Luísa respondeu.
— Meu Deus...
Mas em que diabos de lugar eu fui me meter?!
Nos sentamos numa mesa, e Luísa logo trouxe algumas bebidas. De início recusei , mas logo depois aceitei, já estava ali mesmo e minha vida estava uma merda como piorar?
Fiquei sentada só escutando a música enquanto minha prima se acabava de dançar , percebi olhares pra mim. Mas o pior todos , era do carinha que parecia estar em um camarote , ele não tirava o olho de mim um sequer segundo.
Ele era lindo não vou mentir, todo tatuado, seus cabelos lisos , seu olhar marcante.. Como Luísa diz , um pedaço de mal caminho.
Rangel narrandoNós trocávamos olhares profundos, e a cada hora que ela me olhava, eu desviava o olhar, e vice-versa.Eu precisava descobrir quem era essa garota que estava mexendo com a minha mente, porque com certeza ela não era daqui do morro.— Alan — chamei meu parceiro e amigo de confiança.— Dá o papo, chefe.— Sabe quem é aquela mina? — apontei discretamente para a loira.— Ih, não tô ligado, Rangel. Só sei que ela tá com aquela ruivinha que tá de treta com o Júnior.— Ah — falei casualmente.— Mas por que quer saber, mano?— Não é da sua conta, não.Eu geralmente sou de boas, mas às vezes o Alan faz umas perguntas idiotas pra caramba.Fiquei no camarote, me pegando com algumas minas. Umas se esfregavam em mim e outras me beijavam. Era uma bagunça, admito, mas nasci para isso.Algum tempo depois, olhei ao redor. A loirinha não estava lá, mas a amiga dela estava se agarrando com o Júnior, meu melhor amigo. Como assim?Me levantei do camarote e me misturei com a galera, procuran
Larissa narrandoTrês semanas depois...— Luísa? — chamei enquanto minha prima corria para o banheiro.Fui atrás dela, e ela estava vomitando o café da manhã todo.— Você está se sentindo mal?— Estou, e muito! — fez uma careta de nojo.— Precisamos descobrir por que você está assim. — acariciei seus cabelos.— Eu não sei. — ela andou de um lado para o outro.— Hm... Vômitos, enjôos, dores abdominais...— Não, nem vem.— Gravidez, Luísa! Não finja ser tapada. — revirei os olhos.— Não pode ser eu... — pareceu pensar. — É, pode ser.— Ai, meu santo protetor das mulheres em apuros! — passei a mão entre os cabelos.— Porra, eu me mato, Lari!— Se mata nada. Eu vou ali comprar o teste de farmácia, e você me espera aqui se não quiser que eu te engarguelo com seu próprio cabelo. — disse, e ela riu fraco.Vesti a primeira roupa que encontrei e fui à farmácia perto dali. Não é possível que minha prima, uma moça da cidade, não saiba que não usar camisinha pode levar a isso! Jesus do céu.— Me
Rangel Eu a observava atentamente, essa loira estava mexendo com a minha cabeça. Nunca fui de me esforçar com garotas que faziam joguinhos, eu gostava daquelas que rapidamente se entregavam às minhas conversas. No entanto, com ela, estava tentando ser paciente."Porra! Tu é linda", falei para uma jovem daqui do morro."Obrigada, Rangel", ela sorriu, como se estivesse se achando."Bora lá para a minha casa?""Vamos."A levei até meu barraco. Depois de uma noite intensa, percebi que ela era inexperiente, mas mesmo assim, era incrivelmente atraente."Quantos anos você tem, morena?", perguntei enquanto vestia minhas roupas."Dezoito."Sorri. "Essas garotas novas são encrenca, mas são exatamente o tipo que eu gosto.""Você não vai ficar aqui comigo?", ela perguntou."Qual é, menina? Já fiz o que queria", pisquei para ela e saí.Essas garotas sempre acham que, depois de uma conversa, estamos prontos para pedi-las em casamento. Mas eu sabia que a realidade na favela era bem diferente.Volte
Um ano depois LarissaAs vezes as coisas acontecem sem a gente perceber. Cá me encontro morando com meu marido. Rangel.Talvez fosse a pior e a melhor escolha da minha vida. Nunca pensei que um dia iria me envolver com um traficante, que iria perder minha virgindade com o "amor da minha vida" e que ele me abandonaria , meu pai me expulsaria de casa e etc etc. Resumindo, eu nunca imaginei nada disso. Meu pai está na miséria. Soube por amigas que ele só anda bebendo e jogado por aí por causa de Melyssa. Isso mesmo, ela traiu ele com um homem que tinha mais dinheiro.Ai pai, como eu queria estar do seu lado e dizer : Eu avisei!Ao mesmo tempo queria te ajudar e dar todo meu apoio de filha... Mas eu nem sequer para ele, nunca fui a sua filha. Meu relacionamento com Rangel não é o melhor de todos . Isso com certeza não era. Mas eu aprendi à amar ele tanto , esse amor transbordava em mim que eu não conseguia explicar. Eu me tornei dependente dele e isso m
Hoje era o meu aniversário, um dos muitos que planejava celebrar ao lado de Rangel. Acordei coberta de beijos por ele, com seu braço sobre mim, apertando minha cintura e me beijando. — Feliz aniversário — ele sussurrou no meu ouvido. — Obrigada, meu amor! — Pra você, o que a rainha deseja no café da manhã? — Rangel — ri. — Você nem sabe fritar um ovo. — Ah, vou comprar coisas, você vai ver — ele disse, levantando-se da cama. Enquanto ele se arrumava, eu permaneci deitada, cansada de uma noite exaustiva. Rangel estava se arrumando e escovando os dentes. Ele vestiu uma camisa e estava prestes a sair do quarto. — Para onde você vai? — perguntei. — Na padaria, tchau. Ele saiu, e eu fiquei deitada, reclamando em silêncio. Rangel podia ser bruto, mas, tirando isso, eu estava muito feliz. Afinal, estava completando dezoito anos. Mais tarde, Rangel voltou com várias coisas e preparou o café da manhã. A felicidade se refletia nele quando ele era romântico, o que acontecia raramente.
LarissaDepois do meu maravilhoso aniversário, tudo continuou indo bem. Rangel estava me tratando até com um pouco de exagero, o que me deixou desconfiada, pensei que talvez houvesse algo de errado, como uma traição.Levantei cedo, me arrumei e enviei uma mensagem para Carla, dizendo que chegaria à loja em cerca de quinze minutos.— Para onde você vai? — Rangel me questionou.— Para o meu trabalho, ué!— Por que você quer trabalhar? Ainda mais com essa roupa, mostrando tudo.— Rafael, deixemos esse assunto para lá, ok?— Você que sabe. Mas estou meio bolado, entende?— Por quê?— Meu parceiro, Willian, foi preso.— O namorado daquela novinha que se tornou minha colega?— Exatamente, ele mesmo.— Poxa, Rangel... Ela deve estar sofrendo. Poder&iacut
Rangel narrandoSai de casa cheio de ódio. Estava cansado das ideias sem noção de Larissa, algum dia eu iria me cansar definitivamente. Quem mora na favela sabe como são as coisas, mulher de bandido tem que andar na linha.Larissa achava que podia se comandar,, vem com historinha de estudar, de não sei quê, daqui a pouco tá é me traindo. É aquilo né, quem faz tem medo de receber o troco.Tô numa onda nova aí... Novinha chegou do nada lá de bem longe, morena gostosa que nem essa e ainda não tinha visto aqui. Novidade na area, carne nova no pedaço!Júnior me procurou e começou a conversar sobre a situação. Ele falou que eu tinha Larissa e que não podia vacilar com ela nem com Cíntia, que era a prima dele.Sim, eu estava me envolvendo com a prima de Júnior. A situação era complicada e cheia de nuances. Eu tinha Larissa, minha mulher, que era tudo para mim. Isso era algo que todos sabiam, eu a amava mais do que tudo, mesmo que eu não demonstrasse ou a tratasse mal em muita
Larissa narrandoNão tem jeito, homem quando é ruim, não muda nunca. Descarada é a gente que aceita as patifarias.Esperei Rangel até as duas horas da manhã e nada, fiquei chorando e acabei dormindo no sofá.Quando acordei, era sete horas da manhã, não consegui dormir nada.Joguei uma água na cara e fiquei esperando ele, nada dele chegar... Liguei para mãe dele, ela disse que nem viu a cara do filho ontem.Vai Larissa, teu chifre a cada dia só aumenta.Resolvi não me importar mais, e tomei um banho pra tirar essa cara de choro, fui no meu guarda-roupa e peguei meu canivete dourado com minhas iniciais, tinha mandando fazer ele a tempo pra defesa pessoal, o descarado nem sabia.Fui tomar meu café. Foda- se, de amor eu não morro! Largo ele e arranjo um boy magia em dois tempos.Ouvi o portão se abrir e permaneci quieta no meu canto tomando meu café. Se ele vim pra cima de mim agressivo eu meto o canivete no braço dele, sem ideia.O idiota veio com papinho frouxo, dei nem confiança. Se el