04

Larissa narrando

Uma semana se passou desde a minha chegada ao Rio. Acordei me sentindo um pouco fora do lugar, afinal, havia passado tanto tempo dormindo na minha cama de casal que a adaptação seria difícil.

— Bom dia — Luísa chegou quase gritando no quarto.

— Que boa forma de me acordar — falei ainda sonolenta.

— Vamos, levanta, come algo, que vamos à casa da minha mãe.

— Tudo bem, vou me arrumar.

De certa forma, eu estava feliz. Finalmente, eu tinha uma família. Minha tia e minha prima, por parte de mãe, eram um sopro de esperança. Por outro lado, meu pai continuava sendo um enigma. Por que ele nunca me amou? Essa pergunta ainda me atormentava.

Levantei da cama, tomei um banho no pequeno banheiro do apartamento e vesti uma calça jeans preta com uma blusa branca e um par de tênis. Estava na hora de me adaptar às roupas que as pessoas usavam no Rio de Janeiro.

Após uma refeição leve, composta por frutas, café e bolo, estava pronta para sair.

— Vamos! — disse para Luísa, que estava ocupada no celular.

— Bora.

Peguei meu celular, coloquei algum dinheiro na bolsa e saímos. Pegamos o ônibus e logo estávamos na casa da minha tia, que não ficava muito longe do apartamento de Luísa.

Minha tia me recebeu calorosamente, e seu abraço era um conforto que eu estava ansiosa para sentir. Ela ainda era tão bonita, com seus cabelos loiros e uma aparência jovial que lembrava minha mãe.

— Minha sobrinha — ela me abraçou docemente.

— Que saudades — disse enquanto a abraçava e dava um beijo.

Eu me sentia feliz por estar com minha tia e prima, e a sensação de ter uma família era reconfortante. Mas meu pai ainda pairava como uma sombra no fundo da minha mente, um mistério que eu precisava resolver.

Enquanto conversávamos sobre diversos assuntos para colocar em dia, Luísa mencionou que precisava ir para o trabalho.

— Mãe, foi bom te ver, mas temos que ir. Tenho que trabalhar, beijos — Lu disse.

— Tchau, tia — me despedi com um abraço.

Pegamos um Uber, e Luísa partiu para o trabalho, enquanto eu voltei para o apartamento dela. Naquele dia, minha rotina se resumiu a passar o tempo, mexendo no celular e assistindo a um filme monótono na TV. Eu rezava mentalmente para conseguir esquecer o meu passado, mas as memórias continuavam a me assombrar.

Decidi então limpar a casa, que parecia não ter sido limpa por anos. Comecei pela sala, passando pano nos móveis e lavando as cortinas. Em seguida, limpei a cozinha, os quartos e a área de serviço. Quando terminei, estava completamente exausta, mas essa não era uma tarefa tão diferente do que eu costumava fazer na minha antiga casa. Lá, eu era praticamente a "Cinderela" e Melissa a madrasta má.

— Querida, cheguei — Luísa cantarolou ao entrar em casa.

— Ah, meu Deus, finalmente — eu disse, revirando os olhos e sorrindo.

— Estamos indo para um lugarzinho hoje... — começou a dizer, mas eu a interrompi.

— Que lugar?

Ela começou a enrolar, mas finalmente explicou que era uma festa. Fiquei relutante a princípio, preocupada com a violência que eu tinha visto nos noticiários sobre o Rio de Janeiro.

— Deixa de agonia, Lari, já fui lá mil vezes. Não é nada disso, só vamos a uma festa e voltamos.

Eu ainda estava incerta, mas percebi que essa era uma oportunidade de sair da minha zona de conforto. Eu sempre quis experimentar a liberdade, e agora era a minha chance.

— Pensando bem, por que não? Uma festa não vai fazer mal — concordei.

Escolhi um vestido rosa, o mais curto que eu tinha, e calcei um par de saltos pretos emprestados de Luísa. Ela também fez cachos no meu cabelo loiro e caprichou na maquiagem. Ao me olhar no espelho, mal pude reconhecer a mulher que estava olhando de volta para mim. Não era mais aquela menina triste e derrotada que havia chegado de Belo Horizonte.

— Vamos, o táxi já está esperando lá embaixo — Luísa disse empolgada.

Eu me senti completamente desconfortável com aqueles saltos, mas sabia que era hora de me soltar. Afinal, eu precisava mostrar para mim mesma que poderia ser feliz sem ele.

— Chegamos — Luísa anunciou quando saímos do táxi.

— Estou com medo — admiti.

— Ah, Larissa, chega de medo, tudo vai dar certo — Luísa tentou me tranquilizar.

Paramos na entrada do morro, onde homens armados faziam a segurança. Seus olhares intensos nos seguiram enquanto caminhávamos. Aparentemente, Luísa era conhecida naquelas redondezas, pois fomos autorizadas a entrar.

— Esses caras pareciam sinistros — sussurrei no ouvido dela enquanto descíamos o morro.

— Você que está com medo — ela riu.

— Calma, já estamos chegando — Luísa tranquilizou.

Andamos mais um pouco, enfrentando assédio de homens idiotas pelo caminho, até finalmente chegarmos à tal festa.

Luísa entrou animada, e eu a segui. A festa estava lotada, parecia uma dessas feiras que costumava frequentar na minha cidade natal. Mulheres se jogavam em homens com armas visíveis, outros usavam drogas. Tudo aquilo parecia uma loucura.

— Incrível. Eu quero ir embora — murmurei, olhando em volta.

— O quê? Você está louca, Lari? Eu só vou embora daqui amanhã — Luísa respondeu.

— Meu Deus...

Mas em que diabos de lugar eu fui me meter?!

Nos sentamos numa mesa, e Luísa logo trouxe algumas bebidas. De início recusei , mas logo depois aceitei, já estava ali mesmo e  minha vida estava uma merda como piorar?

Fiquei sentada só escutando a música enquanto minha prima se acabava de dançar , percebi olhares pra mim. Mas o pior todos , era do carinha que parecia estar em um camarote , ele não tirava o olho de mim um sequer segundo.

Ele era lindo não vou mentir, todo tatuado, seus cabelos lisos , seu olhar marcante.. Como Luísa diz , um pedaço de mal caminho.

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