03

Larissa narrando:

Peguei as poucas malas que tinha em mãos, me despedi daquela casa e recordei os poucos momentos felizes que tive com minha mãe. Talvez se ela estivesse aqui, tudo seria diferente.

Sai do quarto, passei pela sala e, graças a Deus, a bruxa não estava lá. Não me despediria do meu "pai", porque para ele, se eu fosse embora, eu seria apenas um peso a menos em suas costas. Ele poderia ser feliz com sua amada bruxa, sem a filha bastarda para atrapalhar.

Olhei ao redor da fazenda e vi aquela árvore. A árvore onde vivi os momentos mais bonitos com Bruno. Ah, Bruno, por que ele me abandonou? Será que há algo errado comigo? É difícil entender, muito difícil.

Eu costumava acreditar que era a Cinderela e que Bruno era meu príncipe, que me tiraria da casa da minha madrasta e me levaria para seu palácio. Mas acorda, Larissa! Isso só acontece em contos de fadas. Minha realidade é essa, e não há como fugir dela.

Estava prestes a colocar os pés na rua quando o carro que eu tinha chamado chegou. Eu tinha economias, uma herança de minha mãe que era meu por direito. Isso me sustentaria por cerca de um ano.

Antes que eu pudesse partir, a bruxa apareceu à minha frente com um ar de vitória.

— Já vai, querida Larissa? — ela disse com ironia.

— Poupe-me de suas ironias, Melyssa. Estou feliz, sabia? Nunca mais vou ver essa sua cara plastificada. — sorri.

— Já era hora de eu me livrar de você, garota detestável. Mas antes, você sabe o que vai acontecer com seu amado Bruno?

— O que você quer agora, sua lambisgoia? — falei com raiva.

— Ele vai se casar, com uma das garotas mais ricas da cidade, Maribel Hernández. Grande amor ele sentia por você, não é mesmo, querida? — ela sorriu vitoriosa.

— Você está inventando isso!

— Não, Larissa, não estou inventando. Encare a realidade: ele só queria tirar sua virgindade, e agora vai correr para os braços de outra.

Saí daquela casa com pressa, entrei no carro que estava esperando em frente à fazenda e chorei durante todo o trajeto. Por quê? Por que isso estava acontecendo?

"Ele só queria tirar sua virgindade."

"Ele vai se casar."

Essas palavras estavam me machucando profundamente. Todo o amor que ele dizia sentir era uma mentira? Ele só queria me usar e, depois de conseguir, com certeza eu era motivo de deboche para ele.

Me recompus, saí do carro no aeroporto e agradeci por estar ali. Tinha minhas economias, herança de minha mãe que era meu direito por nascimento. Enquanto esperava meu voo, me despedi de Juliane. Uma grande amiga daqui.

— Vou sentir sua falta. — Juliane disse, triste.

— Eu também. Você é a amiga mais verdadeira que já tive. — a abracei quando vi meu voo chegando.

— Vai, se cuida no Rio, Lari.

Terminei de me despedir dela e entrei naquele avião. Parecia que meu passado estava indo embora comigo naquele voo. Mas eu acho que nunca vou conseguir esquecer Bruno, apesar de tudo o que ele me fez. Infelizmente, eu ainda o amava. 

Eu não podia amar alguém que me fez tão mal.

Passei o voo olhando para o céu pela janela da aeronave. Às vezes chorava, às vezes dormia e até mesmo em sonhos, eu via Bruno. Dói. E sabem por que a decepção dói tanto? Porque ela nunca vem de um inimigo.

Depois de horas, finalmente desembarquei. Estava exausta e só queria dormir em uma cama qualquer.

Olhei ao redor do aeroporto procurando um sinal de Luísa, logo ela apareceu com um sorriso estampado no rosto.

— Prima linda! — ela me abraçou exageradamente.

— Luísa, que saudades, prima! — a abracei mais forte.

— Nossa, Lari, você se tornou uma mulher incrível.

— Nem tanto. — sorri fracamente.

— Por um lado, estou feliz por você estar aqui. Por outro... saber o que aconteceu doeu em mim, Lari.

— Pois é, nem me fale... — falei, cabisbaixa.

— Mas esqueça isso! Vamos para casa, você precisa descansar e tomar um banho.

— E sua tia?

— Ah, ela está ótima. Às vezes, quando saio do trabalho, vou visitá-la.

— Hmm, que bom. — dei de ombros.

O pai dela foi um rapaz que minha tia conheceu quando era jovem, e ele não a assumiu, mas registrou Luísa e deu tudo a ela, incluindo amor. Coisa que meu "pai" nunca soube me dar.

— Prima, olha aí no guarda-roupas, tem toalhas, lençóis e tudo o que você precisa. Pode ir tomar banho, aqui tem WiFi, tudo o que você precisa, gata.

— Obrigada, Lu. Obrigada por tudo o que está fazendo. Vou arranjar um lugar para ficar, não quero te incomodar.

— Está louca? Acha que vou deixar minha única prima, que eu adoro, se mudar daqui?

— Mas eu não quero te incomodar.

— Eu adorei que você veio para cá. Eu passava meus dias sozinha aqui.

— Se é assim... — sorri.

Luísa ficou assistindo TV e mexendo no celular. Eu tomei um banho e fui desarrumar as roupas da mala para colocá-las no guarda-roupas.

Quando percebi, já era noite. No dia seguinte, iria tentar resolver minha vida. Ou, pelo menos, tentar.

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