Larissa narrando:
Peguei as poucas malas que tinha em mãos, me despedi daquela casa e recordei os poucos momentos felizes que tive com minha mãe. Talvez se ela estivesse aqui, tudo seria diferente.
Sai do quarto, passei pela sala e, graças a Deus, a bruxa não estava lá. Não me despediria do meu "pai", porque para ele, se eu fosse embora, eu seria apenas um peso a menos em suas costas. Ele poderia ser feliz com sua amada bruxa, sem a filha bastarda para atrapalhar.
Olhei ao redor da fazenda e vi aquela árvore. A árvore onde vivi os momentos mais bonitos com Bruno. Ah, Bruno, por que ele me abandonou? Será que há algo errado comigo? É difícil entender, muito difícil.
Eu costumava acreditar que era a Cinderela e que Bruno era meu príncipe, que me tiraria da casa da minha madrasta e me levaria para seu palácio. Mas acorda, Larissa! Isso só acontece em contos de fadas. Minha realidade é essa, e não há como fugir dela.
Estava prestes a colocar os pés na rua quando o carro que eu tinha chamado chegou. Eu tinha economias, uma herança de minha mãe que era meu por direito. Isso me sustentaria por cerca de um ano.
Antes que eu pudesse partir, a bruxa apareceu à minha frente com um ar de vitória.
— Já vai, querida Larissa? — ela disse com ironia.
— Poupe-me de suas ironias, Melyssa. Estou feliz, sabia? Nunca mais vou ver essa sua cara plastificada. — sorri.
— Já era hora de eu me livrar de você, garota detestável. Mas antes, você sabe o que vai acontecer com seu amado Bruno?
— O que você quer agora, sua lambisgoia? — falei com raiva.
— Ele vai se casar, com uma das garotas mais ricas da cidade, Maribel Hernández. Grande amor ele sentia por você, não é mesmo, querida? — ela sorriu vitoriosa.
— Você está inventando isso!
— Não, Larissa, não estou inventando. Encare a realidade: ele só queria tirar sua virgindade, e agora vai correr para os braços de outra.
Saí daquela casa com pressa, entrei no carro que estava esperando em frente à fazenda e chorei durante todo o trajeto. Por quê? Por que isso estava acontecendo?
"Ele só queria tirar sua virgindade."
"Ele vai se casar."
Essas palavras estavam me machucando profundamente. Todo o amor que ele dizia sentir era uma mentira? Ele só queria me usar e, depois de conseguir, com certeza eu era motivo de deboche para ele.
Me recompus, saí do carro no aeroporto e agradeci por estar ali. Tinha minhas economias, herança de minha mãe que era meu direito por nascimento. Enquanto esperava meu voo, me despedi de Juliane. Uma grande amiga daqui.
— Vou sentir sua falta. — Juliane disse, triste.
— Eu também. Você é a amiga mais verdadeira que já tive. — a abracei quando vi meu voo chegando.
— Vai, se cuida no Rio, Lari.
Terminei de me despedir dela e entrei naquele avião. Parecia que meu passado estava indo embora comigo naquele voo. Mas eu acho que nunca vou conseguir esquecer Bruno, apesar de tudo o que ele me fez. Infelizmente, eu ainda o amava.
Eu não podia amar alguém que me fez tão mal.
Passei o voo olhando para o céu pela janela da aeronave. Às vezes chorava, às vezes dormia e até mesmo em sonhos, eu via Bruno. Dói. E sabem por que a decepção dói tanto? Porque ela nunca vem de um inimigo.
Depois de horas, finalmente desembarquei. Estava exausta e só queria dormir em uma cama qualquer.
Olhei ao redor do aeroporto procurando um sinal de Luísa, logo ela apareceu com um sorriso estampado no rosto.
— Prima linda! — ela me abraçou exageradamente.
— Luísa, que saudades, prima! — a abracei mais forte.
— Nossa, Lari, você se tornou uma mulher incrível.
— Nem tanto. — sorri fracamente.
— Por um lado, estou feliz por você estar aqui. Por outro... saber o que aconteceu doeu em mim, Lari.
— Pois é, nem me fale... — falei, cabisbaixa.
— Mas esqueça isso! Vamos para casa, você precisa descansar e tomar um banho.
— E sua tia?
— Ah, ela está ótima. Às vezes, quando saio do trabalho, vou visitá-la.
— Hmm, que bom. — dei de ombros.
O pai dela foi um rapaz que minha tia conheceu quando era jovem, e ele não a assumiu, mas registrou Luísa e deu tudo a ela, incluindo amor. Coisa que meu "pai" nunca soube me dar.
— Prima, olha aí no guarda-roupas, tem toalhas, lençóis e tudo o que você precisa. Pode ir tomar banho, aqui tem WiFi, tudo o que você precisa, gata.
— Obrigada, Lu. Obrigada por tudo o que está fazendo. Vou arranjar um lugar para ficar, não quero te incomodar.
— Está louca? Acha que vou deixar minha única prima, que eu adoro, se mudar daqui?
— Mas eu não quero te incomodar.
— Eu adorei que você veio para cá. Eu passava meus dias sozinha aqui.
— Se é assim... — sorri.
Luísa ficou assistindo TV e mexendo no celular. Eu tomei um banho e fui desarrumar as roupas da mala para colocá-las no guarda-roupas.
Quando percebi, já era noite. No dia seguinte, iria tentar resolver minha vida. Ou, pelo menos, tentar.
Larissa narrandoUma semana se passou desde a minha chegada ao Rio. Acordei me sentindo um pouco fora do lugar, afinal, havia passado tanto tempo dormindo na minha cama de casal que a adaptação seria difícil.— Bom dia — Luísa chegou quase gritando no quarto.— Que boa forma de me acordar — falei ainda sonolenta.— Vamos, levanta, come algo, que vamos à casa da minha mãe.— Tudo bem, vou me arrumar.De certa forma, eu estava feliz. Finalmente, eu tinha uma família. Minha tia e minha prima, por parte de mãe, eram um sopro de esperança. Por outro lado, meu pai continuava sendo um enigma. Por que ele nunca me amou? Essa pergunta ainda me atormentava.Levantei da cama, tomei um banho no pequeno banheiro do apartamento e vesti uma calça jeans preta com uma blusa branca e um par de tênis. Estava na hora de me adaptar às roupas que as pessoas usavam no Rio de Janeiro.Após uma refeição leve, composta por frutas, café e bolo, estava pronta para sair.— Vamos! — disse para Luísa, que estava oc
Rangel narrandoNós trocávamos olhares profundos, e a cada hora que ela me olhava, eu desviava o olhar, e vice-versa.Eu precisava descobrir quem era essa garota que estava mexendo com a minha mente, porque com certeza ela não era daqui do morro.— Alan — chamei meu parceiro e amigo de confiança.— Dá o papo, chefe.— Sabe quem é aquela mina? — apontei discretamente para a loira.— Ih, não tô ligado, Rangel. Só sei que ela tá com aquela ruivinha que tá de treta com o Júnior.— Ah — falei casualmente.— Mas por que quer saber, mano?— Não é da sua conta, não.Eu geralmente sou de boas, mas às vezes o Alan faz umas perguntas idiotas pra caramba.Fiquei no camarote, me pegando com algumas minas. Umas se esfregavam em mim e outras me beijavam. Era uma bagunça, admito, mas nasci para isso.Algum tempo depois, olhei ao redor. A loirinha não estava lá, mas a amiga dela estava se agarrando com o Júnior, meu melhor amigo. Como assim?Me levantei do camarote e me misturei com a galera, procuran
Larissa narrandoTrês semanas depois...— Luísa? — chamei enquanto minha prima corria para o banheiro.Fui atrás dela, e ela estava vomitando o café da manhã todo.— Você está se sentindo mal?— Estou, e muito! — fez uma careta de nojo.— Precisamos descobrir por que você está assim. — acariciei seus cabelos.— Eu não sei. — ela andou de um lado para o outro.— Hm... Vômitos, enjôos, dores abdominais...— Não, nem vem.— Gravidez, Luísa! Não finja ser tapada. — revirei os olhos.— Não pode ser eu... — pareceu pensar. — É, pode ser.— Ai, meu santo protetor das mulheres em apuros! — passei a mão entre os cabelos.— Porra, eu me mato, Lari!— Se mata nada. Eu vou ali comprar o teste de farmácia, e você me espera aqui se não quiser que eu te engarguelo com seu próprio cabelo. — disse, e ela riu fraco.Vesti a primeira roupa que encontrei e fui à farmácia perto dali. Não é possível que minha prima, uma moça da cidade, não saiba que não usar camisinha pode levar a isso! Jesus do céu.— Me
Rangel Eu a observava atentamente, essa loira estava mexendo com a minha cabeça. Nunca fui de me esforçar com garotas que faziam joguinhos, eu gostava daquelas que rapidamente se entregavam às minhas conversas. No entanto, com ela, estava tentando ser paciente."Porra! Tu é linda", falei para uma jovem daqui do morro."Obrigada, Rangel", ela sorriu, como se estivesse se achando."Bora lá para a minha casa?""Vamos."A levei até meu barraco. Depois de uma noite intensa, percebi que ela era inexperiente, mas mesmo assim, era incrivelmente atraente."Quantos anos você tem, morena?", perguntei enquanto vestia minhas roupas."Dezoito."Sorri. "Essas garotas novas são encrenca, mas são exatamente o tipo que eu gosto.""Você não vai ficar aqui comigo?", ela perguntou."Qual é, menina? Já fiz o que queria", pisquei para ela e saí.Essas garotas sempre acham que, depois de uma conversa, estamos prontos para pedi-las em casamento. Mas eu sabia que a realidade na favela era bem diferente.Volte
Um ano depois LarissaAs vezes as coisas acontecem sem a gente perceber. Cá me encontro morando com meu marido. Rangel.Talvez fosse a pior e a melhor escolha da minha vida. Nunca pensei que um dia iria me envolver com um traficante, que iria perder minha virgindade com o "amor da minha vida" e que ele me abandonaria , meu pai me expulsaria de casa e etc etc. Resumindo, eu nunca imaginei nada disso. Meu pai está na miséria. Soube por amigas que ele só anda bebendo e jogado por aí por causa de Melyssa. Isso mesmo, ela traiu ele com um homem que tinha mais dinheiro.Ai pai, como eu queria estar do seu lado e dizer : Eu avisei!Ao mesmo tempo queria te ajudar e dar todo meu apoio de filha... Mas eu nem sequer para ele, nunca fui a sua filha. Meu relacionamento com Rangel não é o melhor de todos . Isso com certeza não era. Mas eu aprendi à amar ele tanto , esse amor transbordava em mim que eu não conseguia explicar. Eu me tornei dependente dele e isso m
Hoje era o meu aniversário, um dos muitos que planejava celebrar ao lado de Rangel. Acordei coberta de beijos por ele, com seu braço sobre mim, apertando minha cintura e me beijando. — Feliz aniversário — ele sussurrou no meu ouvido. — Obrigada, meu amor! — Pra você, o que a rainha deseja no café da manhã? — Rangel — ri. — Você nem sabe fritar um ovo. — Ah, vou comprar coisas, você vai ver — ele disse, levantando-se da cama. Enquanto ele se arrumava, eu permaneci deitada, cansada de uma noite exaustiva. Rangel estava se arrumando e escovando os dentes. Ele vestiu uma camisa e estava prestes a sair do quarto. — Para onde você vai? — perguntei. — Na padaria, tchau. Ele saiu, e eu fiquei deitada, reclamando em silêncio. Rangel podia ser bruto, mas, tirando isso, eu estava muito feliz. Afinal, estava completando dezoito anos. Mais tarde, Rangel voltou com várias coisas e preparou o café da manhã. A felicidade se refletia nele quando ele era romântico, o que acontecia raramente.
LarissaDepois do meu maravilhoso aniversário, tudo continuou indo bem. Rangel estava me tratando até com um pouco de exagero, o que me deixou desconfiada, pensei que talvez houvesse algo de errado, como uma traição.Levantei cedo, me arrumei e enviei uma mensagem para Carla, dizendo que chegaria à loja em cerca de quinze minutos.— Para onde você vai? — Rangel me questionou.— Para o meu trabalho, ué!— Por que você quer trabalhar? Ainda mais com essa roupa, mostrando tudo.— Rafael, deixemos esse assunto para lá, ok?— Você que sabe. Mas estou meio bolado, entende?— Por quê?— Meu parceiro, Willian, foi preso.— O namorado daquela novinha que se tornou minha colega?— Exatamente, ele mesmo.— Poxa, Rangel... Ela deve estar sofrendo. Poder&iacut
Rangel narrandoSai de casa cheio de ódio. Estava cansado das ideias sem noção de Larissa, algum dia eu iria me cansar definitivamente. Quem mora na favela sabe como são as coisas, mulher de bandido tem que andar na linha.Larissa achava que podia se comandar,, vem com historinha de estudar, de não sei quê, daqui a pouco tá é me traindo. É aquilo né, quem faz tem medo de receber o troco.Tô numa onda nova aí... Novinha chegou do nada lá de bem longe, morena gostosa que nem essa e ainda não tinha visto aqui. Novidade na area, carne nova no pedaço!Júnior me procurou e começou a conversar sobre a situação. Ele falou que eu tinha Larissa e que não podia vacilar com ela nem com Cíntia, que era a prima dele.Sim, eu estava me envolvendo com a prima de Júnior. A situação era complicada e cheia de nuances. Eu tinha Larissa, minha mulher, que era tudo para mim. Isso era algo que todos sabiam, eu a amava mais do que tudo, mesmo que eu não demonstrasse ou a tratasse mal em muita