Paris, paixões e crepes!
Paris, paixões e crepes!
Por: Angel de Oliveira
Sobre mim

“Há muito tempo atrás, alguém me disse que há uma calmaria antes da tempestade. Eu não me importo com o que digam. Com você, qualquer tempestade se acalma. Sinto sua falta, preciso de você aqui comigo. Parecíamos ser feitos um para o outro, mas tivemos que nos separar. Eu espero que não se esqueça de mim, porque a chuva continua caindo lá fora.”

Setembro

Olho para o meu próprio reflexo pelo espelho. Max coloca alguns alfinetes nas costas do meu vestido e mordo o lábio. O vermelho escarlate contrasta com a minha pele branca e meus cabelos escuros e não consigo conter o grande sorriso que se forma em meus lábios.

Minhas mãos tremem de entusiasmo e as junto numa tentativa de disfarçar a ansiedade.

— Como você se sente? — ele me pergunta, segurando a minha mão, e dou uma volta em torno de mim mesma. A saia do vestido roda.

— Poderosa — é a primeira coisa que me vem à mente. — Maravilhosa — acrescento e me viro, observando o vestido de todos os ângulos. Os olhos de Max irradiam orgulho e felicidade. — Você acha que o Gabriel vai gostar?

— Ele seria louco se não gostasse! Aposto que não conseguirá prestar atenção em qualquer outra coisa que não seja você — Max tem um sorriso divertido no rosto.

Olho para o espelho novamente só para ter certeza das palavras de Max. Ele tem razão. Ele tem que ter razão. O vestido é tomara-que-caia e marca a minha cintura, num típico modelo Mullet mais curto na frente e que arrasta no chão na parte de trás. Uma real obra de arte.

— Max, as festas de final de ano da empresa do papai valem a pena só pelos seus vestidos! — admito sorridente.

Ele ri.

— Obrigado, Angel.

Max é um dos melhores estilistas que conheço em toda Grã-Bretanha. É amigo da minha mãe desde sempre, provavelmente, e só costura vestidos maravilhosos. Todos os anos, volto a seu ateliê para fazer um vestido de tirar o fôlego para a confraternização de final de ano da empresa do meu pai.

— Posso ver o da Junia? — pergunto curiosamente.

— Claro — ele me guia por inúmeros vestidos e manequins.

Seguro o vestido para que arraste o menos possível no chão. Não quero estragá-lo antes mesmo de pronto.

— Que cor a Gen escolheu?

— Rosa — Max vai para ao lado de um manequim coberto por um lenço de seda e o puxa, revelando o belo vestido rosa pink.

— Uau! — é tudo o que consigo dizer. — Ela ficará espetacular nele.

Já posso imaginar minha irmã do meio com esse vestido: sua silhueta destacada, a fenda frontal desde a coxa, o charme dos saltos. Sem dúvida alguma, Junia atrairá olhares por onde passar. Além disso, ela sempre teve o enorme talento de deixar qualquer cara que ela desejasse em suas mãos. Talento muito bem aproveitado por sinal, talvez pela beleza natural dos cabelos ruivos e olhos verdes ou pelo seu carisma nato.

— Ela quis algo surpreendente — Max explica o modelo do vestido e não tira os olhos do manequim.

— Com certeza é surpreendente! — concordo. — Minha irmãzinha está virando uma mulher! — faço beicinho. — Papai vai ter um enfarte quando a vir assim, igual fez comigo — rio.

— E sua mãe também. Os vestidos da Viviana são sempre mais conservadores — ele acrescenta.

Minha mãe.

De repente, lembro-me de que minha mãe está me esperando, e a família toda, para o chá da tarde. Se eu chegar atrasada de novo, ela cortará minha cabeça. Mamãe é uma completa viciada em momentos que reúnem a família, principalmente as refeições, o que implica em me infernizar por chegar atrasada e ser “negligente”.

— Max, eu preciso ir! — seguro seu braço, beirando o desespero, e ele ri.

— O chá, não é? — assinto. — Deixe-me ajudar com o vestido.

Troco-me rapidamente e saio correndo do ateliê.

— Obrigada, Max! — agradeço antes de entrar em meu carro.

— Imagine, garota! — ele sorri e voo para casa.

Um suspiro de alívio escapa pelos meus lábios assim que vejo o enorme portão do condomínio onde vivo. O Margaret’s Palace tem casas enormes e distantes umas das outras. As pessoas que moram aqui têm muitos bens. Isso é um fato. No entanto, não quer dizer que necessariamente são esnobes. Conheço empresários, donos de grandes franquias e butiques, pessoas do meio artístico, médicos e doutores renomados, juízes e advogados e boa parte é muito gentil.

Particularmente, evito dizer que moro aqui e que sou filha dos meus pais, pois a maioria das pessoas cria uma imagem errada da minha pessoa. David Oliveira, meu pai, é um inglês de família abastada, dono de uma franquia enorme cujos produtos variam de cosméticos, a roupas, lingeries, sapato e acessório. Minha mãe, Viviana Oliveira, é uma bailarina francesa charmosa, com uma determinação quase tão forte quanto o ruivo de seu cabelo. Juntos, conciliaram as obrigações empresariais com as familiares e cuidam de suas três filhas, Angel, Junia e Cristina, da melhor forma possível.Tenho uma família bem-sucedida, tanto materialmente como emocionalmente. É verdade. Mas os conflitos são inevitáveis, principalmente pelo fato de minha mãe desaprovar completamente o meu namoro com Gabriel simplesmente por ele ser Gabriel O’Connor, um cantor mundialmente conhecido cuja febre teen continua em seu auge. Segundo ela, não se pode depositar muita confiança nesse tipo de pessoa, o que é ridículo, porque ela também fez parte desse mundo artístico por anos a fio, e que eu vou sair machucada desse relacionamento. Contudo, deixei de me importar com esse tipo de comentário há um bom tempo e mamãe tem que engolir meu namoro já por quase três anos.

Corro para alcançar a enorme porta de entrada de casa e passo pelo hall, subindo as escadas o mais rápido que consigo e já me preparando para ouvir um discurso infindável sobre meu atraso de minutos.

— Boa tarde! — sorrio para todos, jogando-me no sofá ao lado de Gen. Cris, com seus inocentes seis anos, brinca próxima à mesa de centro e minha mãe me encara.

— Boa noite, Angel — ela diz simplesmente.

— Boa tarde, Angel — papai me deseja, fazendo-me sorrir.

Enquanto meus pais conversam sobre qualquer coisa, eu e Junia sussurramos sobre nossos vestidos e como estamos ansiosas para usá-los.

— Como se você não fosse se aproveitar de ninguém naquele vestido — provoco e minha irmã revira os olhos, mas sorri exatamente como mamãe acabou de fazer para meu pai. É surpreendente a semelhança das duas: mesmo sorriso, olhos e cabelo.

— E como está seu vestido, Angel? — minha mãe pergunta, tomando um gole do seu chá.

— Maravilhoso, mãe! Só falta ajustar alguns... — meu celular começa a tocar e tenho vontade de me afundar no sofá por ter me esquecido de silenciar o aparelho. — Desculpe — peço e vejo o nome do meu namorado brilhando no ecrã. Minha mãe vai me matar, mas preciso atender. — Com licença. Eu já volto.

Todos os olhares estão sobre mim, incluindo o de Peyton, nossa empregada a quem amo. Ela deixa a bandeja com mais docinhos na mesa e volta para a cozinha. Sigo-a, tentando abafar o ringtone por pressionar o celular contra a minha coxa.

— Oi, amor — atendo e mordo o lábio. Tento espionar a reação dos meus pais, mas a tarefa é um pouco difícil por conta da posição que estão em relação a mim.

— Oi, bebê — percebo que seu entusiasmo se esvai aos poucos e posso visualizar seu sorriso se transformar em uma sobrancelha arqueada. — Está tudo bem?

— Está, sim. Eu só cheguei atrasada para o chá. De novo — coço a nuca.

— Que britânico da sua parte chegar atrasada! — Biel brinca. — É melhor você voltar para lá...

— Desculpe! — imploro, arrastando as sílabas da palavra. — Ligo mais tarde. Eu juro!

— Não precisa se desculpar, boneca — meu peito se aperta e tenho vontade de atravessar o celular só para estar ao seu lado. — Estou com saudade. Amo você.

— Eu também estou — aperto o celular com mais força. — Eu amo muito você. Até mais tarde.

— Até.

Desligo o aparelho por completo, evitando mais distrações, e volto para o sofá.

— Desculpe — peço e me sirvo do chá fumegando na chaleira. Penso em voltar a falar do vestido, mas meu pai decide mudar de assunto sem o meu consentimento.

— Quem era? — enrijeço e busco o seu olhar, sentindo o clima de um debate se formando. Por um segundo, cogito a ideia de fingir que não era ninguém importante, mas não é verdade.

— O Gabriel — respondo rapidamente e tomo um gole do chá para não ter que responder mais nada. Minha mãe revira os olhos exageradamente e resmunga, Gen olha para mim, quase me condenando por ter falado a verdade e perturbado a paz em família, e os lábios do meu pai se contraem.

— Tinha que ser... — mamãe pestaneja.

— Mãe! Ele está nos Estados Unidos! O fuso-horário é diferente! — defendo meu namorado.

— Não podia m****r mensagem e precisava atrapalhar o momento que temos para conversar? — ela continua. Bufo e reviro os olhos, sabendo que não existe a possibilidade de ganhar essa discussão.

— Ok, né? O importante é que estamos todos aqui — papai tenta amenizar a situação e começa a perguntar sobre como eu e Junia pretendemos passar nossos aniversários no mês que vem, visto que ela nasceu exatamente um dia antes do meu aniversário de dois anos.

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